segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009




Amigos, estou retomando este endereço. Uma vez um jornalista de Minas me pediu um depoimento sobre o Rubens da Silva Prado. Já falei a diversos amigos que considero Alex Prado o maior cineasta vivo do Brasil. Mandei o depoimento, mas outros problemas fizeram o colega não publicar a matéria. Reproduzo aqui o depoimento que mandei para ele:

O ÚLTIMO PISTOLEIRO


Rubens da Silva Prado é uma das maiores lendas do cinema nacional de todos os tempos. Parece mentira, mas ainda hoje, passadas várias décadas, Tony Vieira e Alex Prado ainda são tema de conversas em periferias e cidades do interior do Brasil. Vários exibidores fizeram verdadeiras fortunas em cima das fitas desses homens.

Posso definí-lo como um cara injustiçado, infelizmente excluído do meio cinematográfico atual.
Pra mim, Rubão é e sempre será um marginal entre os marginais, um outsider. Trata-se de um autodidata de enorme talento, que aprendeu a fazer cinema sem qualquer escola ou universidade. A faculdade de RSP é a rua e a vida. Sua grande transformação acontece quando ele tem uma câmera por perto. A proximidade com este instrumento tranforma um homem simples e pacato em um leão, em um gigante.

Sua ligação com o cinema começou no bairro onde nasceu e cresceu, São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo. Rubão gostava tanto de ir nas matinês, que o dono do cinema propôs que ele se tornasse faxineiro da sala para poder assistir aos filmes de graça. Ele topou.

Sem dinheiro nenhum, dedicou seus finais de semana a produção de um filme que todos achavam que ia ser um retumbante fracasso. Este filme seria "Gregório 38", um dos maiores sucessos de seu currículo.
Sua obra se destaca frente a seus demais colegas da Boca, por ser o único realizador realmente dedicado ao faroeste. Tony Vieira fez alguns, mas depois dedicou-se mais aos filmes policiais. Com toda justiça, Rubão é o rei do gênero. Pra mim, três de seus filmes são obras-primas absolutas do cinema nacional: Gregório 38, A Vingança de Chico Mineiro e A Febre do Sexo (o nome nada tem haver com o conteúdo, trata-se de um western). Todos realizados sem ajuda estatal, sem apoio das universidades, dos centros acadêmicos e da crítica especializada.

Infelizmente, Alex teve que fazer filmes de sexo explícito para sobreviver e pagar suas contas. Porém, nos anos 90 voltou ao estilo de suas fitas normais, e inclusive tendo terminado "O Maníaco do Parque", ainda inédito.

Este é o legado deste guerrilheiro cinematográfico para a história do cinema paulista e brasileiro. Se norte-americano, Alex Prado teria tornado nome de documentários, biografias caprichadas, seus filmes teriam sido relançados em box de DVDs. Mas como nasceu no em solo brasileiro, hoje ele tenta sobreviver e fazer mais filmes, sempre com orgulho, humildade, caráter e dignidade. Na minha opinião, trata-se do maior cineasta independente do Brasil.

5 comentários:

Adilson Marcelino disse...

Caro Matheus,
Que bom que está de volta.
E que bom que tenha publicado esse belo depoimento.
Parabéns!
Um abraço

Anônimo disse...

Oi Adilson. Agradeço bastante o seu comentário. Valeu mesmo!
Matheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com

Rodrigo Pereira, um sujeito que gosta de cinema disse...

Oi, Matheus. Talvez o Rubão seja um gênio justamente por nunca ter pretendido ser. Para mim, a obra-prima dele é o GREGÓRIO 38. Qdo será que vai pintar no mercado um DVD-r dessa preciosidade? Parabéns pela, com o perdão do palavrão, "retomada" do seu blog (não confundir com o engodo denomiado "retomada do cinema brasileiro").

Matheus Trunk disse...

Oi Rodrigo. Poxa meu velho, fico muito feliz por você ter gostado. Sou grande admirador do seu trabalho. Valeu mesmo!
Matheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com

luiz mario romero disse...

O seu texto é orgasmático, tanto que me fez a voltar a sonhar que a cultura pode sim mudar o sistema. Temos uma arma social que á cultura. Quanto ao Alex Prado, gostaria de contar uma experiência que tive há uns dez anos. Eu atuava como jornalista no jornal Correio Paulistano (aquele mesmo, mas naquele momento um periódico que lutava para sobreviver) e fui entrevistar o produtor Maurício Custódio sobre o filme Maniaco do Parque. E ele (maurício) me colocou para falar no telefone com o Alex Prado. Confesso que tremi, gaguejei mais que o habitual, mas ele do outro lado da linha (uma lenda) me deixou tranquilo, falou um pouco de sua história e até falou de um ex-amigo meu, também cinesta João luis que mora em Itaquera. Quanto ao seu texto gostaria que me autorizasse publicá-lo no periódico que estou atuando tanto na versão impressa, quanto na on-line. O jornal é o Fato Paulista.

Valeu
Obrigado pela oportunidade
Abraços
Luiz Mário