segunda-feira, 29 de março de 2010

Armando Nogueira (1927-1970)



Poeta da crônica esportiva brasileira, este homem merece todas as homenagens. Acreano de nascimento e carioca por opção, Nogueira foi um dos maiores revolucionários da televisão nacional. Ele foi talvez o último verdadeiro cronista de futebol. Fanático pelo Botafogo e pela Seleção Brasileira, é impossível tentar sintetizar toda a carreira profissional deste verdadeiro mestre.
Durante dez anos Nogueira foi apresentador do programa “Grande Resenha Facit” na TV Tupi do Rio de Janeiro. Este foi a melhor mesa-redonda de todos os tempos, humilhando todos os programas atuais do gênero. A mesa era composta por José Maria Scassa, Luís Mendes, João Saldanha, Nelson Rodrigues e Armando Nogueira.
"Formou-se o time. Luís Mendes comandaria a mesa. Haveria um tricolor, Nelson Rodrigues; um rubro-negro, José Maria Scassa; um botafoguense, João Saldanha; um vascaíno, Vitorino Vieira; e um “imparcial”, Armando Nogueira. A mesa era desequilibrada porque Luís Mendes e Armando Nogueira também eram botafoguenses, mas não havia por que reclamar – o Botafogo de Garrincha, Didi, Nilton Santos, Quarentinha e Zagalo era metade do escrete brasileiro. (Nos anos seguintes, a balança penderia para o Fluminense com a entrada dos comentaristas internacionais, o espanhol Hans Henningsen e o francês Alain Fontaine, tricolores, e do ex-craque Ademir, identificado com o Vasco, mas secretamente Fluminense).
Essa fórmula, cozinhada pelo produtor Augusto (“Gugu”) Melo Pinto, era melhor do que o próprio jogo que se discutia. Ou que se tentava discutir: enquanto Armando Nogueira falava sério sobre táticas e esquemas, Nelson – que fora ao Maracanã com ele e, à saída do estádio, perguntara: “Meu querido Armando Nogueira, o que é que nós achamos do jogo?” – transformava o debate num “putpourri” de humor. Para irritar os colegas que volta e meia se deslumbravam com o futebol europeu, Nelson referia-se ao “escrete húngaro do Armando Nogueira” – uma maneira de dizer que a grande seleção da Hungria de 1954 só existia na cabeça de Armando. A repetição constante da expressão irritou alguns amigos do comentarista, entre os quais o banqueiro José Luís Magalhães Lins, do Banco Nacional, em cujos empréstimos Nelson vivia pendurado.
José Luís pediu a Nelson que poupasse Armando. Nelson atendeu-o – e, a partir daí, passou a referir-se ao “ex-escrete húngaro do Armando Nogueira”. (texto retirado de O Anjo Pornográfico: a Vida de Nelson Rodrigues de Ruy Castro)
Heleno de Freitas (1920-1959) foi um dos maiores jogadores da história do Botafogo. Atuou pelo alvinegro entre 1935 e 48. Armando publicou uma crônica a seu respeito no Jornal do Brasil nos anos 70. Reproduzo uma parte da crônica aqui.
"Heleno de Freitas, o craque das mais belas expressões corporais que conheci nos estádios, morreu, sem gestos, de paralisia progressiva, e descansa, hoje, no cemitério de São João Nepomucemo, onde nasceu um dia para jogar a própria vida num match sem intervalo entre a glória e a desgraça". (Jornal do Brasil, 11 de novembro de 1970)  

Descanse em paz mestre Armando Nogueira.

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