quarta-feira, 7 de abril de 2010

Grandes Mitos do Notícias Populares: O Vampiro de Osasco



 Da mesma forma, no inverno de 1973, uma história sem nenhuma confirmação era publicada pelo Notícias Populares e levantava reações inesperadas do público. O caso nasceu em 13 de junho, com a manchete  VAMPIRO DE OSASCO MATA E BEBE SANGUE DE ONZE CACHORROS. De acordo com o jornal, um operário havia alertado a polícia sobre a morte de seu cão, encontrado sem uma gota de sangue. Outros moradores da região metropolitana teriam dito o mesmo. Depois de três dias, o bicho voltaria a atacar, matando mais quatro cachorros. Pronto: as crianças não brincavam mais na rua, os operários voltavam para casa mais cedo, ninguém andava sozinho à noite. Com a população acreditando na história, a lenda do Vampiro de Osasco seria explorada por pelo menos mais meia dúzia de edições. O NP publicava os relatos assustados dos moradores e especulava sobre a aparência do monstro. Ele não assumia a forma de um Conde Drácula moderno, mas sim um animal peludo, com caninos afiados e orelhas grandes – uma espécie de avô do chupacabras.

Se criar o bicho foi fácil, matá-lo foi uma tarefa complicadíssima. Os moradores do Jardim Helena Maria, bairro humilde onde teriam ocorrido os ataques, confiavam cegamente na história publicada pelo jornal. Quem não acreditava tentava esconder o receio de sair à noite pelas ruas frias e vazias de Osasco. A primeira tentativa de dizimar o bicho foi planejada em 20 de junho de 1973, uma semana depois da primeira aparição do vampiro. Um delegado da cidade convenceu o diretor do Zoológico de São Paulo a emprestar à polícia a única jaguatirica existente no parque, que foi colocada em um camburão. De sirenes ligadas, a viatura percorreu as principais ruas de Osasco, com o delegado anunciando que o tal vampiro era, na verdade, uma jaguatirica solta pela cidade. Em seguida, veio uma armação: um filme que mostrava o felino ser retirado do veículo e morto pelos tiros dos policiais em praça pública. A cena foi exibida em cinemas, clubes e escolas. Para desespero da polícia, ninguém acreditou. O tumulto na cidade persistia – e aumentou depois de uma tentativa de estupro creditada – sim – ao Vampiro de Osasco.

A solução foi recorrer a outro personagem do além, igualmente famoso entre a população humilde. Zé do Caixão, célebre criação do cineasta José Mojica Marins, aparecia com certa freqüência nas páginas do Notícias Populares. Mojica acreditava que o NP era o melhor veículo para promover suas nada convencionais empreitadas cinematográficas. Procurado pelo repórter Nelson Delbino, topou o desafio de “acabar” com o Vampiro de Osasco e conter o pânico que se espalhava pela cidade. Zé do Caixão tinha experiência em casos como esse: anos antes, nas próprias páginas do Notícias Populares, já conseguiria acalmar os ânimos dos moradores de Amparo, interior de São Paulo, aterrorizados com a existência de uma casa supostamente mal-assombrada.

Oficialmente incumbidos da missão pelo jornal, Mojica e seu grupo seguiram rumo a Osasco em 22 de junho de 1973. Invadiram o cemitério e fizeram dezenas de fotos para serem usadas na “investigação”. Dois dias depois, a manchete do NP era ZÉ DO CAIXÃO DESAFIA VAMPIRO DE OSASCO. Uma procissão liderada pelo personagem de Mojica teria expulsado o vampiro da cidade. “O Vampiro de Osasco não existe! O único Drácula brasileiro sou eu, e eu não sou doido de beber sangue; bebo vinho, e do bom!”, dizia Zé do Caixão. A conclusão do sobrenatural detetive, revelada em reportagem do dia seguinte, era a de que engraçadinhos estavam usando dentaduras de vampiro – daquelas vistas em matinês carnavalescas – para apavorar a cidade. Mojica jura ter localizado o autor da primeira brincadeira, e, dedo em riste, ameaçado rogar uma de suas famosas pragas caso as gracinhas continuassem.

Verdade ou não, o fato é que, com o método improvisado, a história acabou mesmo morrendo. Ficou apenas a prova da enorme influência do Notícias Populares entre o público de São Paulo – além, claro, de mais um sinal de confiança do leitor no jornal. A redação, porém, não tirou grandes lições do episódio. Foi então que, em 1975, aconteceu o parto mais famoso do jornalismo brasileiro. 


Trecho retirado do livro “Nada Mais Que a Verdade- A Extraordinária História do Jornal Notícias Populares” de autoria de Celso Campos Júnior, Denis Moreira, Giancarlo Leopiani e Maik Rene Lima, Carrenho Editorial, publicado originalmente em 2002.

5 comentários:

ana disse...

finalmente estou comentando no seu blog!

ri muito lendo esse caso bizarrrrrro! é a sua cara ..... nao que vc seja bizarrrrro mas ... ah vc entendeu neh ! bjos da ana

Anônimo disse...

O fato da Casa Assombrada não é em Amparo e sim em Osasco...ele passou a noite na Casa e depois filmaram nela. só nao lembro o nome do filme.talves seja algum de Alem, muito alem do alem, ou O Estranho mundo do Zé do caixao ou algum outro programa.Adoraria saber se existe ainda esse documentario pois gostaria de ver.

c.faria disse...

Gostei do Vampiro de Osasco, é coisa de outro mundo...do estranho mundo do Zé do Caixão!!!!Muito bom mesmo!

c.faria disse...

Alguem sabe me informar se ainda existe os programas cidade contra cidade que Zé do caixão participou?

Anônimo disse...

14 anos depois eu : kkkjjj