sexta-feira, 8 de julho de 2011

Gigantes do Jornalismo Esportivo: Mário Sérgio Venditti

Mário Sérgio Venditti (1964-) foi uma das grandes revelações da revista Placar na década de 80. Na publicação, esteve sob as ordens do diretor de redação Carlos Maranhão. Como repórter, se firmou na elaboração de matérias realizadas com  grande apuração. Palmeirense convicto, é um dos autores do Almanaque do Verdão, realizado em parceria com o jornalista corintiano Celso Unzelte. Tive a oportunidade de dividir a arquibancada com Venditti em diversos jogos do Palestra. É daqueles torcedores nostálgicos, que gostam de relembrar os tempos da Academia e de reclamar dos novos tempos no Parque Antártica. 

Reuni aqui uma matéria muito interessante que ele realizou para a revista da editora Abril sobre o Nacional, o simpático clube da Rua Comendador Souza.  

TRENZINHO DE GLÓRIAS



Campeão da Taça São Paulo de Juniores, o ex-clube dos ferroviários paulistanos sonha reviver seus velhos tempos

Por Mário Sérgio Venditti

Campeão da 19º Taça São Paulo de Futebol Júnior, conquistada no último dia 25, o Nacional conseguiu voltar ás manchetes. Afinal, a valente equipe da Comendador Souza – uma simpática ruela que termina bem em frente aos portões de sua sede, no bairro paulistano da Água Branca – desde 1972 não conquistava um título importante, justamente o da Taça São Paulo daquele ano.

Na época, comentou-se que na zebrinha entrara em ação. Poucos acreditavam que o time do goleiro Tonho e do ponta-esquerda Toninho Vanusa teria chances diante do Internacional de Falcão, Batista e Caçapava. Entretanto, os tempos são outros e o Nacional, comandado pelo atacante Mil – que terminou artilheiro do certame com sete gols -, respira novos ares.

Encerrado o ciclo de estagnação, o próximo passo é reconduzir o time principal à Primeira Divisão do Paulista, da qual despencou em 1959 e nunca mais subiu.

Seu retorno esteve bem próximo no ano passado, durante a disputa da Intermediária. Em partida decisiva contra o São José, dia 29 de novembro, no Canindé, em São Paulo, o empate deixaria o Nacional numa posição privilegiada. Um pênalti muito contestado, porém, deu a vitória ao São José e iniciou um qüiproquó entre os jogadores do Nacional, dispostos a agredir o juiz José Carlos Gomes do Nascimento.  Com a derrota, o time irá amargar mais um ano longe da Primeira Divisão.

FUTURO DE CRAQUE- “Temos estrutura para disputar o Paulistão”, proclama o presidente Aírton Santiago. Ao assumir o cargo, em 1983, ele prometeu ampliar o quadro de associados. Hoje, numa área de 102.000 metros quadrados, cerca de 50 000 pessoas dão o ar colorido e festivo ao velho clube, cuja renda mensal de 5 milhões de cruzados cobre a folha de pagamento de 120 funcionários e dos 22 jogadores profissionais. “Era preciso sacudir o Nacional”, proclama o presidente Santiago.

É no velho campo do Estádio Nicolau Alayon, com capacidade para 15 000 torcedores, contudo que o clima de renovação pode ser presenciado. Ali, 250 garotos treinam vislumbrando um futuro de craque. Trabalho que faz parte da rotina da recém-criada escolinha Alfredo Ramos, em homenagem ao técnico do time titular. Ex- jogador do Santos, São Paulo e Corinthians, Alfredo chegou ao Nacional em 1961. Permanece até hoje com umas idas e vindas. “Aqui não existe política nem barganha”, garante. “Por isso se trabalha mais”.

Disciplinador, Alfredo surpreende a equipe aplicando normas nada convencionais. Com ele, jogador suspenso por levar o terceiro cartão amarelo não tem refresco: treina e acompanha a delegação. “Já vi muita gente forçar a expulsão para participar de churrascada”, afirma.

 Se o treinador se tornou patrimônio do clube, o administrador Aureliano Santiago, 74 anos, é uma de suas lendas vivas. Pai do presidente Aírton, o velho Santiago é sócio desde 1927. Jamais pleiteou cargo na diretoria. “Isso aqui é espeto”, ensina.

Sua mesa de trabalho confirma. Atulhado de papéis, documentos e carteirinhas de associados, o administrador vem recebendo nos últimos tempos o auxílio da informática. “Tínhamos de modernizar os nossos serviços”, explica.

Os mais antigos frequentadores do Nacional – cientes que a modernização é sinal dos tempos – olham para trás com nostalgia. Do passado, restou apenas o velho vagão de madeira fincado no gramado do clube. Um símbolo histórico que remonta ao ano de 1903. Naquela data, um grupo de ferroviários da São Paulo Railway – companhia inglesa que operava a estrada de ferro ligando Santos a Jundiaí – resolveu fundar um clube. À luz de lampião, nascia o São Paulo Railway Foot-Ball Club, popularmente conhecido por SPR.

MAIOR PATRIMÔNIO- Com a Primeira Guerra Mundial, suas atividades permaneceram interrompidas até 1919. Ao retomá-las, o fez com o Atlético Clube inserido na sigla. Dessa época, o Nacional alimenta uma polêmica mantida até os dias atuais. “A data exata de fundação do clube é 1903”, sentencia o presidente Aureliano Santiago. Para provar, ele recorre a um antigo recibo registrando a taxa de manutenção de um sócio.

De qualquer modo, o grande momento para a vida do clube foi a doação pelo inglês Arthur Owen – superintendente da São Paulo Railway – da área onde seria erguido o Estádio Nicolau Alayon, construído em 1937, até hoje seu maior patrimônio.

Em 1946, com a empresa inglesa encampada pela Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, a diretoria do clube decidiu optar pela mudança do nome. Em novembro daquele ano, num plebiscito organizado pelo diretor Arnaldo de Paula, surgia o Nacional Atlético Clube. Como homenagem, manteve as cores da bandeira inglesa: azul, branca e vermelha. “Estreamos o novo uniforme no segundo tempo do jogo contra o Flamengo, no Pacaembu”, recorda o velho Santiago. “Apanhamos de 4 a 2”.

COQUELUCHE DA ÉPOCA- Foi vestindo a camisa do Nacional que muitos jogadores trilharam o caminho da fama – como o zagueiro Mário Travaglini e o atual técnico palmeirense Rubens Minelli. Ou deram contribuições antes de encerrar a carreira, como Chineisinho, Gino Orlando e Romeu Cambalhota. “Foi maravilhoso defender as cores do time”, orgulha-se Travaglini. “Mas a queda para a Segunda Divisão, em 1959, nem quero lembrar”.

Quem não experimentou tamanho dissabor foi Minelli, que em 1953 atuou como meia-esquerda na equipe. “Era a coqueluche da época”, lembra. “Todos queriam jogar em nosso estádio”.

São esses sentimentos que voltam a empolgar a torcida. Com a vitória de 3 X 0 sobre o América de São José do Rio Preto, os juniores reacenderam a chama de luta no time titular. Impulsionada pela pequena e valente torcida, a equipe está confiante no retorno à Primeira Divisão. Até lá, a promessa é treinar para ganhar. Afinal, à beira de completar trinta anos afastado dos principais embates do futebol paulista, a volta seria recebida como uma glória que não cabe em trem nenhum.

Publicado originalmente na revista Placar em 5 de fevereiro de 1988

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