quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Rodrigo Montana (1940-2012)

Ele não era famoso. Seu nome nunca esteve em destaque entre as personalidades do cinema brasileiro. Fez mais fama como ator e diretor de produção. Fauzi Mansur confiava muito nele. Tanto se você perguntar pra qualquer veterano da sétima arte sobre Coriolano Rodrigues Mineiro (seu verdadeiro nome) poucas pessoas vão responder. Mas se alguém falar em Rodrigo Montana, todos saberão de quem se trata. Conheci Rodrigo em 2006, 2007. No nosso primeiro encontro, começamos a conversar umas nove horas da manhã e só fomos parar umas três horas da tarde. Tudo isso no velho escritório na rua dos Andradas.


Na primeira vista, ele podia parecer um tipo ameaçador: 1,90 de altura, tipo forte. Sempre andava com roupas extravagantes. Terno estilo cantor caipira. "Você sabe Matheus. Eu que trouxe a moda country pro Brasil". E andava armando. Montana sempre carregava uma espécie de punhal. Desta maneira, era respeitado por todos. Inclusive pelos nóias, que sempre cumprimentava quando andava pelo bairro de Santa Efigênia. Não era homem de preconceitos. Respeitava os lojistas, garçons e nóias.

Rodrigo foi a última pessoa a manter o escritório na Boca. Lá conheci um time de figuraças. Bolivianos, músicos perdidos, exibidores que não acompanharam a nova era, técnicos esquecidos, personalidades do sertanejo B. Todo o tipo de gente exótica ia parar lá. Parecia que ele tinha algo que o grudava nessas pessoas. Lembro muito do Major, um militar aposentado que tinha grande carinho pelo Rodrigão. Fui visitar Montana várias vezes sem qualquer tipo de pauta. Ia mais pra ver uma pessoa querida, um amigo próximo. Mesmo vivendo com enormes dificuldades econômicas, ele tinha um otimismo no cinema e na vida. Queria transformar a Boca numa espécie de calçadão da fama. “Aqui é a Broadway de São Paulo”, dizia. Rodrigo adorava cachaça. Teve um Natal que eu dei um exemplar pra ele. Lembro que ele ficou muito feliz comigo. Numa das últimas vezes que nos encontramos, Montana me abraçou. Lembro que ele me disse algo do gênero: “Você e o Gio são amigos meus de verdade. São pessoas que me acompanham mesmo quando eu estou meio mal. Mas quando eu voltar ao topo não vou esquecer de vocês”.  Ele ficou muito desapontado quando o amigo Gio Mendes foi casar. “Esse negócio de casamento é muito complicado. Nunca case”, aconselhava.


Fiquei sabendo de sua morte nesta noite. O grande sonho de Rodrigo era realizar um segundo longa-metragem. O roteiro estava pronto. Tratava-se de Castelo de Amor, baseado numa antiga canção do Trio Parada Dura. Lembro que sempre que ele escutava a música, aquele homem de 1,90 chorava. Cada vez que eu o encontrava, ele dizia que eu faria um papel diferente na fita. “Agora como você está barbudo, você pode fazer um dos capangas que batem no João Pedro”. João Pedro era o protagonista do filme que nunca foi feito. Quando eu tirava a barba, eu podia ser um dos amigos do João Pedro. No final dos anos 80, Rodrigo realizou sua única investida na direção: Rodeio de Bravos. Infelizmente, este longa nunca foi lançado comercialmente.


Ele já tinha tido vários problemas de saúde. Ataques cardíacos, infartos. "Que nada meu. Eu fui, falei com Deus e voltei. É muito normal isso", repetia com a maior naturalidade. Sem plano de saúde, sem stress e amigos importantes. Sei que essas histórias podem parecer banais para a maioria de vocês. Rodrigo era um homem formado pela universidade da vida. Praticamente não tinha educação formal. Matou boi e um dia se tornou diretor de cinema. Ele marcou muito a minha vida e de alguns amigos. Acredito que Rodrigão sabia que seu final de vida seria assim. Ele foi boqueiro até o final. Morreu no escritório que ele decorava e redecorava diversas vezes.

O centro não será o mesmo sem a sua existência Montana. Vai na paz de Deus, porque eu tenho muito orgulho de ter sido seu amigo. Poucas pessoas amaram a vida como você. Deus te ilumine Rodrigão.

4 comentários:

Fausto Salvadori disse...

Ele deve estar curtindo muito sua homenagem, Matheus. Um abraço.

Sergio Andrade disse...

Esse ano está sendo terrível! Belo texto, Matheus.
Mudando de assunto, viu a entrevista do Galante no Programa do Jô? Achei bem fraca, por culpa do apresentador claro.

Abs

Matheus Trunk disse...

Oi Sergio. Vi sim cara, estive no lançamento do livro dele ontem no MIS. Foi bem melhor e vários assuntos foram abordados. No Jô foi meio fraco.

CLAUDIO FULCO disse...

Rodrigo montana foi um grande amigo meu e um grande diretor de cinema na minha opinião foi uma grande perda que deus o tenha na sua santa gloria
CLAUDIO FULCO