Violão, Sardinha e Pão- Como foi escrever o roteiro do longa-metragem Castelo de Amor? Quanto tempo você
conviveu com o Montana?
Diógenes Gonçalves- Foi legal
porque foi o primeiro longa-metragem que escrevi e tive a oportunidade de
trabalhar com cinema, embora o filme não tenha sido rodado. Além de ser
co-roteirista eu seria também seu assistente na direção do trabalho. Quanto á história
não era bem o que eu mesmo faria, mas ali tive uma oportunidade de abrir outros
caminhos e vi que poderia trabalhar escrevendo roteiros. Pra falar a verdade
não me lembro de tempo...Foram meses mas nunca os contei.
VSP- Quais foram as maiores dificuldades em realizar este
trabalho?
DG- As dificuldades foram a falta
de grana e o gênio teimoso do Montana. Eu tinha que argumentar muito algumas
coisas pra escrever no roteiro e ele muitas vezes queria que fosse exatamente
do jeito dele. E a remuneração que não tive. Ele mau tinha dinheiro pra minha
condução ou pra comer. Não recebi nada pelo roteiro.
VSP- O
escritório do Rodrigo era parada obrigatória de muitos personagens inusitados.
Quais deles você se lembra?
DG- Me recordo do Pio Zamuner, do Luiz Gonzaga dos
Santos e pude conhecer o Fauzi Mansur também. Ás vezes quando ia lá no escritório
eu encontrava o Pio e o Montana numa lanchonete de uma esquina próxima. Aí a
gente ficava trocando ideia e bebendo umas cervejas. Era legal ouvir as estórias
da época do Mazzaropi. O Luiz sempre ia por lá pra ver que o Montana estava
planejando. E depois por indicação do Montana, o Fauzi entrou em contato comigo
pra ver a possibilidade de fazer uma parceria também pra escrever roteiros.
VSP- Existe
algum episódio que você vivenciou ao lado do Rodrigo e acha legal contar?
DG- Quem conhece o Montana sabe que ele tinha
muitas estórias da vida dele e as contava numa velocidade muito lenta. Eram bem
interessantes, mas da forma que ele contava dava até sono (risos). Contava da
experiência espiritual que teve de quando entrou em coma após um derrame, das
mancadas do Sady Baby e muitas outras.
VSP- Apesar de ser uma pessoa amável, Montana era um senhor de personalidade forte. Existiu algum momento em que ele foi desagradável com você?
DG- Em meio as dificuldades que
eu disse antes, houve momentos em que ele ficava muito irritado por pouca coisa
e em alguns deles tive vontade de deletar tudo que eu havia escrito e ir
embora. Mas preferi segurar a onda da minha indignação e raiva e seguir em
frente, pois eu não sabia quando iria ter uma outra oportunidade com cinema.
VSP- Você
acompanhou de perto o esforço dele em tentar realizar Castelo de Amor. Qual era a importância desse filme para ele?
DG- Tanto ele como eu não víamos a hora de surgir
os recursos pro filme. E ele nunca se deixava abalar e perdia as esperanças.
Ele tinha certeza de que uma hora isso surgiria de alguma maneira, isso me dava
ânimo também pois eu sabia que seria muito difícil. Ele era na minha opinião,
um dos maiores guerreiros da velha escola da Boca do Lixo, passando muita
dificuldade mas estava ali lutando querendo produzir filmes Mas infelizmente a
hora dele chegou e esse sonho dele não se concretizou.
VSP- Na sua
opinião, qual é o legado de Montana para o cinema brasileiro?
DG- Acho que muita gente do audiovisual (quem já
trabalha ou estuda) se o conhecesse (mesmo não gostando do seu estilo, tipo e
forma de trabalho), tomaria como exemplo a sua perseverança, não importando a
idade ou condições favoráveis. Afinal acho que deixou muitos trabalhos com a
marca e toque dele, infelizmente só não concluiu o Castelo de Amor.
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