sábado, 10 de janeiro de 2015

VSP e as proibidas I: Playmen



Playmen durou pouquíssimos exemplares. Foi uma fracassada tentativa da editora Sublime de fazer uma revista masculina séria. O lançamento em agosto de 1980 prometia uma publicação de nível internacional. Era uma época em que existiam diversas revistas de tiragens expressivas, como Playboy, Status e Ele Ela. Fora as publicações de segundo nível e as de terceira categoria. Playmen prometia entrar para o primeiro time. Faltou investimento na redação em que os poucos jornalistas tinham que assinar diversas matérias. Algumas inclusive com pseudônimo. Desta primeira edição desta memorável publicação VSP separou um interessante perfil realizado sobre o ex-jogador Rivelino. Na época, o tricampeão mundial estava atuando no futebol da Arábia Saudita e estava cotado para voltar ao Brasil. Comentava-se que o Patada Atômica seria contratado pelo São Paulo Futebol Clube. Fato que nunca se concretizou.


Ele foi o “Reizinho do Parque”, orgulho da torcida corinthiana até aquela melancólica decisão com o Palmeiras em 1974. A “Patada Atômica” que aterrorizava os adversários do Brasil no México (mas também o canarinho que transformou a escadaria do vestiário m tobogã, ao escapar de um uruguaio furioso em pleno Maracanã). O “Curió das Laranjeiras”, responsável pelo último arroubo de grande time do Fluminense. Mas, ao que tudo indica, acabará sua carreira como



O SHEIK DAS ARÁBIAS



Por: Celso Lungaretti

Fotos: Giancarlo Salvagni



O Rivelino que nos recebe no posto de gasolina de sua propriedade não dá mostras de ter sentido muito os dois anos passados em Riad, Arábia Saudita. Fisicamente, parece estar em perfeita forma, vigoroso e atlético como nos melhores tempos do Corinthians e da Seleção Brasileira.



E, embora fosse recém-chegado de um país submetido aos rigores da moral islâmica, nada em seu comportamento denunciava uma alegria excessiva, a vontade de botar pra quebrar e se compensar pelos meses a fio de vida austera e bem comportada. Não, Rivelino é um homem pacato e simples, mais chegado a rotina familiar, que ficou bastante feliz ao poder se dedicar a seus filhos, livre dos atropelos de viagens e excursões. Sensibiliza-se visivelmente ao contar que eles frequentam a escola americana em Riad “e a Roberta, de oito anos, já fala um inglês excelente”.



Na verdade, adorando a vidinha que leva com a criançada, a esposa, um cunhado e até uma empregada brasileira, na suntuosa mansão a ele destinada (com vários serviçais sauditas e um Mercedes Benz à disposição), Rivelino pouco é afetado pelo que se passa fora do lar.


Durante a conversa, percebemos que ele dificilmente deixará de renovar seu contrato com o príncipe baseado na incompatibilidade que todos supõem existir entre o quente sangue latino e uma sociedade regida pelo Alcorão. Só uma proposta financeiramente menos desvantajosa o convencerá, uma quantia não muito inferior à que recebe na atualidade. Como nenhum clube brasileiro deverá chegar a tanto, o provável é que o Reizinho do Parque, Patada Atômica e Curió das Laranjeiras encerre sua carreira como o Sheik das Arábias.



Sexta-feira é dia de execução



Rivelino mostra-se um bocado reticente quando inquirido sobre os costumes da Arábia Saudita. Afinal, seus amáveis hospedeiros são muito suscetíveis a respeito, a ponto de tentarem impedir a Inglaterra de exibir um filme sobre o caso verídico da princesa que foi decapitada junto com o primo e amante, quando o love story entre ambos chegou ao conhecimento da corte. Daí a preocupação do grande ídolo do El Helal em acrescentar, após se referir a qualquer procedimento que nos pareça estranho ou escabroso, um habeas corpus preventivo tipo “afinal, é o costume deles e cada terra tem o seu, não?”.



E um dos “costumes deles” é o de executar criminosos todas as sextas-feiras. Mas que tipo de criminosos, Rivelino? “Sei lá, talvez os assassinos. Ah, tem os adúlteros, estes eles executam mesmo. Agora os ladrões, eu acho que depende da gravidade do roubo, de alguns eles cortam a mão. Mas eu não gosto de falar muito nesses assuntos, sabe, é coisa deles e a gente não deve se meter”. Com um pouco de insistência, obtemos outras informações. Ele nos diz que os assassinatos lá são raríssimos e mesmo os roubos não constituem preocupação maior. "Ninguém tem armas e o povo é tão ordeiro que eu ás vezes saio do banco com um montão de dinheiro e vu contando pelas ruas, na maior tranquilidade. Você já pensou se eu fizesse isso aqui? Não passava da primeira esquina!”.



E a que se deve essa índole tão submissa: medo puro e simples ou o povo lá está rico e nem precisa roubar? Rivelino demonstra nunca ter se preocupado com o assunto, tanto que sua resposta sai meio ambígua: “Todo mundo tem carro, então a coisa não parece ser tão ruim para eles. Mas, como em qualquer lugar, devem existir os mais estrepados. Só sei que ninguém reclama. E o pessoal tem muita facilidade em termos de construções, ganham terras, financiamentos, tudo”.



Construções. Enfim um tema mais ameno (e interessante, afinal a Arábia Saudita aplica uma barbaridade em obras e serviços públicos, coisa de mais de 150 bilhões de dólares nos próximos cinco anos). Rivelino mostra-se aliviado quando a conversa se encaminha para esse assunto: “É um negócio de louco, uma cidade que se transforma da noite para o dia. Nas minhas outras férias, passei três meses no Brasil e, quando voltei, já nem reconhecia o quarteirão onde eu moro. Mudou tudo em volta. Só nestes dois anos, para vocês terem uma ideia, Riad, de um supermercado, passou a ter cinco ou seis, e todos eles iguais ou maiores do que os existentes no Brasil”.



Emmanuelle e o Último Tango? Nem pensar!



Como é a vida em Riad, Rivelino? O que se tem para fazer por lá? “Olha, as opções são poucas, a religião não permite cinemas, teatros, boates, dancings. Bebidas alcoólicas são estritamente proibidas. Então sobra muito tempo ocioso”.



Claro que, se os mandamentos do Alcorão são iguais para todos, há sempre os mais iguais, como os membros da corte, que importam filmes ocidentais para seu lazer particular. Rivelino, que está nas boas graças deles, também pode se servir, apanhando umas duas fitas por noite para assistir em seu videocassete. Quais filmes? “Ah, todos esses grandes sucessos, Tubarão, Paillon, Grand Prix...” mas e O Último Tango em Paris, Emmanuelle, Decameron, O Império dos Sentidos? “Filmes eróticos? Nem pensar! Quando se trata de uma fita onde aparece uma ou outra coisa, um policial com cena mais forte, tudo bem. Mas os quentes mesmo, não passam na alfândega”.



Aproveitamos a deixa para perguntar-lhe se, na volta, ele poderia levar umas cachacinhas, apenas para consumo seu e de outros brasileiros. Negativo. “Nem álcool puro deixam passar. Eles mandam de volta as garrafas e, ás vezes, o dono também.” Bom, com essa disposição do Rivelino, achamos inútil confirmas que com ele a veracidade de uma estória que circula, segundo a qual teria abordado os repórteres que acompanharam a comitiva de Maluf, em passagem por Riad, e solicitado ansiosamente uma caninha. Não é o tipo de acontecimento que, mesmo sendo verídico, ele iria admitir numa entrevista.



Mas, de maneira geral, os futebolistas brasileiros que estão em Riad (oito, agora com Zenon) vivem muito bem e são bastante queridos pelos sauditas. Se suas refeições têm de ser regadas à base de uma cerveja especial, sem álcool, em compensação contam com latarias, conservas e até alimentos frescos, importados de toda parte do mundo. O Brasil também está entre os fornecedores para o mercado árabe e Rivelino se lembra de ter encontrado por lá nosso extrato de tomate, palmito, guaraná e mais alguns gêneros.



Prostitutas a Cr$ 20 mil? Desconheço



Os leitores que acompanham o noticiário a respeito do Irã podem daí deduzir o que sejam as restrições morais nos países de religião islamita. Dentre eles, a Arábia Saudita é um dos mais liberais e cosmopolitas, tanto que permite a entrada de publicações estrangeiras, de discos de Rock e outros artigos que Khomeini impugnaria sem titubear.



Mas as condição da mulher, nessas nações feudais e rigidamente patriarcais, é sempre a mesma, obrigada a se cobrir, manter-se em submisso e discreto segundo plano e ir para a cama unicamente com seu amo e senhor. Rivelino acha que os três ou quatro brasileiros, solteiros, não devem encontrar aventuras com facilidade lá em Riad, embora jamais tenham conversado sobre o assunto. “Só sei que eles vivem se queixando da falta do que fazer, em termos gerais”.



E prostituição, existe? “Que eu saiba não, mas veja bem, eu levo uma vida em família, nunca tive a necessidade de procurar mulher, então posso até estar por fora. De qualquer forma, tudo lá é muito fechado e sequer há turismo, pois só entram no país pessoas contratadas para algum serviço e que em geral vêm com as esposas. Por tudo isso, torna-se difícil haver prostituição, ainda mais com todas aquelas penas severas que eles aplicam”.



Lembramo-lhe então que, numa matéria a seu respeito, um matutino paulista se referiu as estrangeiras que se prostituíam pelo equivalente Cr$ 20 mil. Foi um lapso de memória nosso, já que a informação não provinha dele e sim de um empresário que acompanhou Maluf, tendo sido enxertada para dar mais sabor ao texto. De qualquer forma, a reação do Rivelino foi típica: “Saiu isso na minha entrevista?”. O irmão Abílio confirma, lembra de haver lido algo a respeito. “Mas eu jamais falaria uma coisa dessas. Desconheço completamente o assunto. E vê lá se eu, estrangeiro ia dizer que são as estrangeiras que se prostituem em Riad ?! Nunca!”.



Lá não tem Praia, Cachaça e Mulher



A torcida árabe idolatra Rivelino, a grande atração do El Helal. Seus lançamentos milimétricos colocam os dois pontas, velocíssimos, cara a cara com o goleiro adversário. Cobranças de falta continuam sendo uma especialidade e até gol olímpico ele tem marcado. E, já que não permaneceu no Corinthians o suficiente para comemorar o campeonato longamente aguardado pela “Fiel”, ao menos deu essa satisfação aos fanáticos torcedores do El Helal, que acaba de conquistar a Copa do Rei (principal torneio local) após um jejum de 16 anos sem título.


O futebol, se tornou, também na Arábia Saudita, uma verdadeira paixão nacional, e com justo motivo: afinal, brinca Rivelino, à falta de praia, cachaça e mulher, o que sobra? Público de até 40 mil pessoas prestigiam os grandes jogos, vibrando imensamente e botando para fora toda emoção represada. Mas, em termos técnicos, o esporte ainda está engatinhando, com muita jogada infantil e ídolos que por aqui não passariam de esforçados cabeças-de-bagre.



Aos 34 anos, Rivelino considera-se em ótima forma física, tanto que não sofreu qualquer contusão grave desde que está em Riad. Pretende jogar ainda alguns anos, já que o fôlego continua dando. “Treino todo dia, numa temperatura entre 35 e 40 graus, e jogo normalmente, sem me poupar. Agora, não sei se aguentaria manter o mesmo ritmo no Brasil, afinal em Riad só se joga uma vez por semana e não essa barbaridade de três e até quatro partidas entre um domingo e outro. Nem bem os paulistas foram desclassificados no Campeonato Nacional e já têm que ir para o Interior disputar jogos difíceis pelo Campeonato Paulista. Desse jeito, até um rapaz de 25 anos logo, logo está estourado”.



Mesmo assim, ele sabe por alto do interesse do Palmeiras, São Paulo, Grêmio e Vasco em contratá-lo, pois esses times andaram fazendo algumas sondagens junto ao seu pai e procurador, o velho Nicola. E o mineiro Barbatana, técnico do El Helal, recebeu um telefonema do Cruzeiro, indagando também a respeito. Rivelino permanecerá em férias até agosto, quando termina seu contrato com o time saudita. Aí então decidirá seu futuro (e a impressão que nos fica é que tal decisão terá muito a ver com o montante da proposta a ser feita para a renovação do contato).



E mais além já existe alguma perspectiva para depois que pendurar as chuteiras? Tornar-se técnico, por exemplo? “Olha, no futuro pode ser que eu treine os juvenis, a garotada. Tenho muito a transmitir dessa minha experiência toda de jogador. E gosto de mexer com futebol, trabalhar, estar dentro do ambiente: a coisa já entrou no meu sangue. Dificilmente eu vou me aposentar de vez e perder todo contato com a bola”.



Tem dias que a gente joga uma merda



Vai longe o tempo em que Rivelino despontava como o melhor garoto já saído da escolinha de craques do Corinthians. Em meados dos anos 60, veio aquela partida empolgante contra os aspirantes do Santos, a goleada fragorosa (seis a três, se bem nos recordarmos), a conquista de um título e a rápida passagem de Rivelino para o time principal. Este, aliás, no mesmo dia da consagração do Rei Menino, perdeu para seu tradicional rival da Vila Belmiro por sete a quatro, deixando escapar mais um campeonato do alcance de suas mãos.



Rivelino fala com saudades desse período em que, ao lado de Dino Sani, formou um dos meios de campo mais perfeitos do futebol brasileiro (o jovem gênio impetuoso e imaturo se completando às mil maravilhas com um mestre no pleno domínio de sua arte). E responde à tradicional pergunta, sobre como se sente um jogador submetido a toda aquela pressão da torcida corinthiana: “De início, tudo era nervosismo, a vaia amarrava a gente em campo, ficava-se sem saber o que fazer. Com o tempo, a coisa acaba se tornando tão natural como respirar. Já nem se toma conhecimento. Nós, jogadores, aprendemos que estamos no gramado para ser um dia vaiados e outro aplaudidos. E não ligamos mais para uma ou outra coisa”.



E aquela fatídica decisão com o Palmeiras, não o deixou magoado? “Bem, nunca se entra em campo para perder, mas tem dias em que nada dá certo, a gente joga mesmo uma merda. Aquele foi um desses dias. E eu fiquei mesmo magoado, afinal a torcida me julgou apenas por noventa minutos e não pelos meus dez anos de dedicação ao clube. Lembram-se do jogo anterior, na quarta-feira, quando empatamos por um a um? Pois eu fora considerado o melhor em campo, estavam me botando nas nuvens. Aí veio o desastre no domingo e me crucificaram. Isso já havia acontecido anteriormente com o Gilmar, o São Gilmar, que saiu do Corinthians difamado e mal visto, para ser depois campeão mundial interclubes pelo Santos”.



Rivelino fez uma pausa, pensamos que havia encerrado e nos preparávamos para formular outra pergunta, quando ele insistiu: “Qual o jogador que não ia querer ser campeão? Mas o meu destino não era esse e eu acredito que destino é uma coisa traçada, tinha que acontecer assim e não teve jeito. E se Deus fechou uma porta, abriu outra, pois eu fui para o Rio, tive uma passagem muito feliz por lá e depois pintou o negócio da Arábia Saudita, que foi um negócio das Arábias mesmo”.



Seleção? Não quero



Rivelino, a escola dos grandes lançadores em profundidade vai acabar com você? O futebol moderno, fechando todos os espaços, não impede esse tipo de jogada? “Não, eu acho que ainda há bons lançadores, como o Ailton Lira e o Zenon. E também não acredito que se consiga fechar os espaços de forma tão completa. No Fluminense, por exemplo, cansei de lançar o Gil e vê-lo fazer um montão de gols. Principalmente quando o nosso time está ganhando e o adversário vem pra cima, surge sempre a condição de surpreender os homens com um lançamento longo. Tudo isso, claro, dependendo da característica dos companheiros. Em 1970, por exemplo, o Pelé e o Tostão eram mais jogadores de toque de bola, então a opção para ser lançado era o Jairzinho. De um momento para outro, decidiu-se uma partida”.



Daí a gente pode deduzir que um jogador do seu tipo, com habilidade individual, experiência, muita visão em campo e a capacidade de colocar a bola nos pés do companheiro a uma distância de cinquenta metros, encontrando-se além disso em bom estado atlético, tem tudo para disputar outra Copa do Mundo, não? “Seleção? Nem quero. Para mim, terminou tudo na Argentina, naquele último jogo conta a Itália. Já disputei três copas e conquistei uma. O que tinha de fazer, já fiz”.



A declaração veio tão enfática que até causou mal estar. Para desanuviar, lançamos uma pergunta que quase todos os jogadores de 1970 são chamados a responder: o técnico no sentido real do termo foi mesmo o Zagalo, ou o Gérson, Brito, Carlos Alberto e Pelé influíram mais? “Olha, ao que eu saiba, isso aí é uma lenda que os jornalistas da época criaram para justificar o fracasso de seus prognósticos. Andavam dizendo que nosso time era uma vergonha e não ia sequer passar das oitavas de finais. Quando trouxemos o caneco, precisavam inventar uma desculpa e saíram-se com essa. Claro que o Zagalo, como homem de diálogo, admitia discussões. Agora as decisões, quem tomava era ele e os jogadores todos obedecíamos”.



E – outro caso célebre – o Paulo César, ele realmente se poupou em 1974 porque estava contratado por um time francês? “Bom, a gente não pode botar a mão no fogo, de repente ele vem e fala que realmente foi isso mesmo, e aí como é que fica? Mas, do meu ponto de vista, existem os trombadores e os jogadores mais técnicos. O Caju está nessa última categoria e não me parece que tenha se omitido. Fez o que podia e o que sabia, dentro das características de seu futebol. Como procuram sempre um bode expiatório para as derrotas de maiores proporções e o Paulo César já era uma figura meio antipatizada, criarem essa fofoca em torno dele”.



Mulheres Gostosas, Essas? Que nada, são jacarés!



Isolado em Riad, Rivelino não podia acompanhar melhor os grandes jogos internacionais. Aqui no Brasil, ele assistiu à derrota da Argentina frente aos ingleses e se surpreendeu com o fato de que noventa por cento dos jogadores argentinos são os mesmos que disputaram a Copa de 1978. “Não é a toa que se oferece uma fábula pelo Maradona, quase não existem mais os craques de verdade. O que está por aí é muito jogador bonzinho e algumas promessas, nada mais. Antigamente, tinha o Pelé que era uma sumidade, mas existiam também craques para montar só no Brasil duas seleções de primeira linha. Hoje, para conseguir isso, seria necessário peneirar jogadores do mundo inteiro e ainda ficava faltando alguma coisa”.



Mas e o futebol-força, não compensa a escassez de grandes valores? “Até certo ponto. Mas qualquer jogador pode se adaptar a essa correria, se houver um bom condicionamento físico. Na minha opinião, o Brasil não deve ficar com essa psicose do futebol-força. Preciso, isto sim, prestigiar os grandes craques, não deixar que eles sucumbam à pancadaria e jogos em excesso. E, no mais, arrumar direitinho as seleções, para não ser surpreendido com tanta facilidade”.



Uma última pergunta: você está mesmo tão rico como um sheik das Arábias? “Bom, tenho algumas propriedadezinhas, inclusive este posto: o suficiente, digamos, para uma velhice tranquila. Mas isso porque sempre apliquei bem tudo o que ganho. No futebol, a gente deve aproveitar ao máximo, pois o prazo é muito curto. O ideal consiste em arrumar a vida neste período”.



A despedida é descontraída. Rivelino brinca com o mano Abílio, faz questão de ver uma revista masculina, para saber “junto com quem vão me botar”. Abílio lhe arruma um exemplar, ele olha com atenção: “Porra, estão mostrando tudo, mesmo!”. Abílio não perde a oportunidade: “Na Arábia, não tem disso, né?” Mas Rivelino não se dá por achado: “Em compensação, aí não puseram nenhuma mulher bonita, isso é tudo jacaré!”. Foi quando saímos, deixando os dois irmãos numa animada controvérsia sobre mulheres gostosas e jacarés. Mas temos certeza de que, quando receber esta PLAYMEN, Rivelino descobrirá que ainda existem muitas mulheres nacionais dignas de figurar no harém de qualquer rei dos petrodólares. 



Publicado originalmente na revista Playmen, edição número 1 em agosto de 1980

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