quinta-feira, 24 de maio de 2018

A história oculta dos cinemas eróticos de São Paulo

O documentário de longa-metragem Quando as Luzes das Marquises se Apagam: A História da Cinelândia Paulistana analisa o início, o auge e a decadência das antigas salas de cinema de São Paulo. Produzido de maneira independente, o filme foi dirigido pelo jornalista Renato Brandão e teve exibições na última edição do Festival É Tudo Verdade, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Do início do projeto até o seu lançamento em abril deste ano foram dez anos de pesquisa. O realizador concentrou-se nas salas localizadas no bairro da República, na antiga Cinelândia paulistana, formada pelos antigos cinemas Art Palácio, Comodoro, Coral, Ipiranga, Jussara, Marabá, Marrocos, Metro, Olido e República. “Fiz esse recorte", disse Brandão, "Senão não daria para fechar esse trabalho”.
Em conversa com o VSP, o diretor do documentário contou a origem do projeto, lembrou dos grandes momentos da Cinelândia paulista e ainda explicou a importância dos velhos cinemas de rua pro desenvolvimento da cultura cinematográfica no Brasil.


VSP: Como surgiu a ideia de fazer um documentário sobre os cinemas do centro de São Paulo?

Renato Brandão: Eu estudava jornalismo na ECA-USP (Universidade de São Paulo) e precisava entregar um trabalho de conclusão de curso. Minha ideia era fazer algo relacionado ao centro de São Paulo e alguém me deu a sugestão de fazer algo sobre os cinemas que ficavam na Ipiranga e na São João. Naquela época ainda existiam algumas dessas salas abertas no centro. Quando comecei tudo não sabia que os cinemas eram remanescentes de um circuito muito maior. Queria contar a história daquelas salas e porque elas tinham virado cinemas eróticos.
Mas desde o primeiro momento você pensou em fazer um filme? Não pensou antes em livro ou outro formato?

Não. Eu queria fazer um longa-metragem desde o começo. A pesquisa demorou um ano e meio. Depois eu comecei a rodar o filme com o pessoal da faculdade mesmo.
Porque você decidiu fixar as pesquisas nas salas do bairro da República?

Porque ali ficava o circuito da Cinelândia, o circuito mais importante da cidade. Mas não pensei em incluir mais salas de outros pontos do centro porque achei que não daria conta.
Qual pode ser considera o período auge da Cinelândia paulistana?

Do final dos anos 1940 até o inicio dos anos 1960. Esse foi o auge.
Quais são as salas mais representativas desse local?

Essa pergunta é muito difícil. Cada entrevistado teve uma opinião diferente a esse respeito. Mas eu posso destacar o Art Palácio, o Cine Metro, o Marabá, o Cine Comodoro. Algumas dessas salas eram enormes e causavam diferentes emoções nas pessoas.
Como você conseguiu aquele vasto material fotográfico? Você teve acesso a fotos até da construção de algumas salas.

Foram muitos anos pesquisando em acervos diversos. Depois eu fui descobrindo os acervos públicos, particulares e fui montando uma espécie de um banco de imagens. Daí fui juntando tudo para tentar fazer uma versão adequada para a produção. Na primeira versão do filme que entreguei no final do curso não tinha quase nenhuma imagem. Eram mais entrevistas. Depois enxuguei e retirei alguns depoimentos. Construí outra narrativa. Completamente diferente daquela primeira.
Quais foram as maiores dificuldades?

Recursos financeiros. Em resumo foi mais isso. Porque você precisa de muito dinheiro pra fazer um filme e eu não tinha tudo isso. Então, dependeu quase exclusivamente de mim essa parte e isso levou muito tempo. Eu não faria mais um projeto desse tipo completamente independente. Como já tinha começado decidi perseguir. Até tentei entrar num edital, mas não consegui. Então, resolvi levar adiante com a paciência que eu tinha. Depois quando eu estava com 75% da produção concluída entrei num financiamento coletivo. Isso me garantiu a pós-produção porque e assim consegui finalizar o filme. Senão ele seria finalizado em mais tempo ainda. Talvez eu nem conseguiria concluir o filme.

Quanto tempo demorou tudo?

Uns dez anos. Eu comecei as pesquisas em 2007, mas somente no ano seguinte eu consegui trabalhar com mais referência e já tinha ideia do que era a Cinelândia. Tendo recursos financeiros eu conseguira ter terminado o documentário em três ou quatro anos.
Quais são os seus próximos planos para o filme? Ele irá para mais festivais?

Sim. Tem todo um circuito de festivais ainda para alguns meses. Depois eu não sei. Vou me reunir com a diretora de produção para definir e ser assistido por outras pessoas. Hoje em dia tem outras plataformas para ver o filme. Mas o cinema ainda propriamente dito é o lugar mais interessante.
Tem alguma previsão do filme ser exibido comercialmente?

Não. Normalmente esse ciclo de festivais leva de nove a doze meses. Isso porque esses festivais tem exigência de data. Quando as Luzes das Marquises se Apagam ficou pronto em março de 2018. Então, continuará nesse ciclo de festivais até se encerrar a aceitação dele.
Você tem mais projetos de cinema pro futuro?

Tenho ideias. Mas não adianta ter isso se você não tenha já em mente como financiar e produzir o seu projeto. É necessário pensar muito para não passar todas as dificuldades que passei nesses dez anos. É preciso muita paciência, perseverança e trabalho. É difícil fazer um projeto na guerrilha, na raça.

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