quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Entrevista com Gabriel Carneiro, diretor de "Esboçando Miziara", de "Amigos Filmam Amigos"



O cineasta Gabriel Carneiro ficou responsável pelo episódio Esboçando Miziara, sobre o ator e diretor José Miziara. Ele conversou com exclusividade com o VSP.

Como surgiu a possibilidade de você dirigir um curta sobre o José Miziara?

Quando o entrevistei para a Zingu!, em 2010, fiquei bastante entusiasmado com o resultado e quis prolongar a experiência. Na época, minha ideia era fazer um livro-perfil sobre ele para a Coleção Aplauso. Até cheguei a conversar com o Rubens Ewald Filho, que coordenava a coleção, e ele ficou interessado, mas a Aplauso já estava sem verba e acabou em 2010 mesmo. Uns anos depois, conversando com o Pedro Ribaneto, fotógrafo do filme, que tinha filmado a entrevista, resolvemos transformar o livro num curta-metragem. Isso foi em 2014, se não me engano, mas o projeto nunca engatou. Quer dizer, até o ano passado, quando o Diomédio Piskator me convidou para dirigir um dos episódios para um dos longas em episódios a serem realizados pelo Memorial do Cinema Paulista. Logo pensei em retomar esse projeto com o Miziara. Na época, ainda não era o Amigos Filmam Amigos, era outro longa. Iam ser uns 13, 14 curtas. Os cinco efetivamente feitos viraram o Amigos.

Quais foram as maiores dificuldades?

A principal dificuldade foi em relação a material de arquivo. Quando o entrevistei em 2010, ele me mostrou um acervo incrível de fotos e revistas do começo do carreira, do tempo do circo, da televisão. Há uns anos atrás, houve uma infiltração violenta na casa dele e esse acervo sumiu. Não sei se foi destruído, se foi guardado em outro lugar e não sabem bem onde é, se foi simplesmente jogado fora. O Miziara não tinha mais nada em termos de registros visuais da carreira dele. O pouco que consegui foi com a Cinemateca Brasileira, algumas fotos de bastidores de filmes, e com a filha dele, Patricia Papa, que encontrou uma foto digitalizada e algumas coisas de um dos filmes dele em que ela participou. Os próprios filmes, em sua maioria, estão com uma qualidade de imagem muito ruim, boa parte dos filmes só tem cópia em VHS. Então tive que encontrar um jeito de dar uma dinâmica por filme para que ele não fosse só uma entrevista filmada, que não me interessava fazer. Tanto que o formato entrevista mais convencional é justamente da gravação de 2010. Cacei o que consegui de acervo e quase tudo entrou no filme.


Na sua opinião, qual a importância do José Miziara para o cinema da Boca e pro cinema brasileiro?

Para mim, o Miziara realizou algumas das melhores comédias brasileiras, caso de O Bem Dotado - O Homem de Itu (1978) e Pecado Horizontal (1983). E fez alguns outros filmes muito bons. Ele tinha umas sacadas de roteiro muito interessantes, umas gags visuais e sonoras que funcionavam bem. Não havia muitos pudores. Ao mesmo tempo, tinha uma simplicidade e um interesse por problemas mundanos como pouco se viu. O episódio de Pecado Horizontal em que o rapaz tem uma crise de hemorróidas antes da trepada é coisa de outro mundo. São filmes que vi há mais de dez anos pela primeira vez e ficaram muito tempo comigo. E a maior qualidade: rio toda vez que revejo uma cena - rio toda vez que essas vejo cenas no Esboçando Miziara, que eu mesmo montei, ou seja, já saturei bem do curta (risos). Isso não é pouco não.

Quais são seus próximos projetos no audiovisual?

Atualmente, não tenho nenhum projeto mais desenvolvido com viés autoral. Estou com alguns roteiros. Dois precisam de dinheiro, são projetos de animação, de que nada domino em termos práticos, e ainda preciso desenvolver toda uma parte do projeto (storyboard, desenhos de conceito etc.) para inscrever em editais. Pro outro, falta o ânimo de fazer produção, uma área que não curto tanto fazer e, por conta disso, acabo deixando de lado. O futuro é sombrio para a cultura, nem sei o que conseguiremos desenvolver e escoar nos próximos anos.

Sigo fazendo vídeos institucionais na área cultural, bastante vídeo de entrevista com personalidades diversas para a internet, pela minha produtora, a Belluah Produções. E sigo também escrevendo e pesquisando sobre cinema.


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