sábado, 31 de outubro de 2020

Máximo Barro (1930-2020)



Foi logo quando publiquei o livro do Gaúcho. O Gaúcho me ligou um dia: “O Máximo Barro quer que você vá na casa dele. Ele quer conhecer o jovem que pesquisa cinema brasileiro”. Eu já conhecia o Máximo Barro de contatos telefônicos pra Zingu e dos lançamento da Coleção Aplauso. Me deu autógrafos e tudo. Mas lógico que eu sabia bem de seus trabalhos como pesquisador, autor, professor e montador...

 

O cara foi antecessor da própria fundação da faculdade de cinema da FAAP. Ele deu aula no Seminário de Cinema que deu origem a faculdade. Atendendo ao Gaúcho fui uma tarde na casa do Máximo. Ele morava em Higienópolis, pertinho de onde o Alfredinho Sternheim morava. O Máximo era generosíssimo. Mesmo tendo um currículo cem mil vezes maior que o meu me tratou de igual para igual. Isso é inesquecível. A esposa dele fez um café e tal. Gentilíssima. Ficamos conversando uma tarde. Mas ele falou: “Pois é mas eu queria que você me desse um exemplar do seu livro pra darmos pra biblioteca da FAAP”. Falei que topava. “Mas tem um problema...Eu esqueci o exemplar. Você vai ter que voltar outro dia”.

 

Lembro que fui uma segunda vez, autografei o livro e ele ficou todo feliz: “Agora esse exemplar vai ficar lá por todo o sempre”. Algo assim. Mas conversamos muito, horas e horas. O cara tinha sido amigo pessoal do Biafora, Khouri, Sérgio Hingst, Carlos Motta, entre muitos outros.

 

O Máximo tinha muitos livros publicados e foi professor da FAAP durante anos e anos. Montou dezenas de longas-metragens de Khouri, Mazzaropi, José Carlos Burle, Fernando de Barros, Deni Cavalcanti, um currículo muito longo. Não tenho gabarito moral para opinar sobre a carreira dele como montador.

 

Não fui aluno do Máximo mas fui influenciado por ele. Mas não foi pelos livros ou artigos. Foi pelas inúmeras entrevistas que ele fez pro Museu da Imagem e do Som de São Paulo com veteranos da Vera Cruz, Maristela, Multifilmes. Até com gente do Ciclo de Campinas. Ele fez isso na década de 1980 e pegou todo aquele pessoal do cinema industrial paulista que morreu logo depois. Que me desculpem os outros: nunca houve alguém que soubesse mais que o Máximo do cinema paulista dessa época. Nunca houve. Era espantoso. Ele dava baile nos caras. Inclusive nesses que fizeram carreira acadêmica.

 

Nunca fui amigo pessoal do Máximo mas fui do Alfredinho. O Alfredo gostava muito do Máximo. No “A Ilha” (1963) do Khouri os dois se conheceram e ficaram amigos ali. Alfredinho era quase adolescente e o Máximo Barro já era o Máximo Barro. Impressionante, uma verdadeira entidade do cinema paulista.

 

O Alfredo mesmo me falava muito que o Máximo foi o maior pesquisador de cinema paulista que já teve. Ele devia estar certo. Tivemos juntos poucas vezes mas sempre tive uma enorme admiração por ele.


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