O curta-metragem Lembranças de
Mayo recebeu o prêmio de melhor filme na VII Janela Internacional de
Recife que acabou no domingo retrasado (dia 15). A produção mineira de 28
minutos é a estreia do diretor Flávio C. von Sperling, o Flamingo, e teve no
elenco dois nomes conhecidos do cinema da Rua do Triunfo: Cláudio Cunha e
Nicole Puzzi. "A Boca [do Lixo] foi o ciclo mais diverso, rico, livre e
debochado do nosso cinema", opina o realizador.
A história do curta gira em torno do namoro da atriz Zilda (Nicole Puzzi) com um músico mais jovem (Samuel Marotta). O rapaz apresenta a musa ao pai (Cláudio Cunha), fã da atriz no passado. O triângulo amoroso está formado. Flamingo está esbanjando otimismo com seu filme. "Vamos enviar para todos os festivais. Espero que o curta tenha uma carreira interessante e seja visto pelo maior número possível de pessoas."
O jovem realizador só lamenta que Lembranças
de Mayo seja o último trabalho de Cláudio Cunha no cinema. O ator
morreu em abril deste ano sem ver o curta pronto. "É um misto de uma
tristeza terrível de ele ter partido e uma honra enorme de ele ter me dado essa
oportunidade de trabalharmos juntos", resume Flamingo. VICE conversou com
ele.
Violão, Sardinha e
Pão- Qual é a emoção de o filme ter sido premiado na Janela Internacional de
Recife?
Flamingo: Impossível ter
estreia melhor. Vê-lo na tela do Cine São Luiz com o carinho que o Janela
Internacional tem com os filmes já foi um prêmio. Confesso que não imaginava
ser premiado. É uma comédia (gênero historicamente tratado como menor), além de
a mostra competitiva brasileira ter sido recheada de muitos filmes bons.
Agradeço ao júri e, sobretudo, a todo mundo que soltou aquelas risadas que ouvi
durante a sessão – que foi linda. O filme tá aí pra isso.
Como surgiu a ideia
do curta Lembranças de Mayo?
A ideia surgiu em meados de 2012. O
Maurílio Martins, da produtora Filmes de Plástico, surgiu com a primeira ideia
[de] que devíamos fazer um filme chamado Lembranças de Mayo. Sempre
falávamos isso, sempre papo de boteco. Em 2013, me reuni com meus sócios
Leonardo Amaral e Samuel Marotta, e, embalados na cachaça, fizemos uma espécie
de escaleta, apontando cenas e situações. A partir disso, desenvolvi o roteiro.
Qual influência o cinema
da Boca teve no curta?
O filme foi uma homenagem, uma
declaração de amor a esse tipo de cinema, sobretudo às atrizes. A Boca foi o
ciclo mais diverso, rico, livre e debochado do nosso cinema, tendo produzido de
tudo: filmes de horror, guerra, comédias eróticas, musicais, caipiras – viva
Carcaça –, westerns. As chamadas pornochanchadas são os filmes com os quais o Lembranças se
relaciona de maneira mais explícita. O filme tem signos, tropos, clichês
típicos do gênero: cena de voyeurismo, a figura do 'corno', etc., além de
recursos de linguagem caros ao gênero homenageado (e ao cinema italiano
popular, outra grandíssima influência para mim e para o filme).
É verdade que
inicialmente você queria a atriz Zilda Mayo para o papel principal?
Sim. Cheguei a visitá-la em Araraquara.
Zilda foi um doce, e conversamos uma tarde inteira sobre cinema. Nem chegamos a
falar especificamente do roteiro, ela leu depois de nos despedirmos. Ela me
ligou, agradecendo e [se] mostrando lisonjeada com a homenagem. Mas ela optou por
não atuar no filme. Algumas cenas, ela achava delicada. Ela estava num momento
pessoal difícil.
Como foi trabalhar
com o Cláudio Cunha?
Cláudio é cinema. Ator gigante e cineasta maior ainda. Ator seguro: não ensaiávamos (apenas quando tinha mais gente em cena ou movimento de câmera), apesar de termos filmado em película e com poucas latas. Ele me passava essa segurança. Além de ser a alegria do set. Qualquer segundo de respiro (entre planos, momentos de refeições, etc.), ele chegava com as piadas horríveis que se tornavam geniais quando contadas pelo Cláudio.
Cláudio é cinema. Ator gigante e cineasta maior ainda. Ator seguro: não ensaiávamos (apenas quando tinha mais gente em cena ou movimento de câmera), apesar de termos filmado em película e com poucas latas. Ele me passava essa segurança. Além de ser a alegria do set. Qualquer segundo de respiro (entre planos, momentos de refeições, etc.), ele chegava com as piadas horríveis que se tornavam geniais quando contadas pelo Cláudio.
E a Nicole?
Nicole tem aquilo que poucas atrizes têm: uma presença natural quase mística. Nos detalhes, no olhar. Ela e a câmera se conhecem. Se amam, aliás. A experiência e o talento extensos da Nicole me ajudaram muito a ter segurança na hora de dirigi-la. Foi, graças a ela, um desafio muito menor do que eu antecipava.
Nicole tem aquilo que poucas atrizes têm: uma presença natural quase mística. Nos detalhes, no olhar. Ela e a câmera se conhecem. Se amam, aliás. A experiência e o talento extensos da Nicole me ajudaram muito a ter segurança na hora de dirigi-la. Foi, graças a ela, um desafio muito menor do que eu antecipava.
Quais as maiores
dificuldades que você teve na produção do curta?
Filmamos em dezesseis milímetros. Tínhamos apenas seis latas de 66 minutos para uma fita de 30 minutos. Vacilou, já era. O filme tem dois planos-sequência e um plano da [cantora] Flávia Falcão cantando uma música inteira para a câmera. Dá aquele medo de errar e faltar. Graças à equipe e ao elenco, conseguimos filmar tudo na conta certa. Foi o primeiro filme que dirigi em película, e esse desafio de faltar filme me ensinou a dar mais atenção aos ensaios. Acredito que também ganhei mais segurança para a minha próxima direção.
Filmamos em dezesseis milímetros. Tínhamos apenas seis latas de 66 minutos para uma fita de 30 minutos. Vacilou, já era. O filme tem dois planos-sequência e um plano da [cantora] Flávia Falcão cantando uma música inteira para a câmera. Dá aquele medo de errar e faltar. Graças à equipe e ao elenco, conseguimos filmar tudo na conta certa. Foi o primeiro filme que dirigi em película, e esse desafio de faltar filme me ensinou a dar mais atenção aos ensaios. Acredito que também ganhei mais segurança para a minha próxima direção.
Como você se sente
por seu filme ser o último trabalho do Cláudio Cunha no cinema?
É um misto de uma tristeza terrível de
ele ter partido e uma honra enorme de ele ter me dado essa oportunidade. É uma
responsabilidade tremenda ter feito o último filme dele, e me dói profundamente
que ele tenha ido sem poder assistir ao nosso filme.
Lembranças de Mayo vai ser exibido
em mais festivais?
O filme foi convidado para a mostra
Vingança dos Filmes B, em Porto Alegre, e mesmo no Cine Under, no Recife. Por
enquanto, essas são as exibições marcadas. Mas agora vamos começar a enviar
para todos os festivais e mostras. Espero que tenha uma carreira interessante e
seja visto pelo maior número possível de pessoas.
Quais são seus novos
projetos?
Não tem nenhum filme prestes a ser
realizado agora. Os projetos ainda estão em fase de argumento ou roteiro. Posso
dizer, sem dúvidas, que a Boca tem influência em tudo que fiz/faço/fizer. Mas
meus próximos projetos não terão essa relação tão explícita com a Boca como o Lembranças
de Mayo.
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