VANESSA
ALVES
A
virgem da Boca
Por Bianca Bellucci,
Heros Macedo, Heverton Bruno, Larissa Palmer, Renata Rocha e Tamires Camargo.
Zilda Cristina Alves
Pinto, ou melhor, Vanessa Alves, conheceu o mundo artístico com apenas quatro
anos de idade. Bailarina e garota-propaganda de comerciais, chegou a fazer
figuração em programas infantis da extinta TV Tupi. Mas foi somente aos 16 anos
de idade que a menina tímida chamou a atenção dos olhares atentos do cinema
nacional. Até então, Zilda, de cabelos castanhos, estava esperando o ônibus de
volta para casa, na Vila Gumercindo, em São Paulo, quando foi abordada por um
homem, em frente à TV Tupi.
- Ei, menina! Você quer
fazer cinema?
Ela aceitou o cartão de
um produtor chamado Antônio Polo Galante, e disse que pensaria na proposta.
Continuou o caminho para casa, sem dar muita bola para o convite – afinal ela
não era atriz, apenas tinha feito alguns comerciais e campanhas publicitárias,
mas nunca havia atuado. Chegou em casa e contou para a mãe, dona Maria Irena, o
que tinha acontecido, mas não se preocupou em ver do que se tratava. Mal sabia
ela que só estava adiando um futuro inevitável.
Pouco tempo depois, a sua
agência entrou em contato. Havia surgido um teste para um filme e tinham se
interessado pelo seu perfil. “A Filha de Emanuelle” (1980) era o nome da
produção, Osvaldo de Oliveira era o diretor e Antônio Polo Galante era o
produtor – sim, o mesmo homem do cartão que ela esnobou: “Eu ir para a Boca do
Lixo, na rua do Triunfo? Fazer filme e ter que tirar a roupa? Eu não!
Imagina!”, pensava Vanessa. No final, ela acabou conquistando um papel pequeno,
de coadjuvante. Mas, por um acaso do destino, Vanessa acabou se tornando a
protagonista do filme. Infelizmente, a atriz que estava escalada para o papel
principal sofreu um acidente e não pôde participar das gravações. Assim, o
diretor convidou Vanessa para viver Linda, e foi deste jeito torto que ela
entrou para o cinema.
O filme foi um sucesso de
bilheteria e levou mais de 700 mil pessoas para o cinema. Já a moça, ainda
virgem, virou musa de um bando de marmanjões. Sua mãe, orgulhosa, exibia este e
outros pôsteres de pornochanchada espalhados pela casa, sem a menor vergonha de
mostrar a sua primogênita seminua estampada nos cartazes.
- Tinha uma tarja preta
nas partes íntimas ou eu aparecia de costas, mas, mesmo assim, quem entrava em
casa se impressionava: “Olha! A Vanessa” E eu lá, meio nua no meio da sala.
Já no seu segundo filme
“Paraíso Proibido” (1981), desta vez com Carlos Reichenbach, interpretou Paula,
uma menina de cidade do interior que se apaixonava pelo locutor de rádio
interpretado por Jonas Bloch. Foi a partir deste filme que Vanessa e Carlão,
como ela carinhosamente chama o cineasta, formaram uma parceria. Ao todo, foram
cinco filmes produzidos pela dupla.
O primeiro ou segundo
filme com Carlão, inclusive marcou um momento bem engraçado na vida de Vanessa.
Menstruada, ela precisava fazer uma cena de biquíni, mas não sabia como poderia
gravá-la. A solução foi correr e pedir ajuda para o maquiador Mário Lúcio.
- Ué, mulher! Bota OB!
- Eu não posso colocar o OB
– confessou Vanessa, tímida.
- Como não pode? – depois
de alguns minutos, o maquiador percebeu o que a garota queria dizer. – Meu
Deus, você é moça! E como é que faz esses filmes? Como é que você fez essas
cenas supersensuais? Você é virgem! Me explica como?
- Ah, não sei ! Eu
simplesmente faço. Eu observou como as outras pessoas fazem e copio – admitiu a
atriz.
Outra história que ela
tem orgulho em contar é a de seu Kikito. O prêmio de Atriz Coadjuvante recebido
pelo Festival de Gramado de 1987 foi consagrado pela sua atuação no filme
“Anjos do Arrabalde” (1987). A estatueta, também chamada de “deus do bom
humor”, fica exposta em sua casa até hoje. Claro que o diretor só podia ter
sido o seu amigo Carlão. O longa também faturou prêmio de melhor filme e Beth
Faria, a melhor atriz.
Mas a dupla não parou por
aí. Como o profissionalismo de Vanessa além de sua beleza, sempre chamaram a
atenção do diretor, ela atuou em mais outros três filmes do Carlão. São eles:
“Extremos do Prazer” (1984), “Filme demência” (1986) e “Garotas do ABC” (2003),
este último longa também foi seu último trabalho no cinema. Ela só aceitou por
convite e insistência do amigo.
Se todos esses fatos ela
conta com um sorriso no rosto, o dia em que brigou feio com o ator Wagner
Maciel na peça “Beijo na boca” (1978), de Ronaldo Boschi, não é uma de suas
recordações favoritas – embora talvez seja uma das mais engraçadas. Mesmo brigando
com o colega de cena e estando aos prantos, quando o terceiro sinal tocou, a
cortina abriu e o espetáculo começou, Vanessa se transformou em outra mulher.
Ela era aquela que tinha que lidar com a homossexualidade do marido. Porém,
bastava os dois voltarem para a coxia que o bate-boca e a choradeira
continuavam. A melhor parte disso foi o final da peça, quando uma convidada do
elenco que estava nos bastidores falou:
- Vanessa, estou
totalmente passada. Você merecia um Oscar. Como é que você consegue ficar
chorando e brigando com o ator e entrar em cena e fazer tudo parecer normal?
Esse fato é somente mais
uma confirmação do que Galante e Carlão viram na linda menina virgem e tímida,
que era capaz de esperar por horas sentada em um mesmo lugar aguardando uma
ordem. Vanessa era uma profissional que levava a sério tudo que fazia. Seguia à
risca as ordens e o roteiro, e possuía uma técnica de cinema invejável, como
poucas atrizes tinham.
- Eu nunca tive grandes
problemas, nem com diretor, nem com produtor. Não sei se é por causa do meu
jeito de ser, de estar sempre na minha, sempre quieta e muito tímida. Chegava
ao set hiperdecorada e com muita atenção para não errar nada. O que as pessoas
pediam para eu fazer, eu fazia. Se era pra tirar a roupa, vamos tirar.
Talvez devem ser por
esses motivos que a musa hoje, além do seu Kikito, mantém uma carreira estável
dublando e dirigindo dublagens junto ao seu marido, Paulo Celestino Filho, e a
sua amiga da época da Boca, Patrícia Scalvi. Vanessa não tem intenção de fazer
TV ou teatro de acordo com ela, essas coisas ocupam muito seu tempo e ela tem
paixão por dublar. Mas, fica a dica, caso apareça algum convite para o cinema
novamente: “Por que não?”.
FICHA TÉCNICA
Nome completo: Zilda
Cristina Alves Pinto
Nome artístico: Vanessa
Alves
Data de nascimento: 4 de
setembro de 1962
Naturalidade: São Paulo
(SP).
Principais bilheterias da
pornochanchadas:
“A filha de Emanuelle”
(1980), Osvaldo de Oliveira
“A menina e o estuprador”
(1982), Conrado Sanchez
“O motorista do fuscão
preto” (1983), José Adalto Cardoso
“Volúpia de mulher”
(1984), John Doo
Outros trabalhos
relevantes:
“Anjos do arrabalde”
(1987), Carlos Reichenbach
“Corruptores de la
frontera” (1988), Teo Kofman
“Garotas do ABC” (2003),
Carlos Reichenbach
Onde vive hoje: São Paulo
(SP)
Onde faz hoje: Diretora
de dublagem, dubladora e atriz.
Publicado originalmente
no trabalho acadêmico Superfêmeas- as
mulheres que fizeram a história da pornochanchada de autoria de Bianca
Bellucci, Heros Macedo, Heverton Bruno, Larissa Palmer, Renata Rocha e Tamires
Camargo, publicado como trabalho de conclusão do bacharelado em jornalismo da
Universidade Metodista de São Paulo em 2014.
Um comentário:
Contando ninguém acredita,uma desmaia ao tirar a roupa,a outra se manteve virgem...
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