sábado, 14 de maio de 2016

Superfêmeas II: Vanessa Alves

VANESSA ALVES
A virgem da Boca



Por Bianca Bellucci, Heros Macedo, Heverton Bruno, Larissa Palmer, Renata Rocha e Tamires Camargo.

Zilda Cristina Alves Pinto, ou melhor, Vanessa Alves, conheceu o mundo artístico com apenas quatro anos de idade. Bailarina e garota-propaganda de comerciais, chegou a fazer figuração em programas infantis da extinta TV Tupi. Mas foi somente aos 16 anos de idade que a menina tímida chamou a atenção dos olhares atentos do cinema nacional. Até então, Zilda, de cabelos castanhos, estava esperando o ônibus de volta para casa, na Vila Gumercindo, em São Paulo, quando foi abordada por um homem, em frente à TV Tupi.

- Ei, menina! Você quer fazer cinema?

Ela aceitou o cartão de um produtor chamado Antônio Polo Galante, e disse que pensaria na proposta. Continuou o caminho para casa, sem dar muita bola para o convite – afinal ela não era atriz, apenas tinha feito alguns comerciais e campanhas publicitárias, mas nunca havia atuado. Chegou em casa e contou para a mãe, dona Maria Irena, o que tinha acontecido, mas não se preocupou em ver do que se tratava. Mal sabia ela que só estava adiando um futuro inevitável.

Pouco tempo depois, a sua agência entrou em contato. Havia surgido um teste para um filme e tinham se interessado pelo seu perfil. “A Filha de Emanuelle” (1980) era o nome da produção, Osvaldo de Oliveira era o diretor e Antônio Polo Galante era o produtor – sim, o mesmo homem do cartão que ela esnobou: “Eu ir para a Boca do Lixo, na rua do Triunfo? Fazer filme e ter que tirar a roupa? Eu não! Imagina!”, pensava Vanessa. No final, ela acabou conquistando um papel pequeno, de coadjuvante. Mas, por um acaso do destino, Vanessa acabou se tornando a protagonista do filme. Infelizmente, a atriz que estava escalada para o papel principal sofreu um acidente e não pôde participar das gravações. Assim, o diretor convidou Vanessa para viver Linda, e foi deste jeito torto que ela entrou para o cinema.

O filme foi um sucesso de bilheteria e levou mais de 700 mil pessoas para o cinema. Já a moça, ainda virgem, virou musa de um bando de marmanjões. Sua mãe, orgulhosa, exibia este e outros pôsteres de pornochanchada espalhados pela casa, sem a menor vergonha de mostrar a sua primogênita seminua estampada nos cartazes.

- Tinha uma tarja preta nas partes íntimas ou eu aparecia de costas, mas, mesmo assim, quem entrava em casa se impressionava: “Olha! A Vanessa” E eu lá, meio nua no meio da sala.

Já no seu segundo filme “Paraíso Proibido” (1981), desta vez com Carlos Reichenbach, interpretou Paula, uma menina de cidade do interior que se apaixonava pelo locutor de rádio interpretado por Jonas Bloch. Foi a partir deste filme que Vanessa e Carlão, como ela carinhosamente chama o cineasta, formaram uma parceria. Ao todo, foram cinco filmes produzidos pela dupla.

O primeiro ou segundo filme com Carlão, inclusive marcou um momento bem engraçado na vida de Vanessa. Menstruada, ela precisava fazer uma cena de biquíni, mas não sabia como poderia gravá-la. A solução foi correr e pedir ajuda para o maquiador Mário Lúcio.

- Ué, mulher! Bota OB!
- Eu não posso colocar o OB – confessou Vanessa, tímida.

- Como não pode? – depois de alguns minutos, o maquiador percebeu o que a garota queria dizer. – Meu Deus, você é moça! E como é que faz esses filmes? Como é que você fez essas cenas supersensuais? Você é virgem! Me explica como?
- Ah, não sei ! Eu simplesmente faço. Eu observou como as outras pessoas fazem e copio – admitiu a atriz.

Outra história que ela tem orgulho em contar é a de seu Kikito. O prêmio de Atriz Coadjuvante recebido pelo Festival de Gramado de 1987 foi consagrado pela sua atuação no filme “Anjos do Arrabalde” (1987). A estatueta, também chamada de “deus do bom humor”, fica exposta em sua casa até hoje. Claro que o diretor só podia ter sido o seu amigo Carlão. O longa também faturou prêmio de melhor filme e Beth Faria, a melhor atriz.

Mas a dupla não parou por aí. Como o profissionalismo de Vanessa além de sua beleza, sempre chamaram a atenção do diretor, ela atuou em mais outros três filmes do Carlão. São eles: “Extremos do Prazer” (1984), “Filme demência” (1986) e “Garotas do ABC” (2003), este último longa também foi seu último trabalho no cinema. Ela só aceitou por convite e insistência do amigo.

Se todos esses fatos ela conta com um sorriso no rosto, o dia em que brigou feio com o ator Wagner Maciel na peça “Beijo na boca” (1978), de Ronaldo Boschi, não é uma de suas recordações favoritas – embora talvez seja uma das mais engraçadas. Mesmo brigando com o colega de cena e estando aos prantos, quando o terceiro sinal tocou, a cortina abriu e o espetáculo começou, Vanessa se transformou em outra mulher. Ela era aquela que tinha que lidar com a homossexualidade do marido. Porém, bastava os dois voltarem para a coxia que o bate-boca e a choradeira continuavam. A melhor parte disso foi o final da peça, quando uma convidada do elenco que estava nos bastidores falou:

- Vanessa, estou totalmente passada. Você merecia um Oscar. Como é que você consegue ficar chorando e brigando com o ator e entrar em cena e fazer tudo parecer normal?

Esse fato é somente mais uma confirmação do que Galante e Carlão viram na linda menina virgem e tímida, que era capaz de esperar por horas sentada em um mesmo lugar aguardando uma ordem. Vanessa era uma profissional que levava a sério tudo que fazia. Seguia à risca as ordens e o roteiro, e possuía uma técnica de cinema invejável, como poucas atrizes tinham.

- Eu nunca tive grandes problemas, nem com diretor, nem com produtor. Não sei se é por causa do meu jeito de ser, de estar sempre na minha, sempre quieta e muito tímida. Chegava ao set hiperdecorada e com muita atenção para não errar nada. O que as pessoas pediam para eu fazer, eu fazia. Se era pra tirar a roupa, vamos tirar.

Talvez devem ser por esses motivos que a musa hoje, além do seu Kikito, mantém uma carreira estável dublando e dirigindo dublagens junto ao seu marido, Paulo Celestino Filho, e a sua amiga da época da Boca, Patrícia Scalvi. Vanessa não tem intenção de fazer TV ou teatro de acordo com ela, essas coisas ocupam muito seu tempo e ela tem paixão por dublar. Mas, fica a dica, caso apareça algum convite para o cinema novamente: “Por que não?”.


FICHA TÉCNICA
Nome completo: Zilda Cristina Alves Pinto
Nome artístico: Vanessa Alves
Data de nascimento: 4 de setembro de 1962
Naturalidade: São Paulo (SP).

Principais bilheterias da pornochanchadas:
“A filha de Emanuelle” (1980), Osvaldo de Oliveira
“A menina e o estuprador” (1982), Conrado Sanchez
“O motorista do fuscão preto” (1983), José Adalto Cardoso
“Volúpia de mulher” (1984), John Doo

Outros trabalhos relevantes:
“Anjos do arrabalde” (1987), Carlos Reichenbach
“Corruptores de la frontera” (1988), Teo Kofman
“Garotas do ABC” (2003), Carlos Reichenbach

Onde vive hoje: São Paulo (SP)

Onde faz hoje: Diretora de dublagem, dubladora e atriz.

Publicado originalmente no trabalho acadêmico Superfêmeas- as mulheres que fizeram a história da pornochanchada de autoria de Bianca Bellucci, Heros Macedo, Heverton Bruno, Larissa Palmer, Renata Rocha e Tamires Camargo, publicado como trabalho de conclusão do bacharelado em jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo em 2014.


Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Contando ninguém acredita,uma desmaia ao tirar a roupa,a outra se manteve virgem...