O PAI DE MENINO DA
PORTEIRA
Ele se chama Luizinho e
é o autor da música deste clássico sertanejo. Também é dele a primeira gravação
deste sucesso.
Não existe dentro da
música sertaneja quem não conheça, de cor e salteado, a letra e melodia de um
dos seus maiores clássicos, Menino da
Porteira. Mas o que pouca gente sabe e conhece é exatamente como nasceu
esse sucesso que já foi regravado 150 vezes e teve em Sérgio Reis seu mais
feliz intérprete – depois transformado em feliz com o próprio Sérgio e que
acabou sendo um dos maiores recordistas nacionais de bilheteria.
Quase todas as músicas
sertanejas têm uma história, muitas delas até inspiradas em personagens reais. Menino da Porteira é uma delas. Um de
seus criadores, Luizinho, hoje com 66 anos de idade, é quem fala, nessa
reportagem, como nasceram há 30 anos os primeiros versos deste sucesso.
Nascido no Bexiga,
bairro conhecido como “reduto” da boêmia paulistana, Luizinho é filho de uma
grande família italiana. Desde pequeno aprendeu com o pai os segredos do violão
e do canto. Quando rapaz montou seu próprio regional e, pouco mais tarde,
entrou para o rádio cantando músicas sertanejas junto com Mariano, pai do
famoso acordenista Caçulinha.
Em 52, quando tinha seu
próprio trio, encontrou quase que por acaso Teddy Viera, seu parceiro na
música. Ele conta:
- Fui até o bar Juca
Pato encontrar o Xerem (da dupla Xerem e Bentinho), mas ele viajara e não
apareceu. Aí sentei-me com o Teddy – e entre um chope e outro começamos a relembrar
fatos e temas para músicas.
- Na conversa falei a
respeito daqueles meninos que ficavam em cima das porteiras, que a gente
encontrava pelo interior afora, e como ele também havia notado este detalhe
começamos a rabiscar alguma coisa num pequeno guardanapo. Assim nasceram as
primeiras palavras e logo os primeiros versos estavam prontos.
Teddy levou o que
tinham feito para casa e dois dias depois entregou a letra pronta para
Luizinho.
- Aí chegou a minha vez
de trabalhar. Coloquei a melodia durante uma madrugada e gravei Menino da Porteira em dupla com o
Limeira. O sucesso foi imediato. Mas logo em seguida tive problemas com as
cordas vocais e perdi a voz. Terminava para mim a ilusão do sucesso. Não sei
como consegui resistir. Eu gostava de cantar, adorava aquela vida de viagens
para todo o canto. Então fui descansar um pouco e voltei para a minha
barbearia.
Aos poucos, porém,
Luizinho recuperou a voz e quando se sentiu em forma resolveu voltar. Foi
procurar Teddy Vieira para reiniciar a carreira. Uma semana depois, no entanto,
um acidente de carro na altura do quilômetro 149 da Raposo Tavares levaria
Teddy para sempre.
- Fiquei outra vez
abalado – lembra Luizinho. E sempre que eu ouvia Menino da Porteira me
recordava da noite em que nos encontramos no bar, e juntos fizemos a música.
O desaparecimento
trágico de Teddy Vieira levou Luizinho a ficar longos anos meio distante dos
meios musicais. Mas agora ele está voltando ao disco. Acabou de gravar um LP em
dupla com Jeca Mineiro (um dos autores do Fuscão
Preto) onde mesclam músicas do repertório de um e de outro. A faixa mais
forte é justamente a regravação de Menino
da Porteira, da qual Jeca faz a primeira voz.
- Quando abre mais uma
vez Menino da Porteira muda o rumo do
meu destino – comenta emocionado Luizinho, o pai (da melodia) deste clássico
sertanejo.
Publicado originalmente
na revista “Som do Sertão”, editora Abril, 353A
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