sábado, 7 de novembro de 2020

VSP nas eleições 2020: entrevista com Professor Lucas, candidato a vice-prefeito do PSTU

 

O professor Lucas Simabukulo, 38 anos, é candidato do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) a vice-prefeito da cidade de São Paulo na candidatura de Vera Lúcia do mesmo PSTU. Seguem as perguntas e respostas ao questionário.

 

VSP- Como surgiu a candidatura da professora Vera Lúcia?

Lucas Simabukulo- Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Matheus Trunk e sua equipe pela oportunidade de apresentar as ideias do nosso partido, que infelizmente vem sendo vetado dos debates televisivos em um momento de crise profunda e da necessidade de debatermos saídas do ponto de vista da nossa classe.

Vera é operária, trabalhou boa parte da vida fabricando sapatos, mulher negra, nordestina e, para nós, uma grande revolucionária. Em um mundo que passou de 1 milhão de mortos pelo Covid, demonstrando, sobretudo, a incapacidade do capitalismo e seus representantes em garantir a quarentena social e os empregos, mas, também, muitas lutas contra a opressão, como as que exigiram “Justiça a George Floyd” nos EUA, nos pareceu que um programa revolucionário e socialista estaria bem representado nessas eleições em São Paulo por nossa companheira Vera Lúcia.

 

VSP- Quais são os principais projetos do PSTU para a cidade de São Paulo?

LS- Nós estamos bastante animados por defender um programa emergencial, do ponto de vista dos trabalhadores, para a cidade. Somente em 2019, a Dívida Pública Municipal, que faz parte daqueles mecanismos que drenam recursos públicos para banqueiros e acionistas, consumiu nada menos que 3 bilhões de reais. De isenções fiscais para as grandes empresas, foram 10 bilhões. Com essa receita, que na verdade é produto de quase 12 milhões de trabalhadores, seria possível garantir quarentena social com renda, direitos e empregos, bem como o fechamento das escolas até o fim da pandemia. E esse programa não podemos nem queremos colocar em prática sozinhos. Por isso, defendemos a formação de Conselhos Populares nas fábricas, bairros, escolas, categorias, para que a população, organizada, possa batalhar por esse plano emergencial contra a crise.

 

VSP- Por que o PSTU nunca foi chamado para nenhum debate televisivo nessa eleição?

LS- Essa é uma boa pergunta. Veja, como Estado é o grande instrumento que garante o acúmulo da fortuna de meia dúzia de bilionários, então as eleições precisam aparecer como representação da soberania popular, para ocultar as razões das desigualdades. Nessa democracia dos ricos, os trabalhadores precisam lutar muito pelas liberdades democráticas, quer estão ameaçadas todo tempo. Mais recentemente, em 2016, o governo Dilma, com o Congresso, aprovou uma pequena reforma política, que entre outras coisas, retirou a obrigatoriedade de as emissoras de TV convidarem partidos que não possuem representação parlamentar. Uma medida antidemocrática, que prejudicou partidos ideológicos como o nosso. Mas isso não nos desanima, muito pelo contrário, nos motiva ainda mais para levar nosso programa às fábricas e bairros.

 

VSP- Para o grande público, quais são as diferenças de ideologia do PSTU e outras legendas de esquerda como PCO, PCB, PCdoB, UP e PSOL?

LS- Podemos encontrar muitas diferenças entre esses partidos, caso contrário seriam um partido só. Mas gostaria de destacar alguns pontos. Regra geral, essas organizações defendem projetos que Lenin definiria como reformistas, pios defendem que as necessidades das diferentes classes sociais podem ser conciliadas por dentro das instituições do Estado burguês, como o Parlamento. Nós, ao contrário, defendemos que a classe trabalhadora e a burguesia possuem necessidades inconciliáveis, e que para nós, é necessária uma revolução socialista, para que aqueles que trabalham, tenham acesso à riqueza que eles mesmo produzem.

Outra questão é que, por defenderem, em diferentes formatos, uma política reformista, acabam por apoiar governos de Frente Popular, como os do PT, que são governos que se apresentam como representantes dos setores populares, mas que na verdade, beneficiaram os ricos. Lula certa vez afirmou: “os banqueiros nunca lucraram tanto quanto no nosso governo”. E é verdade. Nós, ao contrário, questionamos como os banqueiros lucraram tanto, enquanto falta saneamento básico nas periferias. E por isso, somos revolucionários. É um posicionamento político.

 

VSP- Como você analisa as medidas dos governos estadual e municipal durante a pandemia do Coronavírus?

LS- No início, Dória e Covas (PSDB) buscaram se diferenciar do governo Bolsonaro, nitidamente negacionista e, na nossa opinião genocida, com a famosa declaração da “gripezinha”. Mas, apesar das diferenças, como todos eles atendem aos mesmos interesses, cederam à pressão do empresariado para flexibilizar a quarentena e mandar os trabalhadores para o abate. Nunca decretaram quarentena para os setores não-essenciais da economia, retiraram direitos do funcionalismo, demitiram trabalhadores terceirizados e agora querem reabrir escolas. O resultado é que se perde o equivalente a dois aviões por dia em São Paulo e, junto com Bolsonaro e Mourão, são responsáveis por isso.

 

VSP- O PSTU tem muitos militantes como professores na área da educação. Quais são os projetos de vocês para essa área?

LS- Sim, nas lutas de educação sempre tem muitas bandeiras do PSTU. Em primeiro lugar, estamos ombro a ombro com as comunidades escolares na luta contra a reabertura das escolas na pandemia. Em segundo lugar, defendemos a revogação de ataques como o SampaPrev, a reforma da previdência municipal. Em terceiro, estamos fazendo uma ampla campanha pelo fim dos CEI´s (creches) conveniadas, ou seja, entregues à iniciativa privada, com ampliação da rede direta e estabilidade a todos os profissionais.

 

VSP- Qual é a sua avaliação e do PSTU para o atual momento da Venezuela?

LS- Nosso país vizinho é uma semicolônia capitalista, cuja economia é movida basicamente pela exportação de petróleo, enriquecendo não só o capital internacional, mas um setor que sustenta o governo autoritário de Maduro, a chamada “boli-burguesia”. Dessa maneira, o PIB do país despencou, e em resposta, os trabalhadores, vitimados pela carestia tem enfrentado o governo nas ruas, no último período. Para nós, marxistas, não há socialismo no projeto, muito menos na realidade venezuelana.

A oposição burguesa de Guaidó, pró-Trump, tampouco é confiável. Por isso, nosso partido irmão, a Unidade Socialista dos Trabalhadores, tem defendido o Fora Maduro, nenhuma confiança em Guaidó, a suspensão da Dívida Pública, a nacionalização do petróleo, entre outras medidas de combate à crise. A Venezuela precisa de um governo dos trabalhadores. O socialismo que defendemos não tem nada a ver com Venezuela, defendemos um governo dos trabalhadores, baseado em conselhos populares, para que através do controle operário da economia, os trabalhadores possam combater a crise e avançar para o socialismo.

 

VSP- Como o PSTU se relaciona com as religiões? Existem militantes religiosos?

LS- Nós somos uma organização de trabalhadores, e que tem feito um grande esforço há algum tempo para que nosso partido seja cada vez mais operário e periférico. Então é natural que a composição dos nossos militantes reflita a cultura da classe trabalhadora, incluída aí a religião. Inclusive, nossa companheira Eliana, candidata a vereadora, é mãe-de-santo. Concordamos com Lenin, de que nosso programa não é ganhar a classe trabalhadora para o ateísmo, mas incutir nela a ideia da insurreição, da revolução. Nesse sentido, somos pela liberdade religiosa, combatemos o racismo religioso contra os terreiros, batalhamos pela demarcação dos territórios indígenas pela preservação de sua cultura, repudiamos toda xenofobia e islamofobia, mas somos a favor da suspensão da isenção fiscal milionária às grandes igrejas, pois com esse dinheiro, daria por exemplo para manter o auxílio emergencial de R$ 600,00 até o fim do ano, o que seria ótimo para boa parte dos fiéis dessas igrejas.

 

VSP- Você não acredita que o melhor para a esquerda não era se unir em uma única candidatura?

LS- Eu diria que o termo “esquerda” não é bom para delimitar diferenças programáticas com quem quer que seja. Veja, alguns consideram partidos como PV, Rede, Cidadania, PTB e PSB, tradicionalmente ligados à direita, como de esquerda. Outros, com a crise do PT, opinam que esquerda é PSTU, PSOL e PCB, mas esses últimos têm prestado bastante apoio a Lula nos últimos tempos. O que nós opinamos é que as organizações de luta precisam superar desconfianças e construir unidades de ação em torno de lutas comuns, nos empenhamos muito em 2020 para construir um movimento pelo “Fora Bolsonaro e Mourão”. Mas defendemos o direito de apresentarmos nosso programa, de medidas emergenciais que só podem ser completadas com uma revolução socialista, inclusive nas eleições.

 

VSP- O plano de governo do PSTU praticamente não fala sobre a cidade de São Paulo. Por quê?

LS- Em geral, as campanhas municipais são bastante nacionalizadas, estamos em meio a uma recessão, atravessando uma pandemia. A classe trabalhadora tem lutado como pôde, vide a greve dos Correios. Por outro lado, os problemas da cidade, que são problemas da população mais pobre, merecem uma saída. Defendemos em primeiro lugar um Programa Emergencial para a crise, que a partir da cobrança das dívidas das grandes empresas (100 bilhões), da suspensão das isenções fiscais (10 bilhões) e da suspensão do pagamento da falsa Dívida Pública Municipal (3 bilhões), se garanta um plano de obras públicas com criação de empregos, fim da máfia dos transportes com reestatização do transporte público e a quarentena social inclusive nas escolas, com alimentação escolar a todos os alunos.

Mas isso, não queremos nem podemos fazer sozinhos. Por isso, defendemos a criação de Conselhos Populares nas fábricas, nos bairros, nas categorias, para que a população discuta e decida os rumos da cidade. Por uma São Paulo não dos ricos, mas revolucionária e socialista!

 

VSP- Qual é a sua expectativa e do PSTU para a eleição de 2020?

LS- Como nossa campanha é muito de base, estamos muito animados por já estamos nas ocupações, na juventude, nas categorias de trabalhadores, explicando que temos o maior acordo com a bronca que os trabalhadores têm com a democracia capitalista, que aqueles que tudo produzem podem também governar as riquezas dessa cidade e combater não só a crise, mas começar uma sociedade nova. Temos plena convicção que essas mudanças não se darão pelas eleições, como também é nítido que em cada canto da cidade, para os de baixo, nosso programa faz muito sentido, e tenho certeza que sairemos dessa campanha com mais revolucionários, principalmente entre os mais explorados e oprimidos. É por isso que estamos impulsionando nossa campanha democrática #queremosveranosdebates. Os poderosos têm nos vetado, estão com medo de quê?

2 comentários:

Roberto Rogerio disse...

Muito bom !

Lucas Simabukulo disse...

Obrigado pelo espaço!!