O professor de matemática Antônio Carlos Silva, 57 anos, foi candidato do PCO
(Partido da Causa Operária) a prefeitura da cidade de São Paulo em 2020. Ele
recebeu 630 votos e ficou na décima terceira posição entre os concorrentes. Extremamente
gentil, Antônio Carlos conversou por telefone com o VSP na semana passada.
VSP- Como surgiu a candidatura do senhor pelo
PCO?
Antônio Carlos- O PCO ao contrário da maioria dos outros partidos não é
um partido de candidato. As pessoas filiadas pertencem a uma espécie de cooperativa.
Nós somos um partido ao invés de candidatos do partido, temos candidatos militantes.
Sou dirigente há vários anos e a candidatura é uma missão e defender suas
ideias nas eleições. Não é uma postulação mas no trabalho que fazemos levando
nossos valores e tributos. Não é um partido eleitoral, somos um partido
revolucionário que nos reunimos muito além das eleições. Então, eu fui incumbido
dessa missão de ser candidato e fui.
VSP- Quais foram as maiores dificuldades da
sua candidatura?
AC- Olha, pra te ser sincero: essas eleições nós caracterizamos como as
mais antidemocráticas das últimas décadas. Com base da reforma eleitoral de
2017, cerca de 1/3 dos partidos não tiveram propaganda ou qualquer espaço na
rádio e na TV. Foi uma campanha completamente desleal porque foi muito curta 45
dias sem horário de televisão era mais ou menos impossível chegar numa parcela
do eleitorado. Nesse sentido é uma ditadura. Essas eleições foram armadas para
garantir a força das grandes marcas políticas.
VSP- Quais continuam sendo os principais
projetos do PCO para a cidade de São Paulo?
AC- O PCO entrou na eleição pra denunciar a fraude das eleições que
nenhum problema seria resolvido. Isso tem ver com a Pandemia, o desemprego,
todos os problemas dos trabalhadores e dos mais humildes não iria ser nunca resolvido
pelo voto. Mas o partido prossegue fazendo organização e mobilizando os
eleitores. O resultado não muda nada. Não altera. Bem como reforça essa
organização autônoma independente. O resultado dessa eleição foi uma vitória
significativa da direita.
VSP- Mas dizem que os bolsonaristas foram os
que mais perderam espaço nessas eleições. O senhor acredita que mesmo assim foi
uma vitória da extrema direita?
AC- Não. Se a gente disser que o DEM...Os partidos que mais cresceram ao
contrário do que a imprensa golpista fala foram o PSD, PP e DEM. São todos
partidos herdeiros da Arena. Agora, se pro padrão deles a Arena é
progressista...Falaram que os bolsonaristas tinham sido derrotados. Eu
realmente não entendo dessa maneira. Mas se você for pensar essas legendas
tinham 100 municípios e agora tem 400. Então, nossa avaliação é que esse
balanço é completamente fantasioso. Até dentro da própria direita, os setores
de centro-direita foram os que mais diminuíram: PSDB e MDB. Só quem cresceu
efetivamente foi a direita. E também cresceu o setor da esquerda que a direita
estabelecida não vê como perigo. Isso está impulsionando para ofuscar os
setores verdadeiramente revolucionários. Dessa maneira, eles ofuscam partidos
como o PCO e o próprio PT.
VSP- O senhor está falando que a candidatura
do PSOL está sendo impulsionado pela direita?
AC- Sim. Isso é muito visível. O PSOL só ganhou quatro prefeituras e
parece que eles são o maior partido do mundo, um fenômeno político. O Boulos
foi levado nessa onda. Tenho mais de 40 anos de política garoto. Já vi muita
eleição fraudulenta mas essa ganhou de todas. O fato do candidato do PT (Jilmar Tatto) ter nove por cento no
resultado final e a melhor que a pesquisa dava eram seis por cento. Todo mundo
sabe que na última hora da campanha que a maioria do eleitorado decide seu
voto. Ele perdeu na reta final até com a declaração do Lula já ter falado que
era considerável o apoio ao Boulos. Existiu uma manipulação para favorecer o
Boulos. A quem interessa isso? O mesmo fenômeno foi feito no Rio de Janeiro. Onde fizeram que tinha
que apoiar a Martha Rocha, ex-chefe de polícia como se ela tivesse alguma
chance de chegar ao Segundo Turno. Mesmo assim, ela terminou empatada com a
Benedita. Se desde o começo tivesse tido o mesmo apoio a Benedita poderia ter
tido um resultado melhor.
VSP-
E a Benedita tinha um forte apelo com o eleitorado evangélico?
AC- Exatamente. Ela era melhor eleitoralmente, muito
mais perigosa para ir no segundo turno contra o (Eduardo) Paes. O PSOL retirou seu principal candidato que era o
Freixo para apoiar o Paes. Isso já demonstra que o conluio era anterior. Como a
gente sabe em política as coisas nunca acontecem por acaso. O PSOL está
apoiando o DEM. E em política nada é por acaso.
VSP- Por quê o PCO não foi para nenhum debate
televisivo?
AC- Vários motivos. A legislação punia os partidos
sem nível de representação parlamentar. Nem mesmo nos debates que foram
organizados de partidos sem representação popular o PCO sequer foi chamado. O
PCO é um partido fora do regime político. Não fomos pra eleição para dizer que
éramos ou seríamos eleitos. Nada disso. A eleição estava armada desde o começo.
VSP-
Qual é a sua avaliação da candidatura do Guilherme Boulos? O PCO vai dar apoio a ele no segundo turno?
AC- Bom...Nós vamos fazer uma conferência nesse final de semana no
sábado e domingo (da semana passada).
Vamos fazer um balanço e decidir como será o segundo turno com os delegados de
todo país. Mas nesse encontro a minha posição e a maioria do partido é não
apoiar eles.
VSP- Por quê?
AC- O Guilherme Boulos é um elemento comprometido com uma espécie de frente
ampla. A direita tem um plano Joe Biden pro Brasil que seja um candidato direitista
para substituir o Bolsonaro. Ou senão fica o Bolsonaro mesmo. É o caso do Joe
Biden que é responsável pelo golpe de Estado do Brasil e em outros países da
América Latina como avanço. O Trump nunca invadiu nenhum país. O Biden comandou
o avanço e o massacre dos povos do Iraque, Venezuela e Cuba. No entanto, ele é
apresentado pela mídia e setores como de esquerda. Isso é uma piada. Agora
querem pegar o Doria, o Luciano Hulk, o Sérgio Moro e colocar como alternativa
democrática ao espantalho, ao fanfarrão do Bolsonaro. Mas que não consegue
levar ao povo. Tudo que conseguiu fazer até agora foi uma Reforma da
Previdência. A reforma do Temer quem aprovou foi o DEM, PSDB, MDB. Todos
partidos que são tidos como partidos de centro.
VSP- Como o senhor avalia as medidas dos
governos estaduais e federais para o Coronavírus?
AC- Um grande acordo para não fazer nada. O
Bolsonaro diz que não vai fazer nada, mas não fazem nada. O estado de São Paulo
fosse um país estaria entre os dez que mais morreram. O Bruno Covas é mostrado
como uma pessoa comprometida, efetiva. São Paulo nem para testar. Mas temos
exemplos de outros países que tiveram medidas efetivas como a Eslováquia, a
China mesmo em um final de semana fez testes em quatro milhões de pessoas. Em
São Paulo não aconteceu nada disso.
Os governos Covas e Doria contrataram menos trabalhadores
da saúde dos que foram afastados por conta da saúde. Como eles não fazem como o
Bolsonaro...Não falam besteira, a mídia não fica em cima. Mas eles são cínicos,
ruins ou até mesmo piores que o próprio Bolsonaro. Porque o Bolsonaro levanta a
repulsa. Mas o Covas se você pegar ele tem o recorde da abertura de covas mas
ninguém discute isso. É uma situação totalmente absurda justamente na cidade
mais rica do país. Até fecharem os hospitais de campanha para não atender a
população. Tudo lamentável.
VSP-
Pararam de divulgar os dados logo na semana do primeiro turno.
AC- Coincidência, né? Na semana anterior da eleição,
o estado de São Paulo estava tendo problema de transmissão de dados e por
coincidência o final de semana que sempre foi costumeira. Mas mesmo no domingo
da eleição tivemos só 915 ou 921 motos mostrando inclusive que tudo é pura
falsificação. Nós estamos vendo uma nova onda que já era realidade e os órgãos
de imprensa estavam escondendo.
VSP-
O PCO é ligado as lutas dos professores. Qual avaliação o senhor faz da maneira
que o PSDB conduz a educação no Estado de São Paulo?
AC- Nós estamos num processo de retrocesso. A situação da Pandemia
agravou com a paralisação política é completamente criminosa. Uma pressão pra
discutir a volta das aulas e não tem nem que discutir isso. A própria
prefeitura fez exames em 70% dos jovens sendo que nessa faixa etária eles podem
transmitir mesmo não tendo sintomas. Um dos maiores problemas é a superlotação
das salas de aula. Quantas salas de aula o governo construiu pro combate? Nenhuma. Outro problema é que boa parte dos
alunos não tem acesso à Internet. São governos de mentira e fraude.
VSP- Qual avaliação o senhor e do PCO das
eleições 2020?
AC- Resumindo: uma vitória da direita. E também da fraude e da
manipulação. A direita conseguiu impor depois de cinco eleições nacionais
quatro de direita e na última uma pra extrema direita. Mas nessas de 2020,
setores da Arena e do MDB conseguiram se sair vitoriosos de um conjunto de
manipulações e fraudes.
VSP- O que representa o segundo turno ser
entre Guilherme Boulos e Bruno Covas?
AC- Um pouco mais do mesmo. Estão representados dois candidatos da
frente ampla. O Covas do PSDB e o Boulos que esteve no início do ano com articulações
com o PSDB, a Globo, Kassab, Moro. Eles querem construir um bloco de centro
para quebrar a manipulação da direita e da esquerda. De certa maneira, a
eleição de São Paulo contribuí do ponto de vista que eles conseguem mas a
realidade é bem maior. Infelizmente, eles não vão conseguir deter a polarização
real. Mas no terreno conseguiram segurar a barra. É tudo conversa pra boi
dormir.
VSP- Quais são os planos futuros do senhor e
do PCO?
AC- O partido cresceu e se fortaleceu nas eleições.
Não do ponto de vista de votos porque não tínhamos nenhuma ilusão. Pra você ver
como essas eleições são uma fraude: temos menos votos que filiados ao partido.
Isso não nos abala e nós vamos fazer uma conferência dando prosseguimento ao
partido que tem um jornal diário na Internet e um jornal impresso. Vamos
continuar mobilizando os setores da esquerda combativa, todos os setores
pressionando o fora Bolsonaro, todos golpistas e defendendo uma saída
alternativa de esquerda. A única seria a candidatura do ex-presidente Lula,
expressão de luta real porque é uma figura que canaliza essa tendência de lutar
contra o aumento da fome e do desemprego para os trabalhadores. A eleição é
bonita pra fingir que vai mudar alguma coisa. Mas a realidade é completamente diferente.
Um comentário:
Boa entrevista
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