Estou meio decepcionado com os colegas de jornalismo que acham “fundamental” o profissional da área ter diploma. Respeito os amigos da área que concordam com isso, mas eu sou contra.
Faculdade é lugar pra cara que quer ser médico, engenheiro, advogado, essas coisas. Ninguém aprende a escrever em universidade. Ninguém aprende a ser curioso e pesquisador em uma sala de aula. Sejamos sinceros: não aprendemos quase nada em curso de jornalismo.
Eu amo a minha profissão, de verdade. Nada mais me interessa mais que ela. E digo pra vocês: pra segui-la é necessário casar com ela. Já fiz dezenas de coisas pra Zingu sobre cinema de São Paulo. Trabalhei dois anos numa revista de caminhão e transporte de carga terrestre. Trabalho numa publicação sobre a comunidade nipo-brasileira há seis meses. Faço matéria sobre ex-jogadores da região do ABC paulista há algum tempo. Jornalismo se aprende na redação e na rua, no contato com as pessoas. Esse negócio de universidade é pra acadêmico frustrado e medíocre. Desculpe se ofendi alguém, mas essa é a minha opinião.
Vou mais longe. Sinceramente, na área de comunicação não importa a pessoa ter feito USP, Cásper Líbero, Metodista, PUC ,UNINOVE, UNIP. É tudo a mesma coisa. Importa é a pessoa ter um bom texto. Importa a pessoa amar a profissão de verdade e ter ela como a grande prioridade da vida.
Quero saber qual foi a faculdade que fizeram os caras que mais me influenciaram. Quero saber qual instituição de comunicação o Nelson Rodrigues, o Ruy Castro, o Jorge Kajuru, o Stanislaw Ponte Preta, o Zancopé Simões cursaram. Eles se formaram na universidade da vida. João Antônio disse certa vez: “A vida não faz graça e não dá talento grátis a ninguém. Quase sempre, cobra alto”. Ele estava certo.
De coração: a lista telefônica me ajudou bem mais pra escrever do que a faculdade. Pelo menos com ela, consegui saber o telefone de muitas das pessoas que corro atrás.
Pra ser repórter (repórter mesmo, não papagaio pendurado do pé de pirata), vá pra rua. Vá pra periferia, pra estádio de futebol, cinema, livrarias, lugares estranhos e bizarros. Freqüente sebos. Faça pesquisas sobre as coisas que você gosta de verdade, tente entrevistar pessoas diferentes. Não importa o veículo. Invente um ou guarde as entrevistas pra você mesmo. Tenha curiosidade. O fundamental é escrever. Não importa se é pra jornal de circulação nacional, jornal de bairro, blog, qualquer coisa. Paulo César de Araújo, autor da biografia do Roberto Carlos começou a fazer suas pesquisas quando era estudante. Entrevistou Tom Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque e todos os medalhões da MPB por conta própria, sem ganhar nada em troca. Ligava pra eles de orelhão e tudo. Vejam como ele escreve, onde ele chegou e onde chegaram os acadêmicos que ficaram somente na faculdade se preocupando com as teses, mestrado, doutorado...
O corpo docente das nossas universidades é na maioria das vezes composto por pessoas sem experiência no campo. Gente que fez sim mestrado e doutorado. Mas onde eles trabalharam? O que eles escreveram?
Por isso, deixo aqui meu pensamento sobre este tema. Sei que não sou nenhum grande nome, mas tenho minha opinião e gostaria que ela fosse discutida com mais pessoas. Jornalista não precisa (mesmo) de diploma. Ser repórter é ter dor nas costas e continuar escrevendo. É deixar final de semana, de ir pra cinema, de sair com amigos, pra fazer matérias e pautas em veículos por pura paixão. É se expor publicamente de todas as maneiras por uma profissão que não dá dinheiro e não garante absolutamente nada.
12 comentários:
Caro Matheus,
Concordo com você, também sou contra a obrigatoriedade do diploma.
Minha primeira graduação é Letras, dei aula um ano só e logo pulei para o jornalismo.
Mas só depois de mais de uma década no jornalismo é que fui fazer essa segunda faculdade.
O mais bacana que encontrei no curso foi no que diz respeito às discussões éticas da profissão.
Isso sim valeu a pena.
Agora, infelizmente, o que pude constatar ao fim do curso foi um tanto de jornalistas com diploma na mão com um grau de mediocridade espantosa.
Abs
>>>>De coração: a lista telefônica me ajudou bem mais pra escrever do que a faculdade. Pelo menos com ela, consegui saber o telefone de muitas das pessoas que corro atrás.
Genial, Matheus! Hehehe.. Eu bem que queria entrar no ramo, escrever em jornal, mas sinto que a turma da comunicação social/jornalismo faz uma panelinha que dificulta.
Também sou contra, Matheus, ao diploma. Não acho necessário, mesmo cursando jornalismo. E nem é a questão de ir a rua... O jornalismo enquanto forma tem sua rigidez que imepera nos veículos de comunicação e além de servir como base referencial a um punhado de coisas, a faculdade não tem muita serventia prática. Para exercer a profissão, você tem que conhecer o que fala.
Mas isso sem tirar mérito dos acadêmicos (e nesse sentido, digo quanto à pesquisa). Não é porque o cara nunca escreveu num lugar para praticar o jornalismo que ele não pode fazer uma pesquisa interessante e com informações. Para mim, o único problema do texto acadêmico é que é deveras duro, rígido, cheio de picuinhas e formalidades.
É engraçado cara, fiz faculdade de história, depois de um ano de formado fiquei pensando: " cacete devia ter feito jornalismo" .
Alguns meses depois, pensando melhor sobre o assunto cheguei a conclusão de que caso tivesse levado adiante meu pensamento teria me arrependido amargamente.
Poderia sim ter aprendido coisas muito váliosas, todavia não disponíveis exclusivamente dentro da academia.
Curioso é que hoje, quando quero uma obter uma informação mais criteriosa e responsável sobre meu time, sobre os tipos de filme que aprecio, sobre questões ambientais entre tantos outros assuntos sempre me deparo com textos de quem passou longe da faculdade de jornalismo. Seria algo sintomático??
Abraço
Não vou opinar em profissão alheia. Grandes jornalistas realmente se formaram "na vida", nas ruas, nas redações. Outros tempos...Mas de qualquer forma a Universidade sempre da um rumo uma direção. A vida da regua e compasso!
Ah sou Arquiteto...mas tenho um pouquinho de PAULO FRANCIS
Seu blog é 10 e esta adicionado lá no Piratininga
Adhemar
Adilson, o curso tem alguns aspectos bons, mas infelizmente não chega a formar ninguém.
Ailton, cara, muito obrigado pelo seu comentário. Você escreve (muito) melhor que muito jornalista da área cara. Realmente o pessoal de jornalismo em geral se mete numa panelinha desgraçada e se acha melhor que os demais.
Gabriel, realmente o meio acadêmico produz pesquisas interessantes. Mas a maioria sei lá..
Michel, os melhores textos são feitos por quem não passou pela faculdade de jornalismo.
ADF, realmente a rua é a maior faculdade. Valeu por gostar do blog e tê-lo adicionado.
Matheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com
Olá, Matheus.
Muito bom o post. Concordo com o que escreveu, admiro ainda mais por ser um jornalista falando!
Discordo só no ponto em que inclui o Direito no rol de profissões que necessitam que se curse uma faculdade. No Direito, assim como no Jornalismo, o mercado cuidaria de descartar os maus profissionais e destacar os melhores.
Oi Rui. Valeu o comentário. Temos que ser sinceros cara, mesmo que tenha que cortar a própria carne rsrs.
Matheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com
As vezes eu fico pensando,o que passa na mente insana,de um ser, para dizer que um certificado nao vale nada??
Sinceramente amigo,voce ja e um desaculturado so em proceder estas palavras, se e ou nao necessario,isso cabe a cada jornalista que cursou a universidade e a pagou a duras penas,portanto guarde um comentario estupido como esse somente para voce ok
Giacomo Campanella Pinotti
Gramado.RS
Giacomo, já fui acusado de muitas coisas. Agora ser "dessaculturado" pra mim, é um verdadeiro elogio.
Não te conheço e não conheço Gramado. Mas deve ser uma linda cidade. Valeu e apareça sempre por aqui.
Matheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com
Matheus, belo texto. Concordo em gênero, número e grau.
Também conheci muitos auto didatas do jornalismo.
Não podemos esquecer de Lourenço Diaféria.
Ele chegou a cursar, por uns bons 16 anos, as Faculdade Cásper Líbero e a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Nunca se formou. Dizia não estar preparado para uma faculdade.
E deu no que deu: Jornalista dos bons.
Em minha juventude, peguei gosto pela leitura das formidáveis crônicas do Lourenço. Certa vez, há muitos anos, nas inúmeras oportunidades de um breve contato com ele, dei-lhe parabéns por ser a pessoa e o profissional admirável que era.
Pedro Nastri
Concordo cem por cento,os melhores jornalistas não tem diploma - Os melhores escritores também não,simples assim.Vou citar apenas dois,Machado de Assis e Saramago,além de Lima Barreto e tantos outros.
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