quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sou desaculturado I: a esquerda brasileira atual


Tive o privilégio de escutar na Rádio Record no final de carreira, o grande Fiori Gigliotti (1928-2006): poeta, mestre e ídolo. O rádio de São Paulo deve muito ao "moço de Barra Bonita".

Gato quando está com fome come até sabão

Germano Mathias

Você já é um desaculturado só em proceder estas palavras
Giacomo Campanella Pinotti de Gramado, RS, (leitor deste blog, falando mal deste escriba no post “Diploma de Jornalismo? Sou Contra!”)

Sempre admirei o jornalista Jorge Kajuru. Em parte, por sempre ser uma pessoa bastante sincera e que expõe suas opiniões sem se importar com as conseqüências. De certa maneira, ele pagou caro por essas atitudes. Por isso, ele está fora da grande mídia.

Teve um leitor da Zingu! que uma vez me mandou um e-mail falando que eu sou uma espécie “Kajuru do cinema brasileiro”. Gostei bastante da comparação e agradeço o amigo leitor.

A verdade é que tenho grandes problemas com os intelectuais, acadêmicos e esquerdófilos.

Historicamente, o grande problema da esquerda brasileira é não conseguir se comunicar com o povão. Não adianta os filmes da Globo Filmes (tipo Zuzu Angel) falarem que todo mundo nos anos 60 e 70 tinha pôster do Marighella na parede, assaltava banco e ouvia Chico Buarque. A grande maioria da população brasileira dessa época lia Notícias Populares, ouvia Fiori Gigliotti (abrem-se as cortinas torcida brasileira, começa o espetáculo), via as pernas da Rosemary no Cassino do Chacrinha e comprava discos do Jerry Adriani.

Pra mim, o grande defeito dos nossos intelectuais é uma só: eles tem nojo do que é popular. Não adianta. O intelectual de hoje não vê filmes do Mazzaropi, não tem contato com rádio AM e não come em boteco (somente em “lugares sofisticados e de nível”).

Pode ser que eu seja meio exagerado e chato. Mas diga a verdade: o que você amigo leitor acha da banda Calypso? Todo mundo fala mal. Mas é um fenômeno descomunal. Os caras conseguiram vencer a pirataria, a crítica e não possuem gravadora. Eles são um fenômeno único na música brasileira atual.

Eu não escuto e não gosto do Calypso. Mas ninguém na mídia analisou eles seriamente. A exceção é uma boa entrevista que a revista Trip realizou com o guitarrista Chimbinha em sua edição 175, em março de 2009.

Nossos centros acadêmicos engajados e intelectuais são campeões mundiais em lavagem cerebral. Lá cada um vai pra sua panelinha de “gênios”. E não convive com os diferentes, com quem tem opiniões ou formações diferentes.

São estes mesmos esquerdófilos (tipo Eugênio Bucci, Juca Kfouri, etc) que acabaram com os bingos e tiraram os programas populares tipo Ratinho e Sérgio Mallandro do ar. Só que quando isso acontecia na Ditadura, era Censura. Quando eles estão no comando, é lutar pela “alta cultura”.

São os chamados “comunistas com dinheiro dos outros” (porque os deles, eles preferem que fique nos bancos). Esses consideram os ditadores de direita assassinos. Mas pra eles, o Fidel Castro é um cara genial, poeta, ídolo.

O pessoal da direita também tem nojo da nossa cultura. Mas eles pelo menos são mais autênticos.

Sinceramente, tenho nojo dessa esquerdocracia. Parece que no cinema brasileiro de hoje só pode fazer filme filho de banqueiro ou diplomata. Segundo Ivan Cardoso, são os chamados cineastas 30 horas. Fica impossível termos outro fenômeno popular no nosso cinema, como Mazza ou Tony Vieira, por exemplo. Pra onde esses cineastas 30 horas nos levarão?

8 comentários:

Adilson Marcelino disse...

Meu amigo,
Entendo suas colocações, concordo com algumas delas, ainda que, para mim, elas não justifiquem o todo.
Agora essa frase abaixo:
"O pessoal da direita também tem nojo da nossa cultura. Mas eles pelo menos são mais autênticos."
é de doer e, para mim, não está à sua altura.
Abs
Adilson Marcelino

antonico disse...

Grande. Visto por este ângulo agora vejo que o fim da Embrafilme, pelas mãos do Collor, foi a melhor coisa que aconteceu para o cinema brasileiro. Caso isso não tivesse ocorrido teríamos um Ministério do Cinema e filmes defendendo o mensalão...

Gabriel Carneiro disse...

Matheus.

Os bingos foram tirados do ar não por serem populares, mas por guardarem um enorme esquema de corrupção e lavagem de dinheiro por trás.

E, sinceramente, programa do Ratinho é de doer. Tem que se ser tirado mesmo. Tem diferenças entre ser popular e ser vulgar...

Emanuel (Última Divisão) disse...

Bicho, não gosto muito do Kajuru. Mas fora isso, achei sensacional o texto. Sério, tenha uma puta raiva dessa preguiça mental que toma conta de meia dúzia de intelectuais, que se escoram em conceitos pré-formados pra defender uma cultura X sem pensar na cultura Y. Uma bosta!

Vou vir mais vezes aqui!

Matheus Ferraz disse...

Matheus, meu xará, seu post foi, realmente, tudo o que eu precisava ouvir. Saí há pouco tempo da faculdade de cinema, simplesmente porque a coisa lá era completamente elitista. O professor de técnicas do cinema era o intelectual mais nojento que eu já conheci. Entreguei um roteiro para ele e o cara disse que a formatação estava errada. Só isso, nenhum comentário sobre história, desenvolvimento de personagens, nada. Só a formatação importava. Os professores não conheciam nem o conceito de exploitation. Quando eu falava sobre meus textos na Boca do Inferno, riam. Quando mencionei a técnica de Halloween, o professor falou que nunca ia ver um filme com esse nome. Por isso desisti do cinema para me concentrar na literatura. Sensacional seu blog, parabéns.

Daniel Rodrigues Gomes disse...

Eu também não curto Calypso, mas não há como não reconhecer (e admirar) que eles são representam o verdadeiro artista independente de sucesso. Se fizeram por si mesmos e conquistaram uma legião de fãs longe de qualquer apoio da grande mídia e executivos de gravadoras. Não dá pra ser chamar independente bandas que tocam sem parar na MTV, chega a ser ridículo.
A esquerda brasileira tem a idéia fixa de ser a vanguarda, eles devem mostrar para o povo os caminhos a serem trilhados, que, em via de regras, quanto mais distante do gosto popular melhor. Há também uma idealização esquisita, e parece que para o cinema nacional o Brasil só é brasileiro de verdade no nordeste ou na favela e que a arte tem que está sempre a serviço de algum ideal transformador ou coisa que o valha.
Acho que é isso que leva vários gêneros de cinema ficarem relegados a uma segunda classe, como, para ficar com apenas um exemplo, filmes de terror, Polanski dirigiu, spielberg, kubrick também, mas aqui é tratado como sub gênero.
Aqui só vale filme de vanguarda para despertar a consciência do povão. Que a grande maioria das pessoas não vê, não entende e não gosta, porque são quase sempre chatos, tristes e não entendem muito sobre o que e para quem pretendem ser os porta vozes.

Rafael Ribeiro (o Lusitano) disse...

Lágrimas caíram dos meus olhos ao ler esses texto...

Como uma espécie pode piorar tanto em menos de 20 anos..

Culpa dessa democracia e dos tucanos que hoje arrotam o caviar comido na época da ditadura, quando sofriam exilados em países como Inglaterra e Itália...

Bando de desgraçados

Matheus Trunk disse...

Lusitano: também detesto esse tipo de gente.