terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Gigantes do Jornalismo Esportivo: Mauro Pinheiro, o Senador


Um comentarista dos tempos dourados do futebol que sempre se vestia impecavelmente. Terno e gravata, barba bem-feita e chapéu de palhinha. Além disso, um profundo conhecedor dos vinhos e fumante dos bons charutos. Com classe e elegância, Mauro Pinheiro, o Senador, tornou-se um dos mais conhecidos nomes do rádio paulista.

Nos anos 60 e 70, Pinheiro era um dos principais nomes da equipe esportiva “Escrete do Rádio” da Rádio Bandeirantes de São Paulo. Ele era o comentarista titular da emissora, atuando nas transmissões ao lado do narrador Fiori Gigliotti (1928-2006). Estudioso do futebol, o Senador iniciou sua carreira no Rio Janeiro, escrevendo durante muito tempo na revista Sport Ilustrado. Mas marcou época por seu trabalho no rádio.

“Ele nunca imitou ninguém. Esse é um ponto a ser destacado: ele foi um profissional genuíno no seu ramo e era um profundo conhecedor de todos os esportes”, destaca o narrador Alexandre Santos, que trabalhou com o Senador na emissora do Morumbi. “Além disso, era um homem humilde e honesto que sempre buscou ajudar a todos”.

O narrador Ênnio Rodrigues trabalhou com Mauro Pinheiro na Rádio Bandeirantes durante 18 anos. Durante todo esse tempo, Ênnio nunca viu o comentarista vestido sem o tradicional terno e gravata. “Pelo menos no trabalho ele nunca usou roupa esporte. O Mauro era um profissional muito correto e durante as transmissões ele ia anotando num caderno todos os detalhes da partida”.

Fora dos microfones, o Senador era um homem reservado e sério. Ele nunca chegou a ser amigo pessoal de Fiori Gigliotti, com quem trabalhou na maioria das transmissões do Escrete do Rádio. Mas os dois se respeitavam muito. Apesar do jeito retraído, Mauro era uma das lideranças do jornalismo esportivo paulista. Tanto que foi presidente da ACEESP (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo) entre 1972 e 73.

Ênnio Rodrigues recorda que o Senador era um homem dedicado a pesquisa do futebol. “Fui algumas vezes no apartamento dele que ficava na Prestes Maia, perto da Estação da Luz. Ele tinha muitos livros, jornais antigos e diversos cadernos com anotações sobre futebol. Sem dúvida, ele foi um estudioso sobre o assunto”.

Em seu livro de memórias O Rádio, o Futebol e a Vida, o narrador Flávio Araújo lembra que o amigo Mauro Pinheiro tinha mania de acender seus charutos em locais inapropriados. “Uma madrugada, em Londres, voltando de um restaurante no Soho (…), ele acende o charuto em pleno táxi hermeticamente fechado. O motorista “stopou” e bronqueou firme e forte como sabem bronquear os ingleses, que de pacíficos só tem a fama. Mauro não quis saber. Entre o charuto e o frio abriu a porta e saltou fora. Eu segui no táxi, e ele demorou 2 horas para cruzar o gelado Kensington Park e chegar ao nosso hotel. Mas não apagou o charuto”.

Após 18 anos na Bandeirantes, Mauro Pinheiro foi atuar na Jovem Pan. Pouco tempo depois teve diabetes e acabou falecendo no dia 25 de janeiro de 1982. Fã declarado do comentarista, o jornalista Milton Neves sempre se referiu ao Senador como um ícone do rádio. Em entrevista a revista Placar em 1987, Neves falou sobre sua relação com Pinheiro. “No dia de sua morte, chorei como se tivesse perdido meu pai. Até hoje, quando passo em frente ao cemitério do Araçá no caminho de casa para a Jovem Pan, boto a cabeça para fora do carro e dou um tchau pro Maurão. Tenho certeza que ele fica satisfeito”.

Texto de minha lavra publicado originalmente no blog Última Divisão em 23 de fevereiro de 2011

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente matéria. Mauro Pinheiro foi um verdadeiro artista do esporte comentado. Além de futebol conhecia muito bem outros esportes. Ele encabeça uma Academia Brasileira de Vozes do Futebol, como autêntico imortal, junto a nomes como Fiori, Mario Moraes, Jorge Cury, Doalcei, Luiz Mendes, Milton Camargo, Haroldo Fernandes e tantos outros que iluminaram nossas tardes e noites futebolisticas. Parabéns, Matheus.

Ricardo Felice