O catarinense Ody Fraga (1927-1987) foi indiscutivelmente um dos maiores nomes da história do cinema brasileiro. Todos os personagens de seus filmes são diferenciados. Como roteirista, ele escreveu os diálogos de mais de 60 longas-metragens. Como realizador, dirigiu 25 filmes. O raro e espetacular "O Sexo Nosso de Cada Dia", é talvez seu melhor trabalho como diretor. Três jovens mulheres, Bionda (Neide Ribeiro), Letícia (Sandra Graffi) e Lola (Elys Cardoso) são insatisfeitas sexualmente. Decidem então alugar o ponto de uma cafetina de rua (Arlete Montenegro) e por três noites tornam-se damas da noite. Infelizmente, Nelson Rodrigues não teve tempo para escrever essa história. Mas Ody Fraga e a Boca do Lixo sim. Sem qualquer tipo de preconceito ou moralismo, o enigmático criador realizou um filme feminino por excelência. Assistindo a essa fita, conseguimos perceber que Ody parece entrar dentro das almas de suas personagens, sem qualquer julgamento ou arbítrio.
A atuação de Neide Ribeiro como a dominadora Bionda é extraordinária. Poucas atrizes no cinema nacional tiveram a entrega como desta "pantera cinematográfica" neste filme. Sua interpretação carregada e forte desmonta de uma vez o estereótipo de que as mulheres são frágeis. Na minha opinião, é realmente um pecado Walter Hugo Khouri nunca tê-la dirigido. Uma mulher da grandeza de uma Neide Ribeiro, merecia hoje ser mais reconhecida pelos cinéfilos e pelas novas gerações. Neide era a atriz preferida de Fraga. Eles trabalharam juntos em seis longas-metragens.
A atriz Sandra Graffi, que depois se casaria com o produtor Roberto Galante, também está perfeita como a jovem frígida por excelência. Sem falar em Elys Cardoso, que está deslumbrante como a cerebral Lola, melhor papel dela no cinema.
Com fotografia recortada do grande mestre Cláudio Portioli e montagem certeira de João de Alencar, torna-se impossível assistir somente uma vez esta película. Já que "O Sexo Nosso de Cada Dia" não é um filme. É um estudo sobre a sexualidade humana.
Um comentário:
Engraçado o elogio ao talento cinematográfico de Neide Ribeiro,em documentário sobre a Boca ela deixou bem claro que realizava as cenas dos filmes pensando apenas no dinheiro,sem contar o ''nojo'' que ela tinha de beijar os atores.Achei muito estranho o seu depoimento.
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