segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Sobre Mário Benvenutti


Há 21 anos, um jovem, gerente do restaurante Papai (em São Paulo), de propriedade de sua família, alimentava planos de entrar para o Cinema e chegar a brilhar como grande ator. Seu restaurante era frequentado por pessoas de teatro e cinema, fato que lhe facilitava um entrosamento com a classe, e particularmente com o diretor de cinema Armando Couto, que preparava o filme O Homem dos Papagaios. Sob a forte insistência do rapaz, Armando o colocou em uma “ponta” no seu filme. Na cena, ele vendeu um automóvel a Procópio Ferreira, ator principal. Esse jovem era Mário Benvenutti, que hoje com 49 anos de idade, já carrega atrás de si uma bagagem de 34 filmes, todos de primeira linha, nestas duas décadas de arte. É o único ator brasileiro que só faz Cinema, nunca tendo participado de teatro profissional ou televisão. Até seu primeiro trabalho, Mário havia participado de teatro de escola no Liceu Coração de Jesus, onde estudou. Depois de O Homem dos Papagaios (1953), só em 1957 voltou. E para fazer um “play-boy” em Absolutamente Certo, de Anselmo Duarte. Em 1958, porém, chegou sua grande chance: fez o papel principal no filme Nudismo Não É Pecado. Daí para a frente não parou mais: convites se sucederam, o tempo disponível ficava escasso em virtude de suas outras atividades. E Mário lutou muito. Hoje já se impôs como grande ator que é, considerado o homem dos filmes eróticos, por excelência. Já contracenou com nossas melhores estrelas e passou pelas mãos dos mais eficientes diretores. Gosta tremendamente de Cinema, e vê com bons olhos o futuro desta arte, apesar de uma restrição: “Antigamente o cinema era mais elaborado. Perdia-se tempo na construção de um bom cenário, da discussão de um plano, no ensaio dos atores, havia uma técnica mais apurada. Hoje, talvez lembrando do fracasso financeiro de grandes produtoras como a Vera Cruz, a Maristela, Cinédia e outras, o Homem de Cinema não se arrisca muito em termos de colocar dinheiro. Mas acredito que esta imagem será logo apagada, e voltaremos a tomar mais cuidado, mesmo porque, se por um lado existe tal deficiência, por outro lado o público, mais do que naquela época, sabe nos prestigiar, afluindo cada vez mais às bilheterias, aumentando o lucro do produtor, que reinveste para a melhoria do nosso Cinema”.

Mário Benvenutti está tão confiante que pretende – e já prepara roteiro – entrar para o rol dos diretores. Mais tarde, produzirá, porque acredita que o Cinema é emancipado, e uma atividade altamente rendosa.

Publicado originalmente na Coletânea de Cinema de Minami Keizi, Mek Editores, 1973

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