A comédia rural, livre, sempre teve um mercado de
um dono só: Mazzaropi. Foi ele quem criou, se identificou perante o público com
o caipira simples, ingênuo e ignorante, mas que sempre leva vantagem quando se defronta
com o terrível “vilão”.
Mazzaropi soube explorar como ninguém o gênero, a
ponto de ser chamado o “Rei do Cinema Nacional”, tem uma produtora própria, a
rebanhar um arsenal de sofisticados equipamentos – talvez ele seja o melhor
equipado do Brasil e – construir um império de vários bilhões de cruzeiros
antigos.
Tentativas houve, por parte dos produtores, de
dividir o mercado com o “caipira”. A série Tonico e Tinoco (Obrigado a Matar;
A Marca da Ferradura; Os Três Justiceiros, etc), o lançamento do
Chico Fumaça (Mágoas de Caboclo; O Jeca e o Bode), várias duplas de violeiros,
todos tiveram esse objetivo. Mas, em vão. Mazzaropi continuou no trono,
inabalável.
Recentemente, um novo esforço. Mais uma vez válido.
Talvez em melhores condições de disputa que os anteriores, em vista de, nos
dias atuais se poder verificar que – pelo menos em termos de renda- Mazzaropi,
não é mais o “Rei”. Junta a isso o fator de que a carência de filmes livres,
agora é que está começando a ser suprida (a série “Trapalhão”, do Rio de
Janeiro, o primeiro filme de Pedro Bó, São Paulo, e outros), e chegará à
conclusão de que é uma boa hora desse novo “caipira” aparecer, em filme
totalmente livre, com a única finalidade de divertir sem chocar.
Esse “caipira” é Wilson Roncatti. O filme é “Ladrão
de Galinhas”. Wilson Roncatti, é no filme, o personagem Chico Raposa, ingênuo,
burraldo, ignorante, simples, como Mazzaropi. Mas, fisicamente, não se parece
com ele. Nem no comportamento. Talvez esteja aí a chave do sucesso.
Quando “Ladrão de Galinhas” foi às telas, ninguém
esperava que o público fosse acolher como acolheu. Nem Wilson, nem o diretor,
nem tampouco os produtores. Mas, o filme aconteceu. Não foi – é óbvio – um
“estouro” de bilheteria, mas foi muito melhor que muitas pornochanchadas.
Wilson Roncatti sempre teve certa afinidade com o
caboclo brasileiro, apesar de nunca ter morado em cidade do interior (nasceu e
criou-se na capital de São Paulo). Nunca, porém, pensava a chegar a ser astro
de cinema, interpretando esse simpático tipo.
É verdade que Wilson, tendo nascido com a arte no
sangue exteriorizou-se e comportando-se como a um caipira, primeiro em rádio,
quando cantava semi-profissionalmente músicas sertanejas. Depois, viu que não
dava para a coisa, e desistiu. Mas teve tempo para se entrosar com o sanfoneiro
José Bethio, com quem aprendeu muito, e continuou no rádio, mas como animador
assessorando o artista.
O relacionamento Wilson Roncatti/José Bethio
cresceu, e, passaram a trocar ideias e pensar em planos mais altos. Um dia
Wilson apareceu com uma estória de um caipira que roubava galinhas, inspirado
em acontecimentos verídicos. José Bethio se entusiasmou com a coisa, e um outro
amigo J.R. Cardoso, chegou-se e também aderiu. Na sua simplicidade, Wilson
sabia o que fazer com a estória, Cardoso o levou a amigos que, igualmente
acreditaram na viabilidade de se levar aquele argumento para o cinema. Assim,
J.R, Cardoso, junto com Dr. Luis Chamon, Manoel Leme e Sebastião Pereira,
fundaram a produtora Sumar, roteirizaram a estória, e convidaram o próprio
autor para interpretar-se personagem.
Foi outra surpresa para Wilson. Mas não disse “não”,
deixou o bigode crescer, e foi para o campo de filmagem. Ficou determinado que
o diretor seria Sebastião Pereira, que já vinha de longos conhecimentos na área
cinematográfica.
Wilson Roncatti é muito franco: não gostou de sua
interpretação. Achou que podia ter dado muito mais. Mas, se não o fez, foi por
culpa da inexperiência, deficiência que ele mesmo vai superando de trabalho
para trabalho.
Perguntando se sua intenção era imitar Mazzaropi,
Wilson nos repreende, dizendo que, embora possa ter semelhança com ele, nem de
longe pensou nisso. Se teve que se inspirar em alguém, foi no comediante
Simplício.
Esse moço de 35 anos de idade, fala manso e tranquilo,
com leve sotaque caipira (talvez por força de seu passado artístico) está feliz
– apesar de tudo – com o sucesso de “Ladrão de Galinhas”. Já tem outra estória que
provavelmente será produzido pela mesma Sumar, com início de filmagens para
breve.
Talvez Wilson Roncatti, seja o embrião de novo
ídolo das telas. Talvez ele venha – de verdade- dividir o público junto com o
bom Mazzaropi. É o que nós queremos. É o que o cinema nacional quer. É o que
tem que acontecer. E provavelmente acontecerá.
Publicado originalmente na revista
Cinema em Close Up, Mek Editores. Este
blog espera que o nome de Minami Keizi (1945-2009) e demais
colaboradores da Cinema em Close Up sejam tidos como gigantes do cinema
brasileiro.
2 comentários:
Oi Matheus; é uma pena que o Canal Brasil nunca tenha exibido estas comédias rurais,com exceção dos filmes do Mazzaropi. Um abraço!Valeu!
Rodrigo: muitas vezes o Canal Brasil fica repetindo os mesmos filmes. Uma pena se lembrarmos que dezenas de longas-metragens nacionais estão dados como perdidos e nunca passaram na emissora.
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