sábado, 20 de julho de 2013

Mário Vaz Filho fala sobre futebol



Walter Wanny, este escriba (com camisa branca), Mário Vaz Filho e Francisco Cavalcanti em algum pé sujo do centro

Após a noite de exibição do curta-metragem A Mulher Barata converso com o cineasta Mário Vaz Filho. Minha ideia era fazermos uma longa matéria sobre as vivências dele no cinema da Boca. “Nada meu. Não aguento mais isso de dar entrevista. Chega”, me dizia Marinho com um copo de cerveja na mão e o cigarro em outra. Os cabelos brancos ao vento é outra de suas marcas. O sotaque praiano sempre está com ele. Natural de Santos, Marinho é um homem radicado no centro de São Paulo. Nunca encontrei ele em outra parte da cidade. Parece que ele só existe nessa região da capital bandeirante.



O realizador veterano é do tipo de pessoa que gosta de bares pés sujos, aqueles estabelecimentos simples que vendem cerveja barata e gelada. Nada de luxo. Nada de guias culturais. “Agora chega de falar de cinema”, ele disparou. Puxei assunto pra futebol. Mário Vaz é são-paulino das antigas, chegou a ver o Tricolor campeão paulista em 1957 no estádio. “Tá aí. Eu te dou a entrevista mas só se o assunto for futebol”. As linhas abaixo são os papos que tive com o realizador falando sobre o esporte bretão. O início da paixão dele pelo esporte, os grandes jogos que viu no estádio, os craques que admirou. Tudo isso em alguns pés sujos do centro paulistano. “Fechou esse, então vamos em outro”, assegurou. Entre um copo de cerveja e alguns nóias pedindo dinheiro segue o papo que tivemos. Meu maior medo era que algum nóia roubasse o gravador. Mas por sorte isso não aconteceu.



Violão, Sardinha e Pão- Como você começou a acompanhar futebol?



Mário Vaz Filho- Bom...a jogada é até curiosa. Tava pensando porque é até engraçado que eu sou de Santos e o pessoal pegunta: “Porra, como você é Santos e não torce pro Santos? Torce pro São Paulo”. É que sei lá...eu nascí no final dos anos 1940 porra e na década de 1940 o São Paulo foi três o quatro vezes bicampeão, tempo do Leônidas e tal. Então, só se falava do São Paulo como hoje toda molecadinha que nasça vá torcer pro Santos por causa do Neymar, essas coisas. Como foi o Pelé e tal. Desde molequinho sempre achei que era são-paulino, eu morava em sítio nessa época. Quando eu vim pra cidade, ir pra escola, tal 18 anos comecei a ir em futebol. O meu pai gostava muito...então, o primeiro jogo que ele me levou foi um jogo do Jabaquara. Lembro que era Jabaquara e...Nacional, 55, 50 e pouco.





VSP-  O seu pai jogou na várzea?



MVF- É...ele até jogava, jogava um pouco na várzea né? Aí porra, eu menininho me interessei, achei o Jabaquara simpático. Porque na época tinha o seguinte: o Santos tinha porra, de 35 ele só foi ser campeão em 55. Ele só tinha sido campeão uma vez, então, o Santos era um time de interior, como um time de interior hoje. O que acontece num time de interior hoje: o cara ás vezes torce pro time da cidade e torce pra um time grande. O que acontecia lá: lá tinha na primeira divisão o Santos, Jabaquara e Portuguesa Santista. Mas o pessoal normalmente torcia pra um dos três e um time de São Paulo. Eu fiz o seguinte: fiquei Jabaquara lá e continuei torcendo pro São Paulo. Aí o Santos é bicampeão 55,56. Todo mundo porra...aquela pressão pra ser santista, os parentes, tal. Eu até pensei em mudar de time honestamente. Aí pedi pra minha mãe comprar uma camisa do Santos quando o Santos foi bicampeão em 56. Minha mãe comprou a camiseta, eu coloquei a camiseta e saí na rua mas não me senti bem. Aí eu cheguei em casa e me defini: “Não, eu quero ser são-paulino mesmo. Não quero ser santista porra nenhuma”. Aí falei pra minha mãe que não queria mais a camiseta e ela ainda me deu uma surra (rindo), porque na época não tinha esse negócio de não querer bater. “Não quer mais por quê?”, “Não, não quero. Vou continuar são-paulino”. “Mas então por quê me fez comprar a camiseta?”, “Vou continuar são-paulino”. Aí fiquei nessa de são-paulino.



VSP- E futebol de botão, você jogava?



MVF- Jogava e eu sempre gostei de futebol. Eu joguei futebol na várzea até uns vinte, vinte e poucos anos. Mas depois quando eu comecei a fazer teatro, essas coisas eu parei. Também não ia muito mais pra frente porque não estava mais interessado. E também na realidade eu fui um cara médio, seria bem médio mas hoje como tem nego ruim pra cacete acho que dava pé. Mas na época...engraçado, na várzea tinha bons jogadores. Por quê? Quem tinha bom emprego não queria largar o emprego pra ir jogar futebol. Eu conheci um cara, um tal de Camarão que era um craque. O pai dele tinha jogado no Santos e ele falava: “Não, minha família sofreu muito”. Porque na época jogador...jogador começou a ganhar dinheiro aqui no Brasil após 1970. Até então...o próprio Santos lá os caras não ganhavam tão bem quanto ganham hoje. Hoje tem...muito nego não queria se profissionalizar. Esse Camarão por exemplo, ele se formou engenheiro. Ele chegou a jogar uma época no Jabaquara mas tinha um trato, ele só treinava de vez em quando conforme fosse ele não ia. “Eu não ia atrapalhar a faculdade por causa de futebol”.



VSP- Era a segunda carreira...



MVF- É. Então, nunca pegaria time grande, tinha que pegar time pequeno. E em Santos tinha um negócio engraçado que tinha os caras...de manhã jogava descalço e de tarde de chuteira. Domingo pelo menos. E tinha muito jogador que era bom descalço e quando colocava a chuteira não conseguia. Tinha um cara conhecido lá chamado Jorge Mandrake, pelo nome. O cara fazia o Diabo com a bola mas descalço. Ele tentou jogar no Jabaquara e não conseguiu, ele não sabia jogar de chuteiras. Porque hoje o cara faz adaptação, tem todo um staff. Mas na época não tinha muito disso não, ou vai ou racha. Ou era ou não era. Hoje nego fabrica jogador...de repente o cara nem é lá essas coisas e vence por estar numa daquelas escolinhas. O que acontece? O cara não é nada disso mas ele vai, treina, aprende alguns fundamentos que acaba mudando a maneira de jogar. No meu tempo de bola na várzea se o cara errase dois fundamentos o cara era tirado. Hoje você vê profissional até de time grande e de dez cruzamentos o cara erra nove, erra oito. Mas mesmo assim qualquer cara que joga mesmo num time médio ganha uma puta grana, não é todo mundo que é um puta jogador. É mais ou menos que o cara nasce com isso. Então, o começo foi mais ou menos isso. E aí? O que mais você quer saber?



VSP- O Sastre você chegou a pegar?



MVF- Não.


VSP- Lá em Santos pegava as rádios de São Paulo?



MVF- Não...mas se ouvia futebol no rádio, a gente ouvia. Mas o primeiro jogo...o primeiro jogo que eu fui no profissional foi Jabaquara e Nacional. Depois, eu fui ver um jogo do Santos uma vez, Santos com a Portuguesa. Ficava vendo...eu ia muito em campo, meu pai nesse aspecto ele sempre foi muito legal...quer dizer, meu pai sempre foi muito legal. Aí de repente eu fui ver um Santos e Corinthians em 56 a estreia do Zague. O Corinthians ganhou de 4 a 0 do Santos na Vila, a torcida era misturada e caí no meio dos corintianos. Acabei levando umas prensas na grade de ferro. Nisso, eu falei: “Em clássico eu não vou mais”. Só ia contra time pequeno e algumas vezes no Jabaquara. Mas em 57 o São Paulo foi jogar na Vila (Belmiro, estádio do Santos) e eu fiz questão de ir. Falei, pedi pro meu pai levar. “Mas você não vai”, “Mas eu estou querendo ir”. Primeira vez que eu vi o São Paulo jogar em 57. Na época, tinha 30 times, nego também esquece de umas coisas. O Pelé fez 58 gols mas tinha 30 times na primeira divisão, ficava dez que disputavam o título em turno e returno. No primeiro turno, o São Paulo ficou na rabeira na nona colocação. No segundo, na fase decisiva no primeiro jogo ele empata contra um time pequeno...acho que com o Botafogo. Aí trouxeram o Zizinho... porra o Zizinho deu uma ingessão do caralho. Ele estreou no São Paulo fazendo quatro ou cinco a zero no adversário. Aí veio jogar em Santos.



VSP- Já estava o Bella Gutman de técnico?



MVF- Já. Era o Bella Gutman. Fui ver esse jogo pô, o São Paulo ganhou do Santos de 6 a 2. Três gols do Canhoteiro, dois do Amauri e um do Zizinho. Que era o time que eu vi jogar: Poy, De Sordi, Mauro, Dino, Vitor e Riberto. Maurinho, Amauri, Canhoteiro e Zizinho. Acho que foi o melhor time do São Paulo que eu vi. Teve outros times bons mas esse era espetacular. Aí quando por exemplo, batia a minha bola, sempre meio curioso a respeito, li muito, vi, tal. Só parei...engraçado, você vê como é as coisas. Eu estava querendo fazer teatro. Eu já fazia com um amigo meu uns esquetes e eu lembro que na rádio Cacique que era uma rádio lá de Santos estavam chamando nego pra participar da equipe de esportes. Eu na época tinha o quê? 16 ou 17 anos. Eu fui falar com o cara, bati um papo, eu queria entrar no negócio mas ele me falou: “Sua voz é um pouco juvenil, não tem uma voz de macho”. Mais ou menos isso... “Mas quem sabe um dia”. Aí eu já fiquei meio cabreiro com isso, o cara me deu uma dispensa numa boa né? Pinto pra fazer teatro e na época porra, eu achava...as pessoas achavam que não era compatível. Até que eu parei de jogar bola.... só brincava de vez em quando. Porque eu fazia teatro e tinha que ser negócio de cultura, de ler aquelas bobagens que você vê que até o Décio de Almeida Prado que era um são-paulino fanático mas era um homem muito culto, o maior crítico de teatro do Brasil. Ele e tinha escrito muito sobre futebol mas ele tinha vergonha. Talvez seja por causa disso. Só foram descobrir essa vertente quando ele morreu e foram fazer as buscas achando essas coisas. Nem sei se acabaram fazendo livro que ele escreveu coisas sobre futebol mas ele não editava, era meio particular. Porque ele achava também...hoje não. Hoje essa barreira acabou, eu acho tudo isso uma bobagem. Óbvio que porra...se você vai fazer teatro tem que ler teatro, tem que ir atrás, tem que tentar se inteirar da matéria. Mas isso não impede você gastar seu tempo livre, seu tempo de boteco falando de futebol. Eu fui muito em campo e por incrível que pareça eu peguei a grande fase lá em Santos do Pelé. Então, porra eu vi o time ia lá tomava de três a zero e saia de lá abraçado, fazendo festa. Até foi engraçado rapaz, eu ia lá ver o Santos ganhar e uma vez me falaram : “Hoje você não vai no jogo”. Era Santos e Bahia pela Copa do Brasil, primeira Taça Brasil, ainda pensei: “Ver essa porra desse Bahia ?”. O Bahia me vai na Vila e me ganha de três a dois do Santos. Porra, aí eu perdi essa e outra foi a Ferroviária, a estreia do Dudu. O Bazzani estava machucado e o Dudu entrou no lugar do Bazzani. Depois, eles formaram o meio-de-campo juntos. Eu era molequinho....o que aconteceu? A Ferroviária conseguiu empatar com o Santos. Eu até vi um da Ferroviária não me esqueço. Ia ver o jogo e não sei por que atrasou, estava uns trinta minutos do primeiro tempo estava três a zero pra Ferroviária. Aí no finalzinho do primeiro tempo o Santos fez um gol de pênalti, ficou 3 a 1. Porra, no segundo tempo o Santos virou 4 a 3, os negos correram que nem doído. O goleiro era o Rosan, o Rosan pegando tudo, o Santos massacrou, massacrou. Também quando fizeram o quarto gol eles pararam meu, começaram a trocar bola porque eles estavam totalmente acabados. Então, porra cheguei a ver o Santos algumas vezes perder. Eu vi lá o São Paulo tomar algumas cacetadas, empates, uma vez três a três, uma vez também zero a zero que o Bellini jogou pra caralho. O Bellini era uma fera. Nesse jogo, ele acabou com o Pelé e com o Coutinho.



VSP- Mas ele já veio pro São Paulo velho?



MVF- Sim. Na época ele devia ter uns trinta e alguma coisa. Mas ele veio pro São Paulo quando o Mauro saiu. O Mauro tinha quebrado a perna, parecia que não ia jogar mais e ainda foi pro Santos e fez uma boa carreira lá. Então, porra, eram dois zagueiros...você vê que o Bellini foi titular em 58, o Mauro reserva e depois em 62 inverteu. Aí, porra a primeira vez que eu fui no Morumbi o São Paulo com um time fudido porque depois de 57 o São Paulo só veio a ser campeão em 70. O que acontece: o primeiro jogo que eu fui no Morumbi o São Paulo ganhou de 2 a 1 gol do Peixinho e o Dino Sani batendo pênalti. Havia aquele 4 a 1...pô essa também foi engraçada. Eu era office-boy lá de uma firma de despachos aduaneiros e tinha um tio meu que era dono de uma cantina lá no cais. Quando eu ia no estabelecimento dele era pra filar um café, aquelas coisas. Vou lá, esse meu tio tava lá e me falou: “O que você vai fazer domingo?”, “Não sei”. “Quer me fazer um favor?”, esse negócio de favor era meio complicado mas eu respondi: “Depende”. “É o seguinte eu tenho uma vaga numa perua, aluguei uma perua. Vai teus tios, vai teu primo”, Dmeu primo é um ano mais novo que eu e é santista. “Eu não vou poder ir porque eu tenho que trabalhar domingo. Vai chegar uns passageiros”. E era aniversário da minha prima, naquela época a gente fazia festa. “Tu vai no meu lugar no jogo e na volta a Selma vai fazer aniversário. Vocês vão lógico e você me conta como foi o baile”. Estava 4 a 1 pro São Paulo no começo do segundo tempo, aí o Santos começou a cair...



VSP- Ah, o jogo do cai-cai.



MVF- É. Aí a noite eu cheguei lá e o homem se fechou no quarto. “Ah tio vem cá pra eu te contar como foi o baile” (risos).  Ele gritando de dentro da porta: “Ah puta que pariu. Não vou sair porra nenhuma”.



VSP- Onde foi esse jogo?



MVF- Foi no Pacaembu, no Pacaembu. Eles alugavam lá a Kombi, um carro grande e vinha oito, dez pessoas. Teve outra de 2 a 1 esse tio meu estava. O Santos estava jogando com o São Paulo e o Juventus com o Jabaquara na Rua Javari. Aí o meu tio falou: “Agora vai ser fácil. A gente ganha do São Paulo, o Jabaquara do Juventus e faz a festa da volta juntos”. Aí o Juventus também ganhou do Jabaquara e eu falava: “Fizemos a festa”, aquelas gozações. Outra eu lembro foi na Copa do Mundo de 58 que a gente no Pacaembu um Santos e São Paulo. Tinha chovido pra cacete...no primeiro tempo o São Paulo virou 3 a 1 e o Santos virou 4 a 3. Porra, era uns negócios...



VSP- Saiam mais gols nessa época...



MVF- Ah, mas...é o futebol também era diferente. Não tinha esse negócio de retranca.



VSP- O Zizinho era a grande estrela daquele time?



MVF- Não,  a grande estrela era o Canhoteiro. Mas o Zizinho chegou...o Zizinho já veio meio coroa mas porra era o Zizinho. O Canhoteiro era o cara, era o cara. Mas tinha também o Mauro, o Poy era um puta goleiro, De Sordi que era da Seleção, Dino Sani, o Gino. Porra...era um puta timaço. Era um time...talvez o jogador mais assim era o Amauri que mesmo assim era artilheiro, o cara que fazia gol. O Maurinho era um belo ponta-direita, muito bom.



VSP- O Bella Gutman deu um padrão de jogo pra aquele time? Ou isso você não acompanhou tanto



MVF- Ah...eu não sei como era. Sei que o (Vicente) Feola tinha sido técnico do São Paulo, tinha sido assistente do Bella Gutman e depois foi o técnico da Seleção. Agora, eu não sei até que ponto...o que eu li foi que o Canhoteiro driblava muito mas não sabia chutar. Quando o Bella Gutman chegou diz que ele fez uma madeira numa parrede, fez um buraco com uma bolinha de camurça e fazia o Canhoteiro tentar embocar a bola naquele buraco. Era um buraco mínimo.  E o Canhoteiro parece que aprendeu a chutar e inclusive batia faltas. Era uma coisa...no começo ele driblava, driblava e perdia gol. Não era...depois ele marcou muitos gols. Era um cracaço, era um cara que driblava pra cacete.



VSP- Dos que você viu do São Paulo ele está entre os cinco maiores do São Paulo?



MVF- Bom..aí...já não sei...provavelmente.



VSP- Aquela fase que ficou sem ganhar títulos o grande nome foi o Dias?



MVF- Ah é,  o (Roberto) Dias também. Mas os times eram fracos, aqueles times eram ruins. Isso foi na época em que eles estavam preocupados em construir o Morumbi. Então, a década de 60 foi, foi...o São Paulo só foi ser campeão em 70-71.



VSP- Com o Gérson...



MVF- É...o Gérson veio em 70. Veio o Pedro Rocha em 71.



VSP- Mas o grande nome era o Gérson ou eram os dois?



MVF- Eram os dois. Mas o Gérson era o Gérson. E aí o São Paulo inclusive foi vice-campeão em 72 invicto. Tanto São Paulo como Palmeiras acabaram invictos. O São Paulo teve um empate acho que com o XV de Piracicaba que foi a diferença porque o resto eles estavam iguais. Então, o Palmeiras jogou na final pelo empate e empatou. Porque o São Paulo nunca conseguiu ser tri paulista ele só foi conseguir ser tri brasileiro aí algum tempo atrás. Mas essa coisa é meio difícil de saber como é...pra citar jogadores que chamaram a atenção. Porque hoje em dia é meio difícil porque jogadores jogam dois, três anos e vão embora. Um ano ou dois, mas caras que eu acho que marcaram no São Paulo...o Dias foi um cara que marcou. Depois, por exemplo...o Muller, Careca. Aquele time tinha vários caras bons como Careca, Silas, Muller. Um time muito interessante.



VSP- Do Cilinho.



MVF- É...inclusive esse time é montado em 85 né? Ele é campeão paulista em 85 e depois é campeão brasileiro em 86 com o Pepe. O Cilinho arrumou uma confusão lá e foi embora. Mas ele que deu a cara pro time. Que era o time que estava meio mal. Eu até me lembro que eu fui ver São Paulo e Coritiba, o Coritiba ganhou e a torcida estava puta da vida. Até engraçado, teve uma hora que ele foi mandar o Muller se aquecer, estava zero a zero o Coritiba fez o gol e ele mandou o Muller pro banco. Isso talvez pra não marcar o cara. A torcida chiando pra caralho. Aí teve uma época que ele resolveu e lançou. Lançou junto o Silas, o Muller e o Sidnei.



VSP- Isso o Cilinho?



MVF- Sim. E tinha a espinha dorsal, o time estava ruim...tinha tido um ano anterior ruim mas tinha Oscar, Dario Pereira, Pita e Careca. Quer dizer, quatro craques. Aí veio debaixo o Muller, Silas, Sidnei, Nelsinho e Vizoli que não chegou a ser titular mas jogou. Contrataram o Gilmar, aquele Gilmar de bigode que hoje é empresário e veio o Zé Teodoro. Armou um time bom. Então, estava bom em 85, porra o Silas e o Muller eram dois bons jogadores. Aí veio o Falcão, mas chegou a jogar alguma coisa mas não era o velho Falcão. Porque o time estava armado e quem jogava de volante era um marcador que jogava, Márcio Araújo esse que virou treinador. Mas o Falcão era muito melhor só que com ele de volante não tinha marcador. O Pita era craque mas não marcava, o Silas também vinha buscar a bola mas não sabia marcar. Então, porra tinha que ter um cabeça de área ali porque futebol já era mais ou menos esse de hoje. Cara joga no contrataque nego rápido, defesa meio pesada.


VSP- Seleção você pegou muito em estádio?



MVF- Pouco...olha pra dizer a verdade eu não curto muito Seleção. Se tiver um jogo na televisão na Globo o Brasil e em outro canal o São Paulo, eu vou ver o São Paulo. Né?



VSP- O Palmeiras do Ademir você chegou a acompanhar um pouco...


MVF- Cheguei a ver vários São Paulo e Palmeiras. Eu me lembro um que o Palmeiras ganhou, inclusive o São paulo estava meio ruim. Depois, no ano seguinte o São Paulo ficou bom e deu uma cacetada no Palmeiras aí. Foi...eu estava indo pra São José do Rio Preto que eu estava com uma peça lá que eu tinha dirigido com o Jean Garrett, estava com dinheiro pra receber. O São Paulo ganhou acho que de 6 a 1, não lembro que campeonato era. Deu uma surra no Palmeiras. Mas o Palmeiras de vez em quando dava uma cacetada de lá. Então, sempre foram clássicos disputados.



VSP- O Corinthians nessa época não ganhava nada.



MVF- Passou uma fase meio ruim. O Santos com a saída do Pelé também deu uma caída, acabou os dois se rivalizando você vê que hoje um jogo que teve muita rivalidade. E eles ganhavam, a maioria dos títulos eles estavam ganhando né? Esses jogos em 70 e poucos que o Pelé parou. O Santos ainda voltou a ser campeão em 78. Depois, nos anos 1980 foi em 84 que ele ganhou do Corinthians.



VSP- Gol do Chulapa...



MVF- Mas o resto ficou entre Palmeiras e São Paulo.


VSP- Chulapa você pegou bastante?



MVF- No São Paulo.



VSP- Ele era tipo o Borges, marcador de gol?



MVF- Ele era melhor. Serginho driblava, dava chapéu, o caralho. Ele era um centroavante canhoto, centroavante difícil de marcar. O Chulapa era forte, ele não fugia do pau. Não...o Borges não tem nada haver. O Borges é baixino e o Chulapa é alto.


VSP- Eu digo parecido por ser o homem de conclusão, artilheiro.



MVF- Sim, sim. Ele não era muito bom de cabeça e era alto. Mas ele não lembrava o Borges não.



VSP- Você acha que é errado culpar ele pela perda do título de 82?



MVF- Não, olha na época o grande centroavante era o Careca. Mas o Careca se machucou.



VSP- Aí tentaram o Reinaldo...



MVF- Não, o Reinaldo já tinha se fudido na Copa da Argentina e não conseguiu jogar. O Reinaldo me lembra muito o Pagão. Todo mundo fala: “Pagão maravilhoso”, mas porra eu vi vamos supor...sei lá, quarenta, cinquenta jogos do Santos e eu vi o Pagão jogar três ou quatro vezes. Por quê? Porque o Pagão estava sempre machucado e se tu analisar a história antes do Pagão teve o Del Vecchio, depois teve o Coutinho. Teve o Toninho Guerreiro. E o Pagão sempre lá no time. Então, ele jogava de vez em quando por quê? Porque sempre estava machucado. Agora, era um artista com a bola, era um craque, sabia jogar, fazer lançamento. Era um centroavante que eu nunca vi ele entrar na área rapaz. Ele não entrava na área de jeito nenhum. Agora, com a bola no pé ele sabia lançar, ele era o cara. Ele lembrava um pouco não...são posições diferentes mas o estilo parecido com que joga esse Ganso. Né, o cara fica meio por ali e dá aquelas metidas de bola fantásticas. O Pagão tinha aquilo, ele era centroavante mas daqueles que vinham buscar a bola. Quem lembrava um pouco o estilo do Pagão era o Careca. Só que o Careca era mais forte, foi mais ativo digamos, não sei se era craque. Mas o Pagão era um craque mas aquele craque que estava sempre fudido, sempre machucado. Como o Reinaldo, o Reinaldo se quebrou aí e depois viveu da fama. Ele era um craque se tu analisar, ver o Reinaldo ele teve muito pouco tempo útil de futebol. Ele estava sempre fudido, depois aí machucou e não conseguia mais. Então, não sei. Mas não pode dizer que quem errou ali, primeiro duas coisas que eu acho de 82: foi temerário ficar com o Waldir Peres depois do frango que ele tomou da União Soviética. O Telê não sei porque não levou o Leão que seria o goleiro...



VSP- Top...



MVF- Mas o Waldir também. Ele estava top no time mas na Seleção ele deu um azar de tomar aquele gol e senti que ele estava inseguro. Embora eu ache que ele não teve culpa nos gols da Itália. Quem teve culpa foi o Toninho Cerezo que entregou...era um craque mas entregou a bola de bandeja pro cara. E a Itália estava, todos os ataques, os três ataques que a Itália deu fez três gols e perdeu um. Porque pegou o Brasil um time cheio de craques e foi pra frente deixando a defesa sem cobertura. Não tinha assim um grande volante, tinha o Toninho que era o volante. Não colocou o Batista...que seria o volante. Isso porque empatando o Brasil passava. Chegou a empatar mas não era o dia, tem dia que não tem, não tem como. O goleiro também chegou a pegar umas bolas lá, o Brasil perdeu gol no fim.


VSP- Era o Dino Zoff...



MVF- No fim acho que foi uma cabeçada do Oscar que o cara pegou não sei como. A bola ficou emperrerecando ali, não tinha, não tinha que ser. Eu acho que não era. E a Itália estava fudida, ela estava mal. Empatou cagando.



VSP- E o Brasil tinha passado pela Argentina voando.



MVF- O time estava embalando, então, eu acho que não tem dizer que foi. Não quis, não deu, não pegou. Era um timaço pô, porra os quatros do meio de campo eram quatro craques.



VSP- Daquela época pra hoje a preapração física mudou muito né?



MVF- Sim. Eles são quase uma máquina, entende? Se ele tiver uma unha encravada ele não consegue jogar, não consegue correr. Então, tem um cara lá pra cuidar disso, cuidar daquilo. Parece aqueles bois de raça que precisa tomar conta né? Pra vender que vale uma grana.Tem todo um outro sistema. Eu acho que não é só o futebol...e outra coisa. Quando eu era garoto só tinha futebol. Hoje, o cara pode ser profissional de vôlei, basquete...até skate tem profissional. Então, tem várias outras opções...não necessariamente futebol. Na minha época não, a bola...bola de capô na minha época era difícil. A gente jogava com bola de borracha, bola de capão era legal. O moleque que tinha bola mandava e desmandava porque porra...e bola até de meia dá pra fazer e jogar. Então, mas hoje não...hoje tem mil outras coisas que também é profissional. Acho uma bobagem o cara falar: “Na Olimpíada não poderia ir um cara profissional”. Pera aí, todo esporte que é olímpico é profissional. Não vai aí pegar cara de basquete amador caralho...esses caras são profissionais. Pode ser que não ganha bem como ganha futebol mas ganha bem. Esses caras de ponta ganham bem.



VSP- Os de ponta....



MVF- as futebol também cara! Quantos caras você acha que ganham bem?



VSP- 1%, 2%


MVF- Cara que joga no Juventus também é profissional. Quanto ele deve ganhar?



VSP- Cinco pau.



MVF- Que? Do Juventus duvido. Acho que nem isso. E quando ganha.



VSP- E fica seis meses lá porque não fica o ano inteiro.



MVF- Meu, eu tava em Sorocaba e escuto o programa local lá. Eu vi pô...o São Bento está numa lona filha da puta. O diretor falando que a folha de pagamento do São Bento é de 20 mil reais. Ele precisava de 20 mil reais pra bancar a folha de pagamento. Entra jogador, deve entrar técnico, massagista, roupeiro, o caralho. Vinte pau...então, quanto o cara deve ganhar no máximo? Mil, mil e quinhentos. Não são onze jogadores.



VSP- São uns dezoito.


MVF- No mínimo. Tem que ter mais gente. E se começa a machucar? Vamos por vinte. Se for vinte é mil.



VSP- Mas tem alguns que ganham mais que os outros.



MVF- Mas o cara tem vinte pau. Então, tem cara que está lá ganhando um salário mínimo.  O cara falando: “Preciso de vinte mil”, o time estava endividado. Isso pra cobrir a dívida. Em Portugal,um time entrou em greve. Entrou com oito jogadores pra jogar. O que eu acho uma sacanagem. Se eu fosse de futebol iria perguntar: “Quem foram os caras que fizeram greve?”. Esses no meu time jamais jogariam. Não é por nada...eu acho que eles deveriam receber mas eu acho que não pode fazer isso. Tem que por a boca no trombone, ir jogar, acabou o campeonato aí fazer um puta carnaval. Agora, fazendo greve eu acho que eles perdem um pouco da razão. O Guarani mesmo diz que chegaram a estar sete meses no ano passado, estavam vendendo o estádio, o caralho pra cobrir dívida. E aí? Não sei o que tu vai fazer com essa merda (Marinho refere-se a entrevista).



VSP- Eu vou vender e ganhar muito dinheiro (rindo).



MVF- Ah, vai. Vai ganhar muito...



VSP- Mais pela amizade e pelos papos. Você jogava botão na época então?



MVF- Porra, eu e um primo meu nós tínhamos dois times legais mesmo. Aí eu trouxe esses botões. Esse meu primo é chato...toda vez que eu encontro com o cara, ele fala: “Nossos times de botão”. Logo quando eu vim pra São Paulo eu trouxe. Eu tava querendo entrar num desses campeonatos. Eu jogava bem. E aí numa dessas mudanças os botões foram pra casa do caralho. Numa dessas saídas estratégicas de mulher e tal. E esse meu primo rapaz. Agora vou te falar uma coisa que você não fala pra ninguém, não fala pra ninguém. É um puta segredo. Eu não quero falar isso porque porra...não pega bem. Eu fico com vergonha de falar isso. Sempre quando eu encontro esse meu primo ele vem me encher o saco com essa história do botão. Mas esse meu primo ainda tá vivo e ele é chato pra caralho. Ele é aposentado do Banco do Brasil e puta...quando eu encontro ele me vem. Casamento, algum enterro, lá vem o Arnaldo. Arnaldo o nome do cara. Vê se isso é nome de gente? Um nome dos anos 1940. Aí vem o Arnaldo: “Oi, oi tudo bem?”, daqui a pouco ele vem perguntar dos botões outra vez. “É rapaz sumiram. Fazer o quê?”.



VSP- Ele pergunta pra ver se você achou?



MVF- Não, não. Ele sabe que não tem jeito mas fala: “Porra, é. Nós perdemos nossos”.



VSP- Ele é mais novo que você?



MVF- Um ano mais novo.


VSP- Você tem irmãos?


MVF- Só irmãs. Três irmãs.



VSP- E como era a Gazeta Esportiva na sua época? Você chegava a comprar A Gazeta Esportiva?



MVF- Tinha A Gazeta Esportiva e O Esporte. Os dois eram diários. Eu...fazia um rodízio, tal. Era só de esporte, time do interior, o caralho. Segunda divisão. Eu até tinha uma simpatia por aquele América de Rio Preto que sempre tava chegando na final. Teve uma época mais ou menos boa e agora também tá fudido.


VSP- Tá. Caiu pra Série A-3.



MVF- Pra A-3, A-4, pra casa do caralho. E diz que até tem um estádio bom lá.



VSP- Um estádio gigante...



MVF- Que tem o seguinte: existe uma coisa e isso é importante, isso é legal. Antigamente, o moleque por exemplo era de Sorocaba. Pra vir de Sorocaba pra Santos era difícil. Campinas...então, o moleque ia querer jogar nos times de lá. Hoje tu pega em Sorocaba tem campo de treinamento do do São Paulo, do Santos, do Corinthians, do Palmeiras. O moleque lá o que faz se ele é mais ou menos bom? Já leva ele pra um desses quatro. Se ele provar nos quatro ele vai pro time local. Ou não souberam ver direito ou quem vai pro time local é o bagaço. Então, não se tem mais, não se faz mais revelação. O Guarani está tentando forçar um tal de Bruno Mendes mas não vai dar muito pé.



VSP- Você chegou a pegar aquele time do Guarani do Zenon, do Careca?



MVF- Ah...e tinha um antes que era Babá, Nelsinho, Bozó.



VSP- Da Ponte você pegou aquele time do Dicá, do Carlos...


MVF- A Ponte teve um timaço. Inclusive, aquele jogo que o Corinthians ganhou em 77 eu estava no estádio. Esse já não é tão ruim de falar porque acho que foi o maior público do Morumbi.



VSP- Mas você estava torcendo pela Ponte?


MVF- Não, eu trabalhava na Emplasa que era no meio do caminho. Tinha um amigo meu que trabalhava lá que também era são-paulino. O pai dele tinha duas cativas. E aí eu sempre fã de futebol o cara me falou: “Vamos ver o jogo”. Tinha carro, o caralho. “Já estamos no meio do caminho e tem a cativa que o ingresso fica mais barato. Tem umas facilidades. Porque tem duas coisas: se o Corinthians perder a gente tira sarro com os corintianos e se o Corinthians ganhar é um jogo histórico”.  Depois, pra vir embora foi uma foda. Puta...o carro não saia. Outro jogo que eu fui com o Jean Garrett foi na primeira vez que o São Paulo foi campeão da Libertadores. Também pra vir embora foi uma foda. O carro ficou num lugar que não dava pra sair. Nós fomos sair do Morumbi umas duas horas da manhã e não tinha nada. O Jean estava com o filho que era garoto. A gente com uma fome do caralho porque a gente até tinha combinado de ir jantar depois do jogo. Tinha acabado tudo, cachorro quente, tudo, tudo. Não tinha mais nada. Bebuns...porque muita gente não entrou. E quem ficou de fora já foi comendo os bagaços que se vendiam fora do campo. Quando acabou o jogo e não tinha jeito de vir embora porque os carros ficaram presos. A gente pô...ele me deixou em casa acho que quase duas horas da manhã: “Vamos pra casa. Cada um come em casa que não tem nem mais o que fazer”. Mas foi uma sensação legal, ganhou nos pênaltis. Jogo complicado pra caralho com os argentinos.


VSP- Você tava aquela vez que o São Paulo perdeu pro Velez?



MVF- Não. Nessa eu escapei (risos). Chegou uma época que eu não quis ir mais.



VSP- Por quê Mário?



MVF- Não sei. Chegou muita violência, briga, confusão. Porra, pra tu ir no Morumbi é uma foda. Pra ir ainda dá pra ir mas pra voltar é uma merda. Não consegue pegar ônibus, se for pegar um taxi o cara cobra vamos supor trinta paus por cabeça ou mais. Depois é o seguinte: pra tu ir em jogo tu tem que ir com gente. Então, hoje por exemplo eu não posso ir no jogo contigo no São Paulo e Palmeiras. Porque tu vai ficar no Palmeiras e eu no São Paulo.



VSP- Antigamente não tinha problema nisso?



MVF- Até determinada época sim. Uma época eu encontrei uns caras que eram são-paulinos como o João Paulo que era dublador mais uns caras e a gente combinava de ir. Ia num quatro ou cinco, aí ia de carro. Racha estacionamento, o caralho. Então é uma outra coisa. Mesmo assim, uma época eu encontrei com o João Paulo algumas vezes. Era assim: o João Paulo era sócio do clube. Então, ele ia lá de manhã, almoçava por lá. No jogo a gente mais ou menos tinha um lugar pra almoçar. Aí acabava o jogo a gente ia pro restaurante do clube. Podia entrar e levar convidado. O que acontecia? A gente ficava lá umas duas horas até oito, oito e pouco pra esperar o pessoal vir embora. Aí a gente vinha embora numa boa. Agora, tu chega lá depois se não tem o que fazer você vai querer ir embora. Porra, pra vir embora é uma foda. É o que vai acontecer com no campo do Corinthians. Tem metrô? Tá, no metrô tem espaço entre um e outro. Já é complicado hoje quero ver em dia de jogo como eles vão consertar isso.


VSP- Você acha que vai ser bom pra cidade ter outro estádio? E o Pacaembu o que vão fazer lá?



MVF- Eu ouvi falar que eles querem remodelar o estádio pra dedicar a esporte amador. Não sei...manter um estádio parece que é caro. Lógico, precisa do cara pra cuidar da grama, limpar tudo.



VSP- Mas você viu grandes jogos no Pacaembu?



MVF- Na minha opinião, o Pacaembu sempre foi o melhor lugar pra ir. Porque porra daqui dá pra ir a pé. Eu morei no Pacaembu vinte anos, ali na avenida Pacaembu. Então, fui vários jogos lá a pé. Tinha um sobrinho da Lígia (de Paula, esposa de Marinho) que era garoto, agora é adulto. Mas era menino e várias vezes levei ele pro campo. Fomos juntos e a gente ia pé. Aí sim era uma bocada. Depois aí comecei a ver uma certa confusão, comecei a ter uma certa preguiça. Até em cinema eu estou indo muito pouco. Porra, eu era um cara de ir três vezes por semana em cinema. Hoje porra só vou ver filme de amigo e olhe lá. Tudo é muito complicado...por exemplo: “Tem o Marabá aí”. Os filmes que passam no Marabá eu não quero ver. Nenhum desses filmes que está aí eu quero ver. Desde que o Marabá...teve um ou outro filme que eu queria ver: “Pô, esse dá pra vir”. Mas tem um problema, eu chego aí duas horas: “Não, a sessão do filme é a uma e depois só entra ás sete porqua antes entra outro filme no meio”. Eu sou de um tempo que o cinema era duas, quatro, seis e oito. Porra, vou as quatro horas. As últimas épocas que eu fui bastante em cinema foi quando eu estava morando em São Paulo só de final de semana. E eu ia de olho fechado. Era no Unibanco. Por quê? Eu sabia que lá a hora que chegasse ia ter uma sessão mais ou menos próxima de algum filme que dava pra assistir com uma programação diferenciada. Agora, essas coisas aí...



VSP- Efeito especial...



MVF- Não gosto, não dá, não consigo ver porra. Não tem por que. Hoje, eu passei pra ir na casa do (Antônio) Ciambra e estava uma puta fila no Marabá. Deve porra que filme será? Tinha um monte de criança. Devia ser algum filme infantil.



VSP- Mas é legal ter no centro alguma opção assim.   



MVF- Pois é. Mas eu queria ver...mesmo em Sorocaba é difícil. Ás vezes, a  Lígia fala: “A gente podia ir”. Porra, mas eu não quero ver esses filmes. Por quê? Porque o que passa lá é essa programação. A programação que atinge o grande público. Lógico o dono do cinema não está errado mas eu estou errado. Só que eu não quero ver esses filmes e Sorocaba hoje tem quatro, cinco shoppings cada um com quatro, cinco cinemas. Quase uns 25 cinemas. Mas e daí? Vou ver lá Os Vingadores? Não vou porra, me desculpe eu já passei dessa fase. Deve ser Os Vingadores que estava aquela fila.



VSP- Não sei. Não sei se Os Vingadores tem apelo com o público infantil. Mas esse filme estreou agora.



MVF- Pode ser...mas ver Os Vingadores? Não vou porra. “Ah, mas só pra ver como é?”, não me interessa. Deixa ele lá. Prefiro como eu fui ver no cineclube do Biroska o Vereda da Salvação. Puta filme. Lá por exemplo, a programação deles é um pouco complicada. Uma semana eles passam filme assistível e no outro filmes modernos. Porra...eu vi O Palhaço, não gostei do Palhaço. Provavelmente...vi muita gente falar bem e eu fui com uma espectativa. Então, provavelmente eu fui ver com isso.



VSP- Por quê você não gostou do Palhaço?



MVF- Primeiro: eu acho que não dá mais pra tu usar o Paulo José pra papel principal. É uma homenagem que acho que tinha que ser um papelzinho como fizeram com o Moacyr Franco.



VSP- O Moacyr Franco tá bem...



MVF- Tá mas não é pra ganhar prêmio aquilo. Ele foi esperto. Levaram ele lá e ele falou: “Gente, eu vim aqui dar uma força mas eu tenho um compromisso. Tchal”. Sacanagem, se fosse pra dar prêmio de consolação dava pro cara que faz a bonitinha que conta a mesma piada e acho até mais engraçado. Filme desse tipo, road movie de circo eu já vi coisas muito melhores. Não achei lá o filme grande coisa. Achei uma direção confusa porque vira e mexe eles vão pra uns detalhes. Quem conhece um pouco tá vendo que a cena não tem continuídade, algo deu crepe. Quando começa muito com neutro é porque deu merda na edição. Só que porra as pessoas não veem por esse ângulo. Selton Mello está meio que na crista da onda. Realmente ele até como ator ele vai bem.



VSP- Fez bastante filme, ganhou prêmio até conjunto da obra.



MVF- Não, esquece esse negócio de prêmio. Tu vê que até acabaram com aquele negócio de Paulínia. E aqui no Brasil invés de tentarem melhorar nego chega e fala: “Vamos acabar. Vamos usar o dinheiro em outro lugar”. Esse outro lugar você não sabe onde é. Eu acho muito engraçado: “Podia pegar esse dinheiro e fazer hospital”. Amigo, fazer hospital não é tão difícil. E pra tu manter um hospital? Depois, outra coisa catzo tem hospital pra caralho. Tá...igual antigamente tem duas coisas que o Maluf fez muito: teatro. No interior ele fez teatro pra caralho e muitas vezes a cidade nem tinha condição de ter teatro. E escola. Que se foda. Ele doava pro município e o município que se virasse pra colocar professor lá. Então, é uma faca de dois gumes. Eu acho que tem que ter orçamento. “Ah dá comida pra pobre”. Poxa, então tira o cara da pobreza. Eu acho que tem que ter dinheiro pra isso, pra aquilo. Agora, tem que ser bem aplicado. Por exemplo, eu sou contra o Virada Cultural. Vão gastar oito ou dez milhões em cultura e depois não tem dinheiro pra porra nenhuma.

3 comentários:

Almir disse...

Prezado Matheus, em seu lugar eu jamais mendigaria uma entrevista. Se o cara não quer falar mande pro inferno. Se fosse o Spielberg seria compreensível mas Mário Vaz Filho ???
O que esse cara acrescenta ao cinema nacional ? Quem fala dele ?
Esses antigos diretores se comportam como se fossem a última Coca Cola do deserto e na realidade são uns bostas

Matheus Trunk disse...

Oi Almir, gosto muito dos seus comentários e da sua presença no blog. Respeito sua opinião. Ele acabou falando depois, o Marinho é desse jeito. Tem trabalhos importantes na Boca e foi assistente de direção de grandes nomes (Jean Garrett, Antônio Meliande, entre outros). Respeito muito ele e também o seu comentário. Abraço e por favor continue frequentando esse blog

Leonardo José Raimundo disse...

Meus pêsames a Mário Vaz Filho (14 de maio de 1947 - 20 de janeiro de 2022). Minha mãe também morreu no ano passado, no dia 1º de maio, de infecção urinária.