domingo, 19 de janeiro de 2014

A vez do trabalhador de cinema





Por Leonardo Fuhrmann

Ao falar sobre Virgílio Roveda, Matheus Trunk faz mais do que contar a trajetória de um homem (o que já não seria pouca coisa em si, pois todos nós temos grandes histórias, basta saber contá-las). Ao escolher um técnico como personagem central de seu livro, ele foge também das maneiras mais óbvias que temos de conhecer os bastidores do cinema: pelo olhar dos grandes astros protagonistas ou de diretores criativos que construíram uma forma própria de fazer seus filmes.

Claro que é muito mais fácil oferecer ao público a história vista pelos olhos de alguém que é uma cara conhecida, ainda mais se for um ator ou atriz que aparece nas novelas da televisão. Por outro lado, os estudantes e estudiosos de cinema têm uma curiosidade especial sobre a maneira como os grandes criadores pensaram seus maiores clássicos. Sem desprezar estas duas possibilidades, o livro que você tem agora em mãos oferece a visão dos profissionais menos conhecidos do cinema: os técnicos.

Alguns deles vieram da Europa com conhecimento teórico e quando chegaram a São Paulo seguiram fazendo o que gostavam e sabiam fazer. Já haviam outros com pouca formação profissional e que faziam cinema com muita garra e pouco dinheiro e tentavam aprender os segredos da profissão com os mestres estrangeiros. Pessoas que faziam cinema quase que anonimamente, que sofriam com baixos salários e más condições de trabalho e, não poucas vezes, nem recebiam o combinado. Mas, mesmo assim, tinham orgulho de dizer que faziam cinema.

Era gente que trabalhava na indústria do cinema, que podia fazer um filme com nomes consagrados como Ozualdo Candeias, Rogério Sganzerla, Luís Sérgio Person ou Carlos Reichenbach e, em seguida, participar com o mesmo empenho e disposição de uma produção caça-níqueis até mesmo com enxerto de cenas de sexo explícito. Profissionais que podiam exercer diversos ofícios durante uma mesma produção e que podiam subir ou descer na escala de importância das atividades que exerciam de um filme para outro sem pensar na carreira apenas como uma escalada rumo ao topo. Aqui está uma contribuição importante para que as histórias desses trabalhadores não se percam.

Publicado originalmente como prefácio do livro O Coringa do Cinema

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