terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Cantinho do Marcos Rey: Memórias de Um Gigolô


Voltei a vender rifas. Rifas de um relógio. É comovente a crença que os bêbedos tem na loteria, pois a estes vendia meus cartões. Nessa época conheci um japonês que me passou retratos pornográficos pertencentes à série “o padre e a freira”. Comecei a vendê-los à saída dos colégios. Tive sorte. A rapaziada conhecia-me à distância e comprava-os. Depois, encorajei-me a frequentar escritórios. Tinha também êxito nos salões de barbeiro e em certas rodinhas que se formavam na praça da Sé. Foi uma das profissões que mais levei a sério. Mas abandonei quando encanaram o japonês, que, sem favor, era um fotógrafo de mão-cheia, um artista incompreendido, um gênio oculto.

Terminada essa experiência, iniciei outra. Vendia estatuetas obscenas, feitas de barro, em forma de cinzeiro e peso para papel. Tiveram feliz aceitação nos prostíbulos, bares noturnos, certos escritórios, mas a saída foi momentânea. Em seguida, criei uma biblioteca circulante de livros pornográficos que alugava a um bom preço. Esse mister permitiu-me viver com dignidade uns seis meses. Mas a literatura fescenina é muito pobre nesse país; faltam bons autores, ilustradores, tradutores e os editores preferem a exploração gangsterina dos livros didáticos. Resultado: fui acabar retornando ao posto de garçom no Império. Eu, o príncipe da noite, o Edgard Wallace das roupas íntimas.

Retirado do livro "Memórias de Um Gigolô" de Marcos Rey

Nenhum comentário: