quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

DE OLHO NA BOCA: Jean Garrett

DE OLHO NA BOCA

A história de uma carreira


Por Jotta Santana

Em tempos em que o Cine República ainda era uma realidade e não apenas uma lembrança na saudade da gente, um título de filme em cartaz nos chamou a atenção com força suficiente para que o assistíssemos. Talvez até pelo mesmo motivo de conservação crítica que leva cada brasileiro a ver os filmes nacionais e depois comentar que “desse jeito a coisa não vai mesmo”. O filme era “Amadas e Violentadas” e nos causou uma reação absolutamente inusitada saímos do cinema com uma leve sensação de haver cometido uma injustiça no julgamento precipitado e preconceituoso. O filme, apesar de tudo, tinha muito bons momentos, tinha méritos inegáveis, tinha a marca de uma direção segura e inventiva. E nós começamos a marcar o nome do diretor e seguir a sua carreira. A primeira e boa impressão que Jean Garrett nos causou só foi reforçada desde então. Mas a história desse diretor e seu envolvimento com a arte cinematográfica, começaram muito antes. Começaram, por exemplo, na sua atividade como fotógrafo profissional lá na Ilha das Flores, no Arquipélago dos Açores, terra que o viu nascer. Condição que, chegando ao Brasil, levou-o à montagem de um estúdio fotográfico onde fez moda, publicidade, fotos industriais e novelas. Daí chegou à editoria e na revista Melodias produziu, fotografou e dirigiu fotonovelas durante dois anos, tendo como objetivo a cinematografia. Em seguida na Editora Saber, coordenou e dirigiu a revista Jovem-Sex, uma das primeiras especializadas em cinema e que foi retirada de circulação pela Censura. Nessa época Jean Garrett já havia ingressado definitivamente no cinema e com o fechamento da revista passou a se dedicar integralmente ao meio que o atraia. Como intérprete trabalhou com José Mojica Marins fazendo filmes e gravou tapes especiais para a TV Bandeirantes e para a TV Tupi. Depois criou um grupo de teatro fazendo uma turnée pelo interior paulista com a peça “Os Mortos Também Se Vingam”, exercendo as funções de intérprete e maquiador. De volta a São Paulo, o cinema passou a ocupar todo o seu tempo. Trabalhou como fotógrafo de still, cenógrafo, contra-regra e assistente de direção para profissionais como Ody Fraga, Ozualdo Candeias, Fauzi Mansur e Rubens da Silva Prado, além de José Mojica Marins. Foi trabalhando em “Sedução”, em 1974, que David Cardoso, ator principal e produtor recebeu suas qualidades de diretor. E o filme “A Ilha do Desejo” iniciou sua carreira como diretor. A filmografia de Jean Garrett incluí trabalhos muito importantes dentro do cenário cinematográfico brasileiro: 1968- “Trilogia do Terror”- episódio “Pesadelo Macabro”, direção de José Mojica Marins- função de Jean: cenógrafo e intérprete: 1969- “O Estanho Mundo do Zé do Caixão”- direção de José Mojica Marins – funções de Jean: intérprete e contrarregra: nesse mesmo ano faz também “Meu Nome é Tonho”, direção de Ozualdo Candeias, na função de intérprete; 1970- “Sangue em Santa Maria” – dirigido pelo Rubens da Silva Prado, na função de intérprete; 1971- “Gringo, o Matador Erótico” dirigido por Tony Vieira, na função de intérprete; ainda esse ano – “Sinal Vermelho: As Fêmeas” – dirigido por Fauzi Mansur, nas funções de fotógrafo still e intérprete; 1973- “A Noite do Desejo” – dirigido por Fauzi Mansur, nas funções de fotógrafo, still e assistente de direção; 1974- “Sedução” – dirigido por Fauzi Mansur, nas funções de fotógrafo still e assistente de direção: ainda nesse ano – “Adultério, As Regras do Jogo” – dirigido por Ody Fraga, nas funções de fotógrafo still e assistente de direção; ainda esse ano – “A Ilha do Desejo” – como responsável pelo argumento, roteiro e direção; 1975- “Amadas e Violentadas”– argumento, roteiro e direção; 1976- “Possuídas Pelo Pecado” – argumento e direção; ainda nesse ano – Excitação – argumento e direção; 1978- “Noite em Chamas” – argumento, roteiro e direção; ainda nesse ano – “Mulher, Mulher” – argumento, roteiro e direção; 1979- “A Força dos Sentidos” – argumento, roteiro e direção.



Publicado originalmente no jornal "Notícias Populares" em 13 de setembro de 1979