segunda-feira, 31 de julho de 2017

IN MEMORIAM DE HEITOR GAIOTTI, O CARA DE GATO


 
O trio de aventureiros era composto por Tony Vieira, Claudete Joubert e Heitor Gaiotti. O personagem que ele fazia era o Cara de Gato. O comendador Francisco Assis Soares trazia os cavalos e os empregados assavam o garrote. As noites em Sabaúna eram animadas com música, cantoria, futebol, boêmia. Tony Vieira sempre media a febre. Mantinha uma mala entupida de remédios já que era hipocondríaco por natureza. Cara de Gato não. Magricelo, boa praça e bom de copo. Dava chances para os iniciantes. Foi ele quem chamou o então perdido Castor Guerra para ser ator num faroeste. O pagamento: um sanduíche e um refrigerante Crush. Foi a primeira oportunidade do alto e desengonçado Castor num longa-metragem. Ele ficou devendo essa para Gaiotti, o Cara de Gato, o mais engraçado ator da rua do Triunfo. Uma vez, Gaiotti e Tony brigaram. O ator, produtor e diretor chamou então Ronnie Cócegas (Galeão Cumbica da “Escolinha do Professor Raimundo” do Chico Anysio) para o papel cômico. O resultado não foi ruim. Mas a parceria voltou, afinal, os dois eram irmãos. De cinema, de boêmia, da rua do Triunfo. É errado achar que Gaiotti deixou sua marca somente nas produções do amigo. Esteve presente em dezenas de produções paulistas como “O Inseto do Amor” de Fauzi Mansur. Também foi o marido que tenta trair a esposa e recebe bicadas em “A Mulher Que Põe a Pomba no Ar” de José Mojica Marins e o policial que anda de Veraneio e salva o perdido Lírio (Nuno Leal Maia) no clássico “O Bem Dotado- O Homem de Itu” de José Miziara. Lembro dele fazendo o caseiro Firmino numa comédia do Antônio Meliande no qual ele é o melhor ator da produção (“Vadias Pelo Prazer”). Também está engraçadíssimo em “O Filho da Prostituta”, o segundo e último longa-metragem de Francisco Cavalcanti rodado em Avaré em que faz cenas muito divertidas com a rechonchuda Yolanda Silva, sogra de Chico e avó do Fabrício.

Pouca gente sabe. Mas Gaiotti abandonou a carreira militar, o exército para ser palhaço, humorista, ator cômico. Os companheiros de quartel davam tantas gargalhadas com suas apresentações que ele resolveu seguir a carreira artística. Gaiotti era de uma fidelidade canina ao amigo Tony e aos companheiros da produtora MQ (Marca e Qualidade como diziam nas entrevistas ou Mauri de Queirós, o nome verdadeiro de Tony Vieira) . Um dos grandes humoristas do Brasil, talentosíssimo. Morreu esquecido. Não vai ser capa de nenhum caderno cultural nem nome de centro acadêmico ou cineclube. Mas as filmagens vão começar. Tony gravou a ideia (o “argumento”) numa fita K7:

“Meu irmão: quero um filme bangue-bangue mais pesado que os italianos. Giuliano Gemma vai ficar com inveja da gente. Quero um papel de destaque pra Claudete. Muitas moças. Um papel bom de vilão pro Comendador. Mas papel grande com fala. Coloca uns ciganos, tráfico de escravas brancas e muito tiro. Vai ter uma explosão num celeiro. Fronteira Brasil-México será atravessada”.

Outro faroeste realizado em Sabaúna, Mogi das Cruzes. Luiz Castellini ouve a fita e faz o roteiro com empenho. Comendador providenciou cavalos árabes e persas. Disponibilizou todos os ambientes da sua propriedade. O esforçado Nabor Rodrigues organiza a produção. O versátil Henrique Borges ficou encarregado da direção de fotografia. Esse foi um técnico que trabalhou em praticamente todos os gêneros do cinema brasileiro e continua esquecido. Carregou todos os equipamentos de trem para Sabaúna. Minami Keizi veio fotografar e registrar tudo para a revista “Cinema Em Close-Up”. O material bruto depois será montado. O início das filmagens será comemorado no Soberano. Serafim já xingou todo mundo. Fizeram uma balbúrdia no seu estabelecimento. Rua do Triunfo em festa.

sábado, 29 de julho de 2017

Dubladores da Boca: Older Cazarré



Todo mundo já ouviu a voz de Older Cazarré (1935-1992). Isso porque ele foi o profissional responsável pela voz de dezenas de personagens as nossa infância como o cachorrinho Don Pixote, o urso Zé Colmeia, do gato Gênio da série Top Cat (Manda Chuva) ou mesmo o carteiro Jaiminho na série Chaves. Além disso, Cazarré era excelente humorista fazendo diversas vezes o estereótipo do velho devasso em produções como “A Superfêmea” e “Pintando o Sexo”. Colaborou com Chico Anysio e esteve presente em diversas novelas. Profissional versátil e talentoso, era filho de Déa Selva, uma musa do cineasta mineiro Humberto Mauro. Cazarré é desses ilustres coadjuvantes que deveriam ser mais lembrados.


Um Astro em Foco: Cazarré

Fomos encontrar Cazarré sentado em uma mesa de montagem, trabalhando como assistente de J. Marreco no filme Passaporte para o Inferno.

O artista, que sempre se interessou pela técnica cinematográfica (e já teve algumas experiências nesse setor), está se aprimorando, pois pretende dirigir um filme, esse ano ainda, junto com J. Marreco.

Com prazer, Cazarré sai da mesa de trabalho para conversar conosco alguns minutos.

E ele conta sua vida:

- Nasci em 16 de janeiro de 1935. Portanto, 41 anos de idade, embora eu pareça ter mais. Isso, talvez, por conta da minha imagem junto do público. Meus melhores trabalhos foram feitos quando eu me apresentava caracterizado como velho. Sou gaúcho de Pelotas, como o meu pai também era. Filho de artistas, grandes nomes do passado: Darci Cazarré e Déa Selva. Meu pai, Darci, foi ator essencialmente de teatro de comédias, mas também fez filmes. Faleceu em 1953. Posso dizer que um dos trabalhos mais importantes dele foi em Não me diga adeus, o primeiro filme feito no Brasil em co-produção com a Argentina em 1948.  Nesse filme eu fiz uma figuração: eu e Nélia Paula aparecíamos rapidamente dentro de um elevador. Tinha 13 anos, nessa época. Era meu terceiro trabalho em cinema, e o primeiro em que era pago. Mamãe, Déa, acho que dispensa comentários. Foi uma das estrelas mais fulgurantes da época. Também fez muito teatro de comédias, mas fez mais cinema que papai. Entre outros filmes, gosto de destacar: Ave Sem Ninho, O Bobo do Rei, Anastácio, Bonequinha de Seda. Em O Bobo do Rei, estreei ao lado dela, como figurante. Eu tinha 4 anos de idade (1939). Voltei a figurar em Anastácio, com 11 anos. Meus pais tinham a Companhia Déa Cazarré de Comédias, e viajavam pelo Brasil todo. Minha tendência para as artes não foi só a natural – por eu ser filho de artistas e ter nascido praticamente num teatro – como pela necessidade de estar junto de meus pais. Como eles viajavam muito, e eu vivia na casa dos meus avós, no Rio de Janeiro, sentia aquela saudadezinha, até o dia em que não aguentei mais e eles resolveram me levar junto. Viajei por todo o Brasil, servindo como uma espécie de secretário de meus pais. Minha estreia no teatro? Foi triste meu amigo. Foi com a Companhia dos meus pais, é lógico, em 1949. Estreei por uma infeliz necessidade: apresentávamos no Teatro Rival, no Rio, a peça “O maluco número quatro”, estrelado por Alda Garrido (papai sempre teve grandes nomes em sua companhia. Além dele mesmo e mamãe, ainda Delorges Caminha, Alma Flora e outros). No intervalo da matinê com a sessão noturna, fomos almoçar. Voltamos um pouco atrasados para a sessão, e, na pressa, papai foi pegar uma toalha que estava sobre um ventilador, desses grandes e pesadões, a toalha enroscou, e o aparelho veio por cima dele, ferindo seriamente o seu nariz. O espetáculo tinha que ser feito, o público já estava a fazer. Que fazer? Alguém sugeriu o meu nome, para substituir. Afinal, papai só entrava no 2º e 3º atos, e tinha uma relativa pequena participação. E eu sabia de cor o papel dele (eu decorava o papel dos meus pais, só por farra). O único porém: o personagem de papai tinha 80 anos, e...eu tinha 14! Sem problema: fiz a maquiagem e entrei para o palco. Tremia feito não sei o quê. Mas o espetáculo foi feito. Depois, fui obrigado a me fixar no Rio de Janeiro novamente, por força de estudo. Ainda em 1949 fui para o rádio. Fui contemporâneo do Chico Anísio, do Antoninho Seabra...só que eu estava num nível mais inferior, é claro. Entre 1949 e 1952 passei pelas rádios Clube, Globo e Nacional (tudo isso no Rio de Janeiro). Em janeiro de 1953, Floriano Faissal, diretor artístico da Rádio Nacional, me aconselhou a deixar o rádio, pois eu nunca teria condições de seguir carreira. Voz sem graça, má dicção, enfim um monte de defeitos. Ele me convenceu. Saí do rádio, decepcionado (eu só tinha feito radionovela. Estive naquela famosa, “O Direito de Nascer”, lembra?). Papai falecera naquele ano me deixando uma dívida de 400 contos. Eu era o mais velho (meu nome é Older, que, traduzido do inglês, quer dizer “mais velho”, Older Berardi Cazarré), e, na falta dele, tinha de arcar com os problemas de casa. Mas aí já, sem os 4 contos de salário que eu tinha na Nacional, e com aquela dívida, a coisa engrossou. Como eu desenhava muito bem, fui desenhista de rotas da Panair do Brasil, empresa de aviação. Mas por pouco tempo. Vi aparecer na minha frente um novo campo: “shows” em boates. E em 1953, ainda, parti para essa de show. Como eu quis ter um veículo, e carro era coisa de rico, comprei uma motocicleta. Aliás, quem comprou não fui eu. Foi o Julio Leiloeiro, um cara muito conhecido no meio teatral. Ele comprou, me deu, e eu pagava para ele. Por sugestão dele mesmo, em 1954, vim correr com a moto num espetáculo do IV Centenário de São Paulo. Caí, fui de cara ao chão, tive problemas com os dois maxilares, perdi todos os dentes, e ainda corri o risco de ficar para sempre com defeito na dicção. Cheguei a ter um problema na voz, mas superei. Voltei para o Rio, desgostoso e sem perspectiva. Fui vendedor, apesar de ter um certo nível cultural (e eu tinha abandonado a Faculdade de Arquitetura, no primeiro ano, em 1953, porque, com a morte do papai, não dava para continuar). Ainda em 1954, quando me transferi para São Paulo, conheci um senhor que trabalhava com máquinas de escrever, o Seu Ribeiro. Ele se “ligou” em mim, por causa de meus pais, de quem era fã. Participando de minha aflição, me indicou para falar com seu cunhado, que era funcionário da organização Tupi. Fui, acabrunhado, pois estava desinteressado de tudo. O cunhado de Seu Ribeiro era- para surpresa minha – era, nada mais, nada menos que Edmundo Monteiro, o chefão da organização (hoje, um grande amigo meu). Muito simpático, me mandou para o Teófilo de Barros Filho, para o teste. Mas ele me testou para rádio e para ator dramático. Fui reprovado. E eu sabia que isso ia acontecer, pois estava escaldado. E eu sabia – acabava de descobrir- era a comédia. Voltei ao Seu Ribeiro, que me mandou ao Edmundo, e acabei assinando contrato com a emissora, para a televisão. Estreei no programa “O Contador de Histórias”, mas imediatamente fui progredindo, a ponto de chegar - em 1955 – a ter cinco programas num só dia, como comediante. Fui premiado como revelação naquele ano. Fiquei na Tupi até 1964. Mas em 1956, vi para entrar para a carreira como dublador de filmes para a televisão, como trabalho paralelo. Entrei para a AIC, onde estive até 1968. Naquela empresa fiz de tudo, até chegar à administração. Entre os personagens de quem eu fazia as vozes, gostava mais do Dom Pixote, Ploc (da série Plic e Ploc) e Zé Colméia, todos em desenho animado, e com vozes caricatas. Depois que deixei a AIC, só fiz, no ramo, direção de dublagem de uma série de “Vila Sésamo”, e agora voltei, também para dirigir dublagem em Passaporte para o Inferno, o filme que estamos montando. Agora, chega de dublagem. Depois da AIC, entrei para o disco, cheguei a ser importante funcionário da RCA Victor. Teve um ano em que eu fazia produção, a voz, a música e quase tudo da série de disquinhos “Walt Disney”, que a Editora Abril encomendara. Chegamos a ter 210 mil cópias num ano, recorde mundial de discos do gênero. Voltei para a Tupi em 1971, onde já fiz “Hospital”, “Dom Camilo”, “Idade do Lobo”, “Conde Zebra”, “O Machão”, “O Sheik de Ipanema”, “Vila do Arco” e “Canção para Isabel”, este último dramático. No cinema eu participava esporadicamente, por falta de tempo. Mas 1975 foi meu ano de redenção. Fiz cinco filmes só esse ano. Entre eles: O Supermanso, O Quarto da Viúva e Passaporte Para o Inferno. Foi aí que se solidificou meu interesse pela sétima arte, a ponte de eu pensar em dirigir, aproveitando curso de direção que fiz nos Estados Unidos, nos estúdios Walt Disney, na ocasião em que fazia os discos. Pretendo fazer, junto com Marreco, uma comédia inteligente, uma gozação daquilo que chamam de “pornochanchada”. Estamos entusiasmados com a ideia”.

Este é Older Berardi Cazarré, o homem que sabe o que quer, e o que faz. Acredita – como nós também acreditamos – no sucesso de sua nova empreitada, agora no cinema.


Publicado originalmente na revista Cinema Em Close-Up, ano 2, número 7

sábado, 22 de julho de 2017

Dubladores da Boca: João Paulo Ramalho




Querido por todos, o ator João Paulo Ramalho (1932-2006) funcionava para comédias e dramas. Trabalhou principalmente em filmes policiais do diretor Francisco Cavalcanti. Foi colaborador deste realizador e também do cineasta José Mojica Marins. Ramalho teve uma longa carreira como dublador e morreu praticamente esquecido. Segue a transcrição de uma matéria na Cinema Em Close-Up.



JOÃO PAULO RAMALHO


Quando visitamos o diretor J. Avelar numa mansão na rua Colômbia, em São Paulo, a convite do produtor Augusto de Cervantes, nosso objetivo, além do papinho cordial, era acompanhar a fascinante movimentação de uma equipe de técnicos e atores, em filmagens. J. Avelar estava num dos últimos dias de trabalho em seu mais recente filme O Consolador de Viúvas (título provisório). E a mansão servia de locação.


Para nossa surpresa fomos encontrar o veterano João Paulo Ramalho, que – não sabíamos antes – estava incluído no elenco. 


Vimos oportunidade de poder conversar com ele, e felicita-lo por sua volta ao cinema. Esperamos até que J. Avelar o liberasse de uma complicada tomada de cena, e sentamo-nos á beira da piscina. 

Conversador, simpático e educado, João Paulo, começou:


- É para mim motivo de grande satisfação poder ter essa oportunidade de voltar ao cinema e à carreira de “ator físico” que sempre me fora intermitente. O papel que faço em O Consolador de Viúvas é o de um pai (pai das viúvas) severo e austero, com alguns toques de comicidade. É um trabalho fascinante, e estou plenamente satisfeito. J. Avelar é um diretor seguro, consciente, e explora o meu personagem em todos os seus detalhes.


Queria se referir à sua presença física na tela. Isso porque ele – com cerca de 15 anos de carreira, e é por excelência, um ator de voz: foi radialista e ainda foi dublador.


Quando começou a carreira, o fez no teatro. E estreou em grande estilo, ao lado de Cacilda Becker na peça “Maria Stuart”. Depois, dada à sua voz bonita e empostada, passou para o rádio, na fase áurea das radionovelas. Durante dez anos integrou o “cast” da importante Rádio São Paulo, tendo colocado sua voz em quase todas as produções daquela emissora. Paralelo a esta atividade, João Paulo teve rápidas incursões na televisão, tendo atuado no Canal 7 e Canal 9.


Ainda usando de sua voz, experimentou um novo campo: a dublagem. Tendo se saído bem, alternou essa nova modalidade com o rádio.


- E o teatro como ficou?


- Bem, depois de “Maria Stuart”, ainda fiz “Santa Marta Fabril” e alguns infantis. Aí deixei...

Emprestou sua voz a grandes astros de cinema internacional, nas dublagens para televisão. Alguns deles, foram Rod Taylor, Kirk Douglas e Marcello Mastroiani. Também esteve na antiga série “Rota 66” (dublagem iniciada por Hamilton Fernandes e terminada por ele) e “A Família Robson”.


- Na televisão...


- Bem, além das poucas incursões – como te disse antes – não fiz mais nada. Mas pretendo voltar...


João Paulo Ramalho dublou cerca de 50 filmes de Tarzan. Todos, quando o “homem macaco” era interpretado pelo ator Ron Ely.


- A sua experiência em cinema...


- No cinema eu tive pouca coisa também. Fiz, há muitos anos atrás a série Águias de Fogo, com Ary Fernandes. E estou voltando só agora em O Consolador de Viúvas.


Em 1973, a A.I.C., firma dubladora onde o ator militava, atravessava uma fase de depressão econômica, e foi arrendada pelos funcionários. João Paulo foi eleito Procurador Geral da empresa, cargo que exerce até hoje.


Como se vê, esse artista mais usou de sua voz do que da presença física, em toda a carreira.


- Na verdade, se não tive uma atuação mais significativa nas telas, palcos e vídeos, foi pelo motivo de eu ter me envolvido com o rádio. No tempo da São Paulo, onde fiquei 10 anos, só vivi para aquilo. Ganhei muitos aplausos, elogios e troféus. Foi tudo muito gratificante, entende? Por isso tudo eu não via motivo para me diversificar. Depois, na dublagem – como era uma profissão muito afim do rádio – também me dei bem. Com o arrendamento da A.I.C., por nós, em 1973, e a minha eleição para Procurador Geral, me vi absolutamente entregue a isso. Sem tempo nem para pensar em outras coisas.

- E agora que você voltou ao cinema, a sua carreira continua do mesmo jeito, ou vai se mostrar “fisicamente” mais vezes?


- Ah, espero que me surjam oportunidades para que eu volte a me mostrar. Sempre tive vontade disso. Era o que eu mais queria, apesar de tudo. Creio que esta participação em O Consolar de Viúvas seja uma espécie de primeira pedra de avalanche de trabalhos que pretendo que apareça...


- Voltará também ao teatro e a televisão?


- Tão logo me seja possível. Estou só esperando vencer o meu mandato como administrativo da A.I.C., para poder me entregar de corpo e alma a meu ideal. No duro, eu prefiro o cinema. Mas a televisão e o teatro estão em meus planos.


Acredita que a pornochanchada é um movimento transitório, e que nasceu simplesmente na necessidade que o cinema brasileiro tinha para lutar conta o estrangeiro. É como uma arma. E se essa tendência está condenada, é por falta de diversificação. O produtor, quando descobriu que a pornochanchada proporciona renda garantida, praticamente sem riscos, deixou os outros estilos de lado.


E está confiante que a próxima fase do cinema brasileiro será mais auspiciosa, mais madura.  

Publicado originalmente na revista Cinema em Close-Up, ano 2, edição número 9

sábado, 15 de julho de 2017

Dubladores da Boca: Marthus Mathias




Marthus Mathias (1927-1995) teve uma carreira longa no cinema. Trabalhou no rádio, na série Vigilante Rodoviário e com Mazzaropi antes de ingressar na Boca. Trabalhou em inúmeras produções da rua do Triunfo ficando famoso por fazer o bandido, o pequeno gangster ou em papéis de coadjuvante. Deve ter trabalhado com praticamente todos os diretores do quadrilátero. Como dublador seu papel mais representativo foi Fred Flinstone no seriado "Flinstones". Marthus Mathias era um profissional dedicado. Merecia ser mais lembrado num país sem memória como o Brasil.



MARTHUS MATHIAS- O RETORNO DO VILÃO DO CINEMA




Marthus Mathias, um nome, uma voz. Pelo menos uma vez você já teve contato com Marthus Mathias, seja na rádio, televisão, cinema ou simplesmente animando a voz de um personagem. Talvez um isqueiro falando, no seu ator estrangeiro preferido e até mesmo numa fita nacional. Marthus Mathias, um dos mais versáteis atores brasileiros, já fez de tudo ou quase tudo dentro do seu campo profissional durante os seus 25 anos de carreira.



Começou como radioator na Record, de São Paulo. Sua primeira radionovela foi “A Cabana do Pai Tomás”, sob direção de Oswaldo Moles. Com o advento da televisão, Marthus inseriu-se neste contexto e lá foi ele ser teleator. Naquela época ainda não existia o vídeo-taipe e as transmissões eram ao vivo. Quer dizer que o ator precisava ser ator com A maiúsculo. Cotamos aqui os teledramas: “Corcunda de Notre Dame”, “O Vestido de Noiva” e “A Muralha”, Canal 7-TV Record São Paulo.



Os seus trabalhos mais recentes na televisão são: “Jerônimo, o herói do Sertão”, “Uma Rosa com Amor”, “Vitória Bonélli” e “O Espantalho”.



Seus papéis geralmente são de gangster, o homem mau, o vilão. Retorna ás telas no filme de David Cardoso, “Possuídas pelo Pecado”, onde faz o papel de um chefão de um cassino clandestino. A sua agenda está cheia de convites para novos filmes. Recentemente participou nas filmagens de Maurice Capovilla “Malagueta, Perus e Bacanaço”. Dirigiu as dublagens de “Garimpeiras do Sexo” de J. Vedovato.



Assim é Marthus Mathias, ora emprestando a sua voz par Boris Karloff, ora para Fred Flinstone, ora num comercial de TV e fazendo aquele “vilão” no cinema. O mineiro de Itajubá não pretende parar tão cedo. Grava novelas (está nos Estúdios Sílvio Santos), dubla, vive os vilões no cinema e de vez em quando um filme publicitário, como “Dedão das Sandálias Havaianas”.

Filmografia

Cais do Vício (52)

Absolutamente Certo de Anselmo Duarte

Preço da Vitória, de Oswaldo Sampaio

Jéca Tatú, de Mazzaropi

As Aventuras de Pedro Malazartes, de Mazzaropi

Chofer de Praça, de Mazzaropi

Vendedor de Linguiça, de Mazzaropi

Cidade Ameaçada, de Roberto Farias

As Mulheres Amam Por Conveniência, de Roberto Mauro

Conceição, de Hélio Souto

A Marcha, de Oswaldo Sampaio

Vigilante Rodoviário, de Ary Fernandes

Águias de Fogo (TV), de Ary Fernandes

Jeca e o Bode, de Ary Fernandes

Possuídas Pelo Pecado, de Jean Garrett

Malagueta, Perus e Bacanaço, de Maurice Capovilla

Publicado originalmente no anuário de Cinema da Revista Cinema Em Close-Up de 1977