sábado, 22 de julho de 2017

Dubladores da Boca: João Paulo Ramalho




Querido por todos, o ator João Paulo Ramalho (1932-2006) funcionava para comédias e dramas. Trabalhou principalmente em filmes policiais do diretor Francisco Cavalcanti. Foi colaborador deste realizador e também do cineasta José Mojica Marins. Ramalho teve uma longa carreira como dublador e morreu praticamente esquecido. Segue a transcrição de uma matéria na Cinema Em Close-Up.



JOÃO PAULO RAMALHO


Quando visitamos o diretor J. Avelar numa mansão na rua Colômbia, em São Paulo, a convite do produtor Augusto de Cervantes, nosso objetivo, além do papinho cordial, era acompanhar a fascinante movimentação de uma equipe de técnicos e atores, em filmagens. J. Avelar estava num dos últimos dias de trabalho em seu mais recente filme O Consolador de Viúvas (título provisório). E a mansão servia de locação.


Para nossa surpresa fomos encontrar o veterano João Paulo Ramalho, que – não sabíamos antes – estava incluído no elenco. 


Vimos oportunidade de poder conversar com ele, e felicita-lo por sua volta ao cinema. Esperamos até que J. Avelar o liberasse de uma complicada tomada de cena, e sentamo-nos á beira da piscina. 

Conversador, simpático e educado, João Paulo, começou:


- É para mim motivo de grande satisfação poder ter essa oportunidade de voltar ao cinema e à carreira de “ator físico” que sempre me fora intermitente. O papel que faço em O Consolador de Viúvas é o de um pai (pai das viúvas) severo e austero, com alguns toques de comicidade. É um trabalho fascinante, e estou plenamente satisfeito. J. Avelar é um diretor seguro, consciente, e explora o meu personagem em todos os seus detalhes.


Queria se referir à sua presença física na tela. Isso porque ele – com cerca de 15 anos de carreira, e é por excelência, um ator de voz: foi radialista e ainda foi dublador.


Quando começou a carreira, o fez no teatro. E estreou em grande estilo, ao lado de Cacilda Becker na peça “Maria Stuart”. Depois, dada à sua voz bonita e empostada, passou para o rádio, na fase áurea das radionovelas. Durante dez anos integrou o “cast” da importante Rádio São Paulo, tendo colocado sua voz em quase todas as produções daquela emissora. Paralelo a esta atividade, João Paulo teve rápidas incursões na televisão, tendo atuado no Canal 7 e Canal 9.


Ainda usando de sua voz, experimentou um novo campo: a dublagem. Tendo se saído bem, alternou essa nova modalidade com o rádio.


- E o teatro como ficou?


- Bem, depois de “Maria Stuart”, ainda fiz “Santa Marta Fabril” e alguns infantis. Aí deixei...

Emprestou sua voz a grandes astros de cinema internacional, nas dublagens para televisão. Alguns deles, foram Rod Taylor, Kirk Douglas e Marcello Mastroiani. Também esteve na antiga série “Rota 66” (dublagem iniciada por Hamilton Fernandes e terminada por ele) e “A Família Robson”.


- Na televisão...


- Bem, além das poucas incursões – como te disse antes – não fiz mais nada. Mas pretendo voltar...


João Paulo Ramalho dublou cerca de 50 filmes de Tarzan. Todos, quando o “homem macaco” era interpretado pelo ator Ron Ely.


- A sua experiência em cinema...


- No cinema eu tive pouca coisa também. Fiz, há muitos anos atrás a série Águias de Fogo, com Ary Fernandes. E estou voltando só agora em O Consolador de Viúvas.


Em 1973, a A.I.C., firma dubladora onde o ator militava, atravessava uma fase de depressão econômica, e foi arrendada pelos funcionários. João Paulo foi eleito Procurador Geral da empresa, cargo que exerce até hoje.


Como se vê, esse artista mais usou de sua voz do que da presença física, em toda a carreira.


- Na verdade, se não tive uma atuação mais significativa nas telas, palcos e vídeos, foi pelo motivo de eu ter me envolvido com o rádio. No tempo da São Paulo, onde fiquei 10 anos, só vivi para aquilo. Ganhei muitos aplausos, elogios e troféus. Foi tudo muito gratificante, entende? Por isso tudo eu não via motivo para me diversificar. Depois, na dublagem – como era uma profissão muito afim do rádio – também me dei bem. Com o arrendamento da A.I.C., por nós, em 1973, e a minha eleição para Procurador Geral, me vi absolutamente entregue a isso. Sem tempo nem para pensar em outras coisas.

- E agora que você voltou ao cinema, a sua carreira continua do mesmo jeito, ou vai se mostrar “fisicamente” mais vezes?


- Ah, espero que me surjam oportunidades para que eu volte a me mostrar. Sempre tive vontade disso. Era o que eu mais queria, apesar de tudo. Creio que esta participação em O Consolar de Viúvas seja uma espécie de primeira pedra de avalanche de trabalhos que pretendo que apareça...


- Voltará também ao teatro e a televisão?


- Tão logo me seja possível. Estou só esperando vencer o meu mandato como administrativo da A.I.C., para poder me entregar de corpo e alma a meu ideal. No duro, eu prefiro o cinema. Mas a televisão e o teatro estão em meus planos.


Acredita que a pornochanchada é um movimento transitório, e que nasceu simplesmente na necessidade que o cinema brasileiro tinha para lutar conta o estrangeiro. É como uma arma. E se essa tendência está condenada, é por falta de diversificação. O produtor, quando descobriu que a pornochanchada proporciona renda garantida, praticamente sem riscos, deixou os outros estilos de lado.


E está confiante que a próxima fase do cinema brasileiro será mais auspiciosa, mais madura.  

Publicado originalmente na revista Cinema em Close-Up, ano 2, edição número 9

3 comentários:

spektro 72 disse...

Sem duvida foi um dos melhores dubladores de sua geração e fiquei muito triste quando ele morreu doente e esquecido .. mas á vida e assim e o meio artistico tambem tem os seus altos e baixos ,mas estamos no Brasil onde o trabalho desse grandes mestre que emprestam á sua voz no ramo da dublagem não são reconhecidos por esse trabalho digno e cansativo .
Eu lembro dele ate hoje deste grande ator e dublador que foi João Paulo Ramalho e de seus trabalhos na arte da dublagem ,Kirk Douglas em Spartacus Duelo de Bravos,Kato (Takamitsu Watanabe) do Spectreman ,Voz do Demonio em O Exorcista do Demonio, Chuck Norris em Bradoock 2 & 3,Comando Delta 1 & 2,Senhor Neros em Metalder,Doutor Jean Marie em Jiban,Lion Man Laranja dublando varios viloes nessa serie e dentre outros filmes que ele dublou.
Ele deixou saudades ,mas á sua voz ainda pode ser ouvida nos filmes como dublagem classica ,alguns lançado no mercado home video.

Unknown disse...

Uma das vozes mais lindas da dublagem brasileira!

Caroline Vitória disse...

O João Paulo Ramalho é o meu bisavô pai da minha vó e do meu tio, a data de nascimento e de morte estão erradas e local também ele era de Taquaritinga e morreu em são Paulo foi enterrado em Taquaritinga tenho fotos pra provar isso ! Minha vó se chama Rosa Malena Ramalho e o meu tio Luís Paulo Ramalho !