terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Boca caipira: O Menino da Porteira

O PAI DE MENINO DA PORTEIRA



Ele se chama Luizinho e é o autor da música deste clássico sertanejo. Também é dele a primeira gravação deste sucesso.



Não existe dentro da música sertaneja quem não conheça, de cor e salteado, a letra e melodia de um dos seus maiores clássicos, Menino da Porteira. Mas o que pouca gente sabe e conhece é exatamente como nasceu esse sucesso que já foi regravado 150 vezes e teve em Sérgio Reis seu mais feliz intérprete – depois transformado em feliz com o próprio Sérgio e que acabou sendo um dos maiores recordistas nacionais de bilheteria.

Quase todas as músicas sertanejas têm uma história, muitas delas até inspiradas em personagens reais. Menino da Porteira é uma delas. Um de seus criadores, Luizinho, hoje com 66 anos de idade, é quem fala, nessa reportagem, como nasceram há 30 anos os primeiros versos deste sucesso.

Nascido no Bexiga, bairro conhecido como “reduto” da boêmia paulistana, Luizinho é filho de uma grande família italiana. Desde pequeno aprendeu com o pai os segredos do violão e do canto. Quando rapaz montou seu próprio regional e, pouco mais tarde, entrou para o rádio cantando músicas sertanejas junto com Mariano, pai do famoso acordenista Caçulinha.


Em 52, quando tinha seu próprio trio, encontrou quase que por acaso Teddy Viera, seu parceiro na música. Ele conta:

- Fui até o bar Juca Pato encontrar o Xerem (da dupla Xerem e Bentinho), mas ele viajara e não apareceu. Aí sentei-me com o Teddy – e entre um chope e outro começamos a relembrar fatos e temas para músicas.

- Na conversa falei a respeito daqueles meninos que ficavam em cima das porteiras, que a gente encontrava pelo interior afora, e como ele também havia notado este detalhe começamos a rabiscar alguma coisa num pequeno guardanapo. Assim nasceram as primeiras palavras e logo os primeiros versos estavam prontos.

Teddy levou o que tinham feito para casa e dois dias depois entregou a letra pronta para Luizinho.


- Aí chegou a minha vez de trabalhar. Coloquei a melodia durante uma madrugada e gravei Menino da Porteira em dupla com o Limeira. O sucesso foi imediato. Mas logo em seguida tive problemas com as cordas vocais e perdi a voz. Terminava para mim a ilusão do sucesso. Não sei como consegui resistir. Eu gostava de cantar, adorava aquela vida de viagens para todo o canto. Então fui descansar um pouco e voltei para a minha barbearia.

Aos poucos, porém, Luizinho recuperou a voz e quando se sentiu em forma resolveu voltar. Foi procurar Teddy Vieira para reiniciar a carreira. Uma semana depois, no entanto, um acidente de carro na altura do quilômetro 149 da Raposo Tavares levaria Teddy para sempre.

- Fiquei outra vez abalado – lembra Luizinho. E sempre que eu ouvia Menino da Porteira me recordava da noite em que nos encontramos no bar, e juntos fizemos a música.

O desaparecimento trágico de Teddy Vieira levou Luizinho a ficar longos anos meio distante dos meios musicais. Mas agora ele está voltando ao disco. Acabou de gravar um LP em dupla com Jeca Mineiro (um dos autores do Fuscão Preto) onde mesclam músicas do repertório de um e de outro. A faixa mais forte é justamente a regravação de Menino da Porteira, da qual Jeca faz a primeira voz.


- Quando abre mais uma vez Menino da Porteira muda o rumo do meu destino – comenta emocionado Luizinho, o pai (da melodia) deste clássico sertanejo.

Publicado originalmente na revista “Som do Sertão”, editora Abril, 353A

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