quarta-feira, 20 de março de 2019

Amores de Noel: Lindaura


LINDAURA


Por Almirante

A 1º de dezembro de 1934, Lindaura contraia matrimônio com Noel, que a conhecera nas proximidades da rua Maxwell. Sua mãe, a sergipana Olindina Pereira da Mota, era operária da Fábrica Confiança Industrial.

Jovem demais, na sua inexperiência, não conseguiu dominar o volúvel coração do boêmio. Não possuindo meios suficientes para criar um lar, foi dona Marta quem os fez morar no acanhado chalé. A vida em comum não foi feliz e sim repleta de dificuldades.

No intuito de ajudar o sustento da família, Lindaura, um dia aventou a hipótese de obter um emprego qualquer. A reação de Noel refletiu-se, sem demora, nos versos do único samba ligado à história da esposa, “Você Vai Se Quiser”:

Você vai se quiser...
Você vai se quiser...
Pois a mulher
Não se deve obrigar
A trabalhar,
Mas não vá dizer depois
Que você não tem vestido
E o jantar não dá pra dois

Todo cargo masculino
Seja o grande ou pequenino
Hoje em dia é pra mulher...
E, por causa dos palhaços,
Ela esquece que tem braços:
Nem cozinhar ela quer

Os direitos são iguais...
Mas até nos tribunais
A mulher faz o que quer...
Cada qual que cave o seu
Pois o homem já nasceu
Dando a costela à mulher


Lindaura foi companheira dedicada até os derradeiros dias de Noel. Conhecia ou adivinhava as trapaças amorosas do irrequieto esposo. Recalcava os próprios ressentimentos, numa admirável compreensão, desculpando suas irredutíveis atrações à boêmia.

Relativamente aos namoros de Noel e Lindaura, em novembro de 1933, cronistas publicaram as mais imagináveis origens do debatido samba “Três Apitos”. Complementando vários detalhes sobre a falada música, coloquemos aqui todos os pontos nos ii: 1º) Lindaura jamais foi operária da Confiança; 2º) O contramestre da fábrica de botões, no Andaraí ficou registrado nos versos de Noel (vide cap. Fina e 3 apitos); 3º Tratava-se de simples coincidência de nomes de pessoas e de fábricas.

Publicado originalmente em ALMIRANTE. No tempo de Noel Rosa. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1963.

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