SUMÁRIO
Prefácio de Rolando Boldrin
Prefácio de Terezinha
Niero
Prefácio de Marinósio
Filho
Agradecimentos
I. QUEM FOI MAZZAROPI
II. O “PAVILHÃO E SUA TROUPE”
III. APARECEU O TEATRO
IV. “RANCHO ALEGRE” NA RÁDIO TUPI
V. O NOTÁVEL CÔMICO NA TELEVISÃO
VI. OS PRIMEIROS FILMES NA CIA. VERA CRUZ
VII. O ARTISTA COM MASSAINI
VII. A PAM FILMES E SUA TRAJETÓRIA
IX. ADEUS A MAZZAROPI
Prefácio
de Rolando Boldrin
Um dia, o Mazzaropi
chegou para mim e disse: -Oia Boldrin, eu ainda hei descer de um carro de luxo,
cujo motorista será um japonesinho fardado de vermelho e este, abrirá a porta
para o “caipira” (ele) sair garboso e aplaudido na frente de um cinema onde
estará passando um filme meu, (dele). Este desejo, dito assim, parecia vir de
um rico excêntrico, mas não. Vinha de um ator que queria mostrar aos
brasileiros, que ele, já um sinônimo do “JECA TATU”, um dia daria muito sucesso
com sua própria Empresa Cinematográfica, provando com isso, o valor de sua
cabeça e sua arte de representar. E assim foi. O que ele pensou e quis, aconteceu.
Tudo. Até mais do que ele talvez tivesse pensado. E para provar que não era
excentricidade de sua parte, o tal japonesinho nunca existiu. Mas, ele desceu
muitas e muitas vezes de um carro na frente do Cine Art-Palácio em São Paulo,
para participar com convidados, da avant-premier de todas as suas produções de
grande sucesso. Aquele tipo brasileiro criado por ele estava agora em quase
todas as telas americanas de nossa terra, de norte a sul, leste-oeste. Filas e
mais filas, sessões e mais sessões, com um público misturado como as
mercadorias deste grande “EMPÓRIO” que é o Brasil. Somos, todos nós, um povo
formado de “caipiras”, simples, humildes, acanhados (que é sinônimo) e além
disso, no geral, sem muita saúde.
- A benção, Monteiro
Lobato, que criou o “JECA TATU”, símbolo do abandono e da preguiça doentia. A
benção, pintor Almeida Júnior que criou em telas, um outro “JECA”: o “CAIPIRA
PICANDO FUMO”, o “VIOLEIRO” e tantos outros que já demonstravam por ele, um
pouco mais de vitalidade e aí sim, “UM CANTADOR E PONTIADOR” de violas e modas
puras. A benção, Cornélio Pires, meu professor, escritor, historiador,
pesquisador e valorizador da linguagem de outro “JECA”: aquele sagaz, matreiro,
astuto e mais vivo do que os homens letrados da cidade. A benção, Valdomiro
Silveira, que escreveu contos, coisas e “causos” do homem mais simples e
trabalhador do nosso interior. A benção, a todos aqueles que se preocuparam em
divulgar o Brasil através de seus tipos humanos mais esquecidos e mais
importantes para o progresso de nossa terra: social e culturalmente. A benção,
aos não citados aqui, nominalmente. Aqui, neste despreparado prefácio. A
benção, por fim, ao personagem principal desta história escrita. Onde o autor
tenta resgatar seus valores mais puros, por tê-los vividos de perto...De muito
perto.
A benção, Amácio Mazzaropi,
que imortalizou um “JECA”, cujas características se fundem com a de todos
outros “JECAS” citados e criados por valorosos artistas brasileiros. Eu, adepto
do seu “caipira”, digo que sofri sua influência. Procuro cantar e contar isso
sem o menor constrangimento, mas com grande orgulho. Por isso, mais uma vez: A
benção, MAZZAROPI.
Queridos leitores:
sigam com a história deste “HOMEM-JECA” incrível.
Parabéns CARLINHOS,
pela coragem de escrevê-la.
Rolando Boldrin
Apresentador do
Programa
“Empório Brasileiro”
Prefácio
de Terezinha Niero
Luiz Carlos,
Quando visitei a
exposição sobre Mazzaropi, promovida por você, em Londrina, avaliei a pequena
mostra, simples e original, como um trabalho sincero, humano e cheio de amor.
Quis conhecer o
promotor da singela homenagem, ao grande e inesquecível “Mazza”. E foi assim
que nos conhecemos. Mas não podia absolutamente imaginar que eu seria
presenteada com a leitura dos originais deste livro, que agora sai ao público.
Ninguém melhor que
você, que por longos anos viveu ao lado “dele”, poderia escrever estas páginas
emocionantes, revelando cenas e episódios da vida do nosso grande artista.
Sabe Luiz, deliciei-me
em ler e reler, folhear cada página, com carinho, procurando reviver cada
momento, por você registrado nesse relicário.
Embora agradecer-lhe
seja pouco, assim mesmo quero dizer-lhe: “Muito, muito obrigado. Pela
felicidade que você me proporcionou com sua narrativa, fazendo-me saborear ‘lembranças,
no açúcar da saudade’, como diria Drummond.
Creio que todo
brasileiro que tiver a sorte de pôr os olhos sobre este seu trabalho, sentirá o
mesmo que senti. E em cada página lida, a emoção fará reviver os momentos
guardados de um tempo não muito distante. Aí, então, a energia de cada
lembrança fluída e provocada pela arte incontestável no nosso querido “Jeca”,
unir-se-à a tantas outras que “ele” soube conquistar entre o povo brasileiro e
serão muitas vidas a ligar-se a dele para torna-lo inesquecível.
Amigo Luiz Carlos,
penso que sua fidelidade ao Mazzaropi, será motivo de alegria para ele, onde
quer que ele esteja e será igualmente o elo entre você e o enorme público que
ainda o admira.
Felicidades.
Terezinha Niero
Professora da Catedral
Metropolitana de Londrina
Prefácio
de Marinósio Filho
Estou diante de um
trabalho de fôlego. Prefaciá-lo, não; antes, botar pra fora o que me transmitiu
“MAZZAROPI: A SAUDADE DE UM POVO”, de Luiz Carlos Schroder de Oliveira.
Temos por fim um
documento histórico da vida e obra de um pioneiro do cinema brasileiro. Homem
que deu a vida para a arte.
Aprendi a aplaudi-lo, a
rir, desbragadamente, da graça ingênua do artista “matuto”, convicto. Depois, o
meu neto, Marinósio II aprendeu a ama-lo e até hoje conta estórias do notável
Mazzaropi.
Uma página imorredoura
do cinema nacional. Mazzaropi é revivido, em alta fidelidade, nas páginas de um
livro despretensioso e com ausência de romanceações ilusórias.
Luiz Carlos é objetivo
no texto. Rápido, agradável e descobridor de riquezas conhecidas, no profundo
oceano da vida de Mazzaropi.
O livro transportou-me
aos tempos que não volta mais.
Que beleza recordar.
Estou certo, meu caro
escritor, com o seu pique e viço, próprios de uma mocidade que quer algo mais,
naturalmente pretende prosseguir nas letras. Quantas obras poderão vir, só você
sabe.
Não esqueça que os
percalços são imensuráveis e os entulhos maiores. Encontrará muitas pedras,
vidros e buracos enormes, tão perigosos que poderão sucumbir a mais viva das
esperanças e o maior dos entusiasmos.
A coragem é uma arma
poderosíssima dos moços. E você é moço. Energia capaz de destruir o “super-homem”,
medalhões da nossa era que vivem de uma tradição literária discutida e sempre
contestada.
As pedras virão à sua
cabeça. Defenda-se. Eles ladrarão e você vai passando, cheio de esperanças, de
fé e com muita coisa boa, nessa cabeça que se apresenta vigorosa, com novos
rumos, novo estilo e muita perspectiva de vencer.
Marinósio Filho da
Academia de Letras de Londrina e da União Brasileira de Letras.
Aos meus pais e irmãos
que muito me incentivaram nesta pesquisa;
A Andressa com muita
ternura;
A Maria de Fátima
Ribeiro que carinhosamente mostrou a força do amor e do carinho para a
realização deste trabalho, e que se fez parte integrante do mesmo;
Aos familiares de
Mazzaropi pelo apoio;
Ao Mazzaropi (In
Memorian) que espiritualmente me deu forças para o desenvolvimento deste
trabalho;
Mazzaropi
Capítulo
1. QUEM FOI MAZZAROPI
O circo chegava e um
menino franzino ia atrás do palhaço. Não perdia um espetáculo. Cheio de sonhos,
tinha uma certeza: trabalhar no circo e fazer sucesso.
Esse menino era AMÁCIO
MAZZAROPI, nascido ao 9 de abril de 1912, na casa nº 5, da Rua Vitório Carmilo,
em São Paulo e batizado na Igreja de Santa Cecília.
Era filho do italiano
BERNARDO MAZZAROPI e de CLARA FERREIRA MAZZAROPI, filha de portugueses.
Ambos eram comerciantes
bem sucedidos, da Barra Funda, tradicional gueto de italianos da capital
paulista.
Do avô, AMÁCIO
MAZZAROPI (imigrante italiano que foi trabalhar nas terras do Paraná) não
herdou só o nome, mas o gosto pela vida do campo que o levou, um dia, a
pesquisar no interior o personagem de calças curtas, canela aparecendo, botinas
e fala arrastada.
O franzino garoto com
caricatura própria e gestos engraçados, aguçava a curiosidade de todos com suas
prosas.
Desde criança tinha
mania de querer ser artista. Quando ia ao circo, invejava os artistas que
andavam no arame. Queria fazer tudo o que eles faziam num espetáculo circense.
Um dos primeiros palcos
alcançados pelo “JECA”, (personagem de “TRISTEZA DO JECA) um dos seus mais
famosos filmes, foi no teatrinho do Grupo Escolar São José de Belém, onde
concluiu o Curso Primário.
Lá, declamava poesias e
fazia encenações humorísticas em pequenas peças infantis. Nem sequer imaginava
o sucesso que já era prometido como um dos maiores humoristas do País.
Desinteressado nos
estudos, MAZZAROPI vivia frequentemente em circos que se instalavam nas
proximidades de sua casa, onde lá permanecia com pretexto de vender pirulitos.
Seu destino já estava
traçado. O mundo maravilhoso do circo lhe atraía e o convidava para permanecer
nele.
Mas, incompreendido
pela família, foi conduzido para Curitiba, em companhia de seu tio DOMINGOS
MAZZAROPI, com o objetivo de distanciá-lo do circo.
Na capital paranaense,
o grande humorista viu-se novamente, atuando como caixeiro de uma loja de
casimiras de seu tio, na Rua XV de Novembro. O comércio não lhe atraía, e, para
passar o tempo, e dar maior prazer ao trabalho, fazia graças e caretas,
brincando com os fregueses, fazendo tudo como se estivesse num palco. Media
casimira, fazendo pose. Vendia, imaginando uma câmera na frente. Tinha isso no
sangue.
Aos 14 anos, retornou para São Paulo, e continuou a tentativa de ingressar à vida circense.
Conheceu o famoso
FERRY, faquir de um circo popular da redondeza. Nos intervalos das exibições do
faquir, MAZZAROPI ganhava um mirrado salário para contar piadas. O rapaz magro,
que havia estudado apenas até o ginásio e também tinha dotes de pintor e
desenhista, pintando cenários, resolveu lançar-se na vida de ator popular.
FERRY conseguiu para
ele um documento em que transformava seus 14 anos em 19, para que tivesse
liberdade de falar as piadas picantes que o povo queria ouvir.
Mostrava ao público a
espada do faquir, para que visse que ele cortava mesmo. E com o faquir deitando
na espada, comendo vidros, foi viajando pelo caminho da Central do Brasil.
Abriu-se para MAZZAROPI uma trilha que marcou sua vida profissional e artística no circo. Abandonou o conforto de sua casa, classe média paulista e optou por um estilo e ritmo de vida que naturalmente se identificavam com ele. A paixão pelo circo fez com que viajasse pelo País por 6 anos com muito sucesso, com suas animações sob as lonas, ao lado de FERRY, de espetáculo em espetáculo.
Para Mazzaropi, no
circo o mais importante foi a experiência de entender e ser entendido pelo
público. Foi nessa convivência com gente humilde que adquiriu condições de
entender o povo, graças ao que, pode projetar no personagem que o consagrou.
O rádio e a televisão
sempre deram mais dinheiro, onde o artista se projetava mais que o circo. Mas,
de dentro do picadeiro via o povo mais de perto. A serragem era menos sofisticada
que as luzes dos refletores. O circo era para Mazzaropi o seu mundo-ternura de
criança.
Capítulo
2. O “PAVILHÃO” E SUA TROUPE
Já conhecido no cenário
nacional, com suas viagens de grande público, aos 20 anos, com ajuda dos seus
pais, montou o “PAVILHÃO MAZZAROPI”, uma troupe de alto investimento, que fez
com que deixassem o comércio para acompanhar de perto o filho – artista.
A troupe (teatro
ambulante) era composta de Shows variados, com declamações, cantos sertanejos,
anedotas e peças teatrais. Vivia viajando como cigano, levando cenários e todos
equipamentos juntos, numa espécie de revistinha bem simples. Naquele tempo,
várias companhias viajavam dessa forma, sempre se apresentando nos cinemas,
após a exibição da fita em cartaz.
Apresentava peças de
teatro, em quatro ou cinco atos e depois fazia o caipira. Quando chegava na
cidade, o povo fazia festa e o prefeito, segundo MAZZAROPI, “jamais criava
alguma dificuldade, como acontece hoje com os cirquinhos que levam diversão de
cidade em cidade”. E lembrava o renomado comediante: “O teatro era facilmente
desmontável, ficávamos uma média de oito dias em cada lugar e seguíamos em
frente. Êta povinho que gostava de teatro e anedotas. Uma mulher com o vestido
como esses de hoje fazia o maior sucesso naquele tempo, lotava de gente para
ver, e hoje elas andam com tudo de fora e ninguém liga. Nosso pavilhão tinha 20
atores e o melhor deles era mamãe. E o povo ria e chorava como acontece hoje”.
Entrevista a Caco Barcelos – Movimento em 05/04/76.
O pavilhão foi
instalado inicialmente em Jundiaí-SP, seguindo, posteriormente, para diversas
cidades do País. Havia um repertório fixo: DEUS LHE PAGUE e ANASTÁCIO, de
Joracy Camargo; O CORAÇÃO NÃO ENVELHECE, de Paulo Magalhães; DIVINO PERFUME, de
Renato Viana; ERA UMA VEZ UM VAGABUNDO, de José Wanderley, e várias pelas de
Oduvaldo Viana, entre outros.
O “Pavilhão” era um
barracão de madeira, com cobertura de lona. No dia de estreia do “PAVILHÃO
MAZZAROPI”, uma tempestade muito forte não permitiu a apresentação do espetáculo.
Caíram as paredes, quase demoliu seu sonho. A inauguração só foi possível 3
dias após o vendaval, com muito sucesso. “Seu” Bernardo, o pai, controlava o
caixa, e a mãe subiu ao palco, participando das encenações.
Os jornais e emissoras
de Rádio anunciavam os espetáculos, destacando-se MAZZAROPI, o mais perfeito no
gênero caipira.
Juntamente com ele,
subiram ao palco do PAVILHÃO: Argeu Ferrari, Júlio Ribeiro, Zilá Ribeiro, Maria
Nogueira do Amaral (que mais tarde adotou o nome artístico de Olga Mazzaropi),
Felicidade Ferreira, Clara Mazzaropi, Rubens Camossatto, Del Mar e Reis, entre
outros que se tornariam sucesso no teatro e cinema nacional.
Com seu pavilhão,
MAZZAROPI percorreu o País com grande sucesso. Para transportar seu espetáculo
ambulante, valeu-se de dois grandes vagões da SOROCABANA, para o Estado de São
Paulo, com um quadro artístico de primeira qualidade, conquistando a simpatia
dos espectadores, com suas imitações de caipira.
Continuou suas
apresentações pelo interior de vários Estados, cujas atuações mereceram elogios
dos críticos e jornalistas que conferiram o sucesso por, aproximadamente, 15
anos.
Depois de intensas
viagens pelo interior do País fazendo rir todos os espectadores que compareciam
aos seus espetáculos, o comediante MAZZAROPI que, por vezes, fazia lembrar
PROCÓPIO FERREIRA, como apresentava o colunista FRANCISCO SÁ, em São Paulo
quando, por volta de 1935, foi ver seu espetáculo no alto da Lapa, e fez
comentários em sua coluna: “O que vai pelos Teatros – Um artista que promete”.
Com seu curioso estilo
crítico, sério, o petulante jornalista se posicionava também como conselheiro
do humorista. Embora tendo assistido a um espetáculo de qualidade, como
afirmou, sugeriu a substituição do nome do comediante, que era anti-teatral,
embora Mazzaropi nunca se preocupara com isso.
Nas encenações,
Mazzaropi fazia lembrar o saudoso comediante, SEBASTIÃO ARRUDA, e seu irmão,
GENÉSIO ARRUDA, quando interpretava o caipira, personagem do JECA brasileiro.
Quando caracterizado, era um caipira verdadeiro. Mole, desajeitado,
desengonçado, sempre se coçando, cuspindo, parecia mais um caipira genuíno e
não um mocinho caracterizado. Saiu pro interior um pouco SEBASTIÃO e voltou
MAZZAROPI, das turnês em circos, teatros, recitando monólogos dramáticos,
fazendo a plateia rir e chorar, sempre com a preocupação de conversar com o
público como se fosse um deles.
De nada valeu a preocupação de seus pais, quando saiu de casa, que diziam: “quem faz teatro, morre de fome em cima do palco”. E MAZZAROPI não morreu, pelo contrário, sempre teve sorte, sempre ganhou dinheiro.
Nos primeiros anos da
década de 40, recebeu um convite do empresário MIGUEL GIOSO, que, normalmente,
contratava só companhias estrangeiras, para apresentações no TEATRO SANTANA, em
São Paulo. Provido de finos e luxuosos camarotes aveludados, a plateia exibia
joias, chefer e muita burguesia. Fazia parte do Show da Companhia de Gioso, uma
orquestra refinada. Para reforçar a apresentação de Mazzaropi, o produtor
continuou com a orquestra, mas não deu certo. O povo estava acostumado a vê-lo
bem simples, acompanhado por uma banda de tambor, banjos e outros instrumentos
populares e não aquele luxo extravagante com pianos e violinos.
Para divulgação eram
utilizados panfletos chamativos como eficaz meio publicitário para a época.
Após 15 anos de
sucedidos espetáculos, o cômico e humorista MAZZAROPI, quando se apresentava em
Pindamonhangaba, cidade do interior paulista, em 1945, perdeu seu pai, seu
braço direito nas caminhadas e montagens dos espetáculos. Tendo gasto muito
dinheiro na enfermidade do pai, o Pavilhão ficou desmontado vários dias no
Pátio da Estação Ferroviária de Pindamonhangaba, não tendo portanto, condições
de continuar seus espetáculos.
O Dr. Estambulo, médico
(que acompanhou o pai de Mazzaropi em sua enfermidade), juntamente, com sua
esposa, Dona Dulce, ajudou financeiramente a transportar o Pavilhão para São
Paulo, em 1945. Logo após a morte do pai, Mazzaropi foi ao Rio de Janeiro
continuar a vida artística e parou no Teatro João Caetano onde atuavam os mais
famosos artistas brasileiros, Beatriz Costa e Oscarito.
MAZZAROPI contou ao
jornal “O Movimento” em 05/04/76, com muita emoção essa passagem pelo Rio de
Janeiro, onde afirmou que jamais iria esquecê-la. Deu uma entrevista para um
jornal, com grandes fotografias. Foi marcada a estreia para o dia seguinte no
lugar de Oscarito que não queria renovar o contrato. Mas no dia seguinte,
Oscarito acertou com a empresa isto magoou muito MAZZAROPI. O seu Show não foi
realizado.
Deixando o Rio de
Janeiro, continuariam os espetáculos com muito sucesso na capital paulista,
quando os teatros estavam praticamente desativados pelo alto custo das
apresentações e o agravamento de tributos sobre essa atividade.
Diante do interesse
frequente do público dos bairros paulistas aos espetáculos de MAZZAROPI, o
interventor Fernando Costa, para beneficiar os trabalhadores, isentou de
impostos e taxas os teatros populares dos bairros.
Essa medida
possibilitou ainda mais a frequência de assistentes, lotando as arquibancadas
de madeira do barracão coberto com telhas de zinco que Mazzaropi carinhosamente
montava de bairro em bairro. Nessa época, em 1945, onde São Paulo tinha
aproximadamente 1 milhão e meio de habitantes, os teatros estavam em péssimas condições
de propiciar espetáculos de entretenimento. O Teatro Municipal, já antiquado
para altos gêneros. O Teatro Santana não oferecia condições, juntamente com o
Boa Vista e o Cassino Antártica. Tornou-se então o “PAVILHÃO MAZZAROPI, ponta
de maior concentração popular pelos preços acessíveis de bilheteria popular,
quando a maioria dos paulistas não podia frequentar operetas e líricos
reservados para uma pequena classe burguesa.
Foi de grande
importância a reportagem publicada no Jornal “A NOITE” de São Paulo – edição
1.794 de 14/08/1945, quando explorou muito bem a chegada do TEATRO MAMBEMBE em
São Paulo, e falou sobre o Pavilhão nos espetáculos do empoeirado bairro do
ITAIM, quando MAZZAROPI apresentava cenas da “CHANCHADA” e “O MARIDO Nº 5”.
Um dos primeiros
investimentos imobiliários de MAZZAROPI
foi a aquisição do terreno da Rua Paes de Araújo, 168, do Bairro Itaim Bibi, em
SP, onde construiu sua primeira casa, e que serviu de residência até os últimos
dias do comediante. A escolha pelo bairro foi devido o grande sucesso alcançado
em seus espetáculos e o carinho que tinha pelo local onde estava anteriormente
instalado seu pavilhão. Até a construção da casa, o humorista se instalou
provisoriamente no Tucuruvi, outro bairro paulista da zona norte, onde, mais
tarde, denominou seu espetáculo com o nome “Bernard Shaw do Tucuruvi” em
homenagem ao cômico inglês com o mesmo nome, e ao bairro onde morou.
“Seu delegado é a favor
do divórcio? Então prepara um cafezinho, que eu hoje vou lá na sua casa pedir
sua mulher em casamento”.
(Mazzaropi – em “O Jeca
contra o capeta – em 1975).
Capítulo
3. APARECEU O TEATRO
Em fins de 1945, foi
convidado pelo ator NINO NELLO, proprietário de uma companhia de Teatro com o
mesmo nome, para atuar no Teatro Colombo em São Paulo, permanecendo com ele um
ano.
Nessa companhia,
trabalhou no “ATO VARIADO”, onde cantava cançonetas napolitanas e não podia
usar microfone. Quem usasse microfone, segundo MAZZAROPI, era vaiado. Tinha que
ser na raça. Nada de auxílio da LIGHT.
Do Teatro Colombo, foi
para o Teatro Oberdan, uma vez que o primeiro fora reservado para peças líricas
e operetas. Foram apresentadas peças famosas, tais como: FILHO DE SAPATEIRO,
SAPATEIRO DEVE SER, de João Pereira de Almeida; PEPINO O VERDUREIRO; PORQUE
CHORAS PALHAÇO. Na estreia, no Teatro Oberdan, folhetos, distribuídos pela São
Paulo, anunciavam a “Temporada de Gargalhada, com Nino Nello, o cômico paulista
número 01 e sua companhia de espetáculos para rir, apresentando: MAZZAROPI o
cômico cem por cento engraçado, que atuou como locutor da engraçada charge:
“FILHO DE SAPATEIRO, SAPATEIRO DEVE SER”.
Reportando-se ao maior
comediante brasileiro, Geny Prado (que trabalharam com ele em vários filmes)
falou:
“Mazzaropi foi um
grande mito do cinema nacional.
Não podemos esquecer
também que ele foi muito importante para o cinema brasileiro. Ele criou um tipo
próprio de jeca e sabia que aquele tipo iria agradar seu povo.
Mazzaropi era muito
alegre e de grande valor. Saindo praticamente do nada, tornou-se grande parte
da história do cinema indústria. Muitos tentam imitá-lo, mas nunca conseguirão.
Mazzaropi nasceu com a arte e, nos trinta anos que trabalhamos juntos no
programa “RANCHO ALEGRE” e, posteriormente, no cinema, nunca encontrei um
artista com tanto talento.
Sem Mazzaropi, o cinema
ficou um grande vazio. Não temos as filas quilométricas nas portas dos cinemas
de todo o Brasil. Na época de lançamento de um filme de Mazzaropi, havia brigas
entre os donos de cinemas porque sabiam que era bilheteria certa. Mazzaropi tinha
um tino incrível e sabia exatamente o que agradava o seu povo. Muitas vezes,
quando estávamos filmando, ele mudava o próprio texto da estória para que a
cena ficasse melhor. Não acredito que apareça outro jeca com tanto talento e
sabedoria como o meu querido Mazzaropi. Geny Prado – Atriz, São Paulo, 27 de
maio de 1986”.
Publicado originalmente em OLIVEIRA, Luiz Carlos Schroder. Mazzaropi- A Saudade de Um Povo. Londrina: CEDM Editora, 1986.
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