segunda-feira, 15 de julho de 2019

Mazzaropi: A Saudade de Um Povo, parte I



SUMÁRIO

Prefácio de Rolando Boldrin

Prefácio de Terezinha Niero

Prefácio de Marinósio Filho

Agradecimentos

I. QUEM FOI MAZZAROPI

II. O “PAVILHÃO E SUA TROUPE”

III. APARECEU O TEATRO

IV. “RANCHO ALEGRE” NA RÁDIO TUPI

V. O NOTÁVEL CÔMICO NA TELEVISÃO

VI. OS PRIMEIROS FILMES NA CIA. VERA CRUZ

VII. O ARTISTA COM MASSAINI

VII. A PAM FILMES E SUA TRAJETÓRIA

IX. ADEUS A MAZZAROPI


Prefácio de Rolando Boldrin

Um dia, o Mazzaropi chegou para mim e disse: -Oia Boldrin, eu ainda hei descer de um carro de luxo, cujo motorista será um japonesinho fardado de vermelho e este, abrirá a porta para o “caipira” (ele) sair garboso e aplaudido na frente de um cinema onde estará passando um filme meu, (dele). Este desejo, dito assim, parecia vir de um rico excêntrico, mas não. Vinha de um ator que queria mostrar aos brasileiros, que ele, já um sinônimo do “JECA TATU”, um dia daria muito sucesso com sua própria Empresa Cinematográfica, provando com isso, o valor de sua cabeça e sua arte de representar. E assim foi. O que ele pensou e quis, aconteceu. Tudo. Até mais do que ele talvez tivesse pensado. E para provar que não era excentricidade de sua parte, o tal japonesinho nunca existiu. Mas, ele desceu muitas e muitas vezes de um carro na frente do Cine Art-Palácio em São Paulo, para participar com convidados, da avant-premier de todas as suas produções de grande sucesso. Aquele tipo brasileiro criado por ele estava agora em quase todas as telas americanas de nossa terra, de norte a sul, leste-oeste. Filas e mais filas, sessões e mais sessões, com um público misturado como as mercadorias deste grande “EMPÓRIO” que é o Brasil. Somos, todos nós, um povo formado de “caipiras”, simples, humildes, acanhados (que é sinônimo) e além disso, no geral, sem muita saúde.

- A benção, Monteiro Lobato, que criou o “JECA TATU”, símbolo do abandono e da preguiça doentia. A benção, pintor Almeida Júnior que criou em telas, um outro “JECA”: o “CAIPIRA PICANDO FUMO”, o “VIOLEIRO” e tantos outros que já demonstravam por ele, um pouco mais de vitalidade e aí sim, “UM CANTADOR E PONTIADOR” de violas e modas puras. A benção, Cornélio Pires, meu professor, escritor, historiador, pesquisador e valorizador da linguagem de outro “JECA”: aquele sagaz, matreiro, astuto e mais vivo do que os homens letrados da cidade. A benção, Valdomiro Silveira, que escreveu contos, coisas e “causos” do homem mais simples e trabalhador do nosso interior. A benção, a todos aqueles que se preocuparam em divulgar o Brasil através de seus tipos humanos mais esquecidos e mais importantes para o progresso de nossa terra: social e culturalmente. A benção, aos não citados aqui, nominalmente. Aqui, neste despreparado prefácio. A benção, por fim, ao personagem principal desta história escrita. Onde o autor tenta resgatar seus valores mais puros, por tê-los vividos de perto...De muito perto.

A benção, Amácio Mazzaropi, que imortalizou um “JECA”, cujas características se fundem com a de todos outros “JECAS” citados e criados por valorosos artistas brasileiros. Eu, adepto do seu “caipira”, digo que sofri sua influência. Procuro cantar e contar isso sem o menor constrangimento, mas com grande orgulho. Por isso, mais uma vez: A benção, MAZZAROPI.

Queridos leitores: sigam com a história deste “HOMEM-JECA” incrível.

Parabéns CARLINHOS, pela coragem de escrevê-la.

Rolando Boldrin
Apresentador do Programa
“Empório Brasileiro”


Prefácio de Terezinha Niero

Luiz Carlos,

Quando visitei a exposição sobre Mazzaropi, promovida por você, em Londrina, avaliei a pequena mostra, simples e original, como um trabalho sincero, humano e cheio de amor.

Quis conhecer o promotor da singela homenagem, ao grande e inesquecível “Mazza”. E foi assim que nos conhecemos. Mas não podia absolutamente imaginar que eu seria presenteada com a leitura dos originais deste livro, que agora sai ao público.

Ninguém melhor que você, que por longos anos viveu ao lado “dele”, poderia escrever estas páginas emocionantes, revelando cenas e episódios da vida do nosso grande artista.

Sabe Luiz, deliciei-me em ler e reler, folhear cada página, com carinho, procurando reviver cada momento, por você registrado nesse relicário.

Embora agradecer-lhe seja pouco, assim mesmo quero dizer-lhe: “Muito, muito obrigado. Pela felicidade que você me proporcionou com sua narrativa, fazendo-me saborear ‘lembranças, no açúcar da saudade’, como diria Drummond.

Creio que todo brasileiro que tiver a sorte de pôr os olhos sobre este seu trabalho, sentirá o mesmo que senti. E em cada página lida, a emoção fará reviver os momentos guardados de um tempo não muito distante. Aí, então, a energia de cada lembrança fluída e provocada pela arte incontestável no nosso querido “Jeca”, unir-se-à a tantas outras que “ele” soube conquistar entre o povo brasileiro e serão muitas vidas a ligar-se a dele para torna-lo inesquecível.

Amigo Luiz Carlos, penso que sua fidelidade ao Mazzaropi, será motivo de alegria para ele, onde quer que ele esteja e será igualmente o elo entre você e o enorme público que ainda o admira.

Felicidades.

Terezinha Niero
Professora da Catedral Metropolitana de Londrina


Prefácio de Marinósio Filho

Estou diante de um trabalho de fôlego. Prefaciá-lo, não; antes, botar pra fora o que me transmitiu “MAZZAROPI: A SAUDADE DE UM POVO”, de Luiz Carlos Schroder de Oliveira.

Temos por fim um documento histórico da vida e obra de um pioneiro do cinema brasileiro. Homem que deu a vida para a arte.

Aprendi a aplaudi-lo, a rir, desbragadamente, da graça ingênua do artista “matuto”, convicto. Depois, o meu neto, Marinósio II aprendeu a ama-lo e até hoje conta estórias do notável Mazzaropi.

Uma página imorredoura do cinema nacional. Mazzaropi é revivido, em alta fidelidade, nas páginas de um livro despretensioso e com ausência de romanceações ilusórias.

Luiz Carlos é objetivo no texto. Rápido, agradável e descobridor de riquezas conhecidas, no profundo oceano da vida de Mazzaropi.

O livro transportou-me aos tempos que não volta mais.

Que beleza recordar.

Estou certo, meu caro escritor, com o seu pique e viço, próprios de uma mocidade que quer algo mais, naturalmente pretende prosseguir nas letras. Quantas obras poderão vir, só você sabe.

Não esqueça que os percalços são imensuráveis e os entulhos maiores. Encontrará muitas pedras, vidros e buracos enormes, tão perigosos que poderão sucumbir a mais viva das esperanças e o maior dos entusiasmos.

A coragem é uma arma poderosíssima dos moços. E você é moço. Energia capaz de destruir o “super-homem”, medalhões da nossa era que vivem de uma tradição literária discutida e sempre contestada.

As pedras virão à sua cabeça. Defenda-se. Eles ladrarão e você vai passando, cheio de esperanças, de fé e com muita coisa boa, nessa cabeça que se apresenta vigorosa, com novos rumos, novo estilo e muita perspectiva de vencer.

Abraços de Marinósio Filho.


Marinósio Filho da Academia de Letras de Londrina e da União Brasileira de Letras.


 Agradecimentos

Aos meus pais e irmãos que muito me incentivaram nesta pesquisa;

A Andressa com muita ternura;

A Maria de Fátima Ribeiro que carinhosamente mostrou a força do amor e do carinho para a realização deste trabalho, e que se fez parte integrante do mesmo;
Aos familiares de Mazzaropi pelo apoio;
Ao Mazzaropi (In Memorian) que espiritualmente me deu forças para o desenvolvimento deste trabalho;
 “A ribalta sempre foi meu lar. Esta é minha história”.

Mazzaropi


Capítulo 1. QUEM FOI MAZZAROPI


O circo chegava e um menino franzino ia atrás do palhaço. Não perdia um espetáculo. Cheio de sonhos, tinha uma certeza: trabalhar no circo e fazer sucesso.

Esse menino era AMÁCIO MAZZAROPI, nascido ao 9 de abril de 1912, na casa nº 5, da Rua Vitório Carmilo, em São Paulo e batizado na Igreja de Santa Cecília.

Era filho do italiano BERNARDO MAZZAROPI e de CLARA FERREIRA MAZZAROPI, filha de portugueses.

Ambos eram comerciantes bem sucedidos, da Barra Funda, tradicional gueto de italianos da capital paulista.

Do avô, AMÁCIO MAZZAROPI (imigrante italiano que foi trabalhar nas terras do Paraná) não herdou só o nome, mas o gosto pela vida do campo que o levou, um dia, a pesquisar no interior o personagem de calças curtas, canela aparecendo, botinas e fala arrastada.

O franzino garoto com caricatura própria e gestos engraçados, aguçava a curiosidade de todos com suas prosas.

Desde criança tinha mania de querer ser artista. Quando ia ao circo, invejava os artistas que andavam no arame. Queria fazer tudo o que eles faziam num espetáculo circense.

Um dos primeiros palcos alcançados pelo “JECA”, (personagem de “TRISTEZA DO JECA) um dos seus mais famosos filmes, foi no teatrinho do Grupo Escolar São José de Belém, onde concluiu o Curso Primário.

Lá, declamava poesias e fazia encenações humorísticas em pequenas peças infantis. Nem sequer imaginava o sucesso que já era prometido como um dos maiores humoristas do País.

Desinteressado nos estudos, MAZZAROPI vivia frequentemente em circos que se instalavam nas proximidades de sua casa, onde lá permanecia com pretexto de vender pirulitos.

Seu destino já estava traçado. O mundo maravilhoso do circo lhe atraía e o convidava para permanecer nele.

Mas, incompreendido pela família, foi conduzido para Curitiba, em companhia de seu tio DOMINGOS MAZZAROPI, com o objetivo de distanciá-lo do circo.

Na capital paranaense, o grande humorista viu-se novamente, atuando como caixeiro de uma loja de casimiras de seu tio, na Rua XV de Novembro. O comércio não lhe atraía, e, para passar o tempo, e dar maior prazer ao trabalho, fazia graças e caretas, brincando com os fregueses, fazendo tudo como se estivesse num palco. Media casimira, fazendo pose. Vendia, imaginando uma câmera na frente. Tinha isso no sangue.

Aos 14 anos, retornou para São Paulo, e continuou a tentativa de ingressar à vida circense.

Conheceu o famoso FERRY, faquir de um circo popular da redondeza. Nos intervalos das exibições do faquir, MAZZAROPI ganhava um mirrado salário para contar piadas. O rapaz magro, que havia estudado apenas até o ginásio e também tinha dotes de pintor e desenhista, pintando cenários, resolveu lançar-se na vida de ator popular.

FERRY conseguiu para ele um documento em que transformava seus 14 anos em 19, para que tivesse liberdade de falar as piadas picantes que o povo queria ouvir.

Mostrava ao público a espada do faquir, para que visse que ele cortava mesmo. E com o faquir deitando na espada, comendo vidros, foi viajando pelo caminho da Central do Brasil.

Abriu-se para MAZZAROPI uma trilha que marcou sua vida profissional e artística no circo. Abandonou o conforto de sua casa, classe média paulista e optou por um estilo e ritmo de vida que naturalmente se identificavam com ele. A paixão pelo circo fez com que viajasse pelo País por 6 anos com muito sucesso, com suas animações sob as lonas, ao lado de FERRY, de espetáculo em espetáculo.

Para Mazzaropi, no circo o mais importante foi a experiência de entender e ser entendido pelo público. Foi nessa convivência com gente humilde que adquiriu condições de entender o povo, graças ao que, pode projetar no personagem que o consagrou.

O rádio e a televisão sempre deram mais dinheiro, onde o artista se projetava mais que o circo. Mas, de dentro do picadeiro via o povo mais de perto. A serragem era menos sofisticada que as luzes dos refletores. O circo era para Mazzaropi o seu mundo-ternura de criança.



Capítulo 2. O “PAVILHÃO” E SUA TROUPE

Já conhecido no cenário nacional, com suas viagens de grande público, aos 20 anos, com ajuda dos seus pais, montou o “PAVILHÃO MAZZAROPI”, uma troupe de alto investimento, que fez com que deixassem o comércio para acompanhar de perto o filho – artista.

A troupe (teatro ambulante) era composta de Shows variados, com declamações, cantos sertanejos, anedotas e peças teatrais. Vivia viajando como cigano, levando cenários e todos equipamentos juntos, numa espécie de revistinha bem simples. Naquele tempo, várias companhias viajavam dessa forma, sempre se apresentando nos cinemas, após a exibição da fita em cartaz.

Apresentava peças de teatro, em quatro ou cinco atos e depois fazia o caipira. Quando chegava na cidade, o povo fazia festa e o prefeito, segundo MAZZAROPI, “jamais criava alguma dificuldade, como acontece hoje com os cirquinhos que levam diversão de cidade em cidade”. E lembrava o renomado comediante: “O teatro era facilmente desmontável, ficávamos uma média de oito dias em cada lugar e seguíamos em frente. Êta povinho que gostava de teatro e anedotas. Uma mulher com o vestido como esses de hoje fazia o maior sucesso naquele tempo, lotava de gente para ver, e hoje elas andam com tudo de fora e ninguém liga. Nosso pavilhão tinha 20 atores e o melhor deles era mamãe. E o povo ria e chorava como acontece hoje”. Entrevista a Caco Barcelos – Movimento em 05/04/76.

O pavilhão foi instalado inicialmente em Jundiaí-SP, seguindo, posteriormente, para diversas cidades do País. Havia um repertório fixo: DEUS LHE PAGUE e ANASTÁCIO, de Joracy Camargo; O CORAÇÃO NÃO ENVELHECE, de Paulo Magalhães; DIVINO PERFUME, de Renato Viana; ERA UMA VEZ UM VAGABUNDO, de José Wanderley, e várias pelas de Oduvaldo Viana, entre outros.

O “Pavilhão” era um barracão de madeira, com cobertura de lona. No dia de estreia do “PAVILHÃO MAZZAROPI”, uma tempestade muito forte não permitiu a apresentação do espetáculo. Caíram as paredes, quase demoliu seu sonho. A inauguração só foi possível 3 dias após o vendaval, com muito sucesso. “Seu” Bernardo, o pai, controlava o caixa, e a mãe subiu ao palco, participando das encenações.

Os jornais e emissoras de Rádio anunciavam os espetáculos, destacando-se MAZZAROPI, o mais perfeito no gênero caipira.

Juntamente com ele, subiram ao palco do PAVILHÃO: Argeu Ferrari, Júlio Ribeiro, Zilá Ribeiro, Maria Nogueira do Amaral (que mais tarde adotou o nome artístico de Olga Mazzaropi), Felicidade Ferreira, Clara Mazzaropi, Rubens Camossatto, Del Mar e Reis, entre outros que se tornariam sucesso no teatro e cinema nacional.

Com seu pavilhão, MAZZAROPI percorreu o País com grande sucesso. Para transportar seu espetáculo ambulante, valeu-se de dois grandes vagões da SOROCABANA, para o Estado de São Paulo, com um quadro artístico de primeira qualidade, conquistando a simpatia dos espectadores, com suas imitações de caipira.

Continuou suas apresentações pelo interior de vários Estados, cujas atuações mereceram elogios dos críticos e jornalistas que conferiram o sucesso por, aproximadamente, 15 anos.

Depois de intensas viagens pelo interior do País fazendo rir todos os espectadores que compareciam aos seus espetáculos, o comediante MAZZAROPI que, por vezes, fazia lembrar PROCÓPIO FERREIRA, como apresentava o colunista FRANCISCO SÁ, em São Paulo quando, por volta de 1935, foi ver seu espetáculo no alto da Lapa, e fez comentários em sua coluna: “O que vai pelos Teatros – Um artista que promete”.

Com seu curioso estilo crítico, sério, o petulante jornalista se posicionava também como conselheiro do humorista. Embora tendo assistido a um espetáculo de qualidade, como afirmou, sugeriu a substituição do nome do comediante, que era anti-teatral, embora Mazzaropi nunca se preocupara com isso.

Nas encenações, Mazzaropi fazia lembrar o saudoso comediante, SEBASTIÃO ARRUDA, e seu irmão, GENÉSIO ARRUDA, quando interpretava o caipira, personagem do JECA brasileiro. Quando caracterizado, era um caipira verdadeiro. Mole, desajeitado, desengonçado, sempre se coçando, cuspindo, parecia mais um caipira genuíno e não um mocinho caracterizado. Saiu pro interior um pouco SEBASTIÃO e voltou MAZZAROPI, das turnês em circos, teatros, recitando monólogos dramáticos, fazendo a plateia rir e chorar, sempre com a preocupação de conversar com o público como se fosse um deles.

De nada valeu a preocupação de seus pais, quando saiu de casa, que diziam: “quem faz teatro, morre de fome em cima do palco”. E MAZZAROPI não morreu, pelo contrário, sempre teve sorte, sempre ganhou dinheiro.

Nos primeiros anos da década de 40, recebeu um convite do empresário MIGUEL GIOSO, que, normalmente, contratava só companhias estrangeiras, para apresentações no TEATRO SANTANA, em São Paulo. Provido de finos e luxuosos camarotes aveludados, a plateia exibia joias, chefer e muita burguesia. Fazia parte do Show da Companhia de Gioso, uma orquestra refinada. Para reforçar a apresentação de Mazzaropi, o produtor continuou com a orquestra, mas não deu certo. O povo estava acostumado a vê-lo bem simples, acompanhado por uma banda de tambor, banjos e outros instrumentos populares e não aquele luxo extravagante com pianos e violinos.

Para divulgação eram utilizados panfletos chamativos como eficaz meio publicitário para a época.

Após 15 anos de sucedidos espetáculos, o cômico e humorista MAZZAROPI, quando se apresentava em Pindamonhangaba, cidade do interior paulista, em 1945, perdeu seu pai, seu braço direito nas caminhadas e montagens dos espetáculos. Tendo gasto muito dinheiro na enfermidade do pai, o Pavilhão ficou desmontado vários dias no Pátio da Estação Ferroviária de Pindamonhangaba, não tendo portanto, condições de continuar seus espetáculos.

O Dr. Estambulo, médico (que acompanhou o pai de Mazzaropi em sua enfermidade), juntamente, com sua esposa, Dona Dulce, ajudou financeiramente a transportar o Pavilhão para São Paulo, em 1945. Logo após a morte do pai, Mazzaropi foi ao Rio de Janeiro continuar a vida artística e parou no Teatro João Caetano onde atuavam os mais famosos artistas brasileiros, Beatriz Costa e Oscarito.

MAZZAROPI contou ao jornal “O Movimento” em 05/04/76, com muita emoção essa passagem pelo Rio de Janeiro, onde afirmou que jamais iria esquecê-la. Deu uma entrevista para um jornal, com grandes fotografias. Foi marcada a estreia para o dia seguinte no lugar de Oscarito que não queria renovar o contrato. Mas no dia seguinte, Oscarito acertou com a empresa isto magoou muito MAZZAROPI. O seu Show não foi realizado.

Deixando o Rio de Janeiro, continuariam os espetáculos com muito sucesso na capital paulista, quando os teatros estavam praticamente desativados pelo alto custo das apresentações e o agravamento de tributos sobre essa atividade.

Diante do interesse frequente do público dos bairros paulistas aos espetáculos de MAZZAROPI, o interventor Fernando Costa, para beneficiar os trabalhadores, isentou de impostos e taxas os teatros populares dos bairros.

Essa medida possibilitou ainda mais a frequência de assistentes, lotando as arquibancadas de madeira do barracão coberto com telhas de zinco que Mazzaropi carinhosamente montava de bairro em bairro. Nessa época, em 1945, onde São Paulo tinha aproximadamente 1 milhão e meio de habitantes, os teatros estavam em péssimas condições de propiciar espetáculos de entretenimento. O Teatro Municipal, já antiquado para altos gêneros. O Teatro Santana não oferecia condições, juntamente com o Boa Vista e o Cassino Antártica. Tornou-se então o “PAVILHÃO MAZZAROPI, ponta de maior concentração popular pelos preços acessíveis de bilheteria popular, quando a maioria dos paulistas não podia frequentar operetas e líricos reservados para uma pequena classe burguesa.

Foi de grande importância a reportagem publicada no Jornal “A NOITE” de São Paulo – edição 1.794 de 14/08/1945, quando explorou muito bem a chegada do TEATRO MAMBEMBE em São Paulo, e falou sobre o Pavilhão nos espetáculos do empoeirado bairro do ITAIM, quando MAZZAROPI apresentava cenas da “CHANCHADA” e “O MARIDO Nº 5”.

Um dos primeiros investimentos imobiliários de         MAZZAROPI foi a aquisição do terreno da Rua Paes de Araújo, 168, do Bairro Itaim Bibi, em SP, onde construiu sua primeira casa, e que serviu de residência até os últimos dias do comediante. A escolha pelo bairro foi devido o grande sucesso alcançado em seus espetáculos e o carinho que tinha pelo local onde estava anteriormente instalado seu pavilhão. Até a construção da casa, o humorista se instalou provisoriamente no Tucuruvi, outro bairro paulista da zona norte, onde, mais tarde, denominou seu espetáculo com o nome “Bernard Shaw do Tucuruvi” em homenagem ao cômico inglês com o mesmo nome, e ao bairro onde morou.

“Seu delegado é a favor do divórcio? Então prepara um cafezinho, que eu hoje vou lá na sua casa pedir sua mulher em casamento”.
(Mazzaropi – em “O Jeca contra o capeta – em 1975).

Capítulo 3. APARECEU O TEATRO

Em fins de 1945, foi convidado pelo ator NINO NELLO, proprietário de uma companhia de Teatro com o mesmo nome, para atuar no Teatro Colombo em São Paulo, permanecendo com ele um ano.

Nessa companhia, trabalhou no “ATO VARIADO”, onde cantava cançonetas napolitanas e não podia usar microfone. Quem usasse microfone, segundo MAZZAROPI, era vaiado. Tinha que ser na raça. Nada de auxílio da LIGHT.

Do Teatro Colombo, foi para o Teatro Oberdan, uma vez que o primeiro fora reservado para peças líricas e operetas. Foram apresentadas peças famosas, tais como: FILHO DE SAPATEIRO, SAPATEIRO DEVE SER, de João Pereira de Almeida; PEPINO O VERDUREIRO; PORQUE CHORAS PALHAÇO. Na estreia, no Teatro Oberdan, folhetos, distribuídos pela São Paulo, anunciavam a “Temporada de Gargalhada, com Nino Nello, o cômico paulista número 01 e sua companhia de espetáculos para rir, apresentando: MAZZAROPI o cômico cem por cento engraçado, que atuou como locutor da engraçada charge: “FILHO DE SAPATEIRO, SAPATEIRO DEVE SER”.

Reportando-se ao maior comediante brasileiro, Geny Prado (que trabalharam com ele em vários filmes) falou:

“Mazzaropi foi um grande mito do cinema nacional.
Não podemos esquecer também que ele foi muito importante para o cinema brasileiro. Ele criou um tipo próprio de jeca e sabia que aquele tipo iria agradar seu povo.
Mazzaropi era muito alegre e de grande valor. Saindo praticamente do nada, tornou-se grande parte da história do cinema indústria. Muitos tentam imitá-lo, mas nunca conseguirão. Mazzaropi nasceu com a arte e, nos trinta anos que trabalhamos juntos no programa “RANCHO ALEGRE” e, posteriormente, no cinema, nunca encontrei um artista com tanto talento.


Sem Mazzaropi, o cinema ficou um grande vazio. Não temos as filas quilométricas nas portas dos cinemas de todo o Brasil. Na época de lançamento de um filme de Mazzaropi, havia brigas entre os donos de cinemas porque sabiam que era bilheteria certa. Mazzaropi tinha um tino incrível e sabia exatamente o que agradava o seu povo. Muitas vezes, quando estávamos filmando, ele mudava o próprio texto da estória para que a cena ficasse melhor. Não acredito que apareça outro jeca com tanto talento e sabedoria como o meu querido Mazzaropi. Geny Prado – Atriz, São Paulo, 27 de maio de 1986”.

Publicado originalmente em OLIVEIRA, Luiz Carlos Schroder. Mazzaropi- A Saudade de Um Povo.  Londrina: CEDM Editora, 1986.

Nenhum comentário: