“Para entender um burro
é preciso que seja burro também...”
MAZZAROPI- Trecho da
música “Meu Burrinho” do filme, “O Corintiano” – 1966
Capítulo
4. “RANCHO ALEGRE” NA RÁDIO TUPI
Do teatro, MAZZAROPI
estrelou no Rádio, em 1946, a convite de DEMERVAL COSTA LIMA, diretor da Rádio
Tupi de São Paulo, onde ficou por 7 anos. Era levado ao ar, “Rancho Alegre”, um
programa popular de grande audiência, realizado todos os domingos no auditório
da Rádio, no Sumaré, produzido por CASSIANO GABUS MENDES.
Atuando pela primeira
vez no Rádio, levou ao microfone sua experiência teatral e dos espetáculos do
Pavilhão que encenou por mais de 15 anos, revelando aos ouvintes o seu
humorismo sertanejo inconfundível. A convivência com os homens simples do
campo, trouxe o sabor genuíno de sua graça, o linguajar puro, sem mescla, sem
afetação que a simples pronúncia provocava riso espontâneo dos ouvintes e da
plateia. Inicialmente, foi contratado por 3 meses e acabou ficando 7 anos
devido ao sucesso alcançado.
No auge de sua
carreira, a REVISTA ÊXITO, de SP, em 14/09/1946 estampou em sua capa uma foto
de Mazzaropi e, na página 7, o colunista JEAN COCQUELIN que escrevia sobre
teatro, escreveu que o cômico cem por cento engraçado, bastante jovem,
sorridente e simpático, era bem diferente (na entrevista) daquele jeca
perfeito, realíssimo e banguela no palco.
Venceu no interior com o seu Pavilhão, de cidade em cidade. E triunfou. Não era para se admirar. Mazzaropi agradou a classe popular. Conseguiu ser diferente, num tipo que era quase clássico no palco. Venceu no Teatro como venceu no Rádio.
E foi na Rádio Tupi que
o humorista mais se identificou com maior público. Os anos se passaram e o
sucesso foi aumentando. Para manter a audiência do “Bernard Shaw do Tucuruvi”
como era conhecido Mazzaropi, na Tupi, a emissora promoveu um concurso: “Qual é
o verdadeiro nome de Mazzaropi?”. Publicava esta pergunta, juntamente com
cupons nos jornais de São Paulo para concorrer a prêmios. A apuração foi feita
no Cine São Francisco no dia 12 de outubro de 1947.
Embora convidado para
atuar em outras emissoras bandeirantes, Mazzaropi sempre preferiu a Rádio
Tupi-Sp, e, quando entrevistado sobre sua opção pela Rádio referida, explicava
com seu linguajar característico, após renovação de um contrato: “Ué, aqui é
bom, eu fico...Aqui comecei e me fiz. E depois tem outra, do Sumaré tenho
certeza de ser ouvido no Brasil inteirinho. Recebo cartas dos mais distantes
pontos desta terra. E isso é uma grande coisa para o artista...A gente fica com
prestígio, trabalhando numa grande potência radiofônica”.
Ainda no Rádio,
Mazzaropi reunia sempre um elenco de humoristas e cantores populares que
formavam uma caravana denominada “A BRIGADA DA ALEGRIA” que percorreu o Brasil
em vários Shows e apresentações. De seu elenco, fizeram parte: Linda Batista,
Henricão e Rosa Maria (o barão das cabrochas e cabrochinhas do samba), Michel
Allard (a voz da boemia de Montematre), Hebe Camargo (a morena do Sumaré) que
estreou na Rádio Tupi, considerada a estrelinha do samba, em 1947.
A estreia de Mazzaropi
e Hebe Camargo nas Rádios Guarani e Mineira, em Belo Horizonte, foi uma festa
de gala, com muita música e humorismo. Ambos constituíram o maior sucesso dessa
festa radiofônica. A festa foi de grande brilhantismo pelo valor dos dois
grandes astros da Tupi paulista, que souberam impor a simpatia e a admiração do
povo das alterosas e tinham grande e invejável popularidade.
Hebe Camargo e
Mazzaropi, além de serem colegas de trabalho, eram amigos. Sempre viajavam pelo
País na “BRIGADA DA ALEGRIA” com Shows variados. Tinha ele uma grande admiração
pela Hebe.
Ultimamente, Mazzaropi
não gostava de falar à imprensa, dar entrevista, ou participar de programas de
Televisão e Rádio. Um dos únicos programas que comparecia com muito prazer,
como convidado era o Programa da Hebe Camargo, na Rede Bandeirantes: “porque
ela é simples como eu. Tem um ótimo caráter, e é autêntica. Gosto da Hebe,
porque é uma amiga que sempre me deu valor. Tenho poucos amigos e a Hebe é um
deles”, dizia ele.
Dos Shows e viagens com
Hebe, onde chegaram até fretar avião para atender os compromissos Brasil afora,
o comediante lembrava com carinho: “Hebe sempre foi muito bonita. Viajava ao
lado de sua mãe. Nas cidades onde chegávamos, era uma festa. Nos coquetéis de
recepção e estreias, Hebe contava os lugares na mesa e dizia: Coloque mais uma
cadeira para o Mazzaropi”.
MAZZAROPI lembrava com
saudade os tempos que atuou no Rádio: “Um dia, o próprio Chico Alves foi até a
Tupi só parta saber quem era aquele caipira engraçadíssimo que ele tinha ouvido
no rádio do carro”.
“Sabe lá o que é isso?” foi um dos espetáculos de maior sucesso no Teatro de Revistas em que participou MAZZAROPI, juntamente com Dercy Gonçalves no Cine Teatro Odeon, na Consolação, em SP. Participaram também do elenco Spina e Rayto do Sol na Super-Revista Murad, Cunha e Paulo Orlando, na década de 50.
E nos jornais de todo
País, apareciam as manchetes: MAZZAROPI: NOTÁVEL CÔMICO BRASILEIRO; MAZZAROPI
UMA BOMBA ATÔMICA; OUTRA VEZ O INCRÍVEL MAZZAROPI; MAZZAROPI O MONSTRO DO
HUMOR.
Em 18 de março de 1947,
estreava em São Paulo, no Teatro Municipal, o rei da graça e notável cômico
Mazzaropi, lotando a plateia.
A Revista Êxito, em SP,
lançou em 1947 um Álbum de Figurinhas, reunindo atores e radialistas entre
outros nomes nacionais de Rádio. Uma das figurinhas, estampada, de nº 242, era
de Amácio Mazzaropi, a única autografada, por isso então, difícil de ser
encontrada.
Em entrevista para a
Revista “TELEVISÃO” de São Paulo, MAZZAROPI informou, como já se mencionou, que
havia assinado um contrato com a Rádio Tupi por 3 meses e acabou ficando por
muito tempo na emissora. No picadeiro, dizia ele, infelizmente não se podia
fazer teatro. O ambiente era diferente. Iria ficar no Rádio enquanto não
houvessem palcos. Embora sentindo falta do calor do público quer o recebia nos
picadeiros, os ouvintes lhe enviavam cerca de 2.000 cartas semanais, embora não
fosse a mesma coisa.
Com isso, Gentil Rodrigues
Pereira, prestou seu depoimento sobre o famoso comediante: “Tive o prazer de
conhecer Mazzaropi em 1951, na Rádio Tupi, quando do programa “RANCHO ALEGRE”
eu era músico e o Mazzaropi gostava da forma com que eu tocava acordeão, e, em
consequência disso, acabei fazendo parte de seu elenco artístico. Conheci
Mazzaropi em todos os sentidos, porque foi uma amizade sincera e de muita
lealdade e isto me dá a liberdade de falar sobre um dos maiores artistas
brasileiros de todos os tempos, com o qual tive a honra de trabalhar por mais
de trinta anos. Como homem, Mazzaropi sempre procurou o caminho do trabalho com
muita honestidade; super organizado e muito ambicioso na escalada da arte. Como
artista, muito versátil, excelente ator, dono de um talento indiscutível o que
fazia a alegria de todo um país.
Como patrão, Mazzaropi
sempre foi atento a tudo o que se passava dentro da PAM até o lançamento das
fitas, sem contar o fantástico tino comercial que ele possuía. O resultado
podemos constatar: ele venceu e ficou na história do nosso país. Tive a alegria
e o prazer de ser seu amigo. Tratava todos aqui na PAM FILMES, de igual para
igual, sempre brincando conosco, e, por muitas vezes, chegando a socorrer seus
funcionários da maneira mais simpática e generosa. Mazzaropi foi de uma
grandeza e de muita importância à cultura brasileira, pois foi o único a
conseguir capitalizar milhões e milhões de espectadores, trazendo muitas
divisas parta o cinema brasileiro, bem como representando um peso enorme em
prol daquilo que ele tanto amava, o Cinema Nacional”. Gentil Rodrigues Pereira
– Gerente da PAM Filmes- São Paulo, 10 de maio de 1986.
“Eu era um autêntico caboclo, daqueles caipiras doidos por um bate-papo
na venda de “Seu” Zé ou na botica da esquina” A.
De B.- SP
Capítulo
5. O NOTÁVEL CÔMICO NA TELEVISÃO
Na década de 50, foi a
vez de estrear na Televisão, com o Show a que dera o mesmo nome da Rádio Tupi
de São Paulo – “Rancho Alegre”, levando ao ar, ao vivo, a todas as
quintas-feiras, ás 21:00 horas. MAZZAROPI estava em viagem pela Amazônia quando
recebeu o convite para estrear na inauguração da emissora de Televisão – TV
Tupi, como uma das mais avançadas formas de diversão.
O Jornal “RADAR”, de
São Paulo, publicou sobre sua atuação inicial na Televisão, em edição de 29 de
setembro a 5 de outubro de 1950, enaltecendo MAZZAROPI como o primeiro
humorista televisionado da América do Sul.
Seu programa era
anunciado com “Slogans” pomposos: O caipira filosófico, o monstro do humorismo,
o diplomata do humor, o cômico número um da TV.
O sucesso na televisão,
como já se esperava, foi marcante como no circo, teatro e no rádio, tanto que,
logo após sua atuação em São Paulo, estreava o mesmo programa na TV Tupi,
caçula do Rio de Janeiro. Na inauguração da emissora, com sua máscara movediça,
sua mímica ágil e preparada anteriormente por sua longa experiência em palcos e
em circos, conquistou os telespectadores e se tornou uma figura simpática no
vídeo. A inauguração se deu no dia 20 de janeiro de 191, num sábado à noite. O
“Radar” de 19 a 25/01/51, expôs: “Desse jeito, não se sabe onde poderá ir o
cômico paulista, pois a televisão é o campo do futuro, e Mazzaropi já lavrou e
semeou o seu torrão...”
No dia da inauguração
dessa emissora, MAZZAROPI lembrou em 1976 – ao jornal Movimento de 05/04, que
ficou muito chateado quando chegou no aeroporto do Rio de Janeiro onde quase
ninguém o reconheceu. Teve até problemas com seu fígado. Chegou ao hotel muito
nervoso, devido ao enorme compromisso. Afinal, era uma apresentação de gala. E
dizia: “Não sei como, no palco eu me lembrei de todas as piadas decoradas,
aquelas histórias que fazem o público rir nem que não queira. Tinha um cara na
primeira fila que levantava os pés até em cima e batia no assoalho, dando
gargalhadas. Para mim, foi felicidade, porque eu estava na pior. Em vinte e
cinco minutos terminei o Show e saí rápido do palco. O teatro veio abaixo.
Caminhei ligeiro para me fazer de bobo. Comecei a tirar a roupa no camarim e ouvia o grito do pessoal pedindo para eu voltar”.
Ainda no camarim
recebeu um telefonema da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, oferecendo um
contrato. Era no tempo da Emilinha Borba, da Revista do Rádio.
Com sucessos
simultâneos que o comediante obteve na Rádio Tupi-SP (com programas aos
domingos e ás terças-feiras) e na TV Tupi do Rio de Janeiro (ás
quartas-feiras), Mazzaropi foi certamente um dos artistas que recebeu o maior
“cachê” do Rádio e da TV e posteriormente do cinema.
“Abandonado, sem nada,
sem lar, sem roupa e sem pão, vocês acharam morada dentro do meu coração...”
Mazzaropi
Capítulo
6. OS PRIMEIROS FILMES NA CIA. VERA CRUZ
Em janeiro de 1951, o
teatrólogo ABÍLIO PEREIRA DE ALMEIDA, assistiu num bar ao lado do Teatro
Brasileiro de Comédia o programa de Mazzaropi “Rancho Alegre” na TV Tupi-SP.
Uma semana depois, juntamente com Tom Payne chamou-o para fazer teste para um
filme na Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Essa companhia era liderada por
Franco Zampari, que pretendia montar uma réplica do cinema de Hollywood em seus
estúdios em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
Mazzaropi não fazia fé
no convite, de que desse certo no cinema. Achava que ser ator de cinema era
assunto de gente bonita, e ele, definitivamente não se achava fotogênico,
faltava-lhe pinta de galã.
Aprovado nos testes,
fez o papel principal do filme “SAI DA FRENTE”, dirigido por Abílio Pereira de
Almeida, depois de assinar um contrato milionário de 15 contos mensais mais uma
gratificação anual de 60 contos atuais. No filme, Mazzaropi era chofer de um
caminhão de mudanças que ironizava a burocracia e os políticos corruptos. Ele
arrumava fregueses para uma viagem de São Paulo a Santos e, na volta, deu
carona a uma troupe de artistas ambulantes, entre os quais um cão pastor,
Duque, com importante participação na trama. A fita foi rodada quase na
totalidade com cenas externas. Foi um filme autenticamente brasileiro, e o que
era mais raro, um filme paulista. Este filme foi para a Vera Cruz o maior
sucesso de bilheteria em 1951. Com o Cine Marabá lotado, Mazzaropi levou ao
cinema, todo o seu público de rádio, provocando filas nos cines de São Paulo.
Seguindo, apareceram
outros sucessos: “NADANDO EM DINHEIRO” e “CANDINHO” em 1953; e “O GATO DE
MADAME” em 1954,m onde os dois primeiros foram rodados pela Companhia Cinematográfica
Vera Cruz, e o último produzido pela Brasil Filmes Ltda.
Em meados de 1954, a
Companhia Cinematográfica Vera Cruz, passando por dificuldades financeiras,
parou as filmagens e teve seu patrimônio penhorado e hipotecado judicialmente.
Mas, para não perder, o artista (Mazzaropi), de maior sucesso no cinema
nacional, renovou seu contrato por mais dois nãos, com o mesmo salário, sem que
o mesmo estivesse trabalhando.
Na Companhia Fama
Filmes, fez o filme “A CARROCINHA” em 1955, também de grande sucesso em
bilheteria.
Em 1953, Mazzaropi
deixou a Rádio Tupi de São Paulo, passando a alegrar o público da Rádio
Nacional de São Paulo, a convite do diretor artístico COSTA LIMA. Lá permaneceu
durante 2 anos.
O homem que viajou pelo
interior do País e se apresentou em palcos improvisados, tablados rústicos de
madeira, para as mais diversas plateias, vestiu um smoking para representar a
indústria cinematográfica nacional no festival internacional de cinema do
Brasil, em 1954.
No filme “O Candinho”,
encontrou-se com o tipo que iria marcar definitivamente sua carreira, o
caipira, ao fazer o papel principal.
Trabalharam com
Mazzaropi neste filme, Benedito Corsi, Adoniran Barbosa, Ruth de Souza, entre
outros. Amácio Mazzaropi dizia: “Aprendi tudo que sei de cinema, vendo o
pessoal da Vera Cruz trabalhar. Quando fui fazer o papel de caipira com esse
nome não ia dar certo. Tinha que ser Nhô Belarmino, Nhô Sebastião. Mazzaropi
nunca. Mas eu era jovem e cheio de brio. Decidi: Vou ser palhaço mesmo, vou
fazer o tipo caipira e vou manter meu nome. Este tipo me foi oferecido pela
vida. Se você for a Santo Amaro, aqui na periferia de São Paulo, você vai
encontra-lo. Nem precisa viajar para o interior. Os críticos dizem que meu
caipira é estilizado, mas não é. Eles escrevem isso porque não conhecem a
realidade brasileira. Eles leem Monteiro Lobato, mas nunca viram um caipira.
Caipira estilizado é esse caipira de festa de São João. E os intelectuais
pensam que esse é o autêntico caipira brasileiro”. Entrevista ao Diário Popular
de São Paulo – arquivo – Reproduzido na edição de 21/06/81.
“A dor da saudade que é que não tem. Olhando o passado, quem é que não
sente saudades de alguém...”
MAZZAROPI- trecho da
música “Dor da Saudade” em “Casinha Pequenina”- 1962
Capítulo
7. O ARTISTA COM MASSAINI
Osvaldo Massaini, da
Cinedistri, em 1956, convidou Mazzaropi para fazer parte de seus filmes. A
experiência deu certo. Logo, surgiram, outros três filmes, cartazes de sucesso
em todo território nacional: “Fuzileiro do Amor”, em 1955, “O Noivo da Girafa”,
em 1956 e “Chico Fumaça” em 1956, todos produzidos pela Cia. Cinedistri.
O cartaz chamava: “Ele
se alistou na armada...Foi assim que começou a confusão”.
Era MAZZAROPI em
“Fuzileiro do Amor”, juntamente com Terezinha Araújo, Roberto Duval, Gilberto
Martinho, Pedro Dias e Wilson Grey, Francisco Dantas, Alberto Perez, Nick
Nicola, Domingos Terra, Agildo Ribeiro, Moacir Deriquem, Narazeth Mendes,
Ricardo Luna, Mário Campioli, Francisco Colonese e Pato Preto.
No filme, José Ambrósio
(Mazzaropi), modesto Sapateiro, namorava Maria (Terezinha Araújo), filha de um
Sargento reformado do corpo de Fuzileiros Navais. Para melhorar suas relações
com o futuro sogro (Pedro Dias), resolveu tornar-se Fuzileiro Naval. Molenga
como era, José Ambrósio não gostava da simpatia do sargento instrutor (Roberto
Duval), e nas mãos desse sargento ele era duramente perseguido.
As mais engraçadas
complicações surgiram quando apareceu em cena um irmão gêmeo de José Ambrósio
(Mazzaropi), que por uma extraordinária coincidência também fazia parte do
corpo de Fuzileiros Navais.
Durante um Show no
quartel, o recruta José Ambrósio cantou juntamente com artistas do Rádio.
Justamente nessa oportunidade é que as confusões atingiram o seu ponto máximo,
pois o recruta José Ambrósio foi tomado pelo seu irmão, o sargento Ambrósio
José, pressurosamente maluco, sendo conduzido ao hospital, onde finalmente
ambos se encontraram, finalizando toda confusão. Foi um filme dos mais
engraçados e que atraiu grande público e alto índice na crítica do cinema
nacional.
Massaini, empolgado com
o sucesso do filme anterior, usou e abusou da oportunidade de continuar na boa
maré em que passava o cinema e principalmente Mazzaropi.
O cartaz informava:
“...Você conhece o amigo da onça? O amigo urso? Mas vai rir pra valer com
Mazzaropi”, que não precisava dizer nada. Só o jeitão molengão, puxando as
calças, banguela e as olhadelas peculiares, fazia rir a plateia por algumas
horas. Com ele, o elenco: Glauce Rocha, Manoel Vieira, Palmerim Silva, Carlos
Duval, Celeneh Costa, Roberto Duval, Odete Lara e Lima Barreto em “O NOIVO DA
GIRAFA”.
No folheto alusivo ao
filme, estava estampado: “A exibição de um filme de Mazzaropi é sempre
bilheteria certa. Programe-o para seu cinema”.
No filme, Aparício
Boamorte (interpretado por Mazzaropi), era um modesto funcionário do Jardim
Zoológico e levava a vida com sérias dificuldades. No trabalho, seus amigos lhe
deixavam as tarefas mais difíceis. Na pensão onde morava, vivia sempre sendo
chateado pelos pensionistas. Desde o português mercenário, dono da pensão, até
o pianista do cabaré e também a bela filha do “Seu” Gonçalves, todos viviam
incomodando Aparício, cujo único consolo era desabafar com a girafa no
Zoológico.
Certa dia, a garota
Aninha, depois de conversar com Aparício, ficou cheia de manchas. Acusaram o
pobre guarda do Zoológico de ter tido contato com algum animal e o obrigaram a
fazer um exame médico, que foi feito pelo veterinário do Zoo. O exame de sangue
do Aparício foi trocado pelo de um orangotango, e, como resultado – Aparício
teria apenas 15 dias de vida, sendo portador de uma doença incurável. Todos
passaram a trata-lo de forma como nunca aconteceram antes, inclusive Clara de
quem o rapaz gostava. Mostravam-se dóceis, atenciosos. Clara até aceitou o
sacrifício de casar-se com Aparício para herdar a fortuna de um tio agonizante
que ele tinha. Depois de divertidas peripécias, tudo ficou esclarecido e
Aparício voltou à sua vida humilde e solitária, junto à girafa do Zoológico.
“Mazzaropi: o grande
marco do Teatro e do cinema do Brasil”. Assim, Carlos Duval iniciou seu
depoimento sobre o grande e conceituado humorista. E prosseguiu: “Eu o conheci
apesar der não ter tido grande intimidade. Na década de 40, estando eu com a
Cia. Procópio Ferreira no teatro Boa Vista em SP, fui levado num intervalo de
trabalho do palco do Boa Vista pelo Diretor do teatro, que nos apresentou,
Amácio Mazzaropi como um ator novo que estava fazendo grande sucesso nos
teatros móveis de São Paulo, e que, possivelmente, iria ocupar o Teatro Boa
Vista. Conversamos ligeiramente, achei-o, é claro, simpático e espirituoso,
pois nos poucos momentos nos fez rir. Passado algum tempo soube do grande
sucesso do Mazza como era chamado entre os íntimos, em toda São Paulo. Veio
depois a fase Vera Cruz, em que Mazza com o seu talento, com aquela maneira
espontânea e simpática, de fazer os seus caboclos, conquistou o Brasil. E eu
que ao ser-lhe apresentado o achara simpático, passei a admirá-lo como grande
ator que era. Trabalhei com ele uma única vez, no tempo em que ele ainda não
era produtor. Fiz com ele um filme chamado “O Noivo da Girafa”, que eu não me
lembro agora o nome do produtor, e isto serviu para eu apreciar, e admirar
ainda mais o talento do grande ator que o querido Mazza era. Veio depois a sua
fase de produtor, e eu cheguei a ser convidado para um de seus filmes, mas,
infelizmente, não me foi possível aceitar. Portanto meu contrato com Mazza foi
apenas o ligeiro encontro em São Paulo e os dias em que trabalhamos juntos no
filme “O Noivo da Girafa”, mas acompanhei a sua carreira assistindo os seus
filmes, e achando-o, com justiça, um dos maiores atores cômicos da minha época.
Rio de Janeiro- 30 de novembro de 1985. Carlos Duval”.
“Chico Fumaça” foi o
contraste da zona rural e da tecnologia. O público vibrou com as palhaçadas de
Mazzaropi, e com suas tiradas engraçadas. Também fizeram rir: Celeneh Costa,
Carlos Tovar, Nancy Montez, Roberto Duval e Wilson Grey. Na participação
musical, estiveram: Cauby Peixoto, Zezé Gonzaga, Trio Nagô, Neuza Maria e Mara
Abrantes. Mazzaropi fez questão, porém, de conservar sua imagem de autêntico
caipira, não se incomodando nem com as plumas e lantejoulas das vedetes do
filme.
Chico Fumaça
(interpretado por Mazzaropi) era um pobre roceiro que vivia à beira da estrada
de ferro. Não sabia para onde os trens iam, mas gostava de vê-los passar,
soltando fumaça. Morria de amores pela professora (Celeneh Costa). Para
ajuda-lo a instruir-se, admitiu-o na escolinha, juntamente com a criançada.
Numa noite, uma
tempestade destruiu sua casinha, levando tudo água abaixo. Desorientado, foi
andando pela linha do trem e viu que a chuva havia destruído boa parte dos
trilhos. Quando Chico percebeu o barulho do trem aproximando-se começou a fazer
sinais desesperadamente, para evitar um acidente.
Com isso, sua sorte
mudou. Foi considerado herói, homenageado, recebeu vários prêmios,
condecorações. As pessoas começaram a orgulhar-se dele, inclusive, a
professorinha.
E, no folheto
informativo de publicidade do filme, destacava-se que qualquer semelhança seria
mera coincidência. Embora não se baseando em fatos reais, a história tinha
muito sentido, pois todos conheciam um Chico Fumaça. É bem verdade que nem
todos os Fumaças tinham uma professorinha como Celeneh Costa, para ensina-los a
viver com honestidade.
Devido ao título “CHICO
FUMAÇA”, surgiram alguns problemas. Provavelmente, por coincidência, Roberto
Garbi, também comediante de picadeiros circenses, registrou em seu nome
(apelido) o título do filme em 1961, em 24 de abril no DNPI (Departamento
Nacional de Propriedade Industrial) sob o número 355.218.
Segundo Garbi, seu
circo estava na cidade de Umuarama, Paraná, em 1956, quando ruiu a ponte da
estrada de ferro próxima ao local onde estava. Um crioulinho magro (Lázaro
Adorno), que presenciou o acidente correu quilômetros a pé para avisar o
maquinista do trem que passaria pelo local, salvando centenas de vidas. Esta
façanha fez de seu herói uma figura muito popular na cidade. E como a máquina
era uma dessas velhas locomotivas à lenha, maria fumaça, deram-lhe o apelido de
CHICO FUMAÇA. Garbi foi apresentado ao herói em Umuarama e desde o primeiro
moimento achou o apelido simpático e comunicativo. Resolveu adota-lo. Não o
registrou naquela época. Garbi, dizia que o registro tardio foi pura
coincidência, quando, ao mesmo tempo, Mazzaropi aparecia em 1961 nos cinemas
como Chico Fumaça também.
Coincidência ou não,
Mazzaropi não gostou da atitude de Garbi. E, logo mais, em Bauru, no interior
de São Paulo, quando Garbi fazia propaganda de seu Show pela cidade, foi
interditado pela polícia, uma vez que o Departamento de Diversões Públicas expedira
uma circular proibindo-o de se apresentar em público, sob a alegação de que ele
usava indevidamente o prestígio de Mazzaropi. Depois de vários esclarecimentos,
Mazzaropi permitiu que Roberto Garbi, continuasse seus Shows.
Lázaro Adorno (do
incidente em Umuarama) sentindo-se ridicularizado com a fita, ingressou em
juízo, pedindo uma indenização, nada conseguindo.
Seu estilo de trabalho
e produção de seus filmes sempre foram voltados à realidade do dia-a-dia do
interiorano brasileiro. Não era apelativo. Sobre o novo teatro, o palavrão e o
nu no cinema, falou Mazzaropi: “Não tenho nada contra. Pelo contrário, até
gosto de peças que têm nu, palavrão, mas quando eles vêm por necessidade, por
decorrência da própria história. Não do palavrão, ou do nu forçados. De um
punhado de gente pelada se esfregando maliciosamente pelas paredes do teatro;
do sensacionalismo para ganhar público. No início, elas vão conseguir encher os
teatros, mas e depois este público volta? Não, claro que não volta. Nem a
minoria que via ao teatro consegue aguentar ficar vendo gente pelada e ouvindo
palavrões o tempo inteiro.
Calculem a população de
São Paulo e façam uma relação do número de teatros que nós temos e vejam
quantos estão cheios. Vejam quantos lugares têm esses teatros – e verão que a
frequência é mínima. O grande público fica em casa, aceita Chacrinha, Hebe
Camargo, Sílvio Santos, vê televisão. Vai ao cinema ver os meus filmes e depois
eu passeio pelas ruas e ouço um pai de família: Mazzaropi, seus filmes são
ótimos. A gente pode levar a família para assistir-lhe. Já imaginaram se eu
aparecesse pelado para esse público? Ele nunca mais iria me assistir no
cinema”. E concluiu: “Um sujeito perguntou por que é que eu não ponho mulher
pelada nas minhas fitas. Ora, se só mulher pelada desse bilheteria, como é que
o Maracanã daria 300 milhões numa tarde, mostrando onze crioulos atrás de uma
bola?”.
Hoje, Osvaldo Massaini,
bem sucedido cineasta fala sobre Mazzaropi: “...foi um homem que conseguiu
angariar a simpatia do homem brasileiro, porque ele encarnava a configuração do
próprio povo brasileiro”. Finalizando disse que “Mazzaropi era sensacional, com
muita consciência do seu trabalho, extremamente vaidoso, porém extremamente
sincero”.
Muitos críticos
afirmavam que Mazzaropi era uma mistura de Anselmo Duarte com Alvarenga e
Ranchinho. Também havia quem o admirava e via nele uma espécie de Bernard Shaw
caipira. Outros, o apontavam como um embuste, explorador da ingenuidade
popular.
Com isto Mazzaropi
achava que no fundo os críticos tinham razão, e esperava contenta-los um dia.
Mas ficava muito feliz quando apanhava os críticos em erro. “Eles têm mania de
me corrigir. Tudo que faço está errado. Até meu nome. Aí eles corrigem para
Amâncio. Pois estão mais errados ainda. O certo seria Amázio, um nome italiano
que meu pai queria. Depois, se meu nome é Amácio, o que eles tem com isso? Não
posso me chamar de Amácio?”.
Na verdade, a crítica
nunca influenciou no seu trabalho. Ele mesmo descobria se haviam falhas em suas
fitas. Tinha o hábito de verificar pessoalmente a exibição de seus filmes no
cinema e ver a reação do seu público.
O poeta J.G. de Araújo
Jorge falou com muita propriedade para a Revista Manchete – julho de 70,
enaltecendo que Mazzaropi “não era propriamente aquele Jeca lobatiano, resíduo
de nossa miséria, mas o Jeca brasileiro, astuto, inteligente, misturando
ignorância, era “uma mistura de três grandes cômicos Buster Keaton, Chaplin e
Cantinflas, e isso não o impediu de criar um humorismo nosso, sertanejo,
tragicômico, rico pelas situações e por sua imaginação”.
Prestou depoimento
também, Cid Moreira:
“Conheci Mazzaropi no
início de minha carreira na cidade de Taubaté. Nesta ocasião, ele levou um
amigo para trabalhar na Rádio Tupi. Posteriormente, quando fui trabalhar na
Rádio Bandeirantes, pude encontra-lo novamente.
Mazzaropi foi uma
figura marcante no cinema nacional, pela característica toda própria por ele
criada.
Acredito que com a
perda deste comediante, ficou uma grande lacuna no Cinema Brasileiro. Cid
Moreira – Apresentador de TV, Rio de Janeiro, 28 de Maio de 1986”.
Oliveira, Luiz Carlos
Schroder. Mazzaropi: A Saudade de Um Povo.
Londrina, CEDM Editora, 1986.
Nenhum comentário:
Postar um comentário