Em São Paulo, em
10/04/1958, na semana que havia lançado “O Chofer de Praça”, Mazzaropi sofreu
um acidente automobilístico, que provocou lesões, atingindo sua coluna. Essa
lesão agravou-se à partir de 1976, quando começou a sentir fortes dores.
Após vários exames, foi
diagnosticado em 1976, que, devido ao acidente ocorrido anteriormente,
exteriorizava já sintomas de mieloma múltiplo. Para amenizar essas dores,
injeria medicamentos americanos.
Mesmo acometido pela
enfermidade, Mazzaropi ainda produziu seus últimos quatro filmes e participou
de dezenas de shows pelo País.
No dia 19 de maio de
1981, foi hospitalizado no Albert Einstein, vindo a falecer, com câncer na
medula óssea, no dia 13 de junho do mesmo ano em São Paulo, aos 69 anos de
idade.
Mazzaropi foi enterrado na cidade de Pindamonhangaba, no interior paulista, ao lado do pai, onde quase 5 mil pessoas o esperavam para receber seu féretro.
No dia do enterro, a
cidadezinha estava com uma tristeza incontida pela perda do amigo que vivia
pela cidade, recrutando figuras características para atuar em seus filmes.
Seus critérios pessoais
na escolha dos elencos, a forma de conduzir seus negócios na PAM Filmes é que
dificultaram a continuidade das suas atividades pelos seus seguidores.
Estiveram no Hospital,
Hebe Camargo, David Cardoso, Geny Prado (atriz que sempre fez o papel de esposa
do Jeca em quase todos os seus filmes), entre outros amigos do comediante. No
dia do enterro estiveram, José Geraldo Alckmin Filho, Laudo Natel, Ronnie Von,
Ítalo Fittipaldi, Augusto César Ribeiro, Alice Marcondes Miranda, Gilda
Valença, Osvaldo Massaini e Primo Carbonari (produtores de cinema), a atriz
Elizabeth Hartmann, o ator Sérgio Hingst, o maestro Hector Lagna Fietta, Nena
Viana, Wilson Grey, Argeu Ferrari, Carlos Garecia, Izabel Sacramento, Péricles
Moreira (filho adotivo de Mazzaropi), empregados da PAM Filmes e outros amigos
do comediante.
No enterro houve um
momento de emoção muito forte, foi quando Izabel Sacramento e outras pessoas prestaram
uma pequena homenagem ao comediante, cantando a música “Tristeza do Jeca” de
Elpídio dos Santos (autor da maioria das letras musicais dos filmes), uma das
músicas preferidas por Mazzaropi.
Um grande amigo, Ronnie
Von, expõe sobre o comediante: “No País da falta de memória, mesmo que tentasse
apenas conseguiria ‘chover no molhado’, porque todo resgate de quem realmente é
grande, só é feito após sua morte. Não importa, de qualquer forma eu seria
suspeito, como geralmente são os amigos que dizem dos seus pares. Aliás, o
mundo se divide entre pares e ímpares, e o Mazza, sem dúvida, foi o grande par
da cultura popular, do encontro da nossa gente com a sua própria realidade.
Embora sem deixar clara a mensagem social, ele sempre existiu em seus filmes, e,
da forma mais óbvia: o cotidiano da grande massa brasileira, em todos os
níveis, principalmente a urbana, porque esta em sua maioria é produto do êxodo
rural, cuja ótica (rural) era apresentada de forma que aquele cotidiano fosse
sendo sublimado. Muito já se disse do grande cineasta, do grande ator,
produtor, etc., das injustiças sofridas, principalmente da incompreensão por
parte da imprensa que, na época, tinha apenas a visão simplista do cinema
elitista ou do mercantilista. Infelizmente, hoje é tarde para redenções. Minha
amizade com Mazza foi densa e cronologicamente curta. Nos conhecemos numa
situação bastante inusitada, quando ele foi me visitar, pois sabia que eu
estava seriamente doente, e, possivelmente com pouco tempo de vida. Tendo
conhecimento apenas da rua em que eu morava, começou uma caminhada desde o
início dela, que era longa, e, de porta em porta, de casa em casa, foi batendo
e perguntando por mim, até descobrir, acredito que bastante cansado de
caminhar, que a minha casa era a penúltima da rua. Daí em frente, visitas mais
frequentes, pude descobrir o ser humano único escondido na dualidade
homem-artista. Com ele aprendi o que os cursos de Ciências Humanas talvez
tivessem bastante dificuldade em me ensinar. Uma mescla de ingenuidade com “savoir-faire”,
de ceticismo com superstição, de lógica com fé inexplicável. Nada na vida
acontece por acaso, por isso não lamento o fato de nossos caminhos demorassem a
se cruzar, mesmo com íntimos amigos comuns (Hebe Camargo é o grande exemplo),
mas mesmo assim, acho que se tivéssemos tido um pouco mais de tempo, talvez
toda minha negligência profissional ficasse bastante comprometida, uma vez que
a alegria e a vontade de crescer profissionalmente foram reencontradas a partir
das induções e lições de vida que meu amigo ia passando, sempre fundamentadas
no propósito de sentir-se vivo e cada dia melhor. Resta-me apenas o chavão
maior: irreparável perda. Que bom ter sido amigo de alguém tão rico e poderoso
interiormente; um grande privilégio. Ronnie Von 28/01/1986, Rio de Janeiro”.
Alice Marcondes
Miranda, filha de escravos, que trabalhou na casa de Mazzaropi e o conhecia
desde os 8 anos de idade, preferia lembrar-se dele, dos tempos de traquinagens,
do garoto levado, do adolescente que montava cirquinhos no fundo do quintal.
Ela trabalhou com ele em oito filmes, fazendo papéis simples de cozinheira,
lavadeira, muito semelhantes à vida real.
Em 1981, o Prefeito de
São Paulo, Reinaldo de Barros, homenageou o comediante e cineasta Mazzaropi,
dando seu nome à Avenida “B”, conhecida por João Saad.
A atriz Geny Prado, que
desde 1951 acompanhava Mazzaropi, como esposa do personagem “Jeca” em seus
filmes, falou ao Jornal do Brasil em 14/06/1981: “Convivi com ele durante todo
esse tempo. Éramos como uma família improvisada, porque ele era engraçado mesmo
na espontaneidade, de um artista nato”.
Um dos amigos de
Mazzaropi, e atuante em vários filmes, Augusto Cezar Ribeiro, com emoção, falou
que o comediante “Era um homem de aguçada inteligência e incrível capacidade
para o trabalho e organização, amava criancinhas a velhice e o circo. Fez de
sua vida uma historinha de amor, alegria e sobretudo, muita felicidade, no
teatro, no cinema ou no circo. Seus filmes sempre continham uma mensagem de paz
e de esperança. Mazzaropi foi um gênio insubstituível do cinema nacional”.
Apesar de todo sucesso
e um patrimônio incalculável, Mazzaropi tinha uma vida bem rotineira e poucos
amigos para os quais dedicaca especial carinho. Entre eles estavam Inajá Viana
(Nena), Gilda Valença, Elis Regina, Ronnie Von, David Cardoso, Francisco di
Franco, Edgard Franco, Chico Anysio, Hebe Camargo, Beto Carrero, John Herbert,
Geny Prado, Roberto Pirilo, Osmar Santos, Orlando Orfei, Rolando Boldrin e
também João Francisco Ferreira e Domingos Mazzaropi, seus tios.
A Secretaria da Cultura
do Estado de São Paulo, no final de 1983, organizou uma coletânea de filme e
debates sobre Mazzaropi, com início em 11 de dezembro, denominada “Mazzaropi em
Casa”, na Rua Visconde de Parnaíba, 2.437. O trabalho contou com a organização
do cineasta Pedro Della Paschoa Júnior, que exibiu cartazes e fotografias
referentes aos 32 filmes do comediante. Para Della Paschoa “o que menos
interessa é a trama. Ele funciona como a figura de judas em sábado de aleluia:
tem que existir”. E continua afirmando o que importava nos cinemas de Mazzaropi
era o jeito de mostrar a ferida sempre aberta da sociedade, onde o homem comum,
sem poder, rir, ria.
“Amácio Mazzaropi foi o
meu pai cinematográfico, na minha opinião o verdadeiro Rei do Cinema
Brasileiro. Com ele aprendi muito. Consolidou minha honestidade profissional e
estímulo pelo trabalho. Foi o ator mais natural que conheci em toda a minha
vida. Foi também o mais injustiçado por todos, principalmente pela imprensa e
autoridade. Após sua morte, na semana seguinte sua foto saiu estampada na capa
da Manchete, tamanho 3x4 e uma manequim, hoje famosa, ocupava a página toda.
Com ele na presidência da EMBRAFILME, hoje seríamos o maior produtor mundial de
filmes. Deve estar fazendo os santos rirem muito. David Cardoso, São Paulo,
08/11/1985”.
A cidade Taubaté-SP não
esqueceu o artista paulistano. Homenageou-o dando seu nome a uma Escola no
Município, em dezembro de 1981, e, naquela época tramitava na Câmara Municipal
um projeto de lei que alterava o nome da Estrada dos Remédios para Amácio
Mazzaropi, que liga a cidade ao sítio-estúdio, além do título de cidadão Benemérito
daquele Município.
O prefeito Mário Covas
de São Paulo homenageou o consagrado comediante no dia 25 de outubro de 1985,
dando seu nome à Escola Municipal de Educação Infantil, localizada na Rua 34-B,
Quadra 36-B, Conjunto Habitacional Juscelino, em Guianazes, naquele município.
As ilustrações dos
primeiros filmes foram feitos pelo artista e ilustrador Jayme Cortez que,
somando essa coletânea de desenhos e cartazes, exibi em seu livro “Manual
Prático do Ilustrador”, lançado pela R. Chiesi Livros, de São Paulo, em 1972.
Nas reproduções dos
cartazes, Jayme Cortez externava o clima necessário, com simplicidade, dirigido
ao público do famoso comediante. No livro, apresentava o esboço e depois a
solução definitiva do cartaz, impresso com todos os elementos que eram
previstos antes, ou mudados no decorrer do surgimento da ideia, até a execução
final. Jayme ilustrou: Chofer de Praça, Jeca Tatu, As Aventuras de Pedro
Malazartes, Zé do Periquito, Casinha Pequenina, O Vendedor de Linguiça, O
Lamparina, O Puritano da Rua Augusta, Meu Japão Brasileiro.
O maestro Hector Lagna
Fieta fez as trilhas sonoras e arranjos musicais de todos os 24 filmes
produzidos por Mazzaropi. Elpídio dos Santos fazia as letras das músicas.
O admirável artista conhecia a fundo a psicologia do nosso matuto, grande nos sentimentos, feliz na simplicidade da vida, forte e autêntico no seu trabalho e na expressão dos pensamentos. Interpretava o que ia na alma, o que balançava o coração, seja de mágoa ou de alegria, da mentira inocente ou da verdade matemática.
A apresentadora e atriz
Hebe Camargo, em 14/06/1981, falando ao Jornal do Brasil, informou que sempre
acompanhou Mazzaropi desde a década de 1940, nos tempos do Rádio, quando ela
cantava e ele completava a apresentação fazendo humor. E quando da morte do
comediante adiantou: “Esta é uma perda terrível, numa época em que o mundo está
tão necessitado de humor. E a alegria dele era autêntica, ingênua, não apelava.
Era como um repentista, não precisava de texto para fazer rir. Com a morte dele,
o cinema brasileiro vai encerrar uma fase importante. Ele deixa uma indústria
cinematográfica perfeita, com uma equipe de técnicos de alta qualidade”.
Também David Cardoso
reconheceu uma fase importante do cinema nacional, mas não comparou Mazzaropi a
nenhum outro comediante porque “ele era único e aí está sua grandiosidade”.
Tendo trabalhado com o comediante em 1963 e 1964, informou que foi o suficiente
para estruturar sua formação cinematográfica. E concluiu: “Foram anos decisivos
para mim. Com ele aprendi tudo para continuar a minha carreira”.
No enterro também
compareceu Laudo Natel, ex-governador de São Paulo, para render homenagem ao
amigo que conheceu na época em que governava aquele Estado; onde participou do
lançamento de um dos filmes de Mazzaropi. Para Natel, ele era um artista que
agradava a todos e, “mais do que ter criado um estilo cinematográfico na figura
do Jeca, ele era uma figura humana, sempre pronto a dar chance para os mais
novos”.
Mazzaropi está ausente
do convívio com seu público, sem dúvida um dos maiores nomes do cinema
nacional. Deixou de promover seus inesquecíveis espetáculos.
Mas, sua arte e sua glória, seu talento e fidelidade profissional continuaram marcados nas suas produções e carinhosamente tocaram os corações dos brasileiros.
Ficou a lembrança gostosa e marota do jeito engraçado com que MAZZAROPI: O NOTÁVEL CÔMICO BRASILEIRO, aparecia na tela.
Havia sempre no ator
uma preocupação inteligente de preservar a simpatia com seu público, de
defender a situação humana sem perder o resultado cômico. É nessa postura
simples e simpática que ele via permanecer na memória de nossa gente. Como
alguém que deu a volta por cima de nossas infelizes estruturas sociais,
utilizando a arma pacífica de sua divertida matreirice.
“Amo o Brasil e tenho
paixão por suas paisagens. Sinto-me jeca. E cada um de nós tem um pouco da
ingenuidade e da pureza do jeca dentro de si”.
MAZZAROPI
Publicado originalmente em OLIVEIRA, Luiz Carlos Schroder. Mazzaropi- A Saudade de Um Povo. Londrina: CEDM Editora, 1985.
Um comentário:
No interior as pessoas adoram Mazzaropi.
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