Circo, rádio, televisão e
cinema: tudo isso ele fez com brilho e mereceu os elogios da crítica. De norte
a sul, o Brasil inteiro vibrou com o seu Jeca.
O JECA TORNOU NOSSO
MAZZAROPI IMORTAL
Quem o conheceu não vai
esquece-lo jamais: era a imagem viva do nosso caipira. Mas mesmo as novas
gerações aprenderão a amá-lo vendo os filmes que deixou.
Reportagem de Ézio
Ribeiro
O segundo domingo do mês
de junho, deste ano, dia 14, foi uma data triste para o Brasil inteiro: o corpo
do comediante Amácio Mazzaropi estava sendo velado no Hospital Albert Einstein,
em SP. Mazzaropi, como todos o conheciam, faleceu vítima de câncer na medula,
aos 69 anos de idade.
Mas, como havia feito
durante toda a sua vida, até a morte do comediante trouxe em seu bojo alegria
misturada à tristeza: seus fãs, emocionados, puderam ver que só morreu a
criatura e não o criador. Sua criação, a figura do Jeca, mais que nunca se
tornou viva e, ele, imortal.
Como e quando o Jeca
nasceu
Nascido em São Paulo, em
1912, Mazzaropi cresceu sem problemas. Estudou um pouco, mas a preguiça o
impediu que terminasse o ginásio. E aos 15 anos, de tanto assistir peças
caipiras no teatro – ele tinha fascínio pela dupla de atores Genésio e
Sebastião de Arruda -, acabou indo parar nos bastidores. Então, sem que ele mesmo
tenha sabido explicar o como e o porquê, acabou trabalhando no teatro, como
pintor de cenários.
Isso foi só o comecinho:
logo logo Mazzaropi trocava o pincel por roupas à moda caipira e ia para o
interior, onde representava monólogos cômico-dramáticos. O sucesso foi imediato:
ele fazia o público rir na mesma medida em que o fazia chorar. Mas o que
ganhava – 25 mil réis por apresentação – mal dava para pagar as despesas de comida
e estadia...
Mas a sorte estava do seu
lado. Tão logo formou sua companhia, começou a ficar conhecido e a ganhar mais:
não havia circo que não quisesse ter um show com Mazzaropi. E, daí para o rádio
(a Tupi, SP, em 1946) e para a TV (o canal 6, no Rio, em 1950) foi um pulo.
O cinema veio em seguida,
em 1952, como conclusão lógica do seu excelente trabalho. Abílio Pereira de
Almeida, autor de peças para o Teatro Brasileiro de Comédia, ficou deslumbrado
quando o viu num programa de televisão. Chamou-o para um teste e uma semana
depois dirigia Mazzaropi em “Sai da Frente”, seu filme de estreia.
Foi com este filme que o Jeca
nasceu: ele criou um tipo caipira, caboclão de roupas sujas e curtas, fala
mansa e andar desajeitado, que passou a ser sua marca registrada pela vida
afora.
O Carlitos brasileiro
Em 18 de carreira
Mazzaropi fez 31 filmes e chegou a uma situação privilegiada dentro do cinema
brasileiro.
Os cinemas,
principalmente no interior, lotaram sempre que seu nome era anunciado.
O público sabia que, além
do Jeca, ele era capaz de interpretar com perfeição tipos humanos com os quais
a gente convive todos os dias: são magistrais suas interpretações de um patrão,
de um motorista ou até mesmo de um milionário.
Querido pelo povo, a
frase de um espectador ouvida quando da pré-estreia de “Uma Pistola Para Djeca”
(este filme é de 1970 e marcou o Jubileu de Prata – 25 anos – de Mazzaropi como
ator) dá bem a ideia de seu talento “-Ele é o Carlitos brasileiro!”. Talento
que jamais será esquecido por quem o viu nos cinemas. E que continuará a ser
prestigiado sempre que seus filmes voltarem às salas de exibição.
COMO FICA O CINEMA DE
MAZZAROPI
Os fãs de Mazzaropi sabem
que, já doente, ele escreveu outro roteiro e chegou a mandar construir os
cenários de Maria Tomba Homem, o filme que tencionava fazer. A partir de sua
perda, todos perguntam: qual o destino de sua obra? Com quem ficou a PAM Filmes,
a empresa com a qual o comediante se tornou independente?
SERTÃO tem boas notícias
sobre o assunto: a PAM hoje pertence a Péricles Moreira e a João Batista de Souza,
filhos adotivos do comediante. E Péricles já decidiu continuar o trabalho do
pai: “Nós vamos filmar. Para viver o personagem estamos buscando uma dupla
caipira. Porque não queremos substituir Mazzaropi: ele foi e será único! Mas
vamos dar continuidade ao que ele começou: temos uma produtora nas mãos, com
tudo funcionando perfeitamente: estúdios, máquinas, filmes virgens e um legado
de 24 produções de Mazzaropi que rendem o suficiente para mantermos tudo
aberto, funcionando normalmente. A PAM não vai deixar de existir: ela tem que
preservar a história e tudo que ele conseguiu conquistar em 34 anos que dedicou
ao cinema”.
Além dos filhos adotivos,
os antigos funcionários de Mazzaropi também tem uma pequena parcela na produtora
e distribuidora: ele deixou em testamento para eles. O restante de sua fortuna –
ele morreu rico – ficou para sua mãe, D. Clara Ferreira Mazzaropi, hoje com 90
anos de idade. Numa coisa todos concordam: “Mazzaropi se foi e deixou uma
grande herança, que são seus filmes. Nós vamos procurar manter sua imagem viva
enquanto for possível”.
Publicado originalmente
na revista “Som do Sertão”, edição especial de Contigo, número 348-A, editora Abril.
Um comentário:
Faltou dar o credito para o Repórter, Ezio Ribeiro.
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