segunda-feira, 11 de novembro de 2019

VSP Entrevista: Rafael Spaca, diretor do "Trapalhadas Sem Fim"

 
Renato Aragão e Rafael Spaca, diretor do "Trapalhadas Sem Fim". Acervo pessoal
Dedé, Didi, Mussum e Zacarias. O quarteto de humoristas do grupo Trapalhões são verdadeiros ícones do cinema e da televisão brasileira. Donos de um sucesso absoluto em mais de 25 longas-metragens juntos ao longo de várias décadas. Nunca existiu um grupo de humor com tanto êxito comercial e artístico no Brasil como eles. Pensando nisso, o radialista, escritor, produtor cultural e cineasta paulista Rafael Spaca realizou o documentário de longa-metragem Trapalhadas Sem Fim. O trabalho promete contar em detalhes toda a trajetória profissional do quarteto. Spaca afirma que está em negociação com emissoras de televisão e com o Netflix. Ainda não sabe se o filme será dividido em uma minissérie ou onde será exibido. O documentário não recebeu depoimentos dos dois integrantes vivos da trupe: Dedé Santana e Renato Aragão. Mesmo assim, o doc contou com depoimentos de famosos como Angélica, Ary Toledo, Caetano Veloso, Regina Duarte, Sérgio Mallandro e Tony Ramos,   



Mas garante ter um material único sobre Os Trapalhões. “É, até agora, o documentário mais amplo a respeito do quarteto. Duvido que o próprio Renato Aragão faça um tão abrangente, tão plural, como esse”, afirmou ele em exclusividade ao VSP.



Violão, Sardinha e Pão- Como e quando você começou a acompanhar os Trapalhões?


Rafael Spaca- Desde criança. Sempre fui fã do quarteto. Costumo dizer que eles foram os heróis da minha infância.


VSP- E como começou a pesquisar? A ideia inicial era somente o livro?



Sentia muita falta de uma bibliografia de referência a respeito deles. Tinham poucos livros. Incomodado com isso, resolvi agir e passei a pesquisá-los. Eles se tornaram meu objeto de estudo e ainda pretendo desenvolver um mestrado a respeito deles. A ideia inicial era a pesquisa científica/acadêmica.  Antes veio o convite de editoras para publicar a pesquisa. Saiu o Cinema dos Trapalhões, por quem fez e por quem viu (Editora Laços, 2016) e em seguida As HQs dos Trapalhões (Editora Estronho, 2017).


VSP- Em uma das suas últimas entrevistas você afirmou que ninguém lê livro no Brasil. Isso é um tanto traumático para quem escreve livros como eu e você. Como você percebeu isso? Esperava mais sucesso do livro?


Os livros fizeram sucesso. Foram elogiados, noticiados e tiveram excelente vendagem (um deles esgotou). Porém, é uma triste realidade. Somos um país iletrado e que cultua a ignorância. Não dá para maioria viver disso no país.

Renato Aragão tornou-se um dos grandes empreendedores do humor brasileiro. Foto: Acervo pessoal


VSP- Para o livro o primeiro contato com o Renato Aragão foi tranquilo? Por que essa relação mudou?


Demorei quatro anos para conseguir entrevistá-lo. Minha sorte é que uma pessoa próxima a ele driblou a Lilian Aragão e eu consegui a entrevista. Ele me recebeu muito bem, comi a melhor torta de frango da minha vida, ele me elogiou e elogiou minha entrevista. Anos depois, quando Renato Aragão lançou sua biografia, tive a honra de ter dois depoimentos dentro do livro e meus dois livros são citados como fontes bibliográficas. O que mudou? Talvez ele mudou...


VSP- Dentro da filmografia dos Trapalhões quais títulos você mais destaca ou mais gosta?


Gosto de absolutamente tudo até 1988. Em todos esses filmes têm, pelo menos, algum aspecto/perspectiva que vale assistir.


VSP- Qual é o maior sucesso de público deles de cinema?



Os Trapalhões nas Minas do Rei Salomão, com quase 6 milhões de espectadores. Isso oficialmente, em uma época pouco confiável de aferição, havia muita falcatrua na contagem e, dizem, esse filme poderia ter rendido muito mais.


VSP- Como era a relação dos Trapalhões com a crítica? Isso parece ser um pouco traumático para o Renato Aragão. Você acha que a crítica era um tanto preconceituosa?


Ele sempre reclamou da crítica e personalizava essa crítica para o lado pessoal muitas vezes. Ele afirmava que a crítica não suportava a ver um migrante fazer sucesso e isso deixava a crítica enraivecida. Com a fala do Carlos Drummond de Andrade, de que assistia aos Trapalhões, o cenário melhorou para o grupo. Recebeu uma espécie de chancela de um dos maiores poetas do país. Aí a 
 intelligentsia veio atrás.


VSP- O Renato Aragão é um personagem nacionalmente conhecido e polêmico. Nas suas pesquisas você descobriu novos fatos sobre a trajetória dele? A ideia que ele explorava os demais é verdadeira?


Não é exploração. Era uma relação disfuncional de mais-valia. Vamos dizer que os outros três não eram tão reconhecidos como todos nós imaginávamos.

VSP- Você acredita que os quatro conseguiam render somente juntos?


Disso eu não tenho dúvida. O fato concreto é que durante a separação, em 1983, Renato Aragão lança O Trapalhão na Arca de Noé e Dedé, Mussum e Zacarias lançam Atrapalhando a Suate. O público se dividiu e a bilheteria dos dois filmes ficou aquém. Na televisão, reprises. Eles tentaram fazer algo separados, mas não funcionou.


VSP- Como surgiu a ideia do documentário?


A Sara Silveira, produtora do (cineasta) Carlos Reichenbach, deu a ideia. Falou justamente do alcance maior que a pesquisa teria. E, realmente, é impressionante a diferença. Nossa educação hoje é audiovisual, não é mais escrita. 


VSP- O documentário é muito diferente do livro?


Ele traz informações novas, mas entendo-o como complementar às minhas pesquisas anteriores. 


VSP- Existem histórias novas sobre o grupo no documentário que não estão em outros lugares?


Todos os mitos e folclores a respeito do grupo serão elucidados. É, até agora, o documentário mais amplo a respeito do quarteto. Duvido que o próprio Renato Aragão faça um tão abrangente, tão plural, como esse.


VSP- Por que o Renato Aragão se incomodou com o seu projeto? Você acredita que ele tem uma espécie de vaidade parecida com o Roberto Carlos que proibiu a biografia dele?


Essas histórias se assemelham em alguns aspectos, mas hoje há uma proteção maior ao biógrafo, à liberdade de imprensa. Aquele episódio, apesar de triste, ajudou a abrir caminhos para todos nós, pesquisadores, jornalistas e produtores de conteúdo. Nesse aspecto, Paulo César de Araújo é uma espécie de mártir. 


VSP- Você tem medo de que ele tente tirar o doc do mercado como o Roberto fez com o “Roberto Carlos em Detalhes” do Paulo César de Araújo?


Acho improvável que logre êxito. Pode até querer, pode até tentar, mas não creio que consiga.


VSP- Os Trapalhões têm fãs em todo Brasil. O que eles podem esperar do documentário?  


Surpresa!!!!

Segue o trailer:
 


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