segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Memórias do setorista da Boca V: Fauzi Mansur





Esse é um dos maiores injustiçados do cinema brasileiro. Porque era um bom cineasta e contava uma história com início, meio e fim. Era caprichoso tanto para comédias como para dramas. Fauzi Mansur sempre foi uma pessoa reservada. Não gostava de dar entrevistas ou aparecer. Tivemos juntos pouquíssimas vezes. Mas ele sempre esteve entre os melhores cineastas da rua do Triunfo. Acredito que ele esteja entre os três mais marcantes. Não tinha um estilo ou marca própria. Por isso, pode-se dizer que era um artesão, sabia fazer seu trabalho com dedicação e profissionalismo. Fauzi Mansur conhecia cinema como poucos. Tanto que também foi montador. Foi ele quem subiu o Cláudio Portioli para diretor de fotografia. Antes, Portioli atuava como eletricista e maquinista. O primeiro que viu que o bigodudo levava jeito e poderia ser um bom fotógrafo foi o diretor das iniciais FM. Cláudio Portioli tornou-se um dos melhores profissionais do cinema paulista e brasileiro. Ele sempre teve uma espécie de gratidão ao Fauzi. Cláudio Portioli nasceu em Presidente Prudente, importante cidade do interior de São Paulo. Pois bem: em Prudente não existe uma praça, uma rua, um cineclube, nada com o nome dele. Ninguém lá parece saber quem foi ele. Uma vergonha.

Mas voltemos ao Fauzi. Tem muitos nomes ditos como “sagrados” do Cinema Novo ou de outras épocas que aparecem toda a hora dando entrevista nos livros ou nos canais de televisão. E muitos desses não foram 1/3 do cineasta que o Fauzi foi. Talvez faltou ele aparecer mais, dizer quem ele era. Porque de cinema ele sabia tudo. Mansur conseguia algo raro no cinema da Boca: a maioria das suas produções eram bem recomendadas pela crítica especializada. Sempre gostei de “A Noite do Desejo”, “Cio” (filmaço), “Sedução” (eficiente direção de um filme de época), “O Mulherengo” (comédia com uma excelente trilha sonora), “O Inseto do Amor” (engraçadíssimo), “Fica Comigo Esta Noite” (me nego a utilizar o outro nome). Mesmo no explícito sempre tentou contar uma história. Ele também foi produtor pela produtora Alfa Filmes e na fase do explícito assinou como Victor Triunfo e  Rusnam Izuaf (seu nome ao contrário). Lembro que na vez em que estive com ele comentei que ele fazia o taxista numa ponta em "A Noite do Desejo". Ele falou que sim e deu risada. Eu falei: "Poxa, no 'Taxi Driver' o Scorsese também faz uma ponta como taxista. Vai ver ele copiou você". O Fauzi morreu de dar risada. Será que Martin Scorsese viu "A Noite do Desejo"? Não sabemos. Pode-se dizer que Fauzi Mansur foi uma espécie de Ademir da Guia do cinema. Sabia tudo. Talvez faltou gritar ao mundo quem ele era.

2 comentários:

fotografo em são paulo disse...

Trabalhei como assistente de Direção em varios filmes, depois de terminar o dia de filmagem ficavamos bebendo ate trade no bar do estaão na av São luiz. Isso e muito mais sobre esse diretor.

bernardo amorim disse...

Como era ser assistente de direção do fauzi mansur ? pode dar maiores detalhes ?