sábado, 24 de outubro de 2020

Rajá de Aragão (1938-2020)

Rajá e Fabrício Cavalcanti. Acervo pessoal de Fabrício Cavalcanti

O cineasta e roteirista gaúcho Rajá de Aragão (1938-2020) trabalhou em dezenas de películas realizadas em São Paulo nas décadas de 1970 e 1980. Radicado em São Paulo, ele foi um nome bastante ativo durante o período de maior sucesso da Boca paulista, sendo um importante colaborador do diretor e produtor Tony Vieira em diversos trabalhos. Rajá trabalhou em diversos gêneros tendo roteirizado três filmes do comediante e produtor Amácio Mazzaropi: "O Grande Xerife" (1972), "Jeca e Seu Filho Preto" (1978) e "A Banda das Velhas Virgens" (1979). Sua ligação com o cineasta Pio Zamuner foi tanta que ele foi chamado para roteirizar "Paixão de Sertanejo", tentativa do realizador de trabalhar fora da PAM Filmes. O longa-metragem não teve o sucesso comercial desejado mas a amizade entre os dois continuou. Rajá era intelectualizado, dizia que sua maior influência era o roteirista norte-americano Dalton Trumbo. O roteirista gaúcho chegou a ser ator em vários filmes e dirigiu três longas-metragens mas sua fama na rua do Triunfo era para ser colaborador em roteiros. Rajá já estava afastado do meio artístico morando num asilo para idosos em Brasília (DF), onde morreu ontem (dia 23/11). Nossos sentimentos a família: filhos, netos e amigos. Vai deixar saudade e seu nome está gravado na história do cinema brasileiro. Merecia maior reconhecimento mas os tempos são bastante sombrios. Descanse em paz Rajá!

Depoimento do diretor de fotografia Virgílio Roveda, o Gaúcho para o livro "O Coringa do Cinema" falando de Rajá de Aragão:

"O Rajá fez muitos roteiros pro Tony, era o braço-direito dele na parte de roteiro. Ajudava muito no acabamento, letreiro de apresentação. Era competente no que se propunha a fazer. Ele tinha uma certa noção de cinema, né? Foi ex-presidiário, foi uma babaquice de ser bookmaker aqueles caras de corrida de cavalo que são perseguidos. Ele era ligado a jockey, bookmaker, aquela coisa de corrida de cavalo. Então, existia uma perseguição da polícia, eu sei que de vez em quando algum parava em cana. E ele foi um que parou em cana. Mas uma puta experiência, uma vivência no submundo, essa coisa toda. Ele tinha vivência e passava muito. É importante quem escreva um roteiro se propunha a escrever sobre assuntos em que ele entenda e conheça. Que ele tenha uma noção, intimidade com o material. Ele viveu, o cara que vai fazer. Tony Vieira viveu no mundo noturno de São Paulo, na noite. Então, retratar isso a linguagem, comportamento até a gesticulação ele vivia isso. Isso se chama tarimba. Fica ruim o cara estar navegando num mar que não tem intimidade. (...) Acho que um dos problemas do cinema nacional não ter deslanchado até hoje é isso. O camarada muitas vezes prepara um argumento ou roteiro sobre algum assunto que ele desconheça. Aí tudo acaba dando em água de batata. Acho que os profissionais que deram mais certo foram aqueles que procuraram falar do universo que conheciam. Quando conseguiram ter alguma relação direta com o assunto".




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