terça-feira, 24 de novembro de 2020

VSP nas Eleições 2020: análise e reflexões dos resultados do Primeiro Turno para a cidade de São Paulo

 

"Conversão de São Paulo" de Caravaggio 1600/1601

Ele foi o bandeirante do Novo Testamento. É o autor de treze dos 27 livros do Novo Testamento. Ficou famoso por suas viagens e inúmeras aventuras. Trata-se do apóstolo Paulo. Ele nos alertou sobre a necessidade de não desprezar a juventude: Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-se padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza” (1 Tm 4:12). Paulo não sabia. Mas o segundo turno para a prefeitura da cidade de São Paulo reúne o embate de dois jovens candidatos. Mas de formações, espectros e perfis completamente diferentes.

De um lado, um concorrente com certa experiência no Legislativo e Executivo: Bruno Covas do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). Candidato de centro ou centro-direita, ele reúne um sobrenome conhecido do eleitorado e uma ampla coligação que reúne onze partidos políticos (PSDB-MDB-DEM-PODE-PP-PSC-PL-Cidadania-PTC-PV-PROS). Covas é formado em direito pela USP (Universidade de São Paulo) e economia pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). É filiado ao seu partido desde o berço sendo neto do ex-governador Mário Covas (1930-2001). Bruno iniciou sua vida pública como deputado estadual. Foi líder do governo Geraldo Alckmin na Assembleia Legislativa e depois Secretário Estadual do Meio-Ambiente. Teve uma rápida passagem por Brasília como deputado federal e herdou a prefeitura de Doria que foi para o governo do estado. Aos 40 anos, Bruno Covas teve uma votação expressiva, sendo o mais votado em todas as regiões da cidade: da periferia aos bairros nobres. Teve uma doença seríssima da qual parece ter se recuperado. Nos debates e entrevistas demonstrou-se recatado, evitando ataques pessoais aos adversários e focado nas questões da cidade. Suas propagandas foram levadas com o lema “Força, Foco e Fé”.

A vaga de vice de Covas desde o primeiro momento esteve destinada ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro). É a primeira vez que PSDB e MDB se aliam desde a fundação da primeira legenda em 1988. Até porque o PMDB antes era controlado no estado pelo ex-governador Orestes Quércia (1938-2010), que sempre teve rusgas com os tucanos. Mas a ideia original da vaga de vice de Covas era para o apresentador José Luiz Datena da TV Bandeirantes. Conhecidíssimo, ele tem um inegável apelo com as classes mais baixas. Essa era a chapa dos sonhos do PSDB e do próprio Baleia Rossi, presidente nacional do MDB. Mas na última hora o controverso comunicador preferiu ficar na televisão. Parece que foi o próprio Bruno Covas quem escolheu o vereador Ricardo Nunes. Este mantém um amplo eleitorado na Capela do Socorro e Grajaú, bairros da zona sul da Capital. Eleito vereador pela primeira vez em 2012 com 30.747 votos, Ricardo Nunes ampliou seus votos na eleição seguinte: 54.692. Foi o mais votado do seu partido na Câmara Municipal nas duas ocasiões. Aos 53 anos, o empresário e candidato a vice de Covas é bastante religioso e mantém um relacionamento próximo com a Igreja Católica, principalmente com bispos e padres da Diocese de Santo Amaro, zona sul da cidade. É um empresário com sucesso no empreendedorismo e tido como conservador. Surgiram certos devaneios sobre seu nome mas nada que tenha impactado a candidatura de Covas (pelo menos até agora).

O prefeito evitou proximidade com o governador Doria e também com tucanos históricos como Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. Mas Covas ressaltou o apoio da ex-prefeita Marta Suplicy, histórico nome do PT e atualmente sem partido. O prefeito sempre posicionou sua contrariedade ao presidente Jair Messias Bolsonaro. Diferentemente de Doria, Covas manteve-se longe do segundo turno presidencial de 2018. Tem outro estilo político. Covas é mais contido, longe dos arroubos do governador paulista. Nisso parece um tanto o também tucano Geraldo Alckmin que sempre foi um governante fleumático. Covas fez acenos expressivos para a centro-esquerda. A secretaria de cultura do tucano ficou com o agitador cultural Ale Youssef, nome notoriamente ligado aos Acadêmicos da Baixo Augusta e a esquerda. Youssef é apoiador do prefeito de primeira hora.

De qualquer maneira, sua coligação conseguiu 23 cadeiras na Câmara de Vereadores. Trata-se de um número bastante expressivo. O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) conseguiu oito vagas. A psicóloga Rute Costa (41.546 votos) foi a mais votada conseguindo a reeleição. Bastante ligado a Covas, o advogado Eduardo Tuma (40.270 votos) possui amplo eleitorado no meio evangélico sendo membro da igreja Bola de Neve e sobrinho neto do ex-senador Romeu Tuma (1931-2010). O experiente vereador João Jorge (34.323 votos) foi outro reeleito. O médico e pastor Carlos Bezerra Júnior (34.144 votos) substitui a esposa Patrícia Bezerra que foi para a Assembleia Legislativa. Ligado a causa animal, o empresário Tripoli (30.495 votos) conseguiu uma cadeira. Já o advogado Aurélio Nomura (25.316 votos), nome reconhecido na comunidade japonesa teve mais uma reeleição. Conhecido na região de Pirituba, Jaraguá, e Taipas, o advogado Fábio Riva (24.739 votos) conseguiu mais um mandato. A mobilizadora social Sandra Santana (19.591 votos) é uma novidade do PSDB, conseguindo sua primeira eleição.

Os tucanos ampliaram o número de prefeituras no estado de São Paulo. No Primeiro Turno, o PSDB elegeu 176 prefeitos, um número bastante expressivo. O partido se elegeu em importantes colégios eleitorais do estado como Barueri (com o advogado Rubens Furlan), Jundiaí (com o advogado Luiz Fernando Machado), Santos (com Rogério Santos), São Bernardo do Campo (reeleição de Orlando Morando) e São José dos Campos (com a reeleição do administrador Felício Ramuth). Além da Capital, o partido irá disputar o segundo turno em Piracicaba, Ribeirão Preto e São Vicente. Este último numa surpreendente eleição da jornalista Solange Freitas venceu o primeiro turno com 41,47%. Conhecida por ser repórter da TV Tribuna, Freitas concorreu pela primeira vez a um cargo público e chegou a sofrer um atentado. Ela irá disputar o Segundo Turno contra Kayo Caiado do Podemos. Já o candidato apoiado por Márcio França, o atual mandatário, Pedro Gouvêa do MDB, ficou numa amarga terceira colocação. Gouvêa é cunhado de Márcio França.

Já o Democratas saiu das eleições com seis vereadores. O mais votado merece um parágrafo a parte. Sempre com votação expressiva, o veterano Milton Leite (132.716 votos) conseguiu seu sétimo mandato. Teve até avião para fazer suas propagandas e inúmeros colaboradores carregando bandeiras e santinhos por toda cidade. Presidente municipal da legenda, sua área de atuação é no extremo sul da cidade de São Paulo em bairros como Grajaú, Jardim Ângela, M´Boi Mirim, Parelheiros e Pedreira. Existem áreas da metrópole em que Leite é mais famoso que o próprio prefeito. O atuante parlamentar foi presidente da Câmara Municipal e um dos mais expressivos líderes da gestão Doria e Covas. Mas não achem que ele não têm tráfego com a esquerda. Muito pelo contrário. Milton Leite que possibilitou a nomeação da avenida Luiz Gushiken, em homenagem ao ex-deputado petista que morreu em 2013. Trabalhou nos bastidores pela indicação de Ricardo Nunes para vice. Trata-se um político à moda antiga e muito conhecido dos paulistanos. Um dos seus filhos é deputado estadual (Milton Leite Filho) e outro deputado federal (Alexandre Leite), todos pelo Democratas.

Conhecido pelo público popular, o radialista Eli Corrêa (32.482 votos) ganha seu primeiro mandato, sendo o segundo mais votado do DEM. Aos 68 anos, Corrêa inicia a vida pública mas seu filho (Eli Corrêa Filho) já é deputado estadual com vários mandatos e sua nora concorreu a prefeitura de Guarulhos (Fran Corrêa pelo PSDB). Eli Corrêa ficou conhecido pelo seu bordão "Oi, gente!". O "homem sorriso do rádio" é um verdadeiro fenômeno de comunicação com as classes mais baixas, tendo passado por inúmeras emissoras do rádio AM como América, Capital, Globo, entre outras.

Conhecido pela defesa dos taxistas, Adilson Amadeu (30.549 votos) ganha nova chance no Palácio Anchieta. Ele ficou conhecido por conta de suas polêmicas pela legislação do Uber. Outros parlamentares reeleitos pelo DEM foram a médica Sandra Tadeu (28.464 votos), o engenheiro de trânsito Ricardo Teixeira (23.280 votos) e o missionário José Olímpio (17.098 votos). Este último é ligado a Igreja Mundial do Poder de Deus pertencente ao pastor Valdemiro Santiago. O DEM foi a segunda legenda que mais elegeu prefeitos no estado no Primeiro Turno. Foram 70 prefeituras.

Partido do vice de Covas, o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) conseguiu três cadeiras. Conhecido pelos programas de televisão, o Delegado Palumbo (118.395 votos) conseguiu ser o terceiro parlamentar mais votado para a legislatura que começa em 2021. O militar recebeu a ideia de se candidatar pelo apresentador José Luiz Datena, seu amigo pessoal. Delegado de comando do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), Palumbo tem notoriedade nas redes sociais. Só no Instagram tem 478 mil seguidores.

Conhecido no meio nikkey, George Hato (25.599 votos) ganha seu segundo mandato como vereador, novamente no MDB. Ele é filho do ex-deputado estadual e vereador Jooji Hato (1948-2019), político conhecido que celebrizou-se pela “Lei do Psiu”. O Hato pai foi muito próximo ao ex-governador Orestes Quércia. Já o jovem dentista Marcelo Messias (23.006 votos) complementa a chapa emedebista na Câmara Municipal. Messias é apadrinhado político de Ricardo Nunes e recebeu a maioria dos seus votos nas regiões de atuação do seu mentor: a zona sul de São Paulo. 

O Podemos é um dos partidos que mais vem crescendo nos últimos anos. Na região metropolitana, a legenda conseguiu prefeituras de cidades como Itapevi (vitória de Igor Soares com 98% dos votos), Osasco (reeleição em primeiro turno de Rogério Lins) e Rio Grande da Serra (com o curioso candidato Claudinho da Geladeira). Na Capital, o Podemos conseguiu três vereadores. Esposa do radialista Fábio Teruel, Ely Teruel (23.084 votos) foi a mais votada da legenda na Capital. O médico Milton Ferreira (20.126 votos) conseguiu a reeleição e Danilo do Posto de Saúde (19.024 votos) recebeu seu primeiro mandato. Um grande derrotado é o tio do prefeito Bruno Covas. Mário Covas, o Zuza, teve pouco mais de dez mil votos e ficou de fora do Palácio Anchieta pela primeira vez após dois mandatos. Ele tinha sido candidato ao Senado em 2018.

Já o PL (Partido Liberal) encolheu sua presença na Câmara Municipal de São Paulo. Diferentemente da Capital, os liberais aumentaram sua presença na região metropolitana. O PL elegeu oito prefeituras na Grande São Paulo: Biritiba Mirim, Guararema, Itapecerica da Serra, Juquitiba, Ribeirão Pires, Salesópolis, Suzano e Vargem Grande Paulista. Já no Palácio Anchieta a legenda acabou não tendo um desempenho eficiente. Na Câmara paulistana, o PL caiu de quatro passou para dois representantes. Filho da cantora Gretchen, o ativista e ator Thammy Miranda (43.321) ganha sua primeira chance na Câmara de Vereadores. Trata-se de uma votação expressiva para um novato que é uma das maiores novidades para o Parlamento deste ano. Já o pastor Isac Félix (23.929 votos) ganhou novo mandato. Veteranos do PL como Noemi Nonato e Toninho Paiva perderam suas cadeiras. Ficaram com a suplência.

Conhecido por ser o partido do líder Paulo Maluf, o PP (Partido Progressista) conseguiu apenas uma vaga: trata-se do longevo Arnaldo Faria de Sá (34.213 votos). Faria de Sá foi deputado federal por inúmeras legislativas e foi ligado ao ex-prefeito Celso Pitta. O veterano político também foi presidente da Portuguesa de Desportos nos anos 1990, quando o clube do Canindé venceu a Copa São Paulo de Futebol Júnior e revelou o atacante Dener (1971-1994), morto precocemente. 

Já o PV (Partido Verde) também conseguiu um representante: Roberto Tripoli (46.219 votos). Apesar de expressiva votação, a jornalista e ativista da bicicleta Renata Falzoni, a Bike Repórter (26.078 votos) não conseguiu eleger-se pelo PV, ficando numa suplência. Entre as outras legendas que apoiaram Covas, o Cidadania foi um dos maiores perdedores de 2020. A sigla tinha dois representantes na Câmara: a apresentadora Soninha Francine e o professor Cláudio Fonseca. Ambos não conseguiram a reeleição e o Cidadania terminou sem nenhuma cadeira no parlamento paulistano. A legenda tinha nomes de renovação em seus quadros como Malu Molina (apoiada pela deputada federal Tábata Amaral do PDT) e o ativista LGBT Pedro Melo. Mas o Cidadania não elegeu nenhum vereador em 2020.

O PROS (Partido Republicano de Ordem Social) e o PTC (Partido Trabalhista Cristão) também estão na coligação tucana mas não conseguiram nenhuma cadeira. Foram dois partidos com votações miúdas para o legislativo.  No Segundo Turno, Covas já recebeu apoios contraditórios de Andrea Matarazzo do PSD (Partido Social Democrático), Joice Hasselman do PSL (Partido Social Liberal), PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) do deputado estadual Campos Machado e de Celso Russomanno do Republicanos. Diversos quadros do NOVO também disseram que no Segundo Turno irão votar em Covas.

O oponente de jovem tucano no segundo turno será o ativista social, escritor e professor Guilherme Boulos do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) que está numa coligação de três legendas de esquerda (PSOL-PCB-UP). Apesar do PSOL que vem crescendo, as outras duas são bem pequenas. O título da aliança é “Pra Virar o Jogo”. Não é à toa. Com o uso maciço das redes sociais e mídia alternativa, o título da legenda tomou conta de expressivas faixas etárias da sociedade. É interessante notar que as maiores votações em bairros nobres como Bela Vista, Perdizes e Pinheiros. Filho de um casal de médicos renomados, Guilherme Boulos tem 38 anos. É formado em filosofia pela USP (Universidade de São Paulo) com mestrado em psiquiatria pela mesma instituição. Sua dissertação foi defendida em 2017: “Estudo sobre a variação de sintomas depressivos relacionada à participação coletiva das ocupações de sem-teto em São Paulo”. Tornou-se nacionalmente conhecido pela sua militância no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e candidatou-se a Presidência da República em 2018. Formou com a ativista indígena Sônia Guajajara a chapa “Frente de Esquerda Socialista” (PSOL-PCB). Entre os treze candidatos, Boulos ficou na décima colocação com 617.122 votos (0,58%), ficando somente à frente de Vera Lúcia (PSTU), José Maria Eymael (DC) e João Goulart Filho (PPL).

Mesmo assim, Boulos firmou-se como novo nome da “nova esquerda”. Sua proximidade com o ex-presidente Lula chamou atenção. Lançou-se como candidato à prefeitura do PSOL tendo como trunfo a vice: a ex-prefeita Luiza Erundina, de 85 anos. Destacada pelas lutas sociais, a veterana deputada federal transformou-se uma espécie de abalizador da chapa liderada pelo jovem candidato.

Nas prévias do PSOL, Boulos venceu a deputada federal Sâmia Bomfim. Apesar de não ter experiência em cargos públicos, o jovem membro do PSOL destacou-se nos debates e no final da campanha nas trocas de farpas com Celso Russomanno e Márcio França. Sua votação foi bastante expressiva com mais de um milhão de votos em todas as regiões da Capital. Ele encontrou apoio no início do segundo turno de diversos partidos de centro ou centro-esquerda como PT (Partido dos Trabalhadores), PCdoB (Partido Comunista do Brasil), Rede Sustentabilidade e PDT (Partido Democrático Trabalhista). Boulos vive citando a eleição e a prefeitura de Luiza Erundina como referência. Mas são cenários diferentes. As eleições de 1988 eram em um turno único. Mas Boulos surpreendeu e bateu com facilidade seus dois principais oponentes. O PSOL também ampliou sua presença na Câmara de Vereadores. De dois em 2016 a legenda pulou de dois para oito representantes no Palácio Anchieta. São eles: Érika Hilton (50.508 votos, votação bastante expressiva), Sílvia da Bancada Feminista (46.267 votos), Luana Alves (37.550 votos), Celso Giannazi (28.535 votos), Toninho Vespoli (26.748 votos) e Elaine do Quilombo Periférico (22.742 votos). O professor de matemática Toninho Vespoli é uma espécie de veterano do PSOL. Ele foi o primeiro vereador da legenda e ganha seu terceiro mandato. Já Giannazi ganha mais um mandato abalizado por ser irmão do combativo deputado estadual Carlos Giannazi do mesmo partido. As outras duas legendas da coligação de Boulos, o PCB (Partido Comunista Brasileiro) e a UP (União Popular) não conseguiram nenhuma cadeira no Palácio Anchieta.

Com forte presença no litoral sul de São Paulo, o advogado Márcio França do PSB (Partido Socialista Brasileiro) é um político calejado e ficou num honroso terceiro lugar. Apesar de ter formado uma legenda com alguns partidos, ele acabou ficando no Primeiro Turno. Seu maior momento político foi quando assumiu o Governo de São Paulo e conseguiu liderar a greve de caminhoneiros em 2018. Tem tráfego com a direita e esquerda sendo um político anfíbio (termo do amigo Bernardo Schmidt). A chapa “Aqui Tem Palavra” contou com cinco partidos (PSB-PDT-PMN-Avante-Solidariedade). Mas a coligação elegeu apenas dois vereadores, ambos do PSB e veteranos que ganham mais uma reeleição: Camilo Cristofaro (23.431 votos) e Eliseu Gabriel (21.122 votos). Na legenda anterior eram três vagas. França é um político experimentado e deve tentar outros voos num futuro próximo. Preferiu não apoiar ninguém no Segundo Turno. Deve estar em alguma candidatura em 2022. 

Já Celso Russomanno (Republicanos) precisa se conformar em ser deputado federal. Ou mudar radicalmente seu discurso. Afinal, já é a terceira eleição para a prefeitura que ele inicia liderando mas não saí do primeiro turno. Sua luta pelas direitos do consumidor são louváveis e antigas. Mas o apoio do presidente Jair Messias Bolsonaro acabou não ajudando sua candidatura. Mesmo assim, o Republicanos elegeu uma bancada significativa na Câmara com quatro nomes: André Santos (41.584 votos), Sansão Pereira (39.709 votos), Atílio Francisco (35.345 votos) e Sonaira Fernandes (17.881 votos). Não é mistério para ninguém que o Republicanos é o partido ligado a uma importante denominação religiosa evangélica de terceira onda: a Igreja Universal do Reino de Deus. Em 2016, a legenda tinha treze prefeituras no estado. Agora já são 21 e disputa o Segundo Turno em Sorocaba com Rodrigo Manga e em Campinas com o médico e ex-vereador Dário Saadi. Já o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) que compunha chapa com o Republicanos elegeu apenas um nome para o Câmara paulistana: o experiente médico Paulo Frange (17.796 votos), conhecido por sua atuação no bairro da Freguesia do Ó. 

Entre os outros candidatos a prefeito, destaca-se a figura de Arthur do Val, o Mamãe Falei, do Patriota. Com um discurso pregando o empreendedorismo e a livre iniciativa, o deputado estadual ligado ao movimento MBL recebeu quase a mesma quantidade de votos de Russomanno. Sua legenda, o Patriota conseguiu chegar em três vereadores para a Câmara Municipal. O polêmico Fernando Holiday (67.715 votos) foi o quinto mais votado da cidade conseguindo seu segundo mandato. O Patriota também elegeu Rubinho Nunes (33.038 votos) e Marlon do Uber (25.643 votos). Arthur do Val tem apenas 34 anos e ainda disputará novas eleições. Seu desempenho no debate da TV Cultura chamou atenção.

O ex-secretário Jilmar Tatto foi correto e cresceu nas pesquisas das últimas semanas demonstrando a força do PT (Partido dos Trabalhadores) da extrema zona sul onde foi segundo colocado em distritos como Grajaú e Parelheiros. As obras sociais dos governos passados da legenda ainda têm um amplo reconhecimento pelo eleitorado dessa região. O PT conseguiu uma bancada expressiva na Câmara de Vereadores com oito nomes: o campeão de votos e ex-senador Eduardo Suplicy (167.552 votos), Donato (31.920 votos), Alessandro Guedes (31.124 votos), Jair Tatto (29.918 votos), Juliana Cardoso (28.402 votos), Senival Moura (25.311 votos), Alfredinho (25.159 votos) e Arselino Tatto (25.021 votos). Dois irmãos do candidato Jilmar Tatto. É de se lamentar que candidaturas  renovadoras do Partido dos Trabalhadores não tenham ganhado vez na Câmara Municipal. Candidaturas como da cientista política Luna, da advogada Vivi Mendes, o pastor Messias Pereira, a socióloga Pagu Rodrigues e do professor Nabil Bonduki não conseguiram se eleger. Uma pena.  

No Primeiro Turno, o Partido dos Trabalhadores elegeu apenas dois prefeitos em todo estado de São Paulo: o sociólogo e ex-prefeito Edinho Silva em Araraquara e Adauto Scardoelli em Matão. A legenda também irá disputar o Segundo Turno em três municípios da região metropolitana: Diadema, Guarulhos e Mauá. As maiores chances estão em Diadema com o engenheiro José de Filippi Júnior que já foi prefeito do município três vezes. Nos outros dois municípios os cenários são bastante desfavoráveis aos petistas. Em Guarulhos, o jovem Guti do PSD lidera e em Mauá o líder nas pesquisas é Átila do PSB, ligado ao ex-governador Márcio França.

Já o ex-ministro Andrea Matarazzo do PSD (Partido Social Democrático) fez uma campanha séria destacando suas realizações quando secretário de Gilberto Kassab da mesma legenda. Tinha um plano de governo expressivo, mas que acabou não indo para um segundo turno. Talvez falte mais carisma para Matarazzo. Ele acaba sendo um homem mais de gabinete, secretariado, mas sem vibração de um líder do Executivo. Mesmo assim, os sociais democráticos de Kassab conseguiram três cadeiras na Câmara de Vereadores. A principal novidade é o policial militar e defensor da causa animal Felipe Becari (98.717 votos), uma votação bastante expressiva. Outros eleitos pelo PSD foram Rodrigo Goulart (31.472 votos) e a veterana Edir Sales (23.106 votos), ligada ao meio evangélico. O PSD elegeu prefeitos na região metropolitana em municípios como Cajamar e Cotia. A legenda também disputa o segundo turno em Guarulhos com Guti, esse buscando um segundo mandato.

A deputada estadual Marina Helou (Rede Sustentabilidade) tinha um interessante programa de governo focado na valorização de grupos específicos da sociedade como os LGBTI+, mulheres e negros. Mesmo assim, seu partido não conseguiu uma única cadeira no Palácio Anchieta. O Rede tinha diversos candidatos interessantes e com propostas inovadoras para a vereança mas não conseguiram se eleger. Mas Helou é jovem e deve ter mais chances no futuro. É uma parlamentar atuante e com um discurso mais moderado que seu colega de Assembleia, Arthur do Val, o Mamãe Falei. Nos debates a jovem evitou polêmicas pessoais com os demais candidatos e defendeu seu plano de governo. O Rede Sustentabilidade não conseguiu nenhuma prefeitura no estado de São Paulo.

O ex-ministro e deputado federal Orlando Silva contou com presença no horário eleitoral mas não conseguiu estar entre os mais votados. Homem de articulação da sua legenda, tem forte presença em Brasília, mas não conseguiu repetir esse desempenho na sua candidatura ao Executivo. Seu partido, o PCdoB (Partido Comunista do Brasil) não conseguiu nenhuma vaga para a vereança. No entanto, o PCdoB conta com dois líderes nacionais expressivos: o governador Flávio Dino do Maranhão e a ex-deputada Manuela D'ávila que concorre ao segundo turno em Porto Alegre. O NOVO parecia prometer algo com a candidatura do ex-secretário Filipe Sabará. No entanto ele acabou se desentendendo com as lideranças nacionais da legenda. Mesmo assim, o NOVO elegeu dois nomes femininos para a Câmara de Vereadores de São Paulo: a reeleita Janaína Lima (30.931 votos) e Cris Monteiro (18.085 votos). O partido laranja tinha outros candidatos jovens com propostas liberais bastante interessantes como Matheus Hector, Rafael Romero, Rodrigo Lopes e Wafá Kadri, mas nenhum conseguiu eleger-se para o Palácio Anchieta. São todos jovens. Quem sabe numa próxima oportunidade. 

Já Joice Hasselmann e o PSL (Partido Social Liberal) parecem estar um tanto confusos desde que perderam sua estrela nacional. Ela tinha projetos controversos ou exóticos em seu plano de governo como extinguir a SP Trans e transformar a Cracolândia numa Cristolândia (!). Parecem propostas muito ingênuas para problemas realmente sérios da cidade. Os membros da legenda “direita raiz” conseguiram uma cadeira no Palácio Anchieta. Trata-se da reeleição do pastor Rinaldo Digilio (13.673 votos), ligado à Igreja do Evangelho Quadrangular. O PSL elegeu dez prefeitos no estado de São Paulo e está no Segundo Turno em dois (Praia Grande e Sorocaba). Veremos o que irá acontecer no segundo turno. 


Seguem os resultados de votos do primeiro turno a prefeitura de São Paulo:


Para Prefeito:

 

1º Bruno Covas                  PSDB                              1.752.949 votos (32,85%)

 

2º Guilherme Boulos          PSOL                              1.079.924 votos (20,24%)

 

3º Márcio França                PSB                                 727.960 votos (13,64%)

 

4º Celso Russomanno         Republicanos                  560.239 votos (10,5%)

 

5º Arthur do Val                 Patriota                            521.871 votos (9,78%)

 

6º Jilmar Tatto                     PT                                   461.218 votos (8,65%)

 

7º Joice Hasselmann            PSL                                 98.239 votos (1,84%)

 

8º Andrea Matarazzo           PSD                                82.701 votos (1,55%)

 

9º Marina Helou                  Rede Sustentabilidade     22.063 votos (0,41%)

 

10º Orlando Silva                PCdoB                            12.241 votos (0,23%)

 

11º Levy Fidelix                  PRTB                              11.952 votos (0,22%)

 

12º Vera                               PSTU                              3.051 votos (0,06%)

 

13º Antônio Carlos              PCO                                630 votos (0,01%)

 

Os 55 vereadores eleitos na cidade de São Paulo:


Eduardo Suplicy                             PT                         167.552 votos


2º Milton Leite                                    DEM                     132.167 votos


Delegado Palumbo                         MDB                     118.395 votos


Felipe Becari                                   PSD                      98.717 votos


Fernando Holiday                           Patriota                  67.7715 votos


Érika Hilton                                    PSOL                    50.508 votos


Sílvia da Bancada Feminina            PSOL                    46.267 votos


Roberto Tripoli                               PV                         46.219 votos


Thammy Miranda                           PL                         43.321 votos


10º André Santos                                Republicanos         41.584 votos


11º Rute Costa                                    PSDB                    41.546 votos


12º Eduardo Tuma                            PSDB                    40.270 votos


13º Sansão Pereira                              Republicanos         39.709 votos


14º Luana Alves                                 PSOL                    37.550 votos


15º Atílio Francisco                            Republicanos         35.345 votos


16º João Jorge                                    PSDB                    34.323 votos


17º Faria de Sá                                    PP                         34.213 votos


18º Carlos Bezerra Júnior                   PSDB                    34.144 votos


19º Rubinho Nunes                            Patriota                  33.038 votos


20º Eli Corrêa                                     DEM                     32.482 votos


21º Donato                                         PT                         31.920 votos


22º Rodrigo Goulart                           PSD                      31.472 votos


23º Alessandro Guedes                       PT                         31.124 votos


24º Janaína Lima                                NOVO                  30.930 votos


25º Adilson Amadeu                          DEM                     30.549 votos


26º Tripoli                                          PSDB                    30.495 votos


27º Jair Tatto                                      PT                         29.918 votos


28º Celso Giannazi                             PSOL                    28.535 votos


29º Dra. Sandra Tadeu                        DEM                     28.464 votos


30º Juliana Cardoso                            PT                         28.402 votos


31º Toninho Vespoli                           PSOL                    26.748 votos


32º Marlon do Uber                            Patriota                  25.643 votos


33º George Hato                                 MDB                     25.599 votos


34º Aurélio Nomura                           PSDB                    25.316 votos


35º Senival Moura                              PT                         25.313 votos


36º Alfredinho                                    PT                         25.159 votos


37º Arselino Tatto                               PT                         25.019 votos


38º Fábio Riva                                    PSDB                    24.719 votos


39º Isac Félix                                      PL                         23.929 votos


40º Camilo Cristofaro                         PSB                       23.431 votos


41º Ricardo Teixeira                           DEM                     23.280 votos


42º Edir Sales                                     PSD                      23.106 votos


43º Ely Teruel                                     Podemos               23.084 votos


44º Marcelo Messias                           MDB                     23.006 votos


45º Elaine do Quilombo Periférico     PSOL                    22.742 votos


46º Gilberto Nascimento Júnior          PSC                       22.649 votos


47º Eliseu Gabriel                                   PSB                       21.122 votos


48º Dr. Milton Ferreira                           Podemos               20.126 votos


49º Sandra Santana                                 PSDB                    19.591 votos


50º Danilo do Posto de Saúde                Podemos               19.024 votos


51º Cris Monteiro                                   NOVO                  18.085 votos


52º Sonaira Fernandes                        Republicanos         17.881 votos


53º Paulo Frange                                    PTB                       17.796 votos


54º Missionário José Olímpio             DEM                     17.098 votos


55º Rinaldo Digilio                                 PSL                       13.673 votos