sexta-feira, 27 de novembro de 2020

VSP nas eleições 2020: VSP virou a tabela: entrevista com Antônio Carlos, candidato a prefeito de São Paulo pelo PCO

 

O professor de matemática Antônio Carlos Silva, 57 anos, foi candidato do PCO (Partido da Causa Operária) a prefeitura da cidade de São Paulo em 2020. Ele recebeu 630 votos e ficou na décima terceira posição entre os concorrentes. Extremamente gentil, Antônio Carlos conversou por telefone com o VSP na semana passada.

 

VSP- Como surgiu a candidatura do senhor pelo PCO?

Antônio Carlos- O PCO ao contrário da maioria dos outros partidos não é um partido de candidato. As pessoas filiadas pertencem a uma espécie de cooperativa. Nós somos um partido ao invés de candidatos do partido, temos candidatos militantes. Sou dirigente há vários anos e a candidatura é uma missão e defender suas ideias nas eleições. Não é uma postulação mas no trabalho que fazemos levando nossos valores e tributos. Não é um partido eleitoral, somos um partido revolucionário que nos reunimos muito além das eleições. Então, eu fui incumbido dessa missão de ser candidato e fui.

 

VSP- Quais foram as maiores dificuldades da sua candidatura?

AC- Olha, pra te ser sincero: essas eleições nós caracterizamos como as mais antidemocráticas das últimas décadas. Com base da reforma eleitoral de 2017, cerca de 1/3 dos partidos não tiveram propaganda ou qualquer espaço na rádio e na TV. Foi uma campanha completamente desleal porque foi muito curta 45 dias sem horário de televisão era mais ou menos impossível chegar numa parcela do eleitorado. Nesse sentido é uma ditadura. Essas eleições foram armadas para garantir a força das grandes marcas políticas.

 

VSP- Quais continuam sendo os principais projetos do PCO para a cidade de São Paulo?

AC- O PCO entrou na eleição pra denunciar a fraude das eleições que nenhum problema seria resolvido. Isso tem ver com a Pandemia, o desemprego, todos os problemas dos trabalhadores e dos mais humildes não iria ser nunca resolvido pelo voto. Mas o partido prossegue fazendo organização e mobilizando os eleitores. O resultado não muda nada. Não altera. Bem como reforça essa organização autônoma independente. O resultado dessa eleição foi uma vitória significativa da direita.

 

VSP- Mas dizem que os bolsonaristas foram os que mais perderam espaço nessas eleições. O senhor acredita que mesmo assim foi uma vitória da extrema direita?

AC- Não. Se a gente disser que o DEM...Os partidos que mais cresceram ao contrário do que a imprensa golpista fala foram o PSD, PP e DEM. São todos partidos herdeiros da Arena. Agora, se pro padrão deles a Arena é progressista...Falaram que os bolsonaristas tinham sido derrotados. Eu realmente não entendo dessa maneira. Mas se você for pensar essas legendas tinham 100 municípios e agora tem 400. Então, nossa avaliação é que esse balanço é completamente fantasioso. Até dentro da própria direita, os setores de centro-direita foram os que mais diminuíram: PSDB e MDB. Só quem cresceu efetivamente foi a direita. E também cresceu o setor da esquerda que a direita estabelecida não vê como perigo. Isso está impulsionando para ofuscar os setores verdadeiramente revolucionários. Dessa maneira, eles ofuscam partidos como o PCO e o próprio PT.

 

VSP- O senhor está falando que a candidatura do PSOL está sendo impulsionado pela direita?

AC- Sim. Isso é muito visível. O PSOL só ganhou quatro prefeituras e parece que eles são o maior partido do mundo, um fenômeno político. O Boulos foi levado nessa onda. Tenho mais de 40 anos de política garoto. Já vi muita eleição fraudulenta mas essa ganhou de todas. O fato do candidato do PT (Jilmar Tatto) ter nove por cento no resultado final e a melhor que a pesquisa dava eram seis por cento. Todo mundo sabe que na última hora da campanha que a maioria do eleitorado decide seu voto. Ele perdeu na reta final até com a declaração do Lula já ter falado que era considerável o apoio ao Boulos. Existiu uma manipulação para favorecer o Boulos. A quem interessa isso? O mesmo fenômeno foi feito no Rio de Janeiro. Onde fizeram que tinha que apoiar a Martha Rocha, ex-chefe de polícia como se ela tivesse alguma chance de chegar ao Segundo Turno. Mesmo assim, ela terminou empatada com a Benedita. Se desde o começo tivesse tido o mesmo apoio a Benedita poderia ter tido um resultado melhor.

 

VSP- E a Benedita tinha um forte apelo com o eleitorado evangélico?

AC- Exatamente. Ela era melhor eleitoralmente, muito mais perigosa para ir no segundo turno contra o (Eduardo) Paes. O PSOL retirou seu principal candidato que era o Freixo para apoiar o Paes. Isso já demonstra que o conluio era anterior. Como a gente sabe em política as coisas nunca acontecem por acaso. O PSOL está apoiando o DEM. E em política nada é por acaso.

 

VSP- Por quê o PCO não foi para nenhum debate televisivo?

AC- Vários motivos. A legislação punia os partidos sem nível de representação parlamentar. Nem mesmo nos debates que foram organizados de partidos sem representação popular o PCO sequer foi chamado. O PCO é um partido fora do regime político. Não fomos pra eleição para dizer que éramos ou seríamos eleitos. Nada disso. A eleição estava armada desde o começo.

 

VSP- Qual é a sua avaliação da candidatura do Guilherme Boulos? O PCO vai dar apoio a ele no segundo turno?

AC- Bom...Nós vamos fazer uma conferência nesse final de semana no sábado e domingo (da semana passada). Vamos fazer um balanço e decidir como será o segundo turno com os delegados de todo país. Mas nesse encontro a minha posição e a maioria do partido é não apoiar eles.

 

VSP- Por quê?

AC- O Guilherme Boulos é um elemento comprometido com uma espécie de frente ampla. A direita tem um plano Joe Biden pro Brasil que seja um candidato direitista para substituir o Bolsonaro. Ou senão fica o Bolsonaro mesmo. É o caso do Joe Biden que é responsável pelo golpe de Estado do Brasil e em outros países da América Latina como avanço. O Trump nunca invadiu nenhum país. O Biden comandou o avanço e o massacre dos povos do Iraque, Venezuela e Cuba. No entanto, ele é apresentado pela mídia e setores como de esquerda. Isso é uma piada. Agora querem pegar o Doria, o Luciano Hulk, o Sérgio Moro e colocar como alternativa democrática ao espantalho, ao fanfarrão do Bolsonaro. Mas que não consegue levar ao povo. Tudo que conseguiu fazer até agora foi uma Reforma da Previdência. A reforma do Temer quem aprovou foi o DEM, PSDB, MDB. Todos partidos que são tidos como partidos de centro.

 

VSP- Como o senhor avalia as medidas dos governos estaduais e federais para o Coronavírus?

AC- Um grande acordo para não fazer nada. O Bolsonaro diz que não vai fazer nada, mas não fazem nada. O estado de São Paulo fosse um país estaria entre os dez que mais morreram. O Bruno Covas é mostrado como uma pessoa comprometida, efetiva. São Paulo nem para testar. Mas temos exemplos de outros países que tiveram medidas efetivas como a Eslováquia, a China mesmo em um final de semana fez testes em quatro milhões de pessoas. Em São Paulo não aconteceu nada disso.

Os governos Covas e Doria contrataram menos trabalhadores da saúde dos que foram afastados por conta da saúde. Como eles não fazem como o Bolsonaro...Não falam besteira, a mídia não fica em cima. Mas eles são cínicos, ruins ou até mesmo piores que o próprio Bolsonaro. Porque o Bolsonaro levanta a repulsa. Mas o Covas se você pegar ele tem o recorde da abertura de covas mas ninguém discute isso. É uma situação totalmente absurda justamente na cidade mais rica do país. Até fecharem os hospitais de campanha para não atender a população. Tudo lamentável.

 

VSP- Pararam de divulgar os dados logo na semana do primeiro turno.

AC- Coincidência, né? Na semana anterior da eleição, o estado de São Paulo estava tendo problema de transmissão de dados e por coincidência o final de semana que sempre foi costumeira. Mas mesmo no domingo da eleição tivemos só 915 ou 921 motos mostrando inclusive que tudo é pura falsificação. Nós estamos vendo uma nova onda que já era realidade e os órgãos de imprensa estavam escondendo.

 

VSP- O PCO é ligado as lutas dos professores. Qual avaliação o senhor faz da maneira que o PSDB conduz a educação no Estado de São Paulo?

AC- Nós estamos num processo de retrocesso. A situação da Pandemia agravou com a paralisação política é completamente criminosa. Uma pressão pra discutir a volta das aulas e não tem nem que discutir isso. A própria prefeitura fez exames em 70% dos jovens sendo que nessa faixa etária eles podem transmitir mesmo não tendo sintomas. Um dos maiores problemas é a superlotação das salas de aula. Quantas salas de aula o governo construiu pro combate? Nenhuma. Outro problema é que boa parte dos alunos não tem acesso à Internet. São governos de mentira e fraude.

 

VSP- Qual avaliação o senhor e do PCO das eleições 2020?

AC- Resumindo: uma vitória da direita. E também da fraude e da manipulação. A direita conseguiu impor depois de cinco eleições nacionais quatro de direita e na última uma pra extrema direita. Mas nessas de 2020, setores da Arena e do MDB conseguiram se sair vitoriosos de um conjunto de manipulações e fraudes.

 

VSP- O que representa o segundo turno ser entre Guilherme Boulos e Bruno Covas?

AC- Um pouco mais do mesmo. Estão representados dois candidatos da frente ampla. O Covas do PSDB e o Boulos que esteve no início do ano com articulações com o PSDB, a Globo, Kassab, Moro. Eles querem construir um bloco de centro para quebrar a manipulação da direita e da esquerda. De certa maneira, a eleição de São Paulo contribuí do ponto de vista que eles conseguem mas a realidade é bem maior. Infelizmente, eles não vão conseguir deter a polarização real. Mas no terreno conseguiram segurar a barra. É tudo conversa pra boi dormir.

 

VSP- Quais são os planos futuros do senhor e do PCO?

AC- O partido cresceu e se fortaleceu nas eleições. Não do ponto de vista de votos porque não tínhamos nenhuma ilusão. Pra você ver como essas eleições são uma fraude: temos menos votos que filiados ao partido. Isso não nos abala e nós vamos fazer uma conferência dando prosseguimento ao partido que tem um jornal diário na Internet e um jornal impresso. Vamos continuar mobilizando os setores da esquerda combativa, todos os setores pressionando o fora Bolsonaro, todos golpistas e defendendo uma saída alternativa de esquerda. A única seria a candidatura do ex-presidente Lula, expressão de luta real porque é uma figura que canaliza essa tendência de lutar contra o aumento da fome e do desemprego para os trabalhadores. A eleição é bonita pra fingir que vai mudar alguma coisa. Mas a realidade é completamente diferente.