sábado, 28 de novembro de 2020

VSP nas Eleições 2020: VSP virou a tabela: entrevista com Vera Lúcia, candidata a prefeita de São Paulo pelo PSTU

A professora Vera Lúcia Salgado, 53 anos, foi candidata do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) a prefeitura de São Paulo em 2020. Ela recebeu 3.052 votos e ficou na décima segunda posição entre os concorrentes. Bastante solícita, a professora respondeu ao VSP por email.



VSP- Como surgiu a candidatura da senhora pelo PSTU?

Vera Lúcia- O PSTU me indicou junto com o professor Lucas e uma equipe de candidatos a vereador e vereadoras para apresentar um programa de emergência para combater a pandemia, o desemprego e outros males que afetam a população trabalhadora como genocídio da juventude negra.

 

VSP- Quais foram as maiores dificuldades da sua candidatura?

VL- As maiores dificuldades foram as regras eleitorais antidemocráticas, o poder econômico e a pandemia. Os grandes partidos votaram regras antidemocráticas para impedir a renovação e a mudança. Desta forma, o PSTU não tinha sequer um segundo na propaganda eleitoral gratuita para apresentar suas propostas para os trabalhadores e trabalhadoras. Além disso, as campanhas dos principais partidos são milionárias, basta ver a prestação de contas de cada candidato para constatar a desigualdade. Por fim, a pandemia dificultou muito a campanha presencial nas portas das fábricas e na periferia.

 

VSP- Quais continuam sendo os principais projetos do PSTU para a cidade de São Paulo?

VL- Os conselhos populares, sem dúvida. O PSTU aposta na auto-organização da classe trabalhadora e do povo pobre, sejam em comissões de fábrica, sindicatos, movimentos por moradia, comitês de autodefesa contra o genocídio da juventude negra, grupos de trabalhadoras pelos direitos das mulheres, associações de imigrantes, movimentos LGBTQI+, enfim, todas as formas de auto-organização independente da burguesia para lutar pelas reivindicações operárias e populares de emprego, salário, renda, moradia, saneamento básico, educação e saúde pública de qualidade, contra a opressão racista, machista, LGBTfóbica e xenófoba. A exploração e a opressão têm origem no capitalismo. Por isso, defendemos unir todos esses movimentos em conselhos populares para lutar para que os trabalhadores e trabalhadoras assumam o poder e possamos caminhar rumo ao socialismo.

 

VSP- Por que o PSTU não foi chamado a nenhum debate televisivo?

VL- A legislação eleitoral faculta às emissoras de TV o convite aos candidatos cujos partidos não têm representação no congresso nacional. Ou seja, as emissoras de TV podem convidar se quiserem. No entanto nossas propostas colidem com os interesses dos grandes patrocinadores, que são todos grandes empresas capitalistas, que não têm o interesse que as ideias da igualdade social e do socialismo cheguem até a classe trabalhadora. Por isso, as emissoras de TV não convidam.

 

VSP- Qual é a sua avaliação da candidatura do Guilherme Boulos? O PSTU deve dar apoio a ele no segundo turno?

VL-Infelizmente, o Boulos segue os mesmos caminhos de Lula rumo a um governo de conciliação de classes, um governo junto com os empresários. Por isso não defende a estatização do transporte coletivo de ônibus, única forma de pôr fim à máfia dos transportes. Por isso recua de propostas como o aumento do IPTU para os milionários; como a ampliação da rede de creches diretas para pôr fim à política de creches conveniadas, a começar por assumir imediatamente todas as creches municipais que estão sob administração privada (denominadas de CEIs indiretas); recua até mesmo da solidariedade ao povo palestino através das propostas da companha de Boicote, Desinvestimento e Sanções, o BDS.

O PSTU não concorda com o projeto político, com o programa ou a estratégia de Boulos. Mas vamos votar criticamente em Boulos, junto com a maioria da juventude e setores importantes da classe trabalhadora que veem em Boulos a possibilidade de derrotar o PSDB de Covas e Doria em São Paulo. Apesar de chamar o voto crítico em Boulos, não apoiaremos sua administração em caso de vitória.

 

VSP- Como a senhora avalia as medidas dos governos federal e estadual para o combate ao Coronavírus?

VL- Um desastre! Bolsonaro minimizou a pandemia e sabotou todas as medidas para contê-la. Já Doria e Covas fizeram uma quarentena meia boca baseada no fechamento do comércio e das escolas, na qual 70% da economia permaneceu em funcionamento. Além disso, não fizeram testagem em massa para definir as políticas mais adequadas de enfrentamento à pandemia. Por isso, a cidade de São Paulo está em terceiro no ranking mundial de mortes por coronavírus, atrás de Nova York e Cidade do México.

 

VSP- O PSTU é um partido ligado à luta dos professores. Qual a avaliação que a senhora faz da maneira que o PSDB conduz a educação do estado de São Paulo?

VL- Nota zero para o PSDB. Há anos que o PSDB trabalha para desmontar a educação pública do estado, com salas de aulas superlotadas, salários baixos que obrigam professores e professoras a buscarem outras formas de renda, e projetos pedagógicos orientados ao mercado e à produtividade capitalista que são a negação da educação pública.

 

VSP- Qual é a avaliação da senhora e do PSTU tiveram das eleições 2020?

VL- O Bolsonarismo e sua defesa da tortura, volta da Ditadura Militar, terraplanista, de negar a ciência, de sabotar o combate à pandemia e as campanhas de vacinação, além de racista, machista, lgbtfóbico, xenófobo, foi derrotado. No entanto, todos os que foram eleitos conspiram para jogar o peso da recessão econômica sobre as costas da classe trabalhadora e do povo pobre. A inflação, o desemprego em massa, programas de renda mínima insuficientes, o corte de gastos públicos na educação, na saúde, na moradia e a reforma fiscal são políticas para salvar o capitalismo e os capitalistas, mas que vão colocar a maioria da classe trabalhadora em situação de penúria. Por isso  nosso chamado à classe trabalhadora para se auto-organizar e lutas pelas reivindicações operárias e populares.

 

VSP- O que representa o segundo turno entre Guilherme Boulos e Bruno Covas?

VL- O Covas é o candidato do grande capital que está por trás de todas as políticas contra a classe trabalhadora e o povo pobre. Políticas como teto de gastos, as reformas trabalhista e da previdência, entre outras. Além disso, seu partido e seu vice estão envolvidos em vários casos de corrupção. Infelizmente, Boulos se propõe apenas a ser um gestor melhor que Covas sem qualquer aumento de impostos para os ricos, sem mexer na máfia dos transportes, do lixo ou na política de creches conveniadas. Temos que dizer a verdade. Sem tirar dinheiro dos ricos, não será possível atender às reivindicações operárias e populares de emprego, renda, moradia, saúde, educação e o fim do genocídio da juventude negra. Apesar disso, votaremos em Boulos junto com a juventude, setores da classe trabalhadora e movimentos populares que enxergam em Boulos a possibilidade de pôr fim à gestão desastrosa do PSDB.

 

VSP- Quais são os planos futuros da senhora e do PSTU?

VL- Temos pela frente uma grande crise econômica e social. Todos os governos vão trabalhar para defender as grandes empresas e o sistema capitalista internacional. Apostamos na auto-organização da classe trabalhadora e do povo pobre das cidades, no Brasil e no mundo. O PSTU vai investir nesse auto-organização operária e popular para defender os diretos dos trabalhadores e trabalhadoras para coloca-los no poder. Nosso modelo de socialismo não tem nada a ver com Venezuela, China ou Coréia do Norte que são ditaduras capitalistas. Defendemos o socialismo com base na democracia operária, com amplas liberdades democráticas para a classe trabalhadora discutir e decidir os destinos do país e do mundo. Eu continuarei vivendo em São Paulo e estarei integrada a este projeto de construção de uma alternativa revolucionária e socialista.