SÃO PAULO 2, PALMEIRAS 0
Eis o nome de um gênio
do futebol: Edu
Como de hábito, xingaram muito o ponta Edu, ontem à tarde, no Morumbi. Desta vez foram os adversários
FRANCISCO MALFITANI
Estádio Morumbi, 16h45
de ontem, final do primeiro tempo de um jogo que já mereceu, certa vez o título
de “Choque Rei”: desolados torcedores são-paulinos, que não chegaram a ocupar
quatro lances das arquibancadas, abandonava suas bandeiras enroladas no chão e
correm para os bares em busca de uma cerveja, desabafando: “O time está uma
droga, mas não faz mal, este jogo não vale nada mesmo. Este campeonato só
presta mesmo é no 3º turno. Só espero que, quando chegar lá, o Edu esteja bem
longe do time do São Paulo”. Do outro lado do estádio, os eufóricos
palmeirenses aplaudiram a saída de seus ídolos, agitavam freneticamente as
bandeirantes e gritavam “Verdão, Verdão”. Márcio Guaranta Filho, chefe da
torcida Império Verde, desprezava a choradeira dos inimigos: “Eles estão
dizendo que não vale nada, só porque o time deles está jogando pedrinhas”.
Aliás, este negócio de ficar espalhando que este campeonato é uma porcaria
serve apenas como desculpa para a péssima campanha dos outros filmes. Como é
que o Verdão está enxuto, líder do campeonato e invicto nos clássicos?”.
De fato, o Palmeiras,
no primeiro tempo justificava a euforia dos seus torcedores. Mas a sua
invencibilidade nos clássicos terminava aí. Bafejando talvez pelas sessões de
exorcismo do Monsenhor Bastos, conselheiro espiritual do São Paulo, o
imprevisível Edu, aquele mesmo que o torcedor são paulino, no final do primeiro
tempo, queria ver longe do Morumbi, voltou para o jogo com uma disposição
incrível. E surpreendendo a todos os 22.889 heroicos torcedores presentes, logo
aos 3 minutos do 2º tempo, driblou quase que toda a defesa do Palmeiras e deu
um passe genial para Serginho, que colaborou apenas empurrando a bola para
dentro do gol do elegante goleiro Gilmar.
O pó-de-arroz, ou
melhor, o talco de segunda mesmo, encheu o ar do Morumbi e os pulmões dos são
paulinos, que vibravam com o gol. Enquanto isto, os “Periquitos do Verdão”
permaneciam estáticos na arquibancada. Este lance pouco habitual de Edu parece
ter deixado perplexa e extasiada a defesa palmeirense, que 8 minutos depois
abandonou o centroavante do São Paulo outra vez na frente do gol de Gilmar. E o
irrequieto Serginho novamente fez o desespero dos palmeirenses.
Neste momento, Hélio
Silva, presidente da torcida uniformizada do São Paulo, até esqueceu as
violentas críticas que tinha feito, antes do jogo começar, a incrível fórmula
deste campeonato paulista: “É um campeonato ridículo. O pior que vi nos 40 anos
de minha vida. Estes cartolas pensam que o torcedor é palhaço. Mas não é não.
Veja aí o estádio vazio”. Hélio Silva vibrou como nunca.
A partir daí, os
torcedores palmeirenses, que já não sonhavam com uma reação do seu time, se
preocuparam em desafiar os seus rivais para uma briga, junta à providencial
corda que separa as torcidas adversárias nas arquibancadas, devidamente
policiadas por enérgicos PMs. E bastou um deles levantar o cassetete e ameaçar
ir de encontro aos palmeirenses, para estes se porem em desesperada fuga. E a
torcida tricolor vibrou mais uma vez. Nem parecia verdade. “É muita alegria num
dia só. Ganhamos de 2X0 e ainda a polícia bota pra correr os porcos”, dizia um
entusiasmado são-paulino.
Havia motivo para
tamanho euforia? O São Paulo, no primeiro tempo, foi dominado totalmente pelo
Palmeiras. A melhor jogada dos tricolores, naquela etapa do jogo, tinha sido um
violento chute desferido da ponta-esquerda, pretensamente em direção ao gol,
pelo bigodudo Chicão – bola que foi parar na cabeça de Edu, no outro extremo do
campo. E Edu completou a “jogada ensaiada” cabeceando para trás.
Ou seja, para a lateral
do campo. O ataque do São Paulo só molestou o gandula que estava atrás do gol
de Gilmar. Por diversas vezes, ele teve que buscar a bola no fundo do fosso do
estádio. E, para não perder o hábito, Serginho já no primeiro tempo recebeu um
cartão amarelo, depois de tentar, sem sucesso, chutar a canela de Beto Fuscão.
Ainda no final do primeiro tempo, Chicão dava um portentoso pontapé em Jorge
Mendonça, recebendo, em solidariedade a Serginho, outro cartão amarelo. Só se
salvava mesmo Valdir Perez, a quem os são-paulinos já se habituaram a chamar de
“Santo Milagreiro”. Mas quem ia contar com a incrível atuação de Edu, no
segundo tempo? Mais uma vez ele saiu xingado, só que desta vez, é claro, pelos
palmeirenses.
O JOGO FOI ASSIM
PALMEIRAS 0, SÃO PAULO
2
Palmeiras: Gilmar,
Rosemiro, Silva, Beto Fuscão e Sóter; Pires, Zé Mário e Jorge Mendonça;
Jorginho, César (Carlos Alberto) e Baroninho (Nei).
São Paulo: Valdir
Perez, Getúlio, Estevam, Bezerra e Chico Fraga; Chicão, Wilson Tadei (Mug) e Dario
Pereira (Teodoro); Edu, Serginho e Jaiminho.
Juiz- Márcio Campos
Salles
Renda- Cr$ 1.252.360,00
Público pagante: 22.889
pessoas
Gols- Serginho aos 3 e
aos 11 do segundo tempo.
Cartões amarelos:
Serginho e Chicão
Publicado originalmente no Jornal da República em 8 de outubro de 1979, edição 37
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