sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Grandes matérias esportivas do Jornal da República: “Eis o nome de um gênio do futebol: Edu” (8/10/1979)

SÃO PAULO 2, PALMEIRAS 0

Eis o nome de um gênio do futebol: Edu

Como de hábito, xingaram muito o ponta Edu, ontem à tarde, no Morumbi. Desta vez foram os adversários


FRANCISCO MALFITANI


Estádio Morumbi, 16h45 de ontem, final do primeiro tempo de um jogo que já mereceu, certa vez o título de “Choque Rei”: desolados torcedores são-paulinos, que não chegaram a ocupar quatro lances das arquibancadas, abandonava suas bandeiras enroladas no chão e correm para os bares em busca de uma cerveja, desabafando: “O time está uma droga, mas não faz mal, este jogo não vale nada mesmo. Este campeonato só presta mesmo é no 3º turno. Só espero que, quando chegar lá, o Edu esteja bem longe do time do São Paulo”. Do outro lado do estádio, os eufóricos palmeirenses aplaudiram a saída de seus ídolos, agitavam freneticamente as bandeirantes e gritavam “Verdão, Verdão”. Márcio Guaranta Filho, chefe da torcida Império Verde, desprezava a choradeira dos inimigos: “Eles estão dizendo que não vale nada, só porque o time deles está jogando pedrinhas”. Aliás, este negócio de ficar espalhando que este campeonato é uma porcaria serve apenas como desculpa para a péssima campanha dos outros filmes. Como é que o Verdão está enxuto, líder do campeonato e invicto nos clássicos?”.

De fato, o Palmeiras, no primeiro tempo justificava a euforia dos seus torcedores. Mas a sua invencibilidade nos clássicos terminava aí. Bafejando talvez pelas sessões de exorcismo do Monsenhor Bastos, conselheiro espiritual do São Paulo, o imprevisível Edu, aquele mesmo que o torcedor são paulino, no final do primeiro tempo, queria ver longe do Morumbi, voltou para o jogo com uma disposição incrível. E surpreendendo a todos os 22.889 heroicos torcedores presentes, logo aos 3 minutos do 2º tempo, driblou quase que toda a defesa do Palmeiras e deu um passe genial para Serginho, que colaborou apenas empurrando a bola para dentro do gol do elegante goleiro Gilmar.

O pó-de-arroz, ou melhor, o talco de segunda mesmo, encheu o ar do Morumbi e os pulmões dos são paulinos, que vibravam com o gol. Enquanto isto, os “Periquitos do Verdão” permaneciam estáticos na arquibancada. Este lance pouco habitual de Edu parece ter deixado perplexa e extasiada a defesa palmeirense, que 8 minutos depois abandonou o centroavante do São Paulo outra vez na frente do gol de Gilmar. E o irrequieto Serginho novamente fez o desespero dos palmeirenses.

Neste momento, Hélio Silva, presidente da torcida uniformizada do São Paulo, até esqueceu as violentas críticas que tinha feito, antes do jogo começar, a incrível fórmula deste campeonato paulista: “É um campeonato ridículo. O pior que vi nos 40 anos de minha vida. Estes cartolas pensam que o torcedor é palhaço. Mas não é não. Veja aí o estádio vazio”. Hélio Silva vibrou como nunca.

A partir daí, os torcedores palmeirenses, que já não sonhavam com uma reação do seu time, se preocuparam em desafiar os seus rivais para uma briga, junta à providencial corda que separa as torcidas adversárias nas arquibancadas, devidamente policiadas por enérgicos PMs. E bastou um deles levantar o cassetete e ameaçar ir de encontro aos palmeirenses, para estes se porem em desesperada fuga. E a torcida tricolor vibrou mais uma vez. Nem parecia verdade. “É muita alegria num dia só. Ganhamos de 2X0 e ainda a polícia bota pra correr os porcos”, dizia um entusiasmado são-paulino.

Havia motivo para tamanho euforia? O São Paulo, no primeiro tempo, foi dominado totalmente pelo Palmeiras. A melhor jogada dos tricolores, naquela etapa do jogo, tinha sido um violento chute desferido da ponta-esquerda, pretensamente em direção ao gol, pelo bigodudo Chicão – bola que foi parar na cabeça de Edu, no outro extremo do campo. E Edu completou a “jogada ensaiada” cabeceando para trás.

Ou seja, para a lateral do campo. O ataque do São Paulo só molestou o gandula que estava atrás do gol de Gilmar. Por diversas vezes, ele teve que buscar a bola no fundo do fosso do estádio. E, para não perder o hábito, Serginho já no primeiro tempo recebeu um cartão amarelo, depois de tentar, sem sucesso, chutar a canela de Beto Fuscão. Ainda no final do primeiro tempo, Chicão dava um portentoso pontapé em Jorge Mendonça, recebendo, em solidariedade a Serginho, outro cartão amarelo. Só se salvava mesmo Valdir Perez, a quem os são-paulinos já se habituaram a chamar de “Santo Milagreiro”. Mas quem ia contar com a incrível atuação de Edu, no segundo tempo? Mais uma vez ele saiu xingado, só que desta vez, é claro, pelos palmeirenses.

 

O JOGO FOI ASSIM

PALMEIRAS 0, SÃO PAULO 2

Palmeiras: Gilmar, Rosemiro, Silva, Beto Fuscão e Sóter; Pires, Zé Mário e Jorge Mendonça; Jorginho, César (Carlos Alberto) e Baroninho (Nei).

São Paulo: Valdir Perez, Getúlio, Estevam, Bezerra e Chico Fraga; Chicão, Wilson Tadei (Mug) e Dario Pereira (Teodoro); Edu, Serginho e Jaiminho.

Juiz- Márcio Campos Salles

Renda- Cr$ 1.252.360,00

Público pagante: 22.889 pessoas

Gols- Serginho aos 3 e aos 11 do segundo tempo.

Cartões amarelos: Serginho e Chicão



 

Publicado originalmente no Jornal da República em 8 de outubro de 1979, edição 37

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