PALMEIRAS 4, FLAMENGO 1
A resposta do Palmeiras
a Márcio
O presidente do Flamengo disse que já mandara reservar passagens para seu time jogar a final contra o Inter. Mas isso foi antes dos 4 a 1
MARCOS DE CASTRO, do
Rio
Apesar de todo o
esforço do almirante Heleno Nunes e dos Beijocas da vida, ainda é possível
assistir um bom jogo de futebol no Brasil. Palmeiras e Flamengo provaram isso
ontem à tarde no Maracanã, principalmente o Palmeiras, claro, que acabou
impondo uma goleada humilhante a um time que tem justas pretensões a ser um dos
melhores do Brasil.
O Palmeiras saiu do
primeiro tempo com a considerável (para quem jogava pelo empate) vantagem de 1
a 0. E correu muito perigo na primeira metade do segundo tempo, quando o
Flamengo empatou e, levado por sua torcida, esteve a pique de fazer o segundo
gol. Mas foi o Palmeiras que marcou (Carlos Alberto, aos 24 minutos). E daí
para frente o Flamengo como que endoidou. Até cometer a loucura suprema de
lançar Beijoca no fim do jogo, o que é uma prova de desvario definitiva.
Antes do jogo, na festa
das torcidas, a do Flamengo não gostou muito de duas novidades que a do
Palmeiras trouxe: a primeira delas ninguém de bom gosto aprovaria, pois papel
higiênico não chega a ser propriamente uma coisa agradável. Além do mais, é
pura macaqueação da torcida argentina na Copa do Mundo e, no caso, um papel
higiênico com função de sujar, o que é uma violência é a sua destinação
principal. Depois, uma cornetinha insuportável, que dói no ouvido e não para.
Não chegaram aos 15 mil
ou 20 mil prometidos, os torcedores do Palmeiras, mas deitaram e rolaram no
segundo tempo. Eram quando muito uns 5 mil, agrupados à direita das cadeiras
especiais do Maracanã, num canto das arquibancadas a que foram se juntar – outra
surpresa para a torcida do Flamengo – imensas e tremulantes bandeiras do Vasco,
além de discretas bandeirinhas do Fluminense e Botafogo. Casa cheia (112 mil
pessoas pagaram ingresso), o jogo tinha para agradar – e agradou. Foi disputado
por dois grandes times, apesar da goleada.
A vitória pode ter sido
– deve ter sido – também uma lição para o presidente do Flamengo, Márcio Braga.
Pretendendo assumir, de uns tempos para cá, uma posição de liderança entre os
dirigentes do futebol brasileiro, ele até que tem defendido algumas posições
sensatas.
Vem traindo tudo o que
tinha pregada antes, espalhando aos quatro ventos que se tenta jogos por ano
não dá pé. Pelo que diz, parece que quer noventa ou cem jogos por ano para seu
clube, o Flamengo, que entretanto já não aguenta mais.
Uma das diferenças
fundamentais entre as duas equipes foi essa. O Palmeiras desde os primeiros
minutos impôs uma presença física muito superior ao Flamengo. Seus jovens
jogadores davam a impressão de disputar a bola com mais vontade, ganhavam nas
divididas, chegavam primeiro na bola sempre que era preciso uma corrida. E tudo
num jogo muito limpo, sem pontapés, com jogadores de alta técnica e mostrar que
esse lado do futebol brasileiro, a CBD ainda não conseguiu destruir.
Pode parecer paradoxal
que o Palmeiras, um time que se consagrou nos seus últimos jogos em São Paulo
pelas goleadas constantes (e que confirmou a alta qualidade de seu ataque
ontem), tenha ganho o jogo sobretudo pelas virtudes de sua defesa. Mas isso é a
pura verdade. Bem fechado lá atrás, ele irritou o Flamengo, que nunca conseguia
penetrar na zaga paulista. E certo que a isso deve ser acrescentada uma
incapacidade absoluta do Flamengo de jogar pelas pontas. Pelo meio ele tinha
boas jogadas de Adílio (e algumas de Zico), e era principalmente por lá que ele
ia.
Mas ia até certo ponto.
Esbarrava sempre em uma linha de zagueiros excepcionalmente bem plantada, com
Pires à frente e Polozzi e Beto Fuscão firmes em seus postos, que nunca
abandonaram para ir à frente. Á frente – e muito bem – o Palmeiras ia através
de seus laterais, principalmente Rosemiro, que fez um partidão. Trata-se de um
jogador de alto nível.
Enquanto isso, o
Flamengo tinha Toninho, que normalmente, com suas subidas, é uma das melhores
opções de ataque do Flamengo, totalmente esgotado. Não rendia nada. Como não
rendia Carpegiani, arrumador do meio-campo de seu time, em jornada normal.
Restava ao Flamengo a habilidade de Adílio e Zico, mas mesmo assim o Palmeiras
esteve melhor no primeiro tempo e 1 a 0 foi justo.
No segundo tempo, a
torcida do Flamengo mostrou-se disposta a levar o time à frente desde o início.
E levou. Aos 10 minutos, Zico empatou, batendo um pênalti bem marcado pelo juiz
gaúcho Carlos Rosa Martins, que estava em cima do lance quando Pires derrubou
Zico na área. Nem os palmeirenses reclamaram.
Aí o Flamengo deu um
sufoco no Palmeiras. Mas tudo terminou aos 24 minutos, quando Baroninho bateu
uma falta de direita e a defesa do Flamengo deixou Carlos Alberto (substituíra
Jorginho) entrar sozinho para vencer Cantarelli com tranquilidade. Como
tranquilos foram também os dois outros gols do Palmeiras, ambos nascidos em
jogadas de Baroninho: no terceiro, ele escapou pela esquerda e recuou para
Pedrinho dar uma pedrada e marcar; ao quarto, ele cruzou para Zé Mário (lugar
de César) cabecear livre. A defesa do Flamengo estava apavorada. Com Baroninho
e com Carlos Alberto que entrou muito bem no lugar de Jorginho.
Tão apavorado estava o
Flamengo que cometeu a insanidade de lançar Beijoca, aos 38 minutos, em lugar
de Adílio. Jogador medíocre, Beijoca não chegou a fazer um lance que prestasse.
Aos 43 minutos agrediu Mococa, fingiu-se de agredido, voltou a campo para pegar
Mococa de novo e a foi justamente expulso. Quase que estraga a magnífica
vitória do Palmeiras. O que o Palmeiras não merecia, pela partida primorosa que
fez.
O JOGO FOI ASSIM:
Flamengo: Cantarelli;
Toninho, Manguinha, Dequinha e Júnior; Carpegiani, Adílio (Beijoca) e Zico;
Reinaldo (Carlos Henrique), Cláudio Adão e Tita.
Palmeiras: Gilmar;
Rosemiro, Beto Fuscão, Polozzi e Pedrinho; Pires, Mococa e Jorge Mendonça;
Jorginho (Carlos Alberto), César (Zé Mário) e Baroninho.
Renda: Cr$ 8.277.830,00
Público pagante:
112.047 pessoas
Gols: Jorge Mendonça,
aos 11 minutos do primeiro tempo. Zico, de pênalti, aos 10 minutos, Carlos
Alberto aos 25, Pedrinho aos 31 e Zé Mário aos 45 do segundo tempo.
Expulsão: Beijoca, por
agressão ao adversário.
Publicado originalmente
no Jornal da República em 10 de dezembro de 1979, edição 90
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