São 12 longas-metragens
como diretor. Aos 71 anos, Braz Chediak construiu uma obra emblemática dentro
do cinema brasileiro. O realizador dirigiu comédias (como Os Mansos e Banana Mecânica)
e algumas das mais audaciosas adaptações da obra de dramaturgos polêmicos como Plínio
Marcos (Navalha na Carne) e Nelson
Rodrigues (Bonitinha, mas Ordinária).
“Nelson era nosso Shakespeare”, relembra. Atualmente, o diretor está afastado
do meio cinematográfico. Ele mora em Três Corações, sudoeste de Minas Gerais,
onde comanda uma banda e um projeto de teatro para crianças carentes. “Alguns
atores e atrizes, quando os encontro, insistem para que eu volte a dirigir.
Ainda hoje recebi o convite de um velho ator pra dirigir um filme que ele quer
fazer”.
Recentemente, o
realizador estreou como escritor publicando um romance policial (Cortina de Sangue- Uma Aventura de Popeye,
publicado pela editora Mirabolante em 2007). Bastante gentil, Braz Chediak
conversou comigo com enorme generosidade.
Violão, Sardinha e Pão- No início de carreira, senhor
trabalhou com um diretor muito injustiçado na história do cinema brasileiro
chamado Aurélio Teixeira. O que o senhor se lembra dele como amigo e
realizador?
Braz Chediak- O
Aurélio era um ótimo diretor, tanto de imagens como de atores (ele também era
excelente ator). Conhecia tudo de cinema: da maquiagem à fotografia, montagem,
etc. Foi um grande aprendizado. Como homem, era querido por todos, um ser
humano maravilhoso. Fizemos muitos filmes juntos, eu trabalhava como seu
roteirista, assistente de produção, assistente de direção, assistente de
montagem, etc., etc.
VSP - De todos os seus filmes como diretor, existe
algum preferido?
BC- A crítica
sempre elogiou muito o Navalha na Carne que
foi, também, sucesso de público. Eu, particularmente, não vejo nenhum de meus
filmes. Fiquei irritado quando vi que os produtores, para encaixá-los em
horário de TV, cortaram muito, eliminaram cenas que eram importantes,
transformaram um trabalho sério num emendado de sequências.
VSP- O senhor dirigiu muitos longas-metragens para
diversos produtores. Mesmo assim, acredita que conseguiu deixar sua marca nos
seus filmes?
BC- Creio que
existe uma certa unidade nos filmes chamados “sérios”, assim como há certa
unidade nas comédias. Nunca me indaguei sobre isto.
VSP- Como era trabalhar com o produtor e ator
Jece Valadão? Ele respeitava o seu trabalho?
BC- O Jece, ao
contrário do que pensam, era um homem tímido. Não tinha uma cultura vasta mas
era muito inteligente. Como nos encontrávamos diariamente, vi ele passar por
cima de muitos diretores. A mim, me escutava, respeitava. Em Quelé do Pajeu, dirigido pelo Anselmo
Duarte, ele pediu que eu fosse para Itu, onde o filme estava sendo rodado, para
ensaiá-lo (escondido do Anselmo, é claro), pois confiava muito em mim como
diretor. Como já disse,
encontrávamos todos os dias e eu opinava em suas produções, mesmo em filmes
dirigidos por outros. E ele, quase sempre, acatava meus palpites.Só em Dois Perdidos Numa Noite Suja é que me
forçou a sonorizar o filme em seu estúdio, que era uma grossa porcaria. E
lançou mal o filme. Por isto me afastei dele e não mais aceitei seu convite
para fazer outro trabalho. Mas sempre o considerei um ótimo ator.
VSP- O senhor dirigiu algumas comédias (como Banana
Mecânica e Os Mansos) tidas como pornochanchadas. Isso incomodou o
senhor?
BC- Este foi um
rótulo criado para denegrir os filmes que tinham bilheteria. Creio que foi
forjado por algum crítico pago pelos americanos. As comédias brasileiras eram
amadas por seu público e tomavam lugar dos filmes americanos. E o Brasil era a
5ª maior bilheteria do mundo. Foi a repetição das comédias da Atlântida, que
chamavam de CHANCHADAS. Chancho vem de porco, em espanhol. CHANCHADA, então,
queria dizer porcaria. Hoje são Cults.
Mas isto é natural nos países subdesenvolvidos. Mas eu não reconhecia, nos
críticos da época, nenhuma cultura. Por isto não me incomodava.
VSP- Foram três filmes dirigidos pelo senhor
baseados na obra do dramaturgo Nelson Rodrigues. Como foi essa convivência com
um nome importante das artes brasileiras como ele?
BC- NELSON RODRIGUES
era nosso Shakespeare. O maior dramaturgo brasileiro de todos os tempos. Como
ser humano era um santo. Ouvi-lo, conversar com ele, conviver, era um prazer
inenarrável. Até hoje tenho ligação com a família dele, falo quase sempre
com o Nelsinho, com a Crica (sua neta) e com o Sacha (Nelson Rodrigues
Neto). Me sinto privilegiado de ter convivido tão de perto com o Nelson e
até hoje sinto saudades dele. Foi um mestre e um pai. Amava e amo Nelson
Rodrigues, o gênio da raça.
VSP- O senhor dirigiu algumas vezes o ator Wilson
Grey, profissional recordista de presença em filmes nacionais. O senhor se
lembra alguma história curiosa sobre ele? Como era dirigi-lo?
BC- Não
dirigi o Wilson Grey. Em Bonitinha, Mas
Ordinária ele faz uma ponta. O tipo de interpretação dele era diferente das
dos atores com quem eu trabalhava.
VSP- Militando no cinema carioca, o senhor chegou a
conhecer o centro cinematográfico local, o Beco da Fome? Como era esse
ambiente?
BC- O Beco
era uma ruazinha pequena na Cinelândia que, por ter algumas firmas que vendiam
material cinematográfico, era frequentado por gente do cinema, teatro, circo,
etc. Sobre o Beco eu narrei em Braz
Chediak- Fragmentos de Uma Vida (biografia publicada pela Coleção Aplauso da
Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo) algumas curiosidades. Tinha outro
Beco da Fome em Copacabana, na Prado Júnior que era frequentado mais por
músicos. Eu também ia lá com frequência pois tinha alguns botecos com um bom
tira-gosto para as madrugadas.
VSP- Por quê o senhor decidiu morar em Três Corações?
BC- Quando me
afastei do cinema resolvi morar em Três Corações porque sou daqui, nasci aqui.
E ainda tinha aquele sonho mineiro de “criar galinha caipira, etc”. Minha
família morava aqui e seria bom para meu filho (Yassír Chediak – hoje cantor e
compositor) ter esse contato familiar, já que eu havia me separado de minha
mulher na época e a mãe dele não estava no Rio. Hoje eu tenho dois projetos
aqui: uma banda com 45 crianças carentes e um projeto de teatro, também com crianças
carentes. Daqui já saiu uma jovem que fez a peça Clandestinos, direção de João Falcão durante uns dois anos, fez o
especial da Globo, novela na Globo, etc., etc. e outra que está fazendo teatro
no Rio. Enfim, são dois projetos que dão certo.
VSP- Qual é a sua opinião sobre o cinema brasileiro
atual? O senhor continua acompanhando os lançamentos?
BC- Não tenho
visto filmes. Prefiro a literatura. Aliás, quando ainda estava dirigindo,
fiquei preocupado porque não ia ao cinema há uns 5 anos. Então, li uma
entrevista do Fellini dizendo que há 30 anos ele não ia ao cinema, e outra do
Ruy Guerra falando a mesma coisa.
VSP- Recentemente, o senhor publicou um romance
policial (Cortina de Sangue- Uma Aventura de Popeye). Pretende seguir
carreira como escritor?
BC- Os dois
projetos me tomam muito tempo e, como tenho 71 anos, já estou começando a me
cansar. E o livro papel também está em crise, as editoras estão se reestruturando
para o livro digital. Mas pode ser que eu escreva outro romance ainda este
ano, ou faça uma antologia de contos ou crônicas que já estão escritos(as).
VSP- O senhor continua tendo projetos para a área
cinematográfica?
BC- Não tenho
projetos. O Nelsinho (filho do Nelson Rodrigues) me convidou para fazer um
trabalho sobre um texto do pai. Alguns atores e atrizes, quando os encontro,
insistem para que eu volte a dirigir. Ainda hoje recebi o convite de um velho
ator pra dirigir um filme que ele quer fazer. Meu filho também insiste para que eu volte a
filmar. Ele é músico, cantor e ator e quer trabalhar comigo. Mas, por enquanto,
não tenho tempo. Para sair de Três Corações, por período longo, teria que
abandonar os projetos, o que significa matar os sonhos de 75 crianças carentes
que são verdadeiros artistas, talentosos, com grande potencial.
Um comentário:
Grande Braz Chediak, sou fã do seu trabalho
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