São mais de 60
longas-metragens no currículo. Antonio de Souza Neto, o Toni Gorbi, é um homem
com uma história notável dentro da cinematografia brasileira. Participou da
construção da Transamazônica e veio pra São Paulo tentando novas oportunidades profissionais.
Acabou ingressando no cinema da rua do Triunfo como eletricista. Trabalhou
diversas vezes com técnicos importantes como Cláudio Portioli. “Ele me
ensinou tudo sobre a ética no cinema. Foi meu maior mestre depois do meu pai”.
A rua do Triunfo terminou seu ciclo como polo da cinematografia. Mesmo
assim, Gorbi prosseguiu sua carreira trabalhando em comerciais e atuando como gaffer em longas-metragens. Na
quinta-feira da semana passada (dia 8), estreou o filme A Grande Vitória, primeira oportunidade de Gorbi como diretor de
fotografia. Nesta entrevista ao VSP, o veterano fala sobre esse novo trabalho e
relembra parte da sua trajetória.
Violão, Sardinha e Pão- O senhor trabalhou em mais de 60
longas-metragens nacionais. Como surgiu a oportunidade de você fotografar A
Grande Vitória?
Toni Gorbi- Eu já trabalho como fotógrafo documentarista há
algum tempo. A oportunidade apareceu quando um amigo na O2, Carlos Vecchi, me
apresentou para o Stefanno Capuzzi, diretor do filme e sugeriu que eu iniciasse
uma nova fase como fotógrafo em longa-metragem.
VSP- Qual é a sua expectativa com esse trabalho?
TG- Esse ano completo 40 anos na indústria cinematográfica.
Achei que fosse o momento de tentar algo novo. Minha expectativa é que a
indústria possa reconhecer novas formas de trabalho dentro da fotografia
digital e descubra que é possível fazer um novo cinema. Isso tanto em questões
financeiras quanto tecnológicas.
VSP- Foi
muito difícil você trocar o trabalho como gaffer para diretor
de fotografia?
TG- Uma
função complementa a outra, apenas prova que ambos devem trabalhar em conjunto.
Pra mim foi algo muito natural, pois sempre procurei estabelecer uma ponte
entre uma área e outra. Agora pude comprovar o resultado positivo após anos de
trabalho.
VSP- Como foi o seu relacionamento com o ator Caio Castro
que estrela a produção?
TG- O Caio é uma pessoa incrível. Pode ser visto por muitos
como um simples galã, mas afinal de contas qual cinema não é formado por galãs?
Porém acima de tudo ele é um ator extremamente profissional e dedicado. Ele
sabe respeitar a equipe e na minha opinião a palavra galã não é nem um pouco
ofensiva. Ela pode ou não pode vir acompanhada de outros adjetivos. No caso do
Caio eu só tenho boas coisas a dizer. Me orgulho muito de ter trabalhado com
ele nesse projeto.
VSP- A
Grande Vitória é uma cinebiografia. O senhor acredita que este gênero
cinematográfico pode ser mais explorado pelo cinema brasileiro?
TG- O
cinema brasileiro deveria retratar mais a nossa cultura e enaltecer os talentos
originais da nossa terra. As biografias são parte do que temos de melhor no
país e retratam - sem dúvida alguma - figuras da maior importância para o mundo
todo. Pode parecer um pouco pretensioso, mas talvez seja apenas orgulho
brasileiro. Orgulho maior de saber das riquezas que temos em nosso país e que,
apesar de tudo, muitos só pensam em retratar o que temos de ruim. Não devemos
omitir as partes ruins do nosso país e da nossa história, mas se não passarmos
a ter orgulho daquilo que podemos conquistar, nunca venceremos.
VSP- Qual é a sua opinião sobre o cinema brasileiro atual?
TG- Vejo o cinema atual como uma retomada do que foi o
cinema na época do boom da (produtora) Vera Cruz. Aquela
explosão de estúdios, equipamentos, possibilidades. Era tudo tão possível e de
repente alguém colocou o pé no freio, e tudo foi tomado por um grande vazio.
Depois, foi preenchido por um período conhecido como Boca do Lixo- a fábrica
das pornochanchadas. Mas isso não é nenhuma vergonha pois foi um período necessário
à sobrevivência do cinema nacional.Agora é como se tudo tivesse sido retomado,
porém de maneira fresca, vibrante...real. É um cinema novo cheio de
possibilidades. Por isso, acredito que devemos nos prender as coisas boas que
ele pode nos trazer e não deixar passar essa oportunidade.
VSP- Em breve poderemos ver mais longas-metragens que o
senhor fotografou?
TG- Continuo buscando uma boa parceria com amigos diretores
e fotógrafos. Já recebi alguns convites após a estreia do filme, mas são
projetos que ainda não foram anunciados. Por isso, ainda não posso divulgar os
nomes.
VSP- O senhor iniciou sua carreira no cinema da Boca. Quais
coisas o senhor aprendeu na rua do Triunfo que utiliza o seu trabalho atual?
TG- Aprendi a trabalhar para o filme e não para mim. No
cinema, o filme está acima de tudo.
VSP- Trabalhar com um fotógrafo como o Cláudio Portioli foi
importante para a sua carreira?
TG- O Portioli me ensinou tudo sobre a ética no cinema. Ele
me ensinou a trabalhar em qualquer tipo de projeto, junto a qualquer equipe e a
importância da união. Ele me ensinou o que é missão. Ele foi meu maior mestre
depois do meu pai.
VSP- Por quê o senhor acredita que poucos técnicos daquela
época conseguiram permanecer ativos dentro do cinema brasileiro?
TG- Porque muitos não acreditaram na possível evolução e
modernização do cinema brasileiro. A verdade é que desde a época da Vera Cruz o
cinema vem se modernizando. Isso aconteceu com a chegada de um refletor HMI até
os o uso de refletores de LED e câmeras digitais. Porém, poucos técnicos da
época se interessaram por essas transições. Eu tenho 63 anos e nunca achei que
idade pudesse ser empecilho para a modernização e bom trabalho.
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