Um filme erótico
brasileiro feito por um chinês radicado em São Paulo há 20 anos e que já foi
tintureiro e motorista de limousine, deve estrear no próximo mês em todo país.
Trata-se de “Ninfas Diabólicas”, fita de mistério, bruxaria, ação e suspense,
mas também com forte dose de erotismo. John Doo, o sino-brasileiro que dirigiu
o filme, revela duas novas atrizes que certamente vão causar sensação no cinema
nacional, Aldine Muller e Patrícia Scalvi, além de trazes de volta o sempre
talentoso Sérgio Hingst. Um filme que vai dar o que falar.
Um triângulo amoroso
absolutamente inédito, envolvendo bruxaria, demonismo e uma poderosa carga
erótica, compõe o tema de “Ninfas Diabólicas”, filme que marca a estreia do
diretor chinês John Doo no cinema brasileiro. Totalmente desvinculado dos
esquemas estrangeiros, o filme, enfocando um assunto aparentemente banal e já
explorado pelo próprio cinema paulista, vai aos poucos tomando um rumo marcado
por forte intensidade dramática para, no final, explodir em uma trama
surpreendente.
A fita é a estória de
um chefe de família ordeiro e pacato (interpretado por Sérgio Hingst),
empresário austero e confortavelmente acomodado em se ostensivo Malibu, se vê
dominado por duas colegiais que lhe pedem carona na Via Dutra. Mediante lances
de extrema sensualidade de uma delas, este respeitável cidadão acaba
desviando-se do seu rumo e termina a viagem numa das afrodisíacas praias do
litoral norte de São Paulo, onde ocorrem momentos de grande suspense, com cenas
de terror, bruxaria e outros ingredientes sobrenaturais que alteram totalmente
a estória.
Envolvido pelo mar,
pelo calor e pela vegetação luxuriante, Sérgio Hingst começa a ser vítima de
uma disputa entre as duas “ninfas”, uma morena (Aldine Muller) e outra loira
(Patrícia Scalvi) e despe-se de toda sua moral pequeno-burguesa, aderindo
integralmente ao irresistível apelo do sexo. Nesse ponto a estória deixa de ser
um triângulo amoroso para se transformar em ação e suspense com cenas de
impacto, poucas vezes vistas no cinema brasileiro.
Bonitas
e criativas
Depois de “Ninfas
Diabólicas” não será mais possível contestar o talento e a beleza das atrizes
Aldine Muller e Patrícia Scalvi. Nesse filme do estreante John Doo, as duas
conseguiram não só ultrapassar a barreira que discrimina a maioria das atrizes
do cinema paulista (entre outras coisas acusadas de pornochanchadeiros) como
também avançar num estilo de interpretação dos mais prestigiados pelo cinema
internacional, ou seja, um tipo de representação que tem como objetivo
principal, o de unir os fenômenos eróticos com os “psicológicos”. Essa
afirmação é do crítico e ensaísta cinematográfico Renato Petri, um dos que
viram e acreditam muito no sucesso do filme de John Doo.
Em “Ninfas Diabólicas”,
Aldine e Patrícia atingem plenamente esse estágio. Elas se transformam em
Úrsula e Circe, duas falsas colegiais que pedem carona na via Dutra e leva a
primeira vítima (Sérgio Hingst) que de repente vê a possibilidade de um fim de
semana repleto de prazeres sexuais, a encontrar tragicamente a morte. De fato,
resistir às duas não é fácil. Com suas saias azuis pelas coxas e blusas
entreabertas, deixando ver os seis jovens e tenros...
A figura demoníaca de
Úrsula é uma personagem elaborada pela própria Aldine Muller. Apesar de seu
excelente papel em “Paixão e Sombras” de Walter Hugo Khoury, Aldine considera
esse trabalho em “Ninfas Diabólicas” como o mais importante de sua carreira.
Uma carreira que não tem dois anos ainda, mas que sempre esteve em ascensão.
Tudo o que há de fantástico em Úrsula foi traçado por ela mesma e isso prova o
talento de Aldine, que pode render muito mais em filmes sérios e empenhados,
diferente das comediazinhas eróticas que ela, ás vezes se vê obrigada a fazer.
Quanto a Patrícia
Scalvi, apesar de sua juventude, é uma atriz que traz consigo uma respeitável
experiência teatral. No cinema apareceu em dois ou três filmes de nível
inferior, porém, campeões de bilheteria. E Patrícia acredita que vai repetir a
dose com “Ninfas Diabólicas”. Só que, no papel de Circe – uma diabinha sedutora
travestida de colegial – não foi apenas a oportunidade de Patrícia pesquisar e
se aprofundar na psicologia do personagem, mas sim, a grande oportunidade de
conhecer a psicologia do público cinematográfico brasileiro, buscando saber o
que mais o prende na poltrona: se são as belas formas femininas (seios, nádegas
de fora, etc.) ou se são as reações normais de seu cotidiano, como o medo, o
desejo ou a ânsia de aventura.
O
diretor já foi tintureiro
Tintureiro no Canadá,
foi apenas uma das muitas atividades na curiosa carreira de John Doo, chinês de
35 anos, mas radicado em São Paulo há mais de 20 anos, que agora estreia como
autor e diretor de filme erótico. “Ninfas Diabólicas” estará nos cinemas a
partir de julho e John Doo faz questão de esclarecer que seu filme não se trata
de nenhuma outra pornochanchada qualquer.
“Pelo contrário, é a
estória de um triângulo amoroso totalmente inédito envolvendo bruxaria,
demonismo e uma extraordinária carga erótica...É um filme de terror com um
elenco do nível de Sérgio Hingst, várias vezes premiado, ou de duas autênticas
revelações do cinema brasileiro, Aldine Muller e Patrícia Scalvi”, diz ele,
enfaticamente.
Apaixonado pelo cinema
desde criança, John Doo, saiu de casa aos 17 anos e foi pedir emprego na equipe
de produção de “O Cabeleira”, filme rodado em 1960, na cidade paulista de
Mococa, onde acabou substituindo a então “scrip-girl”, Marlene França (hoje
atriz de prestígio). Depois veio “Casinha Pequenina”, com Mazzaropi, para que
mais tarde, dirigiu, sem assinar “O Puritano da Rua Augusta”.
Mas o que John Doo
queria era dirigir filmes de empenho próprio, tornando-se cineasta de estilo
incomum. Comum, foi para os Estados Unidos estudar engenharia têxtil, enquanto
aceitava trabalhos de mordomo, carregador em supermercado ou motorista de
limousine. E foi nessa época, em 1967, que trabalhou como tintureiro na Feira
de Montreal, no Canadá, durante seis meses. De volta a São Paulo, vendeu a
fiação do pai, montou a Presença Filmes e começou a produzir comerciais de
televisão, para finalmente, fazer seu primeiro longa-metragem, “Ninfas
Diabólicas”, um filme meio à la Polanski, o cineasta preferido de Doo.
A fotografia de seu
filme que reflete fielmente a beleza dos locais onde foi rodado (Ilhabela e
Caraguatatuba), foi feita pelo excepcional Ozualdo Candeias, o cineasta
brasileiro mais importante da atualidade. O roteiro é de Ody Fraga, outro
profissional competente; a música é do famoso maestro Rogério Duprat e a
montagem é de Máximo Barro. Além de Hingst, Aldine e Patrícia, participa da
fita a nissei Misaki Tanaka, revelada por Walter Hugo Khoury em “Paixão e
Sombras” e um elenco auxiliar de primeira linha.
Publicado originalmente
na Fiesta Cinema em agosto de 1978
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