segunda-feira, 20 de abril de 2015

Cláudio Cunha (1946-2015)


Era uma noite de quarta ou quinta-feira. O Palmeiras jogava contra o Marília no antigo Parque Antártica. Mas eu tinha outro compromisso: tinha fechado com o amigo Gabriel Carneiro de fazer uma matéria pra Zingu com o cineasta Cláudio Cunha. Ele morava na rua das Palmeiras, em Santa Cecília, pertinho do antigo Lord Hotel. Na mesma semana, ele ia embora daquele imóvel. Levei um gravadorzinho pequeno, Cláudio me recebeu de shorts, sossegado, camisa aberta. Carregava uma garrafa de vinho. 


- Vamos lá, pode perguntar.


Devo ter gravado umas três horas em que ele recordou suas passagens no cinema e dentro de sua carreira. Não fugiu de nenhuma pergunta. Sabia que era um veículo pequeno, mas Cláudio parecia não dar atenção a isso. Aí eu comecei a tomar vinho com ele.


- Continua perguntando. Eu falo tudo.


Mas a pilha acabou, as fitas estavam cheias de histórias. Mas Cláudio não parou de falar. Me contou sobre como ele tinha sido adotado pelo Átila Iório no seu começo de carreira. Pra quem não sabe: Iório foi um dos grandes atores do Brasil, foi sogro do Dedé Santana inclusive. Cláudio me contou de sua amizade com Marcos Rey. Das musiquinhas de duplo sentido que fazia com um figurão da televisão. Do seu encontro com Jean Garrett um pouco antes da morte deste. Me contou de como conviveu com Tony Vieira e a amizade deles sacramentada quando ainda eram figurantes do Mazzaropi. A ex-mulher do Cláudio tinha feito frango a passarinho. Eu adoro esse prato. Pois bem, já era quase madrugada e a gente comeu o frango e tomamos um porre danado de vinho. Ele tinha umas filhas crianças e elas começaram a pintar o rosto do pai com várias cores. Como eu estava lá, acabaram me pintando também. Sai da casa do Cláudio não somente com a entrevista feita. Tinha jantado um belo frango a passarinho, tomado um porre de vinho e tinha o rosto pintado de várias cores. Mesmo assim, consegui pegar um táxi e chegar em casa. Não tive tempo para dizer ao Claudião o grande cineasta que ele era. E o quanto eu admirava ele. Com toda certeza, Cunha era um dos melhores da Boca do Cinema, autor de obras-primas como Amada Amante e Snuff. Do belo drama khouriano como em O Gosto do Pecado. E do engraçadíssimo Rebu. Grande cara, grande pessoa, ser humano acima da média. Dizer que fomos amigos seria me aproveitar dessa triste notícia de hoje. Mas Cláudio Cunha foi um dos grandes artesãos da Boca paulista. E uma figuraça. Lamento não ter sido tão próximo a ele. Mas Claudião, tenha certeza: você foi um dos grandes cara. Quando falarem da rua do Triunfo seu nome sempre estará lá.   

2 comentários:

Almir disse...

Ele morreu ? Não tem nenhuma nota na internet.

Matheus Trunk disse...

Fui informado por amigos pessoais dele. Mas está aqui já: http://oglobo.globo.com/cultura/teatro/morre-ator-diretor-claudio-cunha-analista-de-bage-aos-68-anos-15930405