DAVID CARDOSO: O Herói que fez uma bichona pedir
arrego no meio do mato. (E ela toda pintada, pesava quase cem quilos!)
Ele já fez quase
meia centena de filmes, numa variedade enorme que vai desde o água-com-açúcar
“A Moreninha” com Sônia Braga, até o polêmico “A Herança” de Ozualdo Candeias,
onde não falou uma palavra sequer, embora fosse o ator principal. Mas, foi
mesmo contracenando com as gostosíssimas Sandra Bréa, Vera Fischer, Helena
Ramos e outras menos votadas, que ele ficou famoso. Por tudo isso e mais pelo
fato de ter visto as mulheres mais bonitas do Brasil nuazinhas em pelo é que
ele foi escolhido para esta edição de aniversário. Detalhe: esta reportagem foi
feita por uma mulher. (Não nos comprometa, pois).
Escreve e
fotografa: Lúcia Reggiani
Confirmada a
entrevista. Apesar da ansiedade, afinal não é todo dia que se enfrenta um astro
do cinema nacional, me armei de todo o senso jornalístico necessário e resolvi
encarar a rebordosa. Era uma terça-feira gorda de agosto. Cheguei na
Bandeirantes com uma bolsa pesada, cheia de fitas, gravador, câmera
fotográfica, filmes, canetas, papel e calmante. E fui logo dando de cara com o
David Cardoso, iluminado ao sol do meio-dia, num papo animado com Luiz Gustavo
e Miriam Mehler. Cumprimentos, sorrisos gentis e muita agitação. Ele pediu que
o esperasse uns instantes no camarim para que pudéssemos conversar mais
calmamente. Não preciso dizer que chamei tudo quanto foi santo: eu tinha
simplesmente emudecido diante do belo exemplar do sexo masculino que ia ter à
minha frente. Para falar bem a verdade, não foi só porque ele é bonito que eu
perdi o rebolado. Acontece que eu passei uma semana inteira vendo a novela
“Cara a Cara”, onde ele faz o papel de caipirão inocente, o Tonho. E a
diferença entre o personagem tímido e acanhado, e o ator de ares enérgicos e
incisivos, foi chocante. No bom sentido, claro. Ele é desses homens que têm um
certo brilho no olhar, inquietante, difícil de explicar.
Ele foi parar no xadrez por causa de um filme!
Logo que David
chegou ao camarim, começamos a falar de seu último filme “O Desejo Selvagem”
(Massacre no Pantanal) onde ele contracenava com a não menos famosa Ira de Furstemberg.
“É um filme de tema ecológico, preocupado com a preservação da fauna” – diz
ele. Mas, apesar de boa intenção, o filme já rendeu uma prisão para o nosso
herói.
Uma cana insólita:
ele comprou uma onça, a safada comeu o cachorro de estimação não sei de quem, o
não-sei-quem ficou bravo e matou a onça. Conclusão: David foi parar no xadrez
por denúncia do Serviço de Proteção aos Animais. E como ele não é nada bobo, já
está capitalizando esse tremendo bafafá como reforço publicitário para o filme.
Mas essa volta por cima empresarial é só uma consequência porque, na realidade,
ele ficou muito puto com a história. Comprou outra onça novinha em folha
(aliás, uma tremenda bichona toda pintada), soltou a danada no meio do mato e,
só de marra, enfrentou os quase 100 quilos da infeliz, sem truques nem dublês.
Fiquei emocionada. Enquanto ele falava da luta com a onça, fiquei observando
seus gestos e se a musculatura comportava realmente tanta valentia. Ele estava
com uma camisa bem justinha, com alguns botões abertos, que deixavam à mostra
uma parte do peito bronzeado. Ombros largos, um tórax muito bem proporcionado,
tudo parecendo ser firme e rijo. As mangas bem justas nos braços, delineavam um
certo muque, mas sem os exageros dos halterofilistas. Bom, nessas alturas, eu
já estava me imaginando fortemente enlaçada pela cintura, dançando com David,
ao som de um tangaço argentino, daqueles bem vibrantes, com quedinhas, encaixas
e rodopios. Estão vendo o que é tentação?
Ele não tempo de transar com todas as mulheres!
Apesar de estar
com essa bola toda, David diz que não se envolve em sexo quando representa:
“Imagine só se eu, num filme com 19 mulheres, vou ter tempo de transar com
todas elas? Não dá. É muita mão-de-obra. Eu, inclusive, não gosto de sair com
mulheres que moram longe porque não tenho tempo para ficar cortando a cidade de
ponta a ponta. Além disso, detesto mulher muito intelectualizada, pedante. Não
tenho saco para ficar discutindo as possibilidades de paz no Oriente Médio ou
as consequências da guerra na Nicarágua, depois de um dia cheio de trabalho.
Hoje, por exemplo, estou aqui falando com você, em seguida tenho uma gravação
no estúdio, uma externa do outro lado da cidade, programa Sílvio Santos na
sequência, e vai saber mais o quê. As pessoas ficam me criticando quando eu
falo que gosto de mulher burra, mas acho que dá para entender o porquê, não
acha?” E sorriu pedindo confirmação. Não me lembro o que foi que eu respondi.
Só sei que ele tem uns dentes branquinhos, certinhos, muito bem colocados pela
mamãe natureza dentro de um sorriso largo, puxadinho de um lado, perfeito.
Ele não mistura sexo com trabalho
Ele não gosta que
o chamem de Rei da Pornochanchada. “Se você disser que eu faço filmes comerciais
com sexo e violência, isso eu concordo. Mas chamar os meus filmes de pornôs é
uma besteira. Principalmente pelo custo operacional dos filmes e da técnica
empregada. Se eu quisesse fazer pornochanchada eu alugava um apartamento,
colocava um tanto de mulheres e homens nus no meio e filmava uma baboseira
apelativa qualquer. Agora, um filme em que se paga dez mil cruzeiros por dia
para um ator como o Hélio Souto, por exemplo, não pode ser chamado de
pornochanchada”. David Cardoso já fez 45 filmes, tendo contracenado com Sandra
Bréa, Sônia Braga, Aldine Müller (veja a entrevista nessa edição) entre outras.
E, apesar de todo homem ficar babando só de olhar as fotos dessas atrizes, ele
diz que é muito profissional, reafirma que não brinca em serviço. Mesmo assim
ele deixou escapar que teve uma que o deixou muito excitado: “Foi a Vera
Fischer, numa cena do filme “As Fêmeas”. Acho que foi mais pela situação porque
estávamos filmando em um barco, com a câmara em outro. Se a cena levasse meia
hora mais, eu não sei não”. Nem eu, pensei, imaginando um barco balouçando
sobre as ondas calmas, David Cardoso sem aquele monte de roupas, todo
bronzeado, cheio de respingos espalhados pelo corpo, salgadinho de água do mar,
raios de sol por testemunha, hum...Que Vera Fischer que nada!
Ele não adianta o carro na frente dos bois!
Alem dos inúmeros
filmes, David já participou da novela “O Preço de Uma Vida” na extinta TV
Excelsior e está se saindo muito bem na Rede Bandeirantes, na novela “Cara a
Cara”. O fato de contracenar ao lado de monstros sagrados da televisão como
Débora Duarte, Irene Ravache, Vanda Kosmo e a primeira dama do teatro nacional,
Fernanda Montenegro, não chega a perturbá-lo. Ele acha que está tudo muito bom
e que o segredo do sucesso é a humildade: “Quem quiser alcançar o sucesso não
pode esmorecer nunca, deve ter honestidade profissional e ser o mais humilde
possível, olhando sempre para trás e vendo que pessoas bem sucedidas como
Roberto Carlos, Sílvio Santos e Pelé começaram do nada, chegaram ao topo e
continuam lá. Eu não adianto o carro na frente dos bois. Faço o que posso fazer”.
David faz questão de ser um profissional impecável, fazendo tudo muito bem e
rápido. Aliás, ele se considera um péssimo amante por ser rápido demais em
tudo. Também, um cara que pensa dia e noite no trabalho, que é autor, ator,
produtor e diretor ao mesmo tempo, acaba ficando num pique de velocidade
difícil de acompanhar. Mas no fundo, no fundo, acho mesmo que é cascata. O
ibope que ele dá com o mulherio não é brincadeira, e até hoje não vi ninguém
reclamando. Ou será que....Bom, deixa pra lá.
Ele está louco atrás de uma peça!
Como nem só de
cinema e TV vive o ator, David Cardoso também faz teatro. Atualmente a sua
grande preocupação é conseguir os direitos para encenar a peça “E Também o Seu
Gato Morreu” do autor americano James Kirkwood, o mesmo de “Chorus Line”: “Estou
tendo dificuldades em conseguir os direitos porque parece que o autor está de
caso com um brasileiro que, por sua vez, está de olho na peça. Pelo menos foi o
que disseram em Nova York”. Quando já estávamos passando para as amenidades e
ele me dizendo que é pai de três filhos (um deles é o garoto do iogurte que
gosta de viver perigosamente), mas vive sozinho, essas coisas, entra o Luiz
Gustavo no camarim, chamando-o para a gravação. Isso é o que eu chamo de
intervenção inoportuna. Bem na hora que o papo estava começando a ficar
interessante tinha que aparecer alguém para atrapalhar. Mas é a vida. E lá foi
ele, despedindo-se apressado.
Ah! Ia me
esquecendo da fofoca. Corre o boato, pelos bastidores da Bandeirantes, que ele
estrila quando escrevem seu nome sem o “d” mudo: “Davi assim é a mãe! Só
respondo se for “d” no final”.
Publicado
originalmente na revista Homem número 13 em setembro de 1979
2 comentários:
Leio depois.
Já li.Tudo que tem David me interessa.
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