Por Denise Godinho e Hugo
Moura
Era comum, que na Boca do
Lixo, os cineastas se preocupassem em como fazer a publicidade dos filmes.
Principalmente porque havia grande demanda de produções brasileiras graças à
lei da obrigatoriedade, como será explicado mais à frente. Assim, era preciso
haver destaque nas portas do cinema para que o espectador escolhesse tal filme
e não outro. A falta de recursos para investimentos em publicidade fazia com
que os cartazes fossem os únicos responsáveis pela propaganda e, geralmente,
eles eram apelativos e podiam até não demonstrar relação com o enredo da
produção. Além disso, os pôsteres de filmes da Boca, quando realizados por
diretores consagrados, eram ilustrados pelo traço inconfundível de Benício, o
artista mais requisitado nessa missão e que intensificava a formosura das belas
atrizes da época. Raffaele não havia sequer cogitado o desenhista. Afinal, com
que dinheiro ele poderia pensar nisso?
Quando o cineasta teve a
ideia de aproveitar a fresta que Império
dos sentidos tinha aberto, surgiu também a preocupação em tornar a sua nova
empreitada algo chamativo aos olhos dos apreciadores de cinema. Afinal de
contas, estes deveriam ser fisgados pelo cartaz ainda antes de comprar o
ingresso. A bem da verdade, após sua primeira semana de exibição, Coisas
eróticas não necessitaria mais do pôster para chamar a atenção do público.
O único material de
divulgação do filme trazia uma morena deitada de costas, tomando sol à beira do
que se supõe ser uma piscina. O grande foco é a bunda arrebitada, bem torneada
e bronzeada. No alto, com erros estranhos de pontuação, lê-se “...E assim!
Conheceram as maravilhas do sexo!...”. Embaixo, o título Coisas eróticas.
Quem das atrizes teria
sido incumbida da honra de ilustrar o cartaz? Essa simples dúvida se
transformou em um enigma desvendado diversas vezes.
Publicado originalmente
em GODINHO, Denise & MOURA, Hugo. Coisas
eróticas: a história jamais contada da primeira vez do cinema nacional. São
Paulo: Panda Books, 2012.
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