NÃO EXISTE CONTEÚDO,
MAS A FORMA É PERFEITA
Por Luciano Ramos
A
Ilha do Desejo (Marabá e circuito) – Antes mesmo que
se pudesse comentá-lo, o filme já batia recordes de renda. Como um produto bem
lançado, com eficiente embalagem, a fita está suplantando
“O Golpe de Mestre” e
“O Poderoso Chefão”. Sem ambicionar constituir-se em “obra de arte”, alcança
entretanto a condição de mercadoria altamente vendável e mercadologicamente
perfeita.David Cardoso é protagonista e produtor principal. Deve ter utilizado a experiência de seus 33 filmes – como ator ou assistente de direção – para concluir que não adiante tentar o sucesso sem respeitar o público. Por isso, além dos apelos fáceis do erotismo e violência, o filme é confeccionado cuidadosamente. A música, por exemplo, é original – requinte atualmente muito raro, nas produções nacionais. A dublagem perfeita e o som claríssimo permitem entender-se o que dizem os atores (outro requinte).
O diretor Jean Garrett –
pseudônimo de Jean Silva -, teve boa escola, como assistente de Ozualdo
Candeias. Cuida da imagem com carinho de artesão, enfeitando-a com preciosismos
de montagem e rebuscados movimentos de câmara. Quando Márcia Real se embebeda e
dialoga mentalmente com as estátuas do seu quarto, por exemplo, a direção
torna-se intrigante e sentimental.
Todos esses cuidados,
porém, constituem-se em mera maquiagem. De nada vale duas ou três sequencias
criativas, enxertadas num argumento simplório. A pobreza dos diálogos também
não é compensada pela precisão do som. Como na novela de televisão, onde
imensos recursos técnicos são colocados a serviço de folhetins redundantes, a
forma está aqui muito acima do conteúdo.
A história é, de certa
maneira, semelhante ao recente “O Signo do Escorpião”: assassinatos em série
sucedidos numa ilha. O local funciona como bordel sofisticado. Tão rico que
dá-se ao luxo de possuir guardas especialistas em kungfu. David Cardoso interpreta
um rapaz que trabalha como intermediário, recrutando profissionais nas boites
de São Paulo e levando-as para a ilha. Mostra-se preocupado em evitar o
exibicionismo que marcou algumas de suas antigas fitas. Modestamente, apanha
nas brigas e só conquista uma, das sete moças que se encontram na ilha. Como
ator, age cheio de moderação, contratando com os gastos que, como produtor
dispensou à realização e promoção do filme. De maneira semelhante ao personagem
que ele interpreta, David sabe que o sucesso comercial depende de se conduzir
aos diferentes mercados as mercadorias mais adequadas.
Publicado originalmente
no “Jornal da Tarde”, São Paulo, 13 de junho de 1975.
Um comentário:
Assim como é muito comum os jornalistas trocarem a expressão tachar por taxar,também se vê sempre a confusão entre câmara e câmera.
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