O cineasta Gabriel Carneiro ficou responsável pelo episódio Esboçando Miziara, sobre o ator e
diretor José Miziara. Ele conversou com exclusividade
com o VSP.
Como surgiu a
possibilidade de você dirigir um curta sobre o José Miziara?
Quando o entrevistei para a Zingu!, em 2010, fiquei bastante
entusiasmado com o resultado e quis prolongar a experiência. Na época, minha
ideia era fazer um livro-perfil sobre ele para a Coleção Aplauso. Até cheguei a
conversar com o Rubens Ewald Filho, que coordenava a coleção, e ele ficou
interessado, mas a Aplauso já estava sem verba e acabou em 2010 mesmo. Uns anos
depois, conversando com o Pedro Ribaneto, fotógrafo do filme, que tinha filmado
a entrevista, resolvemos transformar o livro num curta-metragem. Isso foi em
2014, se não me engano, mas o projeto nunca engatou. Quer dizer, até o ano
passado, quando o Diomédio Piskator me convidou para dirigir um dos episódios
para um dos longas em episódios a serem realizados pelo Memorial do Cinema
Paulista. Logo pensei em retomar esse projeto com o Miziara. Na época, ainda
não era o Amigos Filmam Amigos, era outro longa. Iam ser uns 13, 14
curtas. Os cinco efetivamente feitos viraram o Amigos.
Quais foram as
maiores dificuldades?
A principal dificuldade foi em relação a material de arquivo. Quando o
entrevistei em 2010, ele me mostrou um acervo incrível de fotos e revistas do
começo do carreira, do tempo do circo, da televisão. Há uns anos atrás, houve
uma infiltração violenta na casa dele e esse acervo sumiu. Não sei se foi
destruído, se foi guardado em outro lugar e não sabem bem onde é, se foi
simplesmente jogado fora. O Miziara não tinha mais nada em termos de registros
visuais da carreira dele. O pouco que consegui foi com a Cinemateca Brasileira,
algumas fotos de bastidores de filmes, e com a filha dele, Patricia Papa, que
encontrou uma foto digitalizada e algumas coisas de um dos filmes dele em que
ela participou. Os próprios filmes, em sua maioria, estão com uma qualidade de
imagem muito ruim, boa parte dos filmes só tem cópia em VHS. Então tive que
encontrar um jeito de dar uma dinâmica por filme para que ele não fosse só uma
entrevista filmada, que não me interessava fazer. Tanto que o formato
entrevista mais convencional é justamente da gravação de 2010. Cacei o que
consegui de acervo e quase tudo entrou no filme.
Na sua opinião,
qual a importância do José Miziara para o cinema da Boca e pro cinema
brasileiro?
Para mim, o Miziara realizou algumas das melhores comédias brasileiras,
caso de O Bem Dotado - O Homem de Itu (1978) e Pecado Horizontal
(1983). E fez alguns outros filmes muito bons. Ele tinha umas sacadas de
roteiro muito interessantes, umas gags visuais e sonoras que funcionavam
bem. Não havia muitos pudores. Ao mesmo tempo, tinha uma simplicidade e um
interesse por problemas mundanos como pouco se viu. O episódio de Pecado
Horizontal em que o rapaz tem uma crise de hemorróidas antes da trepada é
coisa de outro mundo. São filmes que vi há mais de dez anos pela primeira vez e
ficaram muito tempo comigo. E a maior qualidade: rio toda vez que revejo uma
cena - rio toda vez que essas vejo cenas no Esboçando Miziara, que eu
mesmo montei, ou seja, já saturei bem do curta (risos). Isso não é pouco não.
Quais são seus
próximos projetos no audiovisual?
Atualmente, não tenho nenhum projeto mais desenvolvido com viés autoral.
Estou com alguns roteiros. Dois precisam de dinheiro, são projetos de animação,
de que nada domino em termos práticos, e ainda preciso desenvolver toda uma
parte do projeto (storyboard,
desenhos de conceito etc.) para inscrever em editais. Pro outro, falta o ânimo
de fazer produção, uma área que não curto tanto fazer e, por conta disso, acabo
deixando de lado. O futuro é sombrio para a cultura, nem sei o que
conseguiremos desenvolver e escoar nos próximos anos.
Sigo fazendo vídeos institucionais na área cultural, bastante vídeo de
entrevista com personalidades diversas para a internet, pela minha produtora, a
Belluah Produções. E sigo também escrevendo e pesquisando sobre cinema.
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