LINDAURA
A 1º de dezembro de
1934, Lindaura contraia matrimônio com Noel, que a conhecera nas proximidades
da rua Maxwell. Sua mãe, a sergipana Olindina Pereira da Mota, era operária da
Fábrica Confiança Industrial.
Jovem demais, na sua
inexperiência, não conseguiu dominar o volúvel coração do boêmio. Não possuindo
meios suficientes para criar um lar, foi dona Marta quem os fez morar no
acanhado chalé. A vida em comum não foi feliz e sim repleta de dificuldades.
No intuito de ajudar o
sustento da família, Lindaura, um dia aventou a hipótese de obter um emprego
qualquer. A reação de Noel refletiu-se, sem demora, nos versos do único samba ligado
à história da esposa, “Você Vai Se Quiser”:
Você vai se quiser...
Você vai se quiser...
Pois a mulher
Não se deve obrigar
A trabalhar,
Mas não vá dizer depois
Que você não tem
vestido
E o jantar não dá pra
dois
Todo cargo masculino
Seja o grande ou
pequenino
Hoje em dia é pra
mulher...
E, por causa dos
palhaços,
Ela esquece que tem
braços:
Nem cozinhar ela quer
Os direitos são
iguais...
Mas até nos tribunais
A mulher faz o que
quer...
Cada qual que cave o
seu
Pois o homem já nasceu
Dando a costela à
mulher
Lindaura foi
companheira dedicada até os derradeiros dias de Noel. Conhecia ou adivinhava as
trapaças amorosas do irrequieto esposo. Recalcava os próprios ressentimentos,
numa admirável compreensão, desculpando suas irredutíveis atrações à boêmia.
Relativamente aos
namoros de Noel e Lindaura, em novembro de 1933, cronistas publicaram as mais
imagináveis origens do debatido samba “Três Apitos”. Complementando vários
detalhes sobre a falada música, coloquemos aqui todos os pontos nos ii: 1º)
Lindaura jamais foi operária da Confiança; 2º) O contramestre da fábrica de
botões, no Andaraí ficou registrado nos versos de Noel (vide cap. Fina e 3
apitos); 3º Tratava-se de simples coincidência de nomes de pessoas e de
fábricas.
Publicado originalmente em ALMIRANTE. No tempo de Noel Rosa. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1963.
Nenhum comentário:
Postar um comentário